— Ela não quer ajudar! — Ryota Kise murmurou, expressando um desapontamento travesso.

— Não é por não querer. — Respondeu Hikari, ignorando a fofura do loiro. — Sempre que tento ajudar, surge uma multidão de garotas. Você simplesmente deixa de lado o treino para dar atenção a elas.

— Ah, é isso? Bem, elas vão embora depois…

— Claro. Só tenho que esperar umas duas horas…

— Parem a discussão. — Kuroko tentou acalmar os ânimos. — Hikari, eu sou responsável por ele e só preciso de um começo para que ele se adapte ao time. Pode me ajudar, por favor?

Ela suspirou, cansada. Mesmo discordando, concordou em consideração a Kuroko e à amizade que eles possuíam.

— Certo. Vamos para a quadra. Preciso que joguem um contra o outro para eu poder analisar algumas coisas. No entanto, só direi uma vez: se aparecer alguma garota atrás de você…

— Prometo tentar me concentrar no jogo. — Afirmou o modelo, animado.

Logicamente, Kise ganhou. Ele ainda se questionava o motivo de aquele garoto com tanta falta de presença ter sido escolhido como seu veterano responsável.

— Uau! — Exclamou Hikari, maravilhada.

— Eu jogo muito bem, não acha? — Brincou o mais convencido.

— Estou impressionada. Suas habilidades melhoraram bastante, Tetsuya!

— Como assim… Ei! Ele mal encostou na bola!

— Bem, pode ser complicado para um novato entender a habilidade dele…

— Você está aqui para me ajudar ou… — Disse Kise, contrariado.

— Calma. Já tenho algo em mente para você. — Respondeu a garota.

Aquela manhã foi agitada para os três. Passaram a maior parte do tempo na quadra reforçando questões e aprimorando passes. Logo, com compromissos marcados, Huryome teria que partir dali.

— Obrigado pela ajuda, Hikari. — Agradeceu Kuroko.

— De nada. E preste atenção no que falei para você, Kise.

— Eu prestei! — O loiro falou, por fim. — De qualquer maneira, obrigado!

Ela acenou com a cabeça e partiu. Com a entrada de Kise no time, a dinâmica poderia mudar. Haizaki Shougo enfrentaria dificuldades, já que costumava faltar aos treinos para fazer coisas fúteis e não seguia os conselhos dela, sempre agindo ao contrário do que lhe era orientado.

Como esperado, Kuroko e Kise formaram uma excelente dupla no jogo de teste. A sintonia entre eles foi notável. Além disso, o modelo havia treinado algumas técnicas que Hikari considerava cruciais e que, de fato, deram resultado. Ele foi finalmente promovido para o time principal. No entanto, Shougo ainda permanecia no grupo.

— Haizaki! — Gritou a azulada. — Você entendeu o que acabei de dizer?

— Hmm? Sobre melhorar minha postura e blá blá blá? Na verdade, não. Estou mais interessado em contar quantas moedas tenho para jogar no fliperama. — Respondeu, mexendo as mãos nos bolsos e deixando que o som das moedas fosse ouvido.

— O quê! Francamente. — Ela desistiu, largando a prancheta no banco de reservas. — Eu não sei mais como ajudar você. Desisto.

— Ora, ora, Hury. Não desista assim de mim. Sei como pode me ajudar. Que tal combinarmos mais tarde… — O indivíduo maior disse, aproximando-se com um sorriso malicioso.

— Ah! Fique longe de mim!

— Haizaki. — Akashi advertiu instantaneamente. — Afaste-se dela imediatamente. Esse comportamento vil não é bem-vindo aqui.

— E você vai me parar, Akashi? — Ele sorriu, irônico, encarando-o.

— Chega. — Desta vez, foi Nijimura quem assumiu o controle da situação. — Saia. Não tolerarei nenhum desrespeito em relação às garotas também.

Shougo respeitou o capitão, sem discutir. No entanto, não ficou satisfeito com como Akashi o repreendeu inicialmente. De qualquer forma, saiu do ginásio.

— Ele nunca aprende, né? — Comentou Momoi, aproximando-se da azulada. — Você está bem, Hika?

— Estou, Satsu. No entanto, não poderei mais ajudá-lo se continuar assim. — Huryome virou-se para Nijimura. — E não tenho certeza se quero tentar novamente.

— Não será necessário. — Redarguiu Seijuro. — Em breve, tudo mudará.

Nijimura observou Akashi em silêncio. Mais cedo, os dois haviam conversado. O atual capitão estava lidando com problemas pessoais e considerava passar o cargo para o garoto de cabelos rosados, mas apenas os dois sabiam disso. Talvez fosse a melhor decisão para a equipe no final das contas.

* * * * * *

Após o término das aulas, Midorima e Akashi perambulavam pelos corredores da escola. Após um dia exaustivo, ansiavam por voltar para casa mais do que qualquer outra coisa.

Midorima, porém, estava curioso para saber: como Haizaki e Kise ocupavam a mesma posição, quem seria o reserva? Talvez o loiro, que havia se juntado recentemente ao time.

— Ele continua faltando nos treinos. — Iniciou a conversa. — E quando aparece, situações como a de hoje acontecem. Não foi coincidência Kise aparecer e jogar na mesma posição que ele, acredito.

— Não entendi o que você quer dizer. — Seijuro respondeu, despreocupado.

— Haizaki continua sendo um bom jogador. Ele será o titular e Kise será o reserva.

— Não, acho que não. — Replicou Akashi. — Haizaki não consegue se equiparar ao potencial e ao ritmo de evolução de Kise. Além disso, Nijimura será o reserva. O comportamento terrível de Haizaki é inaceitável e mantê-lo só traria prejuízos para o time. Não precisamos mais dele. Farei com que saia o mais rápido possível.

Midorima ficou surpreso com a impassibilidade de Akashi naquele momento.

— Normalmente, Akashi é tranquilo, educado, talentoso e popular. Mas, às vezes, ele se transforma em alguém totalmente diferente, implacável. Pelo menos para mim, ele parece uma pessoa distante. Se for assim, qual é o verdadeiro? — Refletiu Shintaro, enquanto o seguia.

* * * * * *

Se algo perturbava Seijuro Akashi, era a ideia de fracassar.

Durante a semana de provas, em um jogo amistoso contra outra escola renomada, Teiko não estava se saindo bem. Os jogadores estavam mais preocupados em passar nos exames de matemática e física do que em se dedicar ao esporte, o que resultou em uma derrota por 78 a 80.

Estes detalhes afetavam diretamente a personalidade do rapaz de cabelos rosados. A partir daquele momento, ele se comprometeu consigo mesmo a nunca mais perder.

— Ei, Sei! — Hikari entrou na sala, interrompendo a partida de Shogi que ele disputava sozinho. — Eu sabia que te encontraria aqui. Aposto que se saiu muito bem nas provas. Trouxe uma água para você.

Seijuro não respondeu. A garota percebeu que algo estava errado e estranhou, mas, mesmo assim, insistiu.

— Está tudo bem? — Perguntou ela.

— E por que estaria? — Respondeu ele.

— Bem… Eu pensei que...

— Pensou errado. — Ele disse abruptamente, olhando fixamente para ela. Huryome notou uma mudança na expressão sempre gentil do rapaz. — O que achou da nossa derrota no jogo de hoje?

— Vocês perderam por apenas dois pontos, isso acontece. Vamos analisar os pontos…

— Como pode achar isso normal? Devemos sempre seguir o lema da nossa escola. Vencer é crucial. — Ele deixou o jogo de Shogi de lado e se aproximou da garota. — Ninguém vai revisar os pontos além de você, Hika. Isso é sua responsabilidade, não é?

Ela encarou-o, surpresa. O que teria acontecido ao gentil garoto que, subitamente, se envolveu em uma aura sombria?

— Hikari. Preciso de uma resposta.

— Por que… Está falando comigo desse jeito? Não vou aceitar.

— E eu não aceitarei mais erros. Faça o teste para se tornar capitã e aprimore suas habilidades de análise. Prometa, Hikari, que melhorará ainda mais nosso time.

Huryome não respondeu de imediato. Ainda tentava compreender a situação. Ela não mencionou o quanto se sentiu magoada pela sua postura severa, mas também não reconheceu o indivíduo à frente por um instante.

Ela simplesmente concordou e deixou o local. Não queria encará-lo pelo resto do dia.

* * * * * *

Chegou o momento do teste que determinaria a nova capitã do time de líderes de torcida. Hikari aparentava preparo, embora não unicamente para um salto em um desempenho qualquer. Se conseguisse superar aquele desafio, ela alcançaria o sucesso.

Mesmo sem alarde, a quadra externa já contava com a presença de alguns alunos empolgados. Dez meninas, entre veteranas e novatas, competiriam pela posição.

— Estou na torcida por você, Hika! — Exclamava Terumi, cheia de entusiasmo. — Se passar, será a nossa capitã!

— Obrigada, Teru…

— Hey… Você não parece tão animada. O que houve?

— Nada. Acho que é só nervosismo. — Relutava Hikari em admitir sua tristeza. Ela procurou o apoio do garoto que costumava estar presente, mas naquele dia ele não estava lá. As lembranças de uma conversa desagradável vieram à tona, porém logo ela afastou tais pensamentos de sua mente.

— Tenha confiança, Hika. Acredito em você! — Encorajou a amiga.

Huryome respondeu com um sorriso:

— Sim, vou conseguir, por você, Teru.

Quem não parecia apreciar o momento, como sempre, era Yukari. Ela não demostrava estar disposta a ceder facilmente o cargo de capitã. Na verdade, nunca pareceu considerar abdicar da posição. O que teria feito mudar de ideia a respeito disso? Algum problema pessoal?

O teste então iniciou, com todas as concorrentes demonstrando preparo. Gradualmente, ao longo dos minutos e etapas, uma delas era desclassificada. No final, restaram apenas três garotas; entre elas, a de cabelo azul-marinho.

A plateia ficava extasiada com cada movimento executado. Contudo, Hikari cometeu um erro em sua vez; Yukari sorriu, indicando que não passaria seu cargo para a menina azulada ao fim.

— Droga. — Refletiu Huryome, desapontada. — Ainda me sinto fraca, mesmo após todo esse esforço? Por quê?

Ela imergiu em seus pensamentos profundos, bloqueando tudo ao seu redor. Recusava-se a ceder à fragilidade. Enquanto auxuliava os outros a progredir, questionava por que não conseguia evoluir a si mesma. Qual seria, afinal, o cerne da questão?

Não. Aquela situação não podia acabar daquele jeito. Era preciso encontrar coragem e permitir-se crescer, deixando para trás tudo que a limitava, inclusive o medo de fracassar diante do novo. Ela ainda não havia desistido. O relógio estava prestes a soar. Por pouco não foi desclassificada, no entanto, persistiu. Concluiu sua apresentação com toda a coragem que havia conseguido reunir. Finalmente conseguira romper uma barreira.

Naquele mesmo dia, Yukari Sato concedeu a Hikari Huryome o cargo de capitã da equipe de líderes de torcida.