In Between escrita por dearcamzie


Capítulo 2
Prologue




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Local não identificado. 

No espaço sideral, a cápsula danificada de Yon-Rogg flutua em silêncio, suas estruturas deterioradas mostrando os vestígios de um confronto passado com a Capitã Marvel. O motor que a princípio recebeu uma carga de energia da própria Capitã, falhara em uma zona completamente inóspita e inacessível para as forças gravitacionais de algum planeta. Dentro da cápsula, Yon-Rogg observa através da janela, fitando as constelações distantes, sua expressão revelando uma mistura de determinação e incerteza.

     — O caminho de volta para Hala, o caminho de volta para a terra... preciso encontrá-los, de alguma forma. - Suspira profundamente.

Os sistemas da nave estavam severamente comprometidos, tornando a navegação extremamente desafiadora. Após dias, meses ou até mesmo anos à deriva pelo espaço sideral, enfrentando adversidades cósmicas e tentativas inúteis de conserto, uma colisão com um meteoro fez a cápsula ganhar propulsão, finalmente se aproximando de algum planeta, Svartalfheim.

À medida que o reino élfico surge no horizonte, Yon-Rogg sente um misto de emoções: alívio por estar próximo de um solo firme, mas também um desconforto ao perceber que seu destino ainda era amplamente incerto.

A cápsula penetra na atmosfera de Svartalfheim com um estrondo ensurdecedor, tremendo e sacudindo violentamente antes de finalmente aterrissar em uma paisagem destruída e escurecida. O impacto projetou o corpo do comandante para frente, a inércia exercendo seu papel ao mantê-lo em um movimento acelerado, mesmo quando sua nave colidiu com uma rocha. 

Yon precisou de alguns minutos para recuperar a consciência e a plena funcionalidade de sua compleição física. Contemplando os arredores em um estudo silencioso, sua mente buscava informações pré existentes em seu hipocampo que lhe ajudassem a identificar onde estava. A beleza sombria e misteriosa que mesclava escuridão e luminosidade, somado a atmosfera densa, e montanhas negras cortadas por vales profundos envoltas de uma névoa azulada, enviavam um pequeno alerta, um que significava reconhecimento. O solo revestido por grama escura e brilhante, árvores retorcidas de tonalidades escuras com folhas azuis o imergiram de volta a seus anos de devoção aos estudos na Starforce. As auroras boreais que enfeitavam o céu com cores vibrantes e exóticas, em uma própria atmosfera carregada de energia mágica foram o complemento necessário para findar sua missão de localização: Svartalfheim, um dos Nove Reinos que compunham o domínio de Asgard.

Horas e horas se passaram enquanto o comandante buscava algo que o auxiliasse a sair daquele planeta, porém as ruínas antigas de civilizações passadas e segredos esquecidos, não tornava a missão bem sucedida. Seus músculos começavam a dar sinais de exaustão, recusando-se a mantê-lo naquela insana caminhada infindável, quando sua visão enfim alcançou algo promissor. Uma enorme nave de guerra pouco danificada estava há aproximadamente seis mil metros de distância, e o trajeto próximo de uma hora era o que o separava de sua possível fuga próspera. Forçando-se a seus limites, ele logrou seu objetivo, a destra sobre o material da nave, avaliando se era algum de sua ampla gama de conhecimento. Entendendo pouco a pouco quais seriam os reparos necessários para que pudesse levar o constructo de volta a seu pleno funcionamento, ele deteve seus passos quando um liquefeito fluido vermelho escuro dançou no ar a sua frente. Os olhos azuis refletiam fascínio, curiosidade e talvez medo. Não era difícil sentir o poder que dele emanava, e sua natureza corruptamente ambiciosa o fez esticar o braço para tocá-lo, sua essência cedendo espaço para a ação de algo maior e muito mais forte do que ele sequer era capaz de mensurar. Assim que sua pele entrou em contato com o líquido cintilante, uma onda de energia percorreu seu corpo, envolvendo-o em uma luz avermelhada deslumbrante. O Éter, reagindo à presença do homem, se agitou ainda mais, e apesar da resistência inicial, a energia se fundiu a Yon-Rogg, transformando-o em um receptáculo para a fonte cósmica de poder. 

Seu corpo flutuou sem que ao menos percebesse, precisando fechar os olhos com força para aguentar a dor interna que o processo lhe causara, e assim que os abriu, o mundo parecia transformado; o céu agora tingido por um vermelho profundo, repleto de nuances sombrias e sinistras. As sombras alongadas das árvores se estendendo de maneira distorcida, as estrelas cintilando de forma irregular como se dançassem em desordem no firmamento. Uma sensação de dominação sobre a energia o envolve, um controle que ainda tenta descobrir como manejar. No instante seguinte, o vermelho do entorno se torna ainda mais vivido, como se sua visão fosse encoberta por sangue, e mais um segundo depois, seu corpo colidiu com o chão em um baque forte.

      — Mas o que...? - Desnorteado, ele se levantou.

Sequer alcançava quando caíra, mas divergente da primeira vez, ele sentia que tudo mudara. Svartalfheim voltara ao normal, os tons vermelhos e escuros voltaram a ser o que encontrara pela primeira vez, e olhando ao redor, a natureza temerária roubou a cena, o incitando a mensurar quanto poder agora comportava em seu íntimo, vez após vez, ele ensaiou todos os benefícios concedidos por aquele líquido que agora parecia deslizar em suas próprias veias.

Assimilar a grandiosidade do Éter custara à Yon-Rogg longos meses de prática e estudo de si mesmo. O planeta inabitado facilitara o processo, permitindo-o mergulhar profundamente em suas descobertas até que ele fosse capaz de dominar todas as suas nuances. Sua mente turva de ódio e rancor guiaram-no em um caminho único e bem definido que possuía um nome: Vers, ou como a própria se denominara agora, Carol Danvers. Reparar a nave de guerra não fora uma preocupação tão grande como havia sido ao primeiro olhar, o poder em seu interior era tanto que bastava ele ter intencionado em seu coração para que tornasse realidade. As coordenadas no painel de controle indicavam que o planeta C-53 estava há uma distância razoavelmente grande, e o local de salto mais próximo se encontrava há quarenta e duas horas. Pela primeira vez, isso não o incomodou, ciente de que poderia realizar a viagem em um piscar de olhos, optou pela calmaria da lenta viagem, dando tempo a sua mente de repassar ainda mais vezes o que faria. Não é como se ele não possuísse, de fato, todo o tempo dos mundos.

Planeta C-53 — Terra.

O centro de controle dos Vingadores, conhecido entre poucos privilegiados como Complexo A, erguia-se majestosamente, uma jóia tecnológica concebida nas entranhas de uma antiga base da S.H.I.E.L.D. concedida ao Capitão América por Margaret "Peggy" Carter, esta fortaleza multifacetada servia como epicentro das operações dos Vingadores. Sua estrutura, imponente e grandiosa, abrigava laboratórios alimentados por inovações quânticas, salas de estratégia equipadas com projeções holográficas e salas específicas sobre tecnologias alienígenas. Sem mencionar todo o aparato médico, existência de munições e armas de âmbito nuclear, e um espaço amplo para o pouso de aeronaves terrestres e espaciais. Além de seu propósito operacional, o Complexo também servia como lar para aqueles que ousavam enfrentar os perigos eminentes. Dormitórios abraçavam a singularidade de cada membro, proporcionando um refúgio entre batalhas contra forças inimagináveis.

Entre as miríades de tecnologia avançada, resplandecia um verdadeiro prodígio da inteligência artificial: Sexta-Feira. Esta IA, tão essencial quanto invisível, era a mente e a voz que permeava cada fio e circuito da fortaleza. Desenvolvida pelo brilhante Tony Stark, Sexta-Feira representava a síntese do conhecimento cibernético. Com uma existência sutil, mas onipresente, ela orquestrava o funcionamento harmonioso do complexo. Seus algoritmos intrincados não só monitoravam os sistemas, mas também serviam como uma conselheira confiável para os Vingadores, oferecendo insights e estratégias fundamentais em momentos críticos. Sua voz suave ecoava nos comunicadores pessoais dos heróis, orientando-os com precisão milimétrica. Sua inteligência não conhecia limites, assimilando dados, prevendo cenários e antecipando ameaças antes mesmo de emergirem. Ela era o mastro das inovações, refinando tecnologias, identificando colunas e colaborando com as mais geniais mentes para criar soluções além do alcance humano. 

Natasha Romanoff, espiã de reconhecimento mundial, e atual agente da S.H.I.E.L.D., caminhava pelos corredores longos e amplos com certa pressa. O dispositivo em sua mão emitia som e cor, como um alerta vermelho, e o bip estridente e ininterrupto começava a irritar a ruiva. A porta se abriu em um baque, e Rogers encarou a mulher com confusão enquanto se levantava do tatame onde treinava com Sam Wilson.

     — Nat? - O tom de dúvida era nítido.

     — Precisamos do Stark. Agora.

A fala incisa serviu de pauta suficientemente alarmante para que o homem tomasse ciência da dimensão da situação. Trocando um rápido olhar com o homem ao seu lado, ele o dispensou antes de subir as escadas que o levariam em direção à Romanoff.

     — O que houve?

     — Os satélites detectaram uma comitiva de mais de cem naves se dirigindo para a Terra. Como se não fosse o suficiente, um planeta surgiu no nosso sistema solar absolutamente do nada.

     — Como isso é possível?

     — Não faço ideia, mas precisamos da ajuda do Stark, Steve.

Concordando com um aceno de cabeça, eles saíram da sala em unidade. Natasha desligou o tablet em sua mão para que o aparelho interrompesse sua emissão de poluição sonora. Próximos ao heliporto, onde usariam o quinjet para se locomover em direção ao magnata, playboy, filantropo e todas as outras inúmeras maneiras egocentricamente irritantes com as quais Tony referia-se a si mesmo, eles foram surpreendidos quando a máquina de ferro pousou em sua frente. O ruído metálico em atrito com o chão cimentado fora característico e até mesmo conhecido para os dois heróis.

     — Stark, nós...

O capacete se retraiu, expondo a face do homem, expressões usuais de tédio e conhecimento prévio enfeitando o conjunto que era adornado em somatório com sua palma erguida em um óbvio desdém.

     — Não prossiga, eu já sei. A festa está prestes a começar. Apenas estou aqui para apreciar o show enquanto o resto do mundo é pego de surpresa. Infelizmente tive que adiar meu rigatoni alla carbonara com Pepper, mas depois levo um shawarma como pedido de desculpas.

Nick Fury era como uma epítome do conceito de furtividade, já havia demonstrado sua dominação neste quesito quando surgira na fazenda dos Bartons, em Missouri. Seguido disso estava sua aparição épica em Sokovia, enquanto a cidade flutuava metros acima, pairando no ar em uma ameaça de extinção em massa. Todos os feitos eram do saber dos presentes, por este motivo, Rogers ignorou deliberadamente o tom inadvertido de Stark, focando sua atenção no homem que também surgira.

     — Estou começando a me preocupar com a dimensão da situação.

     — É para estar, Steve. Um planeta surgindo do além, somado a uma comitiva de boas vindas com naves militares nunca pode ser uma boa notícia.

     — Presumo que esteja aqui com algo tão grandioso quanto nos forneceu em Sokovia.

     — Olha só, Romanoff, se não fosse eu e o Thor, a Terra inteira iria apenas... - Suas mãos gesticulam como uma pequena explosão.

     — Eu tenho algo melhor do que Sokovia. - Ignorando a assertiva de Tony, o homem ofereceu a eles a visão de um pager.

     — Espera, quer dizer que nossa solução é um personagem dos anos 80 do Jean-Claude Van Damme ou do Sylvester Stallone?

     — Não, Stark, embora pareça que você adoraria que fosse. Uma amiga me disse para chamá-la apenas em emergências e essa me soa como uma situação específica a ser classificada como emergência. - Pressionando um botão específico, a mensagem foi imediatamente enviada.

Há anos luz de distância dali, o chamado seguia sua trajetória rumo ao seu destino, posto no dispositivo acoplado no braço do traje disposto pela Starforce, embora os anos tenham gerado mudanças significativas. Carol Danvers, deveras ocupada em reunir um grupo de Skrulls no interior de uma nave de resgate, sentiu seu corpo retesar ao ouvir o sonido característico de notificação. Talos, que portava uma arma e apressava os passos dos de sua espécie, enviou a mulher um olhar ciente. Os dígitos da loira se moveram rapidamente sobre o dispositivo, confirmando apenas, o que já imaginava. A mensagem de Fury. Algo estava muito errado, e ela sentiu isso pelo arrepiar de sua nuca.

     — Você deveria ir agora.

     — Precisamos terminar de desocupar o planeta.

      — Sua casa precisa de você, Carol. Fez mais do que o suficiente por nós. Vá.

A quem ela queria enganar? Seu coração palpitando em seu peito demonstrava o quão aflita e preocupada a mensagem lhe deixara. Não serviria para uma missão séria agora, não quando não poderia se concentrar em salvar vidas. Com um breve e simples aceno, ela concordou. Estava na hora de partir. Talos, seu companheiro nas mais insanas empreitadas, lhe sorriu, a desejando boa sorte em seu dialeto. Numa propulsão de energia, a mulher se elevou da superfície planetária, a força de impulso a jogando diretamente no espaço. Trezentos mil quilômetros por segundo, é a velocidade máxima já registrada pelo universo, a velocidade que compõe o deslizar da luz, e com a qual Danvers se movia pelo espaço.

Nada nesta vida é por acaso, por mais caótico que seja experimentar as incontáveis nuances do viver. É pertinente manter-se conectado a esta assertiva. Carol descobriria a amplitude dela em breve, sendo testada pelo destino. A única certeza que se havia, era de que nunca mais ela seria a mesma.


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