Utopia escrita por dastysama


Capítulo 2
Capítulo 2 - Café e Água


Notas iniciais do capítulo

Como eu não aguento deixar vocês esperando, vou postar mais capítulos hihi
Na imagem abaixo eu escolhi a Taylor Swift por que além de eu amar ela, acho que é bem a cara da Biene



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Biene estava tão feliz agora, fazia séculos que não falava com seu primo, era como se tudo que viveram antigamente voltasse com tudo. Mas não havia tempo para ficar lembrando o passado, ela precisava voltar a outro passado, no caso, no tempo dos dinossauros já que seus alunos iriam ter uma aula divertida hoje.

Dezessete anos nas costas e responsabilidades podiam assustar qualquer um, mas ela não tinha nada a temer, vivia em uma cidade tão pequena comparada a outras que as expectativas de algo diferente acontecer eram mínimas, então ela tinha sempre que inventar algo novo. Ser professora era algo incrível, ainda mais quando se tratava de crianças, ela teria que passar a elas o quão importante e divertido era estudar o passado.

Ela pegou sua bolsa meio hippie, de couro com várias miçangas em cima do sofá e saiu porta afora o mais rápido possível, quem sabe não dava tempo de falar com Eleazar, o dono da casa que ficava no alto da colina que Biene era obcecada por causa do jeito rústico e antigo dela, onde podia esconder diversas histórias. Eleazar era o dono da casa, morava lá quando pequeno e já vendeu para diversas pessoas, mas sempre acaba a comprando novamente.

Às vezes ele deixava Biene dar uma olhada no local, analisar a arquitetura e até fuçar pelos cômodos da casa. E ela nunca se cansava de visitar aquele local, era como tentar desvendar algum mistério que ainda nem existia, devia haver algo surpreendente naquele local. Mas não havia muitas coisas por lá, nem sabia direito quem era os antigos moradores e as pessoas da região também pareciam não saber de nada.

Segundo algumas pesquisas próprias, a casa devia ser do século XIX como alguma das casas de Aach, afinal não sobraram tantas graças à sede do homem mudar tudo para o moderno. Mesmo assim a cidade era uma fonte de cultura inexplicável e isso deixava qualquer lugar sem-graça totalmente incrível aos olhos de quem gosta de História e passado.

Quando os seus pais decidiram se mudar de Madgeburg para Aach, com seus doze anos aquilo parecia um absurdo. Como ela iria se virar sem suas amigas? Sem as festas? Sem uma vida social que havia construído desde que nascera? Mas ela não podia fazer nada, seus pais estavam passando por momentos difíceis na cidade, além de que não tinham tempo para escrever e ficavam estressados o tempo todo. Então seu avô, pai do seu pai, perguntou se não queriam morar na pequena cidade de Aach, e antes que pudessem pensar, seus pais aceitaram prontamente.

Então foi adeus casa, adeus amigo, adeus escola e adeus Gustav. Ele ficou tão famoso que era raro as vezes que se viam e logo ela se mudou, então quase nunca mais se falaram, era só por e-mails rápidos e curtos. Ele podia não saber muito sobre a sua vida atual, mas ela sabia bastante da dele, graças às notícias que sempre aparecem pela internet. Foi difícil no começo se acostumar com uma vida nova e mais solitária, mas logo ela se viu entretida por outras coisas.

Aach era repleta de pessoas mais idosas do que jovens, mas eles tinham tantas coisas a contar que logo Biene não sentiu falta nenhuma de conviver com jovens. Havia também todas aquelas casas bonitas com moradores tão gentis que cumprimentavam a todos sem importar quem. Cada dia era como conviver com alguém, sempre havia alguém disposto a uma visita ou a conversar.

Biene pegou a sua bicicleta, e foi pedalando pelas ruas em direção a casa de Eleazar, ainda havia um tempinho para uma conversa já que faltava meia hora para a aula começar e era queria antes de tudo confirmar com Gustav que ele poderia vir. A casa de Eleazar, que não era tão grande como a outra casa, ficava no centro da cidade e a vista dava direto para a casa da colina, onde ele passava o maior tempo admirando sua casa.

Como sempre ele estava na janela, fumando, e logo acenou para Biene quando a viu descer por uma ladeira. Ela deixou sua bicicleta na frente da casa e passou pela varanda antiga em arcos e arquitetura cheia de rosáceas, sem bater, abriu a porta e Eleazar já estava a esperando, sentado em uma cadeira de balanço.

– Sabine – disse ele, que sempre preferiu chamá-la por seu nome. Ele soltou uma baforada do cigarro e prosseguiu – O que a trás aqui, pequena?

– Eleazar, eu queria saber se meu primo e os amigos dele poderão alugar a sua mansão? – ela disse sorrindo abertamente.

– Isso te faria feliz? – perguntou ele como se isso fosse à coisa mais importante. Eleazar era um velho de quase uns oitenta anos, era avô de Sabine, mas ela não estava acostumada a chamá-lo assim por que ficou muito tempo afastada dele. Era difícil vê-lo como avô, ele parecia ser algo muito mais do que isso.

– Sim! Ele é meu primo e não o vejo há tanto tempo! Seria ótimo que ele ficasse aqui por um tempo, ele é de uma banda famosa e precisa de bastante espaço e acho a mansão perfeita para isso. Você deixa ele se instalar lá por um tempo?

– Claro desde que não acabem com a casa igual aos últimos adolescentes que decidiram ter uma noite de farra. Eles derrubaram cerveja por todos os cantos, tive que uma fazer uma grande limpeza! – disse ele de mau humor, tragando a fumaça do cigarro para que se acalmasse.

– Prometo que eles não vão acabar com a casa, eu faria picadinho deles caso isso aconteça – ela disse juntando as mãos em uma promessa – Será por curto tempo e mesmo assim vai ser algo grandioso para mim!

– Tudo bem, tudo bem! Já disse que sim, pode avisá-los e quero pagamento adiantado, não quero esses caras me tapeiem.

– Pode deixar, vou falar com eles... Bem, Eleazar, tenho que ir, minhas crianças estão me esperando – disse ela sorrindo para ele – Muito obrigada mesmo!

Ele sorriu para ela, enquanto a via sair pela varanda, saltitante. Sabine não mudara nada, era a mesma garota de cinco anos atrás, quando conhecera finalmente a neta. Pequena, com cabelos tão loiros e longos que parecia uma mini personificação de sua esposa, sentiu simpatia por ela desde a primeira vez. Por mais triste que fosse recordar de memórias que machucavam, Sabine era uma forma de colocar uma barreira em dores e uma nova forma de curá-las.

A garota nunca o chamara de avô, mas nunca se incomodou com isso, gostava que o chamassem por seu primeiro nome e só de ver o interesse dela em aprender, isso já o deixava feliz. Afinal tinha medo de que sua neta fosse uma cabeça oca, como a maioria dos adolescentes eram, loucos para se embebedar e viver uma noite de orgia. Podiam achar que Eleazar não via nada, mas ele sabia de tudo. Ele estava há tanto tempo por aqui, via todas as mudanças constantes que aconteciam e ninguém podia tapeá-lo.

Enquanto tragava mais uma vez o cigarro que já estava quase no fim, decidiu tomar a xícara de café em cima de uma mesinha, o café desceu gelado pela sua garganta, pelo visto havia deixado ali há tempo demais. Pegou a xícara e virou no pires deixando a borra escorrer e então olhou para a imagem que se formava. As imagens apesar de distorcidas, significavam muita coisa. Havia o desenho de uma bailarina, isso significava ajuda de uma mulher e perto dela havia uma borboleta que mostrava que em breve iria surgir uma paixão. Sem entender muito bem, limpou o pires e colocou mais um pouco de café na xícara.

Bebeu rapidamente e fez o mesmo processo de antes, as figuras foram se formando novamente e se viu um cachorro que significava perdão perto de uma mancha quadrada que lembrava vagamente de uma caixa. Aquilo significava a volta do passado, uma pessoa do passado podia retornar. E havia também linhas curvas. Dificuldade. Não eram coisas boas decididamente, ele pressentia isso e sabia que estava certo. Da última vez esteve certo.

– Bom dia pessoal! – disse Biene adentrando a sala de aula, e acenando para todas aquelas crianças de sete anos que esbanjaram um sorriso ao vê-la chegar – Como prometido, nossa aula será lá fora! Então vamos!

Nem precisou terminar a frase, as crianças já estavam porta afora, correndo que nem louca em direção aos jardins da escola. Claro que não deram permissão para ela usar as imediações, então ela teve que esconder os ossos em um terreno próximo. Com isso, a escola cedeu um ônibus para levar as crianças até lá e isso já era um ótimo começo!

Biene colocou todas as crianças no ônibus tomando cuidado para não esquecer nenhuma, também as ajudou a guardar as pás que trouxeram em suas mochilas. Apesar do frio que fazia – mesmo tendo alguns raios de sol –, mandou todos vestirem um casaco, não podiam ficar pegando friagem. Então, quando tudo estava pronto, partiram em direção oeste da cidade, onde ficavam mais colinas sem casa alguma, apenas com florestas de pinheiros e um rio enorme.

– Esse lago é incrível! – exclamou uma garotinha olhando pasmada para o enorme lençol prateado que cortava a vegetação.

Sem conseguir segurar, Biene se virou para direção que ela indicara, já estava esperando ansiosamente por aquilo: o rio. Ontem enquanto escondia os ossos a tarde, deu uma passada e ficou olhando todas aquelas águas geladas balançando conforme a brisa as levava. Era um ótimo lugar para andar de barco, afinal havia um píer ali, caindo aos pedaços de tão velho, mas decididamente as pessoas já tinham nadado naquele local.

Ninguém se aventuraria ali, não por que era perigoso – afinal nunca ouvira nada sobre pessoas morrendo afogadas ali –, mas sim pelo frio intenso que impedia qualquer um de dar um mergulho. Era um desperdício, na opinião dela, quem sabe um dia ela não se aventure por lá, nem que seja um pouquinho?


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