Todolist escrita por AnaBorguin


Capítulo 4
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora! Problemas sérios com o pc u_u Mas agora tá tudo resolvido! o/



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/816/chapter/4

Não demorou muito para que Gerard me ligasse. Foi misterioso ao telefone, disse que só estava interessado em “me ver”. Não acreditei muito, queria dinheiro com certeza. Passou seu endereço e pediu uma visita. Não pude negar, por mais que quisesse. Desde aquele ultimo fim de semana minha cabeça já estava bem cheia com outras coisas. Mas como irmão é irmão – e no meu caso, um irmão completamente otário – não pude negar. Já no dia seguinte à ligação decidi por ir, já que era minha folga semanal, e não teria que me preocupar com o horário. Imaginando o real motivo daquele seu “desejo por me ver”, levei alguns trocados que tinha. Otário, otário, eu sei.

Cheguei a sua residência – não, não era embaixo de uma ponte - a uma hora da tarde. Morava em um prédio de periferia bem destruído e antigo. Passei pela portaria sem porteiro e subi por uma escada estreita e escura. Parecia ser o único ser vivo daquele lugar. Correção, o único ser vivo além dos ratos.

Parei em frente a porta que havia me indicado e bati delicadamente, mais por medo das dobradiças cederem do que por educação. Para meu total desespero não foi Gerard quem atendeu.

Aquele mesmo sorriso irônico, a bermuda feita toscamente com uma calça cortada, os cabelos descendo até os ombros, tão oleosos, que poderia fritar ovos neles. Éca.

- Mikey! – Como se tivesse intimidade para me chamar assim. – Mikey, Mikey. – Bert repetiu, a boca larga se retorcendo em sorriso. Como aquela boca era desmedida, céus.

- Gerard está? – optei por ignorá-lo.

- Saiu. – adoraria fazer com que parasse de sorrir – Foi para algum lugar. Mercado, acho. Ou talvez isso tenha sido ontem. – Ele realmente não tinha graça nenhuma.

- Então eu volto depois – já me virava para ir. Ali não queria ficar mais nenhum minuto.

- Ah, entre Mikey! Era brincadeira! Ele disse que você viria, espere um pouco.

Entrei. Tá, podem me chamar de ingênuo.

- Sente-se – disse solicito, apontando o único móvel da saleta, um velho sofá. Obedeci.

Foram minutos terríveis de desconforto. Estava sentado a poucos centímetros daquele cara que eu tanto odiava. Não tínhamos nenhum assunto.

- Nunca tivemos muito contato, não é? – Que tipo de pergunta foi aquela?

- É – respondi seco, contendo um “Graças a deus!”.

-Quer fumar? – É, ele era uma pessoa bem aleatória.

- Parei. – Mentira. Fumara durante a ultima semana. De câncer de pulmão é que eu não morreria mesmo.

Ele riu, se levantando. Foi até o armário – ah sim, desculpem-me, havia mais um móvel na sala – e retirou algo que eu não esperava que retirasse, mas logo em seguida pareceu bem previsível. Enrolou habilmente um baseado, pressionou entre seus lábios e acendeu.

- Este cigarro. – tragou – Quer?

- Eu nunca... – tossi. Não sei por que fiquei envergonhado. Acho que fumar maconha faz parte de um ritual adolescente. Ritual que eu pulei, assim como todos os outros da época.

- Sério? – Riu. Só sabia rir? – Justo o irmão do cara que cheirou praticamente toda Nova Iorque, até sabão em pó?

Não teve graça.

- Dê umas tragadas. – me ofereceu, parecendo muito ansioso por me “corromper”.

Mas eu tinha personalidade! Era íntegro, não me deixaria levar por um carinha qualquer...

Bom, eu aceitei. E se você já está decepcionado comigo, aviso que é melhor parar por aqui. As coisas ficariam piores. A minha primeira experiência com drogas ilegais não parecia ter muito de mágico como imaginei. Mas enquanto gesticulava dizendo que não sentia nada, uma forte vontade de rir começou a se apoderar de mim. Meu cérebro ficou mais lerdo do que o normal, e as coisas muito mais fáceis e engraçadas. Nem protestei quando Bert sentou-se em meu colo e me beijou. Ahn, sim. Sou um hipócrita. Depois de todo o drama moral que fiz naquela noite, nem me importava em estar com aquele cara, que além de meu ódio eterno era... hum... algo do meu irmão.

Pensando agora, não sei o que me deixou mais embriagado: a fumaça venenosa em meus pulmões ou a pressão dos lábios de Bert em meu pênis. Não vou tentar enganá-los, eu não estava fora de mim, mas muito mais... leve. Fazia um bom tempo que não recebia “aquilo”. E estava bom, até ele encerrar quando quase chegava ao meu êxtase. Quis batê-lo. Como o odiava!

- Barulho na entrada. – sorriu limpando a boca – Gerard chegou.

O fitei perdido, ainda sob o efeito da erva.

- Não se preocupe. Mas melhor não dizer nada a ele.

Nem trinta segundos depois, Gerard adentrou o apartamento.

- Mikey! – ele estava sóbrio. Eu não.

Levantei-me e o abracei com mais força do que realmente havia planejado. Abafei meu riso em seu peito. Segurou-me pelos ombros e me afastou olhando diretamente para a vermelhidão de meus olhos.

- Está chapado? – olhou para Bert – Você chapou meu irmão? – parecia um pouco bravo.

- Qualé, Gerard. É só maconha – ele riu – É que ele não estava muito acostumado.

Juro que pensei que pela primeira vez na vida Gerard tomaria uma atitude de irmão mais velho. Chegaria a bater em Bert ou em mim, não sei. Mas, é óbvio, isso não aconteceu. Ele riu alto.

- Seguindo os meus passos, Mikey?

O efeito estava se esgotando, quis ir embora.

- Daqui a pouco vai arranjar um viciado pra trepar.

Quis muito ir embora. Bert riu. Como era escroto aquele cara.

- Preciso ir embora – tentei me manter sério. – Tenho que ir buscar meu filho e...

Sem avisar, Bert soltou uma gargalhada muito alta.

- Fique quieto, idiota. - Gerard sorriu de lado e o repreendeu.

Fiquei confuso e enraivecido. Tirei do bolso as notas que havia trazido e dei na mão de Gerard.

- Aqui está.

- Eu não quero, obrigado – me devolveu. O fitei confuso. - Já disse que estamos bem. Um amigo do Bert nos ajudou, não precisamos agora.

Acho que eu o havia ofendido, pois não houve sorrisinho cínico a seguir.

- Okay – resmunguei – Tchau.

- Tchau – selou meus lábios – volte sempre irmãozinho.

Acenei com a cabeça para Bert, tentando não olhar seu rosto.

- Adeus, Mikey! – riu. A risada dele era extremamente irritante. – Sua braguilha está aberta.

Não sei exatamente o que me levou ali. Caminhei sem rumo, perdido, mas parecia saber exatamente pra onde ia. Conhecia o endereço, naturalmente, estava anotando em um cartãozinho que nunca abandonei. O que eu estou fazendo? Era só o que me perguntava enquanto cruzava a recepção daquele alto edifício. A mulher anunciou Michael Road, afinal, era este o meu nome para ele. Subi alguns andares de elevador e cheguei a sala que procurava. Em letras impressas lia-se Frank Anthony Iero, o meu destino, novamente.

- Boa Tarde – Disse formal se endireitando na enorme cadeira. Engraçado vê-lo de roupa social...

- Boa tarde. – Me resumi em pura vergonha.

- Pensei que não me procuraria mais. – disse com um sorriso no rosto.

- Era o que queria? – disse virando o corpo em direção a saída, como para mostrar que se quisesse, eu me retiraria sem pestanejar.

- Imagine! – Levantou-se e apontou uma cadeira. – Só pensei que talvez eu tenha forçado muito a barra na ultima vez. – incrível como falava de um assunto como este com uma naturalidade invejável.

- Ahn, esqueça... – tossi nervoso – Trabalha aqui? – Duh! Pergunta estúpida!

- Acho que “trabalhar” não é bem o termo correto – disse - acho que é mais um canto recreativo para se jogar paciência no computador e ficar sob os olhos do papai.

Eu ri. Que culpa tenho eu se ele era divertido?

- Mas, bem, eu faço algumas coisas às vezes – disse apontando um pequeno bolinho de papel em cima da mesa – Assino algumas coisas, faço um rosto sério e falo ao telefone com pessoas que você odiaria conhecer. Bem patético.

Para um simples garçom, como eu, parecia uma boa vida, isso sim.

- Gostaria de ter obrigações moles assim – acho que foi só quando saiu da minha boca que percebi que estava sendo extremamente rude. – Ahn, desculpe...

- Ah, não! É verdade – Deu uma volta com a cadeira giratória – Mas viver em função do pai pode ser cômodo, mas também muito irritante. É como ter dez anos e ouvir seu pai dizer o que vestir, o que comer, onde ir... – concordei com a cabeça – Seu pai é assim com você também?

- Ah... Meu pai morreu há três anos – disse rapidamente, um pouco embaraçado.

- Ah – coçou a nuca – Sinto muito.

- Tudo bem – na verdade, agora eu não sabia se sentia realmente por isso.

Ficamos em silencio por alguns segundos, ainda refletindo sobre pais, morte e essas coisas.

- E então você está aqui... – resolveu continuar.

- É – eu sei que posso não ter os melhores “insights”, mas não havia mais nada a dizer. Acho que estava na hora de ir embora. – Bom, eu tenho que...

- Escuta – me interrompeu de repente, como se adivinhasse o que eu diria a seguir – Nós podíamos sair, o que acha? Tomar alguma coisa...? – pensou por um instante e completou – Ou você tem que trabalhar e...?

Estava nervoso ou era só impressão minha?

- Hoje é minha folga.

- Então vamos? – pediu, o rosto um pouco ansioso.

- Sim.

Okay, seria o primeiro encontro de toda minha vida.

Tudo bem, aquele não era exatamente o lugar que eu imaginava. Antes que eu percebesse estávamos na frente de um grande clube noturno, com muitas pessoas “alegres” na fila e um clima de liberdade muito desconhecido para mim. Hoje tínhamos papel trocados, minha roupa era mais informal, uma simples camiseta branca e calça jeans, enquanto ele estava todo de social, até gravata desamarrada.

Pela primeira vez entendi o que significa ser VIP, não precisamos esperar e entramos direto. A primeira vista senti uma vontade maluca de sair correndo dali. Música de batidas repetitivas, pessoas dançando descontroladas. O tipo de coisa que não tem nada a ver comigo. Acho que percebeu meu embaraço, pois me puxou de lado e, pela segunda vez no dia – e na minha vida – experimentei uma substancia nova que me ofereceu.

O ecstasy é praticamente o oposto da maconha: te deixa eufórico e cheio de energia. Sempre ouvi e isso e pude confirmar. Em pouco tempo eu me encontrava no centro da pista, fazendo minha performance de especial de dança - e nem sabia que tinha uma.

A certa hora notei um cara ao meu lado com um sorriso convidativo. Se curvou e disse – na verdade gritou – alguma coisa em meu ouvido. Juro que nem entendi, só pude compreender quando vi que se aproximava cada vez mais, já posicionando uma de suas pernas entre as minhas. Nem fiz objeção, quando colocou a mão em minha nuca só esperei o toque de seus lábios. Que não vieram. Alguém o havia afastado e agora gritava algo que o som da música – e o indiscutível torpor – me impediram de entender. Senti a mão de alguém me arrastar até um canto mais sossegado, era Frank. O rosto um pouco enraivecido, mas que já estava se aliviando.

- Desculpe – sorriu – Acho que não tenho o direito de ser possessivo – o sorriso dele era realmente perfeito – você...

Mas eu não o deixei completar. Atirei meu corpo em sua direção, o puxando pela gravata e o forçando a me beijar. Sim, eu. Atirado? Mas que fiquei claro que foi ele quem me levou até o banheiro, apesar de ter sido eu que o empurrei para dentro de uma cabine qualquer. A partir daí me descontrolei. As coisas pareciam ter ganhado um sentido totalmente novo – e bizarro. Nem os barulhos externos de pessoas vomitando me fizeram parar. Já estava de joelhos, a cabeça entre as pernas de Frank. O embaraçamento sumiu completamente, só havia espaço para a libido. Gostei daquilo. Como se realmente soubesse o que estava fazendo o virei de frente para uma das paredes da cabine que, diga-se de passagem, continuava aberta – descobri que o fator voyeur me deixava mais... aceso. E lá mesmo o penetrei sem cuidados, sentindo sua respiração falhada, ouvindo um som baixo de gemido embalado pela música da pista que invadia o ambiente e estuprava meus ouvidos. Naquele momento alguma coisa aconteceu, mas isso só fui perceber um bom tempo depois...

Acordei. Por alguns segundo simplesmente não fazia idéia de onde estava, mas não cheguei a me desesperar. Senti que encostava a cabeça em algo quente. Percebi que estava deitado sobre o peito de Frank, em um quarto que deduzi ser o dele. Meus olhos foram direto na janela e constatei que ainda estava escuro. Relaxei. Os dedos dele acariciavam minha cabeça – dolorida – e me dava uma boa sensação.

- Acordado? – me perguntou, a voz mais melosa do que lembrava que ele tinha.

- Sim – resmunguei.

- Você não se lembra de muita coisa, não é? – seu receio estava incuto na voz serena.

- Não... Quer dizer, lembro – Seria inútil engana-lo, afinal, seria uma explicação meio embaraçosa acordar sobre o peito nu de alguém desconhecido e contra a vontade.

- E o que diz?

- Sobre...?

- Do que eu disse.

- Hum...?

Riu.

- De ficar comigo.

Bom, esta era uma pergunta bem objetiva e exigia uma resposta igualmente clara.

- Hum... – encolhi – Sim. – a voz saiu bem abafada, propositalmente,

Apertou-me mais contra o peito e beijou minha testa. Fiquei sonolento e confortável, e revirei meus olhos semi-fechados para o outro lado. E então pude ver o horário no relógio do criado-mudo.

- CINCO HORAS DA MANHÃ? – pulei sobressaltado. – MERDA! – me levantei.

- Calma. – Frank disse.

- Estou muito atrasado!

- Quem o está esperando? – seu tom foi casual, não acusador.

O olhei atentamente. Era o momento, devia contar e acabar com aquilo. Não poderíamos ficar juntos, isto era óbvio. Mas algo me impedia.

- Peço que não me pergunte nada – e completei ao ver que ficou confuso – Deixa que eu te conte aos poucos...

Pensei que ficaria nervoso com aquele mistério. Eu ficaria.

- Hum... Tudo bem – sorriu – Se quer deixar assim por enquanto, eu respeito.

Cara, ele era muito compreensivo. Nem parecia aquele sujeitinho cínico que conheci outro dia...

- Olha, um cara vomitou na sua camisa, acho que não dá pra você usar...

- O quê???

- Relaxa, acho que tenho algo pra você...

Deveria estar pirando. Como algo dele caberia em mim? Eu era mais alto e mais magro, completamente diferente. Levantou-se da cama e abriu o closet. Alias, nem mencionei, mas seu apartamento era bem luxuoso, estranho por ser de um cara tão jovem.

Entregou uma camiseta preta, “descolada”, com um desenho de esqueleto. Interessante. Coube bem.

- Ficou perfeita – sorriu me admirando – um amigo esqueceu aqui... – e acrescentou com um sorriso – o tal do office boy.

- Hum?

- Pois é.

Aquilo me incomodou de uma maneira que não consegui compreender.

- Preciso ir – disse, já vestido e chegando a porta de saída do apartamento.

- Certo.

Virei de frente para a porta, já estendendo a mão para apanhar a maçaneta. Mas um pensamento me surgiu a cabeça, e lá estava o velhote Iero dizendo absurdos no restaurante. Uma força se apoderou de mim, e tive de dizer, já de costas para ele.

- Serei mais um subordinado na sua coleção?

Esperei que tivesse uma reação mais divertida e cínica, mas sua voz saiu carregada de ressentimentos.

- Não fale isso. Meu pai pode ser bem cruel quando quer me atingir...

- Desculpe... – Havia estragado tudo. No entanto me puxou e beijando-me. Havia um pedido naquele beijo. Uma súplica recíproca e silenciosa para que tudo aquilo se provasse real. Mais uma coisa que só entenderia depois de um bom tempo...

- Tchau – disse quando nos afastamos.

Saí. Sabia que teria muitas complicações ao chegar em casa, mas não conseguia tirar o sorriso de meu rosto. Corri pelas ruas com os braços estendidos, parecendo um maluco. Queria voar. Podia voar. O dia anterior senti que havia vivido intensamente. Estava vivo!

Mas o sorriso se desfez ao imaginar que em cinco meses e meio eu não poderia dizer a mesma coisa.

Estaria morto.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!