Cisne Negro escrita por Atena


Capítulo 5
A verdadeira história




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Edward

9 de setembro

 

A semana passou mais rápido do que eu podia acompanhar. Nos últimos cinco dias eu estudei, acompanhei a rotina da empresa, fui a mais conferências e reuniões do que podia ter imaginado, malhei na academia e, sobretudo, treinei com Carlisle até atingir a exaustão e desabar na cama tão cansado que minha mente não foi capaz de criar nenhum sonho – ou pesadelo.

Os treinos eram a melhor parte do meu dia. Desde muito novo, antes mesmo antes da morte dos meus pais, eu aceitava de bom grado as aulas de tiro, artes marciais, idiomas, estratégia e até mesmo de esgrima que o Carlisle dava a mim e ao meu irmão. O que no início era apenas meu passatempo favorito se tornou essencial após o assassinato dos meus pais, além de uma excelente forma de esvaziar a mente e descontar toda a raiva e frustração que eu guardava dentro de mim.

Desde o fatídico pesadelo eu não havia mais tido aqueles sonhos, mas diversas vezes por dia eu me via pensando nela. O que não era muito diferente do comum, mas se intensificou na última semana, motivo pelo qual eu mergulhava nos treinos com mais ferocidade que o normal.

Além disso, os treinos eram os poucos momentos em que eu podia passar um tempo com meu pai adotivo. Ele estivera anormalmente ocupado, sempre trancado em seu escritório, e eram raras as vezes que eu o via, mesmo nas refeições. E apesar de gastarmos algumas horas no tatame, trocávamos poucas palavras além das dicas e ensinamentos que ele tentava me passar.

Por conta disso passei até a acreditar que ele estava me evitando, não fosse as suas iniciativas de me chamar para treinar todos os dias. Frequentemente eu lembrava da fala dele sobre querer conversar comigo sobre meus pesadelos, mas ele não tocou mais no assunto – e eu agradecia. Já me sentia maluco o suficiente sem ele pedir para eu iniciar algum tipo de terapia para resolver essa questão.

Quanto a Alice, ela ficava mais eufórica e ocupada conforme a data do baile se aproximava, que seria naquela noite. Mesmo entre tantas obrigações dentro da empresa ela fazia questão de participar dos mínimos detalhes da organização da festa beneficente, e eu, como seu “assistente” frequentemente me via em reuniões escolhendo tipos de tecidos e flores para a decoração, mapas de mesas e outros detalhes dos quais eu não tinha nenhum conhecimento prévio.

Era nesses momentos que eu me via pensando em deixar as Industrias Masen em suas mãos habilidosas de forma definitiva. Ela definitivamente tinha nascido para aquilo e, sem ela, eu não via como dar conta de tudo com a mesma maestria.

Naquela manhã de sábado o céu de Manhattan nasceu ensolarado, os raios de sol entrando no quarto através das imensas janelas de vidro que iam do chão ao teto e me proviam a linda vista do Central Park. Eu ainda estava com dificuldades para me acostumar a diferença de estações entre a Índia e os EUA, mas estava grato pelo lindo dia.

Meus lençóis confortáveis eram convidativos demais para obrigar meu corpo cansado e dolorido a sair da cama, mas Alice não parecia ligar para isso, pois logo ela entrou em um rompante no quarto, quase flutuando no ar em felicidade.

— Alice! – eu exclamei, tentando cobrir meu corpo o mais rápido possível já que estava usando apenas uma samba-canção. – Bata na porta, por favor!

Eu sentia meu rosto quente pela vergonha, mas ela nem parecia estar lidando.

— Para com isso, crescemos juntos. – Ela revirou os olhos, trazendo consigo uma caixa enorme. Parecia pronta para o dia, pois estava maquiada e vestindo um vestido verde de algo que parecia seda ou cetim. – Vim trazer seus smokings para hoje à noite, e posso afirmar que eles ficaram perfeitos! Você vai desfilar para mim para que eu possa escolher.

Eu gemi, cobrindo o rosto com um dos meus travesseiros.

— Não esqueça de prova-los uma última vez, caso necessite de algum ajuste – ela continuou. – Te vejo no café, bhaee. Temos uma surpresa para você.

Tirei o travesseiro do rosto assim que ouvi a porta fechar novamente e levantei, levemente curioso com o que quer que fosse a tal surpresa.

Meu quarto era enorme, quase tão grande quanto o quarto em Mumbai. Decorado em chumbo e azul-cobalto, contava com móveis de madeira escura no estilo industrial, um banheiro e closet, além de uma mesa de escrivaninha na qual eu mal havia tocado desde que havia chegado. As paredes eram escuras e uma delas era inteiramente de vidro, com cortinas automáticas que rolavam pelas laterais até se encontrarem no meio. As paredes eram pintadas nas mesmas cores da decoração e, bem no meio, minha parte favorita – minha cama, com um colchão incrível que me acomodava com sobras mesmo em meus 1,90 metros, recheada dos mais macios travesseiros.

Peguei a caixa e a levei ao closet, onde tirei cada peça e coloquei em diferentes cabides. Eram realmente muito bonitos. Alice havia pedido dois: um azul-marinho pois, segundo ela, destacaria meus olhos. Possuía lapelas acetinadas e o colete com a mesma cor do restante; e um bege, já que assim ela acreditava que eu me destacaria dos demais, com colete da mesma cor. As camisas eram uma azul e outra branca, e a ideia é que escolhêssemos um deles.

 Fosse o que fosse, eu confiava nela.

Tomei uma ducha morna para relaxar os músculos e, após me secar, vesti uma calça de moletom e uma camisa branca, optando por ficar descalço – era sábado, afinal.

Descendo as escadas já era possível sentir o cheiro de algo que estava sendo preparado na cozinha. Fui caminhando até lá enquanto ouvia as risadas preenchendo o ambiente e, quando cheguei, vi Alice no fogão e dois homens sentados na ilha de mármore, de costas para mim.

Apesar de termos sala de jantar, era comum para minha família fazer a maior parte das refeições na cozinha mesmo, algo que minha mãe fazia questão desde que éramos crianças, quando eu e Emmett assistíamos ela nos preparar diversos tipos de doces – desde kheer, uma sobremesa feita com arroz, leite e especiarias, até tiramisu, que mamãe dizia ser comum na Itália, feito com mascarpone, biscoitos, café e outros ingredientes.

— Bom dia – cumprimentei quando cheguei, e todos se viraram para mim.

Um sorriso enorme surgiu no meu rosto ao ver que, além de Alice e Carlisle, Emmett também estava ali.

— Emmett! – exclamei.

— Bom dia, irmãozinho. – Ele levantou para me abraçar. – Gostou da surpresa?

— É claro! Quando você chegou?

— Pela madrugada, enquanto você dormia feito uma estátua após apanhar do Carlisle no tatame.

Eu ri, e pude ver Carlisle sorrir junto comigo.

— Não perderia por nada um baile cheio de mulheres bonitas e boa comida – ele continuou. – Ainda mais sabendo que você estará lá sendo importunado por bajuladores. Vai ser a noite do ano!

— Vai mesmo – Alice concordou, apesar de rolar os olhos para o comentário de Emmett. – Agora comam! Logo, logo os barbeiros e cabeleireiros chegarão para nos deixar apresentáveis.

Ela serviu um prato com algo que eu reconheci como waffles, apesar de nunca ter comido, omeletes com pimentão e tomates-cereja, crepes com chocolate e avelãs, algumas frutas picadas e queijos-quentes. Alice trouxe diversos acompanhamentos, como manteiga, geleia de frutas vermelhas, manteiga de amendoim que eu descobri recentemente ser apaixonado, mel e até sorvete.

Eu me servi de uma xícara de café e montei um prato com pelo menos uma coisa de cada, assim como Emmett, que estava curioso para experimentar tudo. Assim como eu, ele nunca tinha pisado nos EUA antes, e a culinária era bem diferente do que estávamos acostumados.

Talvez fosse a nossa primeira folga, talvez fosse a chegada de Emmett... seja o que fosse, o clima entre nós quatro estava ótimo, quase como se estivéssemos em casa. Até o Carlisle estava todo sorridente, apesar de ter passado a semana inteiro pensativo e com olheiras sob os olhos, raramente aparecendo durante o dia.

— E então, o que acha de um pouco de corpo-a-corpo depois do café? – Emmett perguntou. – Espero que sua semana de folga não tenha te deixado mole.

— De forma alguma – Carlisle respondeu por mim. – Fiz questão de não deixar o Edward perder o ritmo.

— Isso é verdade. Nunca apanhei tanto – eu ri, concentrado demais nas omeletes.

— Bom, a menos que algum de vocês queira ser maquiado hoje, nada de treino – Alice mandou. – Não quero saber de olhos roxos no baile de hoje.

Meu irmão bufou.

— Pode deixar, mamãe – Emmett brincou. – Prometo mirar só nas partes íntimas.

Apesar de provocarmos Alice mais um pouco, todos concordamos em tirar o dia para relaxar.

Depois de limparmos toda a cozinha, Allie saiu para conferir o andamento da organização do baile e eu e Emmett fomos para a sala de cinema, que nada mais era do que um cômodo com sofás e poltronas confortáveis, uma televisão de 100 polegadas e um sistema de som incrível, enquanto o Carlisle novamente se enfurnou em seu escritório.

Passamos a manhã inteira assistindo Wandavision, já que meu irmão era viciado na Marvel, e comendo tigelas imensas de pipoca. Trocamos poucas palavras além dos comentários referentes a série, até Emmett anunciar que acreditava que estava apaixonado.

— O que? – Eu engasguei com a pipoca. – Desde quando? Por quem?

— Bem... – Mesmo no escuro, eu pude ver suas bochechas levemente vermelhas. – É uma estrangeira. O nome dela é Rosalie, nos conhecemos nas Grutas de Elefanta, sabe, em um dos meus passeios. Ela estava turistando.

Eu arqueei as sobrancelhas, surpreso com aquela notícia.

— Há quanto tempo? O Carlisle já sabe?

— Não! Edward, por favor, não fale nada pra ele ainda. Quero contar quando eu estiver pronto. Não sei o que ele vai pensar a respeito de ela ser estrangeira.

— Ele é muito mente aberta, Emmett – eu o tranquilizei. – Fique tranquilo com isso.

Emmett suspirou e encostou a cabeça nas costas da poltrona.

— Faz pouco mais de alguns meses, e acho que você iria gostar muito dela. Ela se interessa muito pela nossa cultura, costumes... é italiana. Mesmo que ela tenha voltado para o seu país, conversamos todos os dias. E ela é tão inteligente, e linda.

Pensei a respeito daquilo. A Índia não era a mesma de alguns anos atrás, e nossos pais nunca seguiram muito os costumes do nosso país. Nem parecíamos indianos, na verdade, o que com certeza devia tranquilizar bastante o meu irmão. Ainda assim, nós dois nunca tínhamos tido um relacionamento antes, e mesmo que Emmett fosse apenas 2 anos mais novo que eu, eu ainda me preocupava com ele.

Estava prestes a perguntar a ele como seria a logística de um relacionamento a distância, quando o sr Carlisle entrou na sala. A expressão dele era de um homem cansado.

— Meus filhos, desculpe a interrupção – ele disse. – Mas creio que precisamos conversar sobre um assunto delicado.

Eu e Emmett levantamos na hora, e pude ver em seus olhos que ele estava tão confuso e preocupado quanto eu.

Seguimos nosso pai até seu escritório, um ambiente aconchegante com diversas estantes recheadas de livros dos mais diversos assuntos, uma lareira, sua mesa e um pequeno bar.

Ele se dirigiu até lá, tirou três copos de whisky da gaveta do aparador e serviu doses duplas para nós três, o que só me deixou mais tenso. Era raro vermos ele bebendo e, mais raro ainda, vê-lo oferecer álcool a nós dois.

— Por favor, sentem-se – ele indicou as duas poltronas em frente a sua mesa e nos alcançou nossos respectivos copos antes de se sentar na sua própria poltrona.

A mesa de mogno, em geral sempre impecável, estava coberta de papéis, documentos e até fotos.

Eu sentei acompanhado do meu irmão e fitei uma foto de aparência antiga onde seis homens de terno sorriam para a câmera, segurando taças de champagne em um local que parecia um lindo jardim. Ao fundo, algumas pessoas dançavam.

— É meu pai? – eu perguntei enquanto segurava a foto. Ele parecia muito mais jovem, não devia ter mais que uns 20 anos. Não reconheci mais nenhum dos homens, apenas um me parecia familiar, embora eu não soubesse de onde.

— Sim – meu tutor respondeu, suspirando.

Ele tomou um gole do seu copo e então nos fitou, juntando as mãos à sua frente de modo que apenas as pontas dos dedos se tocavam.

— O que vou contar a vocês pode ser um pouco... perturbador, para dizer o mínimo. Mas preciso que mantenham a mente aberta e entendam que tudo o que foi feito foi para garantir a segurança de vocês.

— Nossa segurança? – Emmett perguntou. – Nossa segurança do que?

Eu concordei mentalmente com ele. Eu sabia que éramos uma família bastante abastada graças aos esforços dos meus pais, mas afora o acidente que culminou no falecimento deles, nunca nada nos havia acontecido. Tínhamos nossa equipe de seguranças que sempre vigiava nossa casa, mas sempre com o intuito de evitar assaltos e demais coisas relacionadas ao nosso status.

— Para que vocês possam entender tudo, antes precisam conhecer a história de vida dos seus pais. A história verdadeira, mais precisamente.

História verdadeira? Aquilo foi o suficiente para me fazer tomar um gole do líquido âmbar na minha frente, mas nem a queimação que desceu por minha garganta foi o suficiente para diminuir minha ansiedade.

Carlisle se recostou melhor na sua poltrona e seu olhar pareceu viajar, como se estivesse imerso em pensamentos.

— Bem, para começar, seus pais não são indianos. Nenhum de vocês é. Vocês cresceram na Índia, mas é isso. Sua mãe, Deschen, era asiática, e seu pai era italiano. Ambos se conheceram na Itália, mais de 30 anos atrás.

“Seu pai... ele trabalhava com certas coisas ilegais, digamos assim, junto com esses outros homens da foto. Ele, juntamente com esses outro quatro, trabalhavam para este homem, Aro Volturi – ele apontou a foto, seu indicador apontando para o homem que estava ao centro. Devia ter menos de 30 anos, e os dedos da mão que seguravam a taça eram adornados por diversos anéis de ouro. – Agora, esta talvez seja a parte mais difícil para vocês: seu pai trabalhava em uma das maiores máfias da Itália, que até hoje comanda um grande território do país. Eles comercializavam armas, drogas e, com o tempo, passaram a traficar mulheres também.”

Arregalei os olhos, em choque com toda aquela informação. Saber que eu, na verdade, não era quem eu acreditava ser já era desorientado o suficiente. Mas saber que meu pai era na verdade um mafioso e que, além disso, fazia todas aquelas coisas...

— No início eram apenas as armas e as drogas, mas Aro era um homem ambicioso – ele continuou. - Logo ele começou a abrir casas de prostituição, boates onde lavava a maior parte do dinheiro e, em seguida, começou o sequestro e tráfico de jovens mulheres. Seu pai e esses outro quatro homens eram os homens de maior confiança de Aro, além de também serem seus conselheiros.

“Eles desde o início se opuseram ao tráfico humano. Era além do que eles podiam suportar, já destruíam vidas o suficiente. Mas era o Volturi quem dava a palavra final, e se ele assim decidiu, eles apenas podiam aceitar.”

A essa altura, tanto meu copo quanto o de Emmett já estavam vazios, portanto meu tutor tornou a enche-los antes de pegar a foto novamente.

— Os homens da foto são Lorenzo Ricci, seu pai, Italo Santoro, Aro, e os irmãos Vincenzo e Pietro Bertolli. Pietro era o braço direito de Aro, mas foi um dos primeiros a pensar em desistir de tudo quando viu o que seu amigo estava se tornando. Sabe, todos vieram de famílias simples e, juntos, ajudaram a construir o Império Volturi, como era conhecida a máfia e até hoje a chamam assim.

“Aro tinha uma sede de poder insaciável, era disposto a ir em lugares que poucos iriam. Dessa forma, o próximo passo dele foi tentar criar uma espécie de arma biológica, e com Italo ao seu lado isso era possível. Ele era um químico excelente com doutorado em biologia, então logo a produção começou.

Mas o Italo estava preocupado com os resultados que aquela arma poderia gerar, principalmente nas mãos de Volturi, então ele contou ao Pietro. Àquela altura, todos os cinco já estavam hesitantes a respeito das ações do homem que outrora era como um irmão para eles, mas que aos poucos se transformou em alguém irreconhecível. A arma biológica foi o estopim.”

— Eles conseguiram criar a arma? – eu perguntei. Apesar de estar horrorizado, também estava curioso. Minha mente trabalhava a todo vapor.

Carlisle olhou fundo nos meus olhos antes de assentir.

— Italo era o mais velho de todos eles, e enrolou o Volturi o máximo possível. Quando os cinco ficaram sabendo da Arma, eles decidiram que era hora de dar fim a aquilo tudo. Mas infelizmente, não é possível simplesmente renunciar da máfia. Não é assim tão simples. Então eles decidiram que iriam fugir.

“Seu pai e sua mãe já eram casados, vocês tinham 1 e 3 anos. A esposa de Pietro estava com 8 meses de gestação. Nenhum deles queria esse futuro para vocês. De todos, apenas Vincenzo parecia hesitante em fugir. Ele era o irmão caçula de Pietro, era jovem... mas ele sabia que, se ficasse, Volturi o torturaria até encontrar o seu irmão. Então ele acabou aceitando.

Eles roubaram a arma numa madrugada e fugiram todos juntos, inclusive as duas esposas, até a França. Ali, todos eles criaram novos documentos, assumiram novas identidades, e então foram para a Áustria.

Todos fugiram com as suas economias, poucas roupas, algumas armas e muito, muito medo. Não demorou muito até Volturi encontra-los e, a essa altura, a criança dos Bertolli era uma recém-nascida que quase morreu no tiroteio. Quando escaparam, todos fugiram outra vez, agora para o Reino Unido, mas eles sabiam que enquanto estivessem na Europa, seria questão de tempo até serem encontrados de novo.

Então eles decidiram que era hora de se separar. Todos trocaram de identidade uma outra vez e cada um foi para um destino diferente, longe da Itália e o mais longe possível da Europa. Combinaram que nunca mais iriam se comunicar e nenhum saberia o destino dos outros. E desde então, eles realmente nunca mais se viram.”

Ele se recostou melhor em sua poltrona, parecendo ainda mais cansado, mas, de certa forma, um pouco aliviado.

Já eu estava com os nervos à flor da pele. Era demais para aguentar. Sentia uma dor aguda nas têmporas e estava em completo choque com toda a informação. Emmett não parecia muito diferente de mim.

— Então nós fomos para a Índia? – ele perguntou, e Carlisle assentiu com a cabeça antes de entornar todo o whisky do seu copo.

— Foi assim que seus pais me conheceram – ele disse, servindo mais. – Quando chegaram aqui, usaram parte do dinheiro para se estabelecer e contratar uma equipe de seguranças fortemente armada. A outra parte foi usada em investimentos dos mais diversos tipos, até ele fundar as Industrias Masen, que foi o novo sobrenome que ele adotou.

“No início, eu era apenas um jovem ex-militar. Atuei como segurança da sua propriedade e rapidamente ascendi ao posto de segurança particular da família, até virar o chefe. A partir daí criei uma ligação especial com todos vocês, e seu pai me confidenciou seu maior segredo.”

Um estalo soou na minha cabeça, e algumas peças foram lentamente se encaixando. Era essa a razão para termos sido treinados a vida inteira... eles estavam tentando nos proteger o tempo todo.

— Carlisle... – eu falei -, o assassinato deles. Foi ele? Foi esse Aro?

Meu tutor encolheu os ombros.

— Honestamente eu não sei. Oficialmente, vocês dois faleceram naquele tiroteio. Alguns desses documentos aqui são suas certidões de falecimento. Ainda assim, se tivesse sido ele, rapidamente ele teria chegado até vocês. O Império Volturi cresceu muito desde aquela época. Além disso, mesmo com a empresa do seu pai se tornando imensa, ele sempre manteve a vida muito privada, nunca aparecendo em grandes eventos ou fazendo aparições públicas. Em teoria, os documentos da empresa me apontam como o CEO, por isso Alice é a diretora-interina.

— E por que você está nos contando isso agora? – Emmett se pronunciou pela primeira vez.

Carlisle sorriu. Mesmo parecendo exausto, estava de certa forma aliviado. Guardar um segredo desses por tanto tempo...

Ele apontou as pilhas de documentos e outras fotos.

— Porque, segundo meus informantes, Aro tem dado as caras. Ele já encontrou dois dos antigos aliados, e tenho razões suficientes para acreditar que eles virão atrás de nós em breve.

— Porra – suspirei, afundando o rosto nas mãos.

— Por esse motivo trouxe você da Índia, Emmett – ele continuou. – A partir de agora ficaremos sempre juntos, vocês estarão acompanhados de seguranças armados 24h por dia, inclusive hoje, no baile.

— O baile – eu ri, lembrando que dali a algumas horas estaríamos dentro de um salão lotado de gente. Era mais do que eu poderia aguentar em um dia só. – Não podemos simplesmente cancelar?

— Infelizmente não, Edward. Todas as propriedades da Índia estão sendo vendidas e, por ora, nos estabeleceremos aqui, nos Estados Unidos. Ainda assim, precisamos levar a vida com o máximo de normalidade possível. Era isso o que seus pais queriam para vocês, e é isso o que faremos. No entanto, já estava na hora de vocês terem ciência da sua verdadeira história.

Eu sentia minha garganta e lábios secos, então terminei meu segundo copo de whisky em um gole só, esperando que aquilo me trouxesse o ânimo e a coragem necessários para enfrentar o que viria pela frente.

— Ainda temos mais alguns assuntos a discutir, mas por enquanto isso é tudo. Já é demais para um dia só. Logo a equipe de Alice estará aqui para deixa-los apresentáveis, então sugiro que descansem, pensem bem a respeito de tudo isso e esfriem a cabeça. Acredito que essa noite será, de fato, inesquecível para todos nós.

Ele piscou para mim e, com um aceno da mão, pediu para que eu e Emmett nos retirássemos.

Eu não fazia a menor ideia de o que pensar a respeito de tudo aquilo, precisava sentar e pensar com calma. Eu provavelmente deveria estar com raiva após descobrir que toda a minha vida tinha sido uma mentira, mas não conseguia... estava angustiado com toda aquela informação. Sentia que algo estava escapando da minha mente, e inconscientemente passei a esfregar o amuleto que havia sido presente dos meus pais, completamente ansioso.

Mas Carlisle tinha razão – era informação demais. Então fui até o banheiro e, enquanto a água gelada caía pelo meu corpo, respirei fundo algumas vezes para me forçar a relaxar, embora eu soubesse que não havia nada que eu pudesse fazer para acalmar o turbilhão que era a minha mente.


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