Tina saiu da casa de Lúcio, ainda pensando naquele enigma de homem. O sol brilhava alto no céu, e ela acelerou na sua motocicleta pelas ruas ensolaradas, o vento bagunçando seus cabelos. Lúcio permanecia um mistério, e ela se perguntava se algum dia conseguiria decifrá-lo.  Chegando à "Doce Despedida", Tina estacionou a motocicleta, e ao entrar na loja, o sino acima da porta tilintou, a sua mãe sorriu ao vê-la.

"Como foi a entrega, querida?" perguntou Yolanda, seu avental florido manchado com a doçura do trabalho diário.

"Foi... uma experiência," Tina respondeu, escolhendo suas palavras como quem escolhe ingredientes para uma receita complexa.

"Isso parece bom, pois temos mais encomendas para serem entregues hoje”. 

Tina pegou a lista de entregas do dia e saiu novamente, subindo na sua motocicleta.

As casas e os prédios passavam rapidamente, e ela se sentia parte de um pequeno universo.

Tina pilotava pelas ruas da cidade com os bolos cuidadosamente armazenado na caixa de transporte. Seu capacete estava um pouco torto.

Quando Tina entregou o bolo de chocolate e framboesa para Isadora que parecia estar nervosa. "Boa tarde. Aqui está o seu bolo da 'Doce Despedida'."

Tina imaginou as palavras escritas ali: "Adeus, Isadora. Obrigado por tudo." 

"Obrigada", disse ela, com a voz rouca. "É estranho, mas... isso ajuda."

Tina assentiu. "Às vezes, um pedaço de bolo pode fazer toda a diferença." Mesmo com  a câmera em mão, Tina não conseguiu registrar. Ela se afastou, voando de volta para a loja. O sol se punha, e Tina pensou em todas as histórias que aqueles bolos carregavam. Ela era a mensageira das despedidas, e, de alguma forma, isso a fazia sentir-se conectada a cada coração partido da cidade.

O restante do dia passou em um borrão de endereços e despedidas, a cada entrega um capítulo fechado na vida de alguém. 

À medida que a noite se aproximava, Tina voltou para casa, cansada, mas satisfeita. Ela guardou a sua motocicleta no pequeno quintal e entrou no apartamento em em cima da padaria. Com um chá fumegante nas mãos e um livro esquecido em seu colo, Tina se permitiu sonhar. Sonhar com olhos verdes e sorrisos misteriosos, enquanto a lua, uma testemunha silenciosa, iluminava o caminho para o desconhecido. Lúcio invadia sua mente, um enigma que a desafiava a desvendá-lo.

E assim, Tina adormeceu, sonhando com enigmáticos olhos verdes, enquanto a lua brilhava lá fora, iluminando o mundo que a cercava.