Stop, Drop, Roll escrita por Paloma Machado
Um mês havia se passado desde o incidente no restaurante. Nas investigações para saber o que causou o incêndio, descobriu-se que não fora um acidente, mas sim causado intencionalmente por alguém. Sanji suspeitava que algum de seus funcionários havia sido pago ou ameaçado pelo antigo proprietário do lugar, que vendeu o estabelecimento por estar indo à falência.
Sanji inaugurou o Baratie, e em pouco menos de um ano, já estava entre os melhores restaurantes do mundo. Invejado pelo sucesso, o ex-dono começou a fazer visitas cada vez mais frequentes, sempre tentando reaver o negócio. Sanji negou todas as propostas feitas até ser obrigado a pedir uma medida protetiva por conta das ameaças recebidas. Então tudo se normalizou e os negócios só prosperaram, recebeu propostas de sociedade para abrir outros restaurantes e até pensava em abrir uma confeitaria, mas então seu sonho fora consumido por chamas.
— Quanto tempo acha que ele ainda vai ficar aqui? - Franky perguntou limpando as mãos sujas de graxa, novamente, num pano de prato.
— Deixa o cara – Usopp pegou o pano encardido – e usa as estopas!
— Mas já faz um mês - Franky agora se limpava na barra da calça - e não tenho mais estopas.
— Você já está há um ano – Usopp observou.
— Mas eu moro aqui!
— Não morava nos primeiros meses.
Franky abriu a boca para retrucar, mas o amigo estava certo.
— Acho que vou construir mais um quarto.
Sanji estava sentado no sofá da sala, assistindo ao noticiário que passava na TV. A reportagem era sobre o resgate de um recém-nascido que havia sido abandonado no esgoto. A repórter entrevistava um dos bombeiros que trabalharam na operação, um grande e bonito homem de cabelos verdes.
O coração do Vinsmoke acelerou. Já fazia tempo desde a última vez que vira Zoro, o cartão com o contato ainda estava guardado na carteira, mas nunca teve coragem de ligar. De repente o celular vibrou, Sanji o atendeu de supetão, mas não era quem esperava.
— Eu sei onde você se escondeu – do outro lado da linha, a ameaça partindo de uma voz alterada por programa – e sei quando a casa fica vazia.
Sanji desligou a chamada assim que Usopp entrou no cômodo.
— Tudo bem? - o moreno perguntou, notando a rigidez na face do amigo.
— Sim, sim – o sorriso forçado no rosto do loiro o entregava. - Era só o telemarketing da operadora.
Usopp começou a desconfiar de que havia algo de errado acontecendo, desde a vez que que Sanji chegara em casa todo sujo de lama e com alguns hematomas. Ele preferia não se meter na vida do amigo, mas nunca deixava de se preocupar. O cozinheiro foi até o gaveteiro onde guardava algumas poucas coisas e enfiou tudo numa mochila. Voltou com um envelope de dinheiro nas mãos e entregou-o a Usopp.
— Obrigado por me deixar ficar esse tempo aqui.
Franky só viu quando o cozinheiro já tinha ido embora.
Já era bem tarde e Sanji ainda vagava com sua mochila dependurada no ombro. Caminhava pela periferia da cidade, procurando por um lugar barato para se hospedar. Sem perceber, um carro invadiu a calçada e quase o atropelou, parou bruscamente e três homens desceram do veículo.
— Boa noite, senhor Vinsmoke.
Sanji saiu correndo antes mesmo de seus agressores terminarem os cumprimentos. Fugiu por um beco, desviando de sacos de lixos e gatos ariscos pelas travessas. Viu o fim da viela bloqueado por um portão de arame, pegou impulso e pulou sobre a grade, mas foi puxado pelo pé antes de conseguir atravessar.
Caiu de costas no chão, tentou se levantar, mas um soco atingiu-o em cheio no maxilar. Sentiu a dor e o gosto de ferro na boca, o sangue começou a escorrer pelo canto dos lábios, pingando na camisa branca.
— Sabe... Ainda estou esperando aquele depósito - o cara gordo e fedendo a cerveja falou enquanto massageava o pulso.
— Então puxa uma cadeira e espera sentado - Sanji respondeu.
O chute do estomago veio com rapidez e força. O loiro se encolheu e vomitou.
— Que nojo! - reclamou um outro homem, mais alto e magro.
— Escuta aqui seu moleque - um baixinho bombado ergueu Sanji pelo colarinho – se não vai pagar o chefe, vamos vender seus órgãos então.
— Sinto lhe informar que não vai conseguir muita coisa, sou fumante.
Antes que o próximo soco viesse, um pé calçando uma bota afivelada atingiu em cheio a cara do nanico, fazendo seus dentes voarem. O magrelo foi lançado contra a parede, e o som de duas ou três costelas quebradas foi ouvido. O gordão maior pegou uma ripa e quebrou nas costas do homem que surgiu na briga, e isso pareceu apenas irritá-lo. O motoqueiro lhe acertou um soco na traqueia e depois chutou-lhe um dos joelhos para trás, deslocando a rótula.
O quarto integrante da gangue apareceu dirigindo o carro, mas quando viu seus comparsas imóveis no chão, acelerou e fugiu. O salvador retirou o capacete, revelando três brincos dourados na orelha esquerda e um cabelo curto pintado de verde. Antes que pudesse reconhecer a pessoa, Sanji desmaiou.
O loiro acordou numa maca de hospital, o corpo todo dolorido e um cateter no braço.
— Como se sente?
— Vivo... - Sanji pensou estar revivendo a cena de três meses atrás.
— Vou chamar um médio para te examinar.
— Espera – Sanji segurou o homem pela mão, notando os nós dos dedos machucados e sujos de sangue seco. Olhou para cima e seu coração palpitou. Era Roronoa Zoro de pé na sua frente. - Como você...
— Eu estava passando por aquelas bandas quando ouvi a briga, parei no fim da viela e te reconheci pelas sobrancelhas – Zoro contou.
Sanji ergueu as icônicas sobrancelhas.
— Por que não me ligou? - Roronoa perguntou de repente.
O Vinsmoke soltou sua mão e franziu os lábios. Não sabia o que dizer. O silêncio foi interrompido por uma enfermeira que veio checar os sinais vitais do paciente. Sanji foi liberado com uma receita de analgésico e recomendação de repouso. Zoro o acompanhou até a saída do pronto socorro e o segurou antes que tentasse fugir novamente.
— Onde pensa que vai?
— Para um hotel – Sanji então se tocou de que estava sem a mochila – merda...
— Vou te levar pra casa.
Sem ter o que fazer, o loiro montou novamente na garupa daquela moto e segurou firme na cintura de Zoro.
Depois de uma longa noite de sono, Sanji acordou com aquele cheiro de café inconfundível.
— Preto e sem açúcar? - Zoro estendia uma caneca.
— Obrigado – Sanji se sentou na varanda e viu que o dojô já estava aberto.
Várias crianças de oito a doze anos praticavam com espadas de madeira, coordenadas e disciplinadas. O Vinsmoke lembrou-se da infância cruel, menosprezado pelo pai e agredido pelos três irmãos. Depois do falecimento da mãe, sua irmã mais velha era a única que ainda lhe oferecia um pouco de alento.
— Vai ficar para a aula hoje? - Zoro terminava de amarrar a faixa de seu quimono.
Sanji fez um sinal afirmativo com a cabeça e acompanhou o espadachim até o dojô.
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