Pior do que o mal escrita por The Bringer of Rain


Capítulo 7
Capítulo 7




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A noite se aprofundava sobre a cidade, como a maré alta que sobe engolindo as faixas de areia. Tóquio era envolvida em uma penumbra úmida e misteriosa. O fino chuvisco conferia às ruas uma atmosfera ainda mais melancólica, e as luzes da cidade se refletiam nas poças d'água, criando um cenário digno de um filme. Mei Mei, Ogata e Ui Ui estavam acomodados no carro de Ogata, um clássico modelo dos anos 90, com sua elegância resistindo ao teste do tempo.

As luzes da cidade passavam como riscos de tinta em um quadro impressionista enquanto eles cruzavam as ruas menos agitadas. O ambiente dentro do carro era preenchido pelo suave murmúrio da chuva e a névoa do mistério que pairava no ar. O rádio estava ligado quando eles deram partida, mas ele desligou assim que o ruído começou.

Nos céus, alguns corvos pareciam acompanhar o trajeto do carro.

Mei Mei, olhando a paisagem noturna, quebrou o silêncio com sua habitual sagacidade.

— Você realmente acha que era necessário lidar daquela maneira com o vigia da sala de câmeras? Uma pitada de charme teria sido suficiente.

Ogata, a encarou olhando de canto. Respondeu com calma e frieza habituais.

— Não sei do que você fala, fui gentil com ele.

Ui Ui, que estava no banco de trás, observava silenciosamente, liberou um suspiro de impaciência ou desgosto e inclinou a cabeça em direção a janela encostando a testa no vidro. As gotas de chuva deslizavam pela janela do carro, criando um ritmo monótono e hipnotizante.

— O homem urinou nas próprias calças com sua gentileza. - ele retrucou com desdém.

Os olhos mortos de Ogata olharam para trás pelo retrovisor. Pausaram sobre o menino que ele mal conhecia e se voltaram para a estrada.

— Ele não vai falar.

Mei Mei, sem se deixar abalar, continuou em tom de provocação:

— É um tanto drástico, não acha? Talvez você esteja se esforçando demais para manter essa fachada de homem frio e calculista.

Ogata sorriu de maneira enigmática, seus olhos brilhando com uma luz intrigante. Um lapso de vida duvidoso vindo de alguém que geralmente mantinha uma atmosfera um tanto quanto mórbida e desconfiada.

— Você está interessada em mim ou em como agi com o segurança? - era um jogo para dois.

— Ela não está interessada em você, de maneira alguma! - reverberou Ui Ui revelando mais interesse pela conversa agora.

Mei Mei liberou um tímido sorriso. Os cabelos tampando parte do rosto e o porte criavam uma imponência de bastante classe.

— Quem sabe?! - ela respondeu.

Seu irmão cruzou os braços no banco de trás, sua expressão revelando uma discreta contrariedade diante da troca provocativa entre Mei Mei e Ogata. Seus olhos, normalmente calmos, adquiriram uma sombra de descontentamento enquanto observava a interação entre os dois.

O trio prosseguiu na noite chuvosa, as conversas carregadas de nuances, como sombras dançando em um beco escuro. Enquanto se dirigiam para a escola Jujutsu, o mistério se aprofundava, mas parecia existir tempo para mais uma indagação.

— Essas maldições com você...

— Não se preocupe, tenho certeza que se chegar nesse ponto, vocês irão me exorcizar...

O tempo acabou e a escola Jujutsu emergia no horizonte noturno. O prédio imponente erguia-se sob a luz tênue das lâmpadas, suas paredes de pedra exalando uma aura de história e conhecimento oculto. Os detalhes arquitetônicos remetiam a uma combinação única de tradição japonesa e elementos contemporâneos, conferindo à escola um ar de respeito e autoridade.

O som dos pneus do carro de sobre o asfalto molhado ecoava no espaço tranquilo. O trio desembarcou no estacionamento silencioso. Com apenas alguns carros ali estacionados, poucas pessoas pareciam que frequentavam a escola a noite.

Ao longe, na porta, estava a figura de roupas pretas e cabelos prateados. Assim que os notou ele acenou. Satoru Gojo mantinha uma pose tranquila e descontraída enquanto segurava uma das portas. Sorriso no rosto, mãos nos bolsos da calça, cabelos para cima. Era a típica figura dos filmes americanos dos anos 80, o famoso garoto legal da escola. Era difícil acreditar que era um feiticeiro de grande poder.

— Vocês demoraram hein!! - retrucou com um sorriso e os cumprimentou.

Eles entraram e se dirigiram para uma sala vazia onde, num computador, reproduziram as cenas das câmeras de segurança que captaram o combate. Gojo pareceu bem interessado no feiticeiro que lutou contra Mei Mei, ele se aproximou da tela como se aquilo fizesse com que visse melhor e até levou a mão no queixo, mas sem sucesso.

— Esse cara não me é estranho, mas não consigo lembrar de nenhum nome. - comentou.

Nos instantes seguintes ele pareceu realmente animado com cada lance do breve combate.

— Ele te pegou de jeito aqui hein, Mei Mei. - riu. - Bendito seja esse corvo!

— Eu presumi que ele manteria distância na luta, mas ele sabia lutar corpo-a-corpo de forma bastante decente.

— To vendo, você parece que estava começando a se divertir...

— Então, não temos a bala e nem sabemos nada do feiticeiro. Quer que vamos para China investigar? - Ogata, que estava mais atrás apoiado numa mesa comentou.

— Pois é, então...O que sabem da guerra sino-japonesa? - Gojo se voltou para eles, mas manteve a pose despreocupada enquanto se preparava para falar.

— A disputa pela Manchúria e dos territórios da Coréia depois da restauração Meiji.  Essa derrota ajudou a inflar os russos para a Revolução Russa tempos depois e mesmo com a vitória, os japoneses perderam muitos. Pode nos poupar da história. - resumiu Ogata.

Gojo pareceu aprovar a síntese, como Mei Mei e seu irmão não retrucaram, ele imaginou que sabiam do que se tratava. Bateu uma trinca de palmas.

— Muito bom Ogata, me esqueci que sua família deve ter lutado nessa guerra, né não? - colocou a mão sobre o ombro dele e sacudiu um pouco. - A história diz que durante a batalha de Mudken o exército imperial estava cercado e com um ato de bravura do capitão Hiroshi Kurogane nós conseguimos a vitória. O que os livros não cobrem, é que Hiroshi Kurogane fez um pacto com uma entidade amaldiçoada da região. Foi esse pacto que fez nosso capita aguentar tantos tiros e ser o herói de guerra, mas que também despertou um fúria e sanguinolência enorme nele.

Ui Ui sentou-se numa cadeira para observar a breve aula de história, enquanto Mei Mei sentada na mesa próxima de seu irmão afagava seus cabelos. Ogata permaneceu imóvel com os braços cruzados ouvindo.

— Não sabemos o pacto e nem a entidade ao certo, mas antes de sucumbir, Kurogane ordenou que a bala que o ferira fosse retirada de seu próprio corpo e guardada como um troféu. Dizem que foi esse ferimento que o matou. Como família não quis, o governo imperial ergueu um templo budista na região e guardou a bala lá. Eles acreditavam que manter a bala ali seria bom. Sei lá, me parece deboche com os chineses, mas...

Gojo finalmente foi até a mesa de madeira de frente para a lousa. De lá puxou um envelope pardo. Ali dentro haviam fotos do templo e dos monges, bem como da própria bala numa espécie de púlpito e mantida numa distância de segurança. O local porém, parecia ser frequentado por turistas além dos monges.

— Atualmente o templo está na área rural da cidade de Shenyang. Tínhamos segurança lá pois os monges eram capazes de apaziguar as energias amaldiçoadas, mas tentamos contato algum tempo e nada. Quando anunciaram a bala no leilão tivemos que averiguar, mas como é um item bem ruim numa região permeada de energia amaldiçoada...bom, prontos para viajar pra China?

O silêncio imperou na sala. Mei Mei e Ogata se entreolharam. Fazia sentido agora, que Gojo tivesse negociado um contrato por valor diário e não valor único como fazia.

— Eu vou reservar um hotel pra vocês na cidade. Averiguem a região, conversem com os monges e tentem entender o que está ocorrendo, okay? - ele então se voltou para os irmãos. - Vão os três juntos?

— Não, nós chegaremos lá essa noite ainda. Ele que se vire. - reclamou Ui Ui.

Gojo olhou para Mei Mei, que olhou para Gojo. Ui Ui não esboçou outra reação e Ogata pareceu não se importar.

— Acho que você vai precisar de um vôo, né?!

— Não se incomode, eu coloco na conta.

Ambos se dirigiram para a saída da sala. Ainda trocavam algumas palavras sobre o trabalho em si. Mei Mei e Ui Ui foram os primeiros a sair, desaparecendo pelos corredores da escola. Gojo e Ogata foram em direção ao estacionamento e ali viram um trio de alunos saindo. Um garoto com a boca coberta, uma menina de óculos e um urso panda.

O atirador pareceu observá-los interessado. Seus olhos caíram sobre a menina por alguns segundos.

— Era essa que você disse estar usando pistolas como armas amaldiçoadas ou sei lá o que?

— Não, não, é a irmã dela.

— Quer que eu fale com essa também?

— Melhor não Ogata, a família delas é bem chatinha e você não tem boa fama pra ser boa influência.

Ambos se entenderam com o comentário. Era difícil que algo escapasse de Gojo quando estava envolvido. Ali a noite terminou sem uma despedida, aparentemente rumando para a China e longas horas de voo para alguns.


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