— Huryome. — O garoto aproximou-se, acompanhado.

— Sim? — Ela respondeu.

— Preciso de sua ajuda para aprimorar algumas habilidades dele.

— O que você quer dizer… — Hikari olhou para Akashi sem compreender. Estava fazendo uma piada? — Quem exatamente você quer que eu ajud-

— Oi. — Saudou o rapaz de cabelos azul-claros.

— AH! — Aquele susto definitivamente encurtaria alguns anos de vida. — Como… Como você chegou aqui!?

— Eu já estava aqui. — Retrucou.

— Não é possível, eu te veria! — Hikari ponderou por um momento. — Parece quase um fantasma…

— É nisso que vamos nos basear. — Disse Seijuro. — Tenho certeza de que fará um excelente trabalho com ele. — Após sorrir, satisfeito, deixou-os se conhecerem melhor. — Até logo, Kuroko.

— Até logo, Akashi.

— Tudo bem… — Ela ainda observava Kuroko com certa desconfiança ou, talvez, já estivesse planejando algo para ele.

— Algum problema? — O garoto perguntou imediatamente.

— N-Não. Apenas estava te observando.

— Hm, então… Continue. — Expressou, despreocupado.

Hikari tentou, mas se sentiu constrangida. Os olhos azul-claros de Kuroko estavam fixos nos dela, tentando compreendê-la.

— Vamos… Vamos deixar isso para outro momento. Qual é o seu nome?

— Tetsuya. Kuroko Tetsuya.

— É um prazer, Kuroko. Sou Hikari. Huryome Hikari. Por favor, me mostre o que você pode fazer. — Pediu, entregando-lhe a bola de basquete.

— Sim.

Quando ele segurou a bola, Hikari julgou estar diante de um verdadeiro jogador, até ele deixá-la para trás em jogadas simples e, tampouco, conseguir realizar uma cesta.

— Akashi, está brincando comigo? — Hikari cogitou, um pouco alto demais.

— Desculpe. Acho que ainda preciso melhorar muito. — Murmurou Kuroko.

— Não tem problema. — Suspirou Hikari, sorrindo em seguida. — Admiro sua determinação. Kuroko, você será um jogador incrível, prometo. Estamos juntos nisso.

Kuroko sorriu em concordância.

— Sim.

* * * * * *

No final da tarde, as atividades escolares foram encerradas, anunciado pelo sinal que liberava os alunos de suas obrigações estudantis e permitia que desfrutassem do restante do dia como quisessem.

Os amigos resolveram se encontrar em uma nova lanchonete que acabara de abrir perto da estação de trem.

— Esse lanche não é nada mau. — Murasakibara comentou, terminando seu terceiro hambúrguer.

— Apenas mastigue de boca fechada, Murasakibara.

— Você é um saco. — Ele respondeu rapidamente.

— E você deveria parar de ser tão relaxado.

— Vocês vão continuar com essas picuinhas? Vão assustar o Kuroko. — Hikari interveio. — Ele está na fila, e se chegar e ver vocês brigando, vai achar que é sempre ass-

— É sempre assim o quê?

— AH! K-Kuroko, por favor, avise antes de aparecer, ok? — A azulada ainda não estava acostumada com as aparições dele.

— Tetsu! — Momoi apareceu, abraçando o de cabelos azul-claros.

— Satsuki, porque você pegou essa mania, hein? — Aomine analisou.

— Momo, cuidado para não esmagar o Kuroko em seu abraço. — Disse Hikari ao observar a situação. — Ei, Akashi, pensei que não viria lanchar conosco… — Acrescentou em seguida.

— E por que pensou isso? — Ele questionou, encarando-a

— Bem…

— Porque este lugar é simples. — Explicou Midorima. — Você tem certeza de que está à vontade aqui?

— Claro. Gosto de coisas incomuns. É bom poder passar um tempo com vocês. — Respondeu ele, voltando-se para a azulada. — Além disso, estamos celebrando sua conquista de entrar para o time de líderes de torcida. Sei que foi no início da semana, mas não poderíamos deixar isso passar em branco.

Hikari sorriu.

— Agradeço a todos. Estar aqui com vocês é ótimo.

— Vou aproveitar e pegar mais um lanche. — Anunciou Aomine ao se levantar. — Estava faminto…

— Dai, você não comeu o almoço que preparei para você?

Logo de início, Daiki tentou desviar do tema principal e foi direto para a fila, seguido por Momoi que estava curiosa para saber o que o garoto havia feito com o almoço que ela havia preparado.

— Talvez eu pegue mais depois. — Comentou Murasakibara, fazendo farelo voar na roupa de Midorima.

— Murasakibara, já te avisei uma vez. Duas é demais.

— Você é sempre tão chato assim? — Rebateu.

— Vou te mostrar quem é chato.

— Por que vocês estão discutindo? — Perguntou Kuroko, parando próximo a eles, demonstrando interesse no assunto.

— Eles vão assustar ele… — Suspirou a azulada.

— Huryome. — Chamou, aproveitando que os amigos estavam ocupados discutindo.

— Sim, Akashi. — Ela o fitou.

— Tenho algo para você. — Disse ele, tirando de sua mochila um pequeno saquinho de tecido azul, ricamente desenhado na parte externa e com um pequeno cordão atado. — É um Omamori. Trará sorte para a sua jornada.

Hikari olhou atentamente para a singela lembrança. Ao recebê-la, um sorriso iluminou seu rosto. Seijuro observava com contentamento, vendo que ela apreciara o presente.

— É lindo! Adoro Omamoris, minha família sempre os carregava, trazendo sorte, esperança e proteção. — Ela disse, segurando o amuleto com devoção. — Muito obrigada, Akashi. Levarei isso comigo para todos os lugares.

— De nada. É apenas uma pequena forma de agradecer pelo que você tem feito pela nossa equipe também.

— Prometo sempre aprimorar minhas habilidades, assim poderei contribuir ainda mais com a de vocês.

— Não tenho dúvidas quanto a isso. — Seijuro exprimiu com confiança.

Os dois trocavam sorrisos, até que Daiki Aomine decidiu jogar uma tampinha de garrafa na cabeça de Hikari. A tampinha era de um refrigerante em promoção, com uma carinha desenhada que lembrava muito as expressões que a garota fazia quando ele não a obedecia nos treinos.

Isso bastou para ela ganhar o apelido de “tampinha de garrafa”.

* * * * * *

Três meses se passaram rapidamente naquele ano letivo. Conciliar os compromissos era complicado, mesmo com a ajuda de Terumi nos treinos de líderes de torcida e de Momoi no time de basquete. A garota de cabelo azul-marinho se sentia dividida, mas sua determinação permanecia inabalável.

— HURYOME. Quantas vezes eu já te disse para executar o salto da forma correta? — Vociferou, Yukari. — Quer continuar no time desse jeito? Deveria dar sua vaga a um grilo, ele saltaria muito melhor do que você.

Sato Yukari nunca mudou sua personalidade: sempre deixando claro que se considerava superior a todos, ao menos em sua própria visão, e humilhando as pessoas sem hesitar, não importava a maneira. Era difícil suportar essa atitude também.

— Óh! Então, por que não aproveita a oportunidade e vai até o canteiro procurá-lo? — Retrucou Hikari, enxugando o suor que escorria de sua testa. — Se encontrar, teste-o!

— Hika! — A amiga a repreendeu.

— Pois bem. — Disse a capitã. — Está dispensada do treino de hoje.

— O quê!?

— Por desrespeitar a líder e ter um comportamento inadequado. Fique contente que é apenas por hoje. Se não melhorar amanhã, você será substituída de fato por um grilo no seu lugar. — A loira concluiu.

Hikari quase protestou, mas preferiu respirar fundo. Ela achou que seria melhor ser suspensa por apenas um dia do que uma semana ou mais, considerando a tirania de Sato.

— Eu tentei te avisar… — Terumi murmurou.

— Tudo bem, Teru. Vou aproveitar esse tempo para ver como o Kuroko se sai.

— Ele terá algum teste hoje? Pensei que já fizesse parte do time.

— Ele mostrará para todos o que aprendeu e, se mostrar dedicação, será promovido para o time principal. Com certeza ele surpreenderá a todos.

* * * * * *

O andar superior do ginásio era um lugar ideal para relaxar. Com bancos confortáveis e uma ótima vista, era possível observar todos os jogadores jogando com entusiasmo e exibindo suas habilidades individuais.

Akashi e os garotos a cumprimentaram, gesto que ela retribuiu com um sorriso e um aceno breve, já que estavam acostumados com sua presença.

Pouco depois, um responsável avisou que alguém estava na porta. Ao olhar, Hikari reconheceu os cabelos azul-claros inconfundíveis. Ela sabia que Kuroko estava pronto para mostrar sua habilidade.

— Eu confio em você, Tetsuya. — Pensou ela.

— Já faz três meses que não te vejo direito, Kuroko. — Disse Akashi, aproximando-se. — Encontrou a resposta que buscava para melhorar sua habilidade?

— Sim. — Respondeu, Kuroko. — Será que posso mostrar em um jogo, se possível?

Seijuro foi até Nijimura, capitão do time de basquete da Teiko, e pediu que organizassem um treino de jogo. Kuroko revelaria tudo o que aprendeu até então.

[ Semanas atrás ]

— Kuroko. — Hikari segurou a bola, após alguns erros dele.

— Está difícil, não estou conseguindo.

— Por favor, acalme-se. Tentaremos de outra maneira.

— Outra maneira? — Ele olhou para a garota, confuso.

— Sim. Não vamos depender apenas das habilidades físicas, já que não podemos contar tanto com elas. Vamos explorar mais a sua ausência.

Huryome passou a maior parte daquele dia dedicando-se a estudar algo que pudesse ajudar Kuroko em seu desenvolvimento. Ela tinha em mente que ele não conseguia fazer grandes jogadas como Daiki Aomine, no entanto, isso não queria dizer que ele era um jogador ruim. Talvez ela devesse se concentrar em aprimorar algo que já existia, mas o quê? Uma ideia surgiu enquanto repetia para si mesma: "— Falta de presença… Falta de presença… Falta de… Espera!

Quem sabe ela havia encontrado uma direção para suas dúvidas?

Jogando sozinho, Hikari pôde analisar. Mas foi ao presenciar Aomine e Kuroko jogando juntos que finalmente conseguiu clarear o caminho de suas ideias.

— Tetsuya! — Ela gritou, empolgada, sem perceber a informalidade.

Ele a olhou, enquanto Aomine marcava seu quinquagésimo ponto.

— Eu consegui! Tenho algo para você treinar! — A azulada correu em direção aos dois.

— Tampinha, por que interrompeu nosso treino? — Aomine parecia incomodado por ser parado tão repentinamente.

— Não pude aguardar. E não me chame tampinha! — Rebateu ela em alto tom. — Além do mais, não se envergonha de fazer sucessivas cestas contra ele? Deveria pegar mais leve, Aomine!

— Hm… — Avaliou por um breve momento. — Não me envergonho… Você acha ruim, Tetsu?

— Não. — Respondeu Kuroko, mais exausto do que o usual por tentar bloquear Daiki.

— É, estou percebendo que não… — Ela suspirou. — Enfim, estudei algo que pode auxiliar em sua habilidade, porém continua bastante verde. — Hikari mirou-o. — Será um guia para seus próximos treinamentos, mas a chave para evolução e amadurecimento será algo que terá de descobrir por si.

Kuroko prestou atenção em suas palavras. Refletiu, olhou para Aomine que lhe deu um sinal positivo com a mão, e então voltou seu olhar para a garota.

— Estou disposto a descobrir, Huryome. Por favor, me ajude.

— Sim! — Respondeu Hikari, animada. — Vamos começar por esses livros aqui.

[ Tempo atual ]

A bola atravessava de um lado para o outro, porém ninguém conseguia determinar sua origem exata. O que estava ocorrendo naquele jogo?

— Arremesse! — Disse Kuroko, passando a bola para um companheiro de equipe, resultando em uma cesta bem-sucedida, tudo graças ao seu passe habilidoso.

— O que é isso? — Questionou Nijimura, perplexo. — Os passes dele são extraordinários! Como é possível as pessoas perdê-lo de vista em meio ao jogo?

— Desorientação. — Explicou Akashi. — É uma técnica comum em truques de mágica, que direciona a atenção da pessoa. Por exemplo, antes de interceptar um passe, ele utiliza seu olhar e movimentos para desviar o foco do marcador para a bola ou outro jogador. Aliado à sua presença discreta, ele simplesmente desaparece.

Não só as pessoas ao redor estavam admiradas, como Hikari também. Observando de cima, ela ficou extasiada com a habilidade do jovem de cabelos azul-claros.

— Você descobriu a resposta sozinho. Você é incrível. — Elogiou, orgulhosa do seu amigo.

— Akashi, você já esperava por isso? — Indagou Nijimura.

Seijuro respondeu com um sorriso:

— Não. Ele excedeu as minhas expectativas.

A partir desse momento, Kuroko passou a integrar o time. Dali em diante, seu único objetivo era alcançar a vitória ao lado de seus companheiros.

* * * * * *

— Considerei que fosse evidentemente uma integrante do time. — Disse Akashi, aproximando-se da garota. — O que está fazendo sozinha por aqui?

— Eu sou. Apenas fui suspensa do treino de hoje, então decidi fazer um treino extra para compensar. — Ela sorriu ao vê-lo. De certa forma, já estava se acostumando com as visitas dele ao seu local de treino, após os jogos de basquete. — Seu treino terminou?

— Acabei de sair de lá. Preciso dizer que Kuroko fez um excelente trabalho. Aproveitei o caminho para vir lhe agradecer.

— Kuroko descobriu sozinho a resposta para aquela habilidade. — Ela secou o rosto com a toalha branca e felpuda que carregava na mochila. — Ele apenas precisou de orientação. Fora isso, ele é um garoto muito perspicaz.

— E você continua modesta. — Akashi sorriu e entregou uma lata para ela. — Aqui.

— Ah? Suco de maçã? Como sabia que eu gostava desse…

— Depois de alguns meses, você passa a conhecer melhor as pessoas. E percebi que você mantém seu horário de treino, então foi fácil adivinhar que você estaria aqui, exausta e com sede.

A menina sorriu, procurando sua carteira.

— Quanto te devo?

— Nada.

— Akashi, eu…

— Pode me chamar pelo primeiro nome, Hikari.

Ela se surpreendeu.

— Não vejo por que precisamos ser tão formais, afinal já nos conhecemos há um tempo. Nos vemos amanhã, certo? — Ele seguiu em direção à saída.

— Sim, Akashi… — Ele deu uma olhada rápida para ela, e então ela corrigiu. — Sim, Seijuro. — Hikari sorriu, finalmente.

Realmente era agradável estabelecer laços no final das contas.