Operação Diário escrita por Lord Iraferre


Capítulo 2
Prática




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/811874/chapter/2

Algumas horas depois da reunião no clube, Ve se encontrava atrás de uma lixeira, do lado de um poste e de frente para a casa de Emily. Trazia no bolso um de seus quadrinhos favoritos do Tio Patinhas caso as coisas ficassem paradas demais.

Como previsto por Fox, Emily abriu o portão e a sua frente saiu Temístocles pronto para mais uma aventura dominical. A empolgação do cachorro era contida por uma coleira que Emily puxava com bastante dedicação naquele momento.

Quando Emily virou a esquina Ve saiu de trás do poste e fez um sinal para Trip que se encontrava atrás da casa de Emily. Ao ver o sinal Trip pegou a escada e correu para debaixo da janela do quarto de Emily. Animado por estar fazendo algo excitante ele acabou tropeçando e a escada de madeira caiu no chão por alguns segundos. Atrás da casa junto com Arnie e Li, Fox viu Trip se recompor o mais rápido que podia, limpando a sujeira do corpo e fazendo um sinal para o resto do grupo se aproximar como se não tivesse acabado de fazer um estardalhaço suficiente para atrair toda a vizinhança.

Com o sinal Li foi na frente e fez a sua função com tamanha perfeição que quando Arnie e Fox o alcançaram no topo da escada ele já havia aberto a janela.

— Até aqui tudo certo. — disse Arnie enquanto ajudava Fox a entrar dentro do quarto, surpreso de as coisas terem corrido tranquilamente.

— Cada um a seu posto. — ordenou Fox, reparando que era a primeira vez que entrava no quarto de uma garota.

Arnie ficou ao lado da porta que dava para o corredor em um ponto estratégico onde conseguiria ver se alguém se aproximava antes que esse alguém pudesse ver ele. Li ficou do lado da janela os braços cruzados e ouvidos abertos para qualquer coisa que Trip avisasse lá de baixo.

Fox procurou primeiro sobre e envolta da cama, depois se moveu para a estante do computador, mas ela só continha alguns livros e cds, ele então se voltou para a opção mais provável o guarda roupa. Quando abriu as portas do guarda-roupa Fox foi invadido pela doce fragrância feminina que o fez ficar paralisado por alguns segundos, as pernas bambas como maria-mole.

— O que está esperando!? — gritou Arnie silenciosamente para Fox.

— Não foi nada. — respondeu Fox acordando do transe e voltando a procurar o diário.

Não muito depois Arnie escutou algo.

— Tem alguém vindo, se escondam rápido! — disse Arnie procurando um esconderijo.

Diante da porta surgiu uma bola de pelos vigilante e sorrateira.

— Miau? — disse o gato.

Enquanto adentrava o quarto o gato observou a janela que estava aberta, depois se voltou para o guarda roupa.

— Miau? — repetiu, sabia que alguém estava ali dentro se escondendo.

O gato então se voltou para debaixo da cama onde se deparou de frente com Arnie. O coração do garoto estava na boca, mas o gato não reagiu como ele havia esperado.

— Miau? — disse o gato se aproximando da cabeça de Arnie, e começando a ronronar, ao que parecia quando estava com fome o gato não sabia diferenciar amigo de inimigo.

— LEÔNIDAS! Ai está você! — disse alguém correndo para dentro do quarto.

O gato pego de surpresa deu um pulo tão alto que arrancaria elogios até de um tigre.

— Vêm aqui seu gato safado. — disse Gunter o irmão mais novo de Emily, capturando o gato, que tentava a todo custo fugir.

Gunter fungou nos pelos do gato e deu risada, mas o gato ainda parecia determinado a escapar, suas patas se mexendo freneticamente e seus olhos geralmente pequenos arregalados como bolas de gude.

Gunter ajeitou o gato em seus braços e olhou ao redor do quarto, percebendo pela primeira vez que Emily não estava ali.

— Temos o quarto só para gente! — disse encarando Leônidas com um sorriso malicioso. — Você sabe o que isso significa?

E sem responder subiu sobre a cama e começou a pular, quanto mais pulava mais alto ia, e mais desesperados ficavam os miados de Leônidas. Quando Gunter finalmente desceu da cama, Arnie não apenas lutava para segurar o enorme calombo em sua nuca, como também se segurava para não atacar o menino arteiro, revelando sua posição.

Gunter por sua vez se sentou na cadeira de frente para o computador e começou a girar. Quando terminou Leônidas não mais resistia as loucuras do menino e parecia ter aceitado o seu destino trágico. Gunter realocou Leônidas no braço esquerdo e com o outro pegou o mouse do computador. Olhando para a tela inicial do computador de Emily soltou um suspiro indignado.

— Não tem nenhum jogo aqui.

Gunter então olhou para o guarda-roupa, encarrou o gato e perguntou:

— Será que Eme tem algum chocolate escondido no armário? — o sorriso malandro voltando em seu rosto.

— Miau. — respondeu Leônidas deprimido.

A mão de Gunter se aproximou da maçaneta.

— AHA! Eu vou contar tudo para a Eme! — bradou Lulu, a irmã mais nova de Emily, diante da porta apontando o indicador para um surpreso Gunter.

Essa havia sido a última gota para Leônidas que se desvencilhou de Gunter e saiu correndo porta afora.

Lulu também saiu correndo com Gunter em seu encalço gritando:

— Eu só tava pegando o Leônidas!

Cerca de um minuto depois Arnie saiu debaixo da cama.

— Isso vai doer ainda mais amanhã. — disse enquanto cutucava o calo suavemente.

Li adentrou o quarto novamente e se recostou no chão descansando os braços por ter ficado pendurado do lado de fora da janela.

— Pode sair Fox eles já se foram... Por enquanto. — disse Arnie dando umas batidinhas no guarda-roupa.

— Ahn, certo. Deixa-me só recuperar o fôlego um pouquinho. — disse Fox de dentro do guarda-roupa.

***

Na rua, Ve estava se segurando para não rir enquanto terminava uma história do Peninha, seus olhos se voltaram para a casa de Emily e para sua completa surpresa a garota se encontrava quase na porta de casa.

Desesperado ele fez o sinal para Trip que por sua vez avisou Li na janela:

— Abortar! Abortar!

Emily estava alguns passos do portão e avançava com muito mais calma agora que Temístocles havia gastado toda a sua energia no parque.

— Não vai dar tempo. — disse Ve roendo as unhas.

Tomando uma das decisões mais audaciosas e idiotas de sua vida ele saiu de trás do poste e se aproximou de Emily.

— Que cachorro bonito, posso passar a mão nele?

— Cuidado! — gritou Emily enquanto usava todas as suas forças para conter um Temístocles furioso que por pouco não engoliu a mão de Ve.

— Desculpe eu não sei o que deu em mim. — disse Ve se afastando.

"Me desculpe amigos, isso foi tudo o que pude fazer" pensou Ve com um ar pesaroso enquanto virava a esquina.

— Garoto maluco. — disse Emily enquanto terminava de acalmar o cachorro.

Temístocles por sua vez passou a olhar em direção ao corredor desconfiado, porque naquele momento, Li, Arnie e Fox estavam pendurados no topo da escada.

— Tem muito peso a escada não vai aguentar! — grasnou Trip para o trio, enquanto tentava segurar a escada que tremia como varas de bambu.

Nesse momento uma farpa que havia se formado por causa da queda de Trip alguns minutos atrás decidiu que era a sua hora de brilhar e espetou o dedo dele.

— Argh! — disse Trip soltando as mãos da escada e chupando o dedo dolorido.

A escada se sustentou sozinha no ar por alguns segundos antes de cair para o lado oposto ao do da janela, Li, Arnie e Fox se agarravam um no outro, desesperados.

Emily ouviu um estrondo, mas quando correu para o corredor a sua frente ele estava vazio. Temístocles farejou o chão embaixo da janela e encarou Emily, ela também encarou o cachorro confusa. Dando de ombros a dona e seu cachorro voltaram para dentro de casa.

Se tivesse visão de águia Emily saberia que atrás do muro na casa de seu vizinho, se encontravam quatro meninos que só não haviam se estatelado no chão porque a Sra. Volpi, mãe de Fox, havia coletado durante os últimos meses, dezenas de sacos contendo reciclagem e acumulado eles no corredor.

Do meio do lixo Fox murmurou:

— Não foi bem assim que eu havia planejado...

E desmaiou.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Operação Diário" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.