Stop, Drop, Roll escrita por Paloma Machado


Capítulo 1
Stop




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Sanji galanteava uma das mulheres ricas que reservara a maior mesa do restaurante, até que o cheiro de queimado ficasse forte o suficiente para desconcentrá-lo. Olhou de soslaio na direção da cozinha, ao perceber a fumaça acinzentada saindo por cima da porta, preocupou-se. 

— Com sua licença, belíssima dama – curvou-se educadamente, beijando o dorso da mão direita da mulher. 

Os auxiliares de cozinha saíram correndo, Sanji entrou na área de serviço, espantando-se com o fogo que rapidamente consumia os materiais inflamáveis, alastrando-se por cima dos balcões. Um dos cozinheiros tentava inutilmente apagar as chamas com o extintor, até que a brasa de um saco de trigo caísse em seu jaleco, que começou a queimar instantaneamente. 

Com reflexos rápidos, Sanji jogou um dos potes de molho sobre a roupa do empregado, salvando-o de uma grave queimadura. 

— Ajude a evacuar os clientes, vai! - Sanji empurrou o homem para fora da cozinha e acionou o alarme de incêndio. 

Correu por todo o restaurante, procurando por funcionários que ainda poderiam estar ali, ao passar pelo corredor que levava aos toaletes, ouviu o choro de uma criança. Procurou em cada reservado, até ver um menino, de mais ou menos cinco anos, agachado sob a pia. 

— Olá rapazinho, não precisa ficar com medo, vou te tirar daqui. 

— Mamãe! - o menino se encolheu ainda mais, chorando desesperadamente. 

Sanji tirou o blazer e encharcou com água, o calor do fogo começou a tornar-se insuportável e a fumaça fazia seus olhos arderem. 

— Vem cá moleque – Sanji puxou a criança para seu colo, cobrindo-a com a roupa molhada. 

Correu pelo restaurante desviando dos escombros, a pele ardendo e o ar lhe faltando nos pulmões, sentiu-se no inferno. Avistou a saída e, através dela, a brigada de incêndio, que já controlava o fogo com os jatos d’agua. 

Ouviu-se um estrondo alto, então uma das vigas despencou. Sanji empurrou o menino na direção da porta, ficando preso por trás de uma barragem de fogo. 

— Corre fedelho! - enxotou a criança, que cambaleou para fora do lugar. 

Sanji ficou tonto, fraquejou sobre os joelhos e caiu de lado, sufocando com o gás carbônico. Antes de fechar completamente os olhos, viu um dos bombeiros atravessar o fogo e falar algo que ele não conseguiu entender, então apagou. 

Sua cabeça latejava um pouco, acordou tossindo, retirou a máscara de oxigênio e se sentou na maca. 

— Como se sente?  

— Vivo... - Sanji apertou as pálpebras, tentando desembaçar a visão. 

— Tem uma mulher ali fora te esperando, quer te agradecer por ter salvado o filho dela – o bombeiro sentado à sua frente tinha o cabelo verde, parecia com o grande marimo que havia no aquário do restaurante. 

O restaurante. 

O cozinheiro pulou para fora da ambulância, tudo que via eram escombros queimados, cobertos por cinzas e algumas poucas chamas que se extinguiam. 

— Você está bem? Não sei como te agradecer por ter salvado meu filho – uma mulher de mais ou menos trinta anos se curvava sobejamente, o menino agarrado ao seu vestido parecia bem, apesar do rostinho sujo de fuligem. 

O loiro forçou um sorriso e voltou a encarar o que sobrara do estabelecimento. Nada. 

— Era seu? - perguntou o bombeiro. 

— Sim... Alguém ferido? 

— Não. Graças a você, todos conseguiram sair ilesos. 

— Que bom... - Sanji suspirou, enfiou as mãos nos bolsos e começou a caminhar pela rua. 

— Onde pensa que vai? - o esverdeado o segurou pelo braço. 

— Para casa. 

— Você acabou de acordar, depois de ter sufocado em um incêndio, precisa ser monitorado por mais um tempo. 

— Eu moro a poucas quadras, e estou bem... Sério. 

O rapaz de farda vermelha deixou o capacete e a jaqueta no caminhão. 

— Então, já que insiste, irei te acompanhar. 

Sanji o encarou. Tirando o fato de estar incrédulo pelo que acabara de acontecer ao seu restaurante, enfurecido por ter sido incapaz de fazer algo para impedir o incêndio e abalado por ter perdido o grande sonho da sua vida... Se sentia completamente bem. 

Mas seus olhos o traíram. 

Lágrimas começaram a escorrer copiosamente por seu rosto, tentou em vão secá-las com o dorso da mão, até que os braços do marimo o envolvesse. Apesar do cheiro de suor e fumaça, não achou ruim. Apoiou a testa em seu ombro e ficou ali até parar de soluçar. 

Foram andando calmamente até o apartamento de Sanji, a brisa fresca e o céu estrelado contrastavam belamente com a cena deixada a alguns quarteirões atrás. Entraram no prédio e Sanji ficou um pouco desconfiado quando o bombeiro subiu de elevador com ele. 

— Chegamos - Sanji parou na frente do apartamento 504 e tateou os bolsos a procura das chaves - só pode ser brincadeira. 

As chaves estavam no bolso do blazer que ele usara para cobrir a criança. 

— Hoje, definitivamente, não é seu dia de sorte. - O bombeiro olhou para o relógio no fim do corredor. - Já está tarde pra chamar um chaveiro. Eu não moro muito longe, pode passar a noite na minha casa, tenho um quarto extra. 

Sanji apoiou-se de costas na parede e começou a massagear a têmpora. 

— Olha... Eu agradeço, mas... Eu não sei nem o seu nome. 

— Roronoa Zoro - o outro homem coçou a nuca, um pouco embaraçado. - Se não quiser tudo bem... Só acho que depois de hoje, você merece um pouco de descanso. 

O cozinheiro suspirou, aceitando a oferta relutantemente. 

— Vinsmoke Sanji, aliás. 

Zoro sorriu, o sorriso mais charmoso que Sanji já tinha visto. Seu coração descompassou e as mãos soaram. 

— Deixei minha moto perto do restaurante, já volto. - Zoro saiu correndo. 

Sanji ficou esperando na recepção, olhou o saldo na conta bancária, tinha o suficiente para passar alguns meses. Preencheu o formulário para acionar o seguro do restaurante e trocou mensagem com os funcionários. Imaginar toda a burocracia que teria para resolver aqueles problemas, começou a lhe dar dor de cabeça. 

Depois de trinta minutos Zoro apareceu no saguão, com um capacete na mão. 

— Vamos? 

Sanji assentiu. Subiu na garupa da moto, segurando-se nos ganchos laterais. Apesar de parecer ter um motor bem potente, o esverdeado pilotava com calma. Sanji aproveitou o passeio para observar as luzes da cidade, o vento fresco e o perfume das flores que só desabrochavam a noite. Antes que se desse conta, já estavam parados em frente a um dojô. 

— Seja bem-vindo ao meu humilde lar – Zoro abriu o portãozinho e empurrou a moto para dentro. Percebendo a cara confusa do loiro, explicou – moro nos fundos. Sou professor de kendô e bombeiro voluntário. 

O Vinsmoke demonstrou certa surpresa, mas não fez comentário algum. Já na casa, tomou um banho e vestiu roupas limpas que Zoro o emprestou. Tinha cheiro do amaciante que usavam na lavanderia do centro, além de estarem perfeitamente passadas. 

Roronoa saiu do banheiro vestindo uma calça de moletom. O tronco desnudo, exibia uma cadeia de músculos salientes perfeitamente esculpidos, certamente por muito tempo de treino. 

— Está com fome? - Perguntou secando os cabelos. 

Sanji acenou positivamente com a cabeça. Zoro abriu a geladeira e ficou encarando por alguns segundos. 

— Melhor pedir uma pizza. Gosta de qual sabor? 

— Não precisa. Pode deixar que eu cozinho algo -  Sanji prendeu as mechas compridas do cabelo e pôs-se a trabalhar. 

Sua habilidade culinária era incontestável. Zoro admirava enquanto ele manejava com destreza todos os simplórios utensílios daquela cozinha. Em trinta minutos uma refeição belíssima e saborosa estava pronta. Provou o arroz frito e teve a certeza de ser a melhor comida que já havia experimentado na vida. 

— Isso está muito bom! - o bombeiro disse, empanturrando-se. 

Sanji sorriu e fez um prato para si. O que mais gostava na gastronomia, era de transformar tudo aquilo que muitos cozinheiros descartariam, em pratos magníficos. A expressão do outro ao deleitar-se com a comida, era a maior satisfação que o chefe de cozinha poderia ter. 

Jantaram e foram dormir. No outro dia, por volta das sete horas, Sanji acordou com um delicioso cheiro de café. 

— Puro ou com leite? - Zoro perguntou, servindo duas xícaras da bebida quente. 

— Puro. Obrigado – Sanji foi até a varanda. O dia havia amanhecido ensolarado. 

— Daqui a poucos os meninos chegam para a aula, se quiser, pode participar – Roronoa já estava vestido com o típico quimono de kendô. 

— Eu agradeço... Muito mesmo. - O Vinsmoke terminou o café. - Mas preciso resolver muita coisa. 

O bombeiro lhe entregou um cartão de visitas. 

— Se precisar, me liga. 

Sanji sentiu novamente aquela palpitação. Mas precisava partir. 


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