Pior do que o mal escrita por The Bringer of Rain


Capítulo 6
Capítulo 6




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Naquele estacionamento suspenso, a penumbra destacava as figuras determinadas de Mei Mei e do feiticeiro, ambos cientes de que o momento do confronto havia chegado. A luz do local não parecia ser suficiente para iluminar o espetáculo que aquilo seria. As lâmpadas lançavam sombras dançantes enquanto eles se encaravam.

Os primeiros movimentos foram como uma coreografia de combate, cada passo calculado, cada ataque e esquiva executados com maestria.

Mei Mei avançou quase num relâmpago em direção ao homem, o machado em suas mãos preparava-se para traçar uma diagonal em seu golpe. O adversário rodopiou a bola de ferro com bastante habilidade, a esfera foi em direção a feiticeira que rebateu de forma defensiva. Assim que a distância foi encurtada ele puxou rapidamente trazendo a esfera na direção dos dois.

A lâmina do machado parou na sobra da corrente que se envolveu sobre a arma como uma serpente numa lebre.

— Mana... - o comentário contido de Ui Ui alertou.

Ela projetou o corpo para o lado esquivando-se da esfera que ainda assim lhe arrancou alguns fios de cabelo. A dupla entrou numa dividida de forças que não durou muito. Os segundos convertiam-se em seu plural e enquanto os fios esbranquiçados de Mei Mei flutuavam até o chão ela elevou o joelho tentando acertá-lo no estômago. Sem ter como desvencilhar a corrente do machado, ele resolveu inovar, saltou por cima da mulher alcançando suas costas e puxando a corrente e o machado com toda a força que pudera.

Mei Mei desarmada amargurou a habilidade de um oponente que não conhecia, mas nenhum predador depende unicamente de suas garras ou presas. Assim que ele se virou para acertá-la com a ponta da foice ela precaveu-se e seu cotovelo colidiu contra o rosto dele.

A corrente dançou no ar como uma extensão de seus próprios movimentos, serpenteou quase que por vida própria enroscando-se no braço da feiticeira.

— Peguei você. - falou no calor da batalha.

Ela buscou recuar, a foice procurou avançar, era certo que ambas as estratégias não seriam bem sucedidas. Mei Mei conseguiu virar-se a tempo, impedindo que o golpe fosse diretamente em suas costas, no que parecia que a ponta da foice iria se afundas em sua carne três corvos voaram pelo estacionamento e dois foram acertados.

Os animais caíram imediatamente ao chão emitindo um grunhido desesperador ao encontrar o fim de sua própria existência.

— Deve ser muito irritante pra você ser de um clã tão grande e ter uma habilidade tão deprimente.

Suas provocações ecoavam no estacionamento, mas Mei Mei, determinada, resistia sem perder o foco.

Outro golpe era projetado, mas as aves haviam dado tempo para que Mei Mei se vira-se para ele. Cara-a-cara, a curta distância, deveria ser melhor para ela, mas não era. Aquele homem não era um amador. A energia amaldiçoada em volta dele pressionava o ar em volta, era como estar de frente para um edifício em chamas.

— Acho que você não conhece nenhum pouco da minha vida. - ela rebateu.

Mei Mei se alertou, os corvos viram o movimento seguinte. O machado dela que havia fincando-se na coluna da estrutura estava longe demais para que arrisca-se uma abertura. Ele puxou as mãos formando um X com os braços, a corrente formou uma espécie de laço que se projetava sobre ela, claramente mirando prendê-la.

Sabendo que de alguma forma a diferença de suas forças não era tão grande para que ela escapasse com facilidade ela saltou e chutou. O movimento o pegou desprevenido e com o impacto ele foi jogado para trás colidindo contra a carroceria de uma picape ali estacionada. Mei Mei caiu no chão, mas livre da corrente, rapidamente se levantou e avançou, buscou o machado e quando o ergueu para o ataque o homem também já tinha se recomposto.

O estacionamento subterrâneo pulsava com a tensão do confronto entre os dois. Ambos estavam prestes a reiniciar o embate com suas armas quando, subitamente, o ambiente foi rasgado pelo som estridente de um disparo. O estampido ecoou pelo espaço, cortando a atmosfera elétrica da luta.

O feiticeiro foi obrigado a mudar sua trajetória no último instante, por uma fração de segundo, a bala passou de raspão por seu rosto. Um rastro de sangue emergiu, indicando a proximidade do perigo. Mei Mei, igualmente surpresa pelo repentino desenvolvimento, manteve sua postura defensiva, o machado pronto para qualquer contingência.

O eco do disparo desapareceu rapidamente, deixando para trás uma sensação sombria. Ambos, Mei Mei e o feiticeiro, puderam sentir uma energia amaldiçoada pairando no ar, emanando consideravelmente do prédio vizinho. Uma presença sinistra que se dissipou tão rapidamente quanto surgiu, deixando uma sensação de inquietação e perplexidade no estacionamento subterrâneo.

— Não se garante no mano-a-mano é?! Eu não devia... - antes que pudesse terminar de vociferar suas críticas as palavras se tornaram um gemido de dor.

Outro disparo ecoou, a energia amaldiçoada surgiu como uma onda repentina que te afoga e arrasta. Ele logo viu o peito perfurado e o sangue começando a se acumular em suas vestes. Tossiu e rangeu os dentes. Mei Mei aproveitou o momento e avançou. Num movimento desesperado ele jogou para o lado e buscou a cobertura de uma pilastra.

O pneu rangeu e um veículo se aproximou rapidamente. O feiticeiro cambaleou com velocidade jogando-se para dentro do carro que acelerou em sua saída deixando a marca dos pneus no chão. Mei Mei ainda buscou perseguir o veículo, mas sem a certeza sobre a índole do atirador, ela teve de buscar a cautela.

Mei Mei saiu do estacionamento para as ruas de Tóquio, seus corvos não haviam identificado nenhum inimigo nas proximidades. A noite já instalada mostrava suas cores com as luzes da cidade que preenchiam os prédios com letreiros e sinais luminosos, um cenário de modernidade e movimento constante. A atmosfera, embora efervescente, estava tingida com a sensação de mistério, reforçada pela recente confrontação no edifício.

Ao se deparar com as ruas, Mei Mei percebeu que a agitação típica da noite em Tóquio continuava. Carros deslizavam pelas avenidas, suas luzes traçando rastros luminosos na noite. Pessoas apressadas, vestidas com uma mistura de trajes formais e urbanos, moviam-se pelas calçadas, mergulhadas em seus próprios mundos de preocupações e destinos.

Alguns curiosos que testemunharam a rápida fuga do veículo comentavam entre si, sobre quão estranha fora a cena.

— Mana, está sangrando. - comentou Ui Ui.

Fora apenas um golpe superficial no ombro dela, o filete de sangue que escorria era suficiente apenas para manchar o vestido.

— Obrigado Ui Ui. - ela pegou o lenço que seu irmão ofereceu e o usou para limpar o sangue.

O celular de Mei Mei vibrou, quebrando momentaneamente o silêncio noturno local. Ela deslizou os dedos pela tela, revelando uma notificação de mensagem de um número desconhecido. O conteúdo da mensagem era curto e direto: "Volte para dentro, precisamos das filmagens."

Uma onda de curiosidade e cautela percorreu Mei Mei enquanto ela ponderava sobre a origem da mensagem. Rapidamente intuiu quem seria o remetente. Sua mente, sempre afiada, conectou os pontos, considerando as recentes reviravoltas na noite.

Sem hesitar, Mei Mei voltou a adentrar o edifício, acompanhada de seu irmão e mantendo a atenção aguçada. O jazz do bar de outrora já estava distante e a atmosfera de mistério que permeava o ambiente ecoavam sua jornada.

Mei Mei aguardou pacientemente no saguão da recepção, onde ainda havia alguns empresários aguardando seus carros. A atmosfera agora era de calma e serenidade superficiais, contrastando com a intriga que fervilhava sob a superfície da noite.

Logo, a figura de Ogata emergiu das sombras, seu terno estava aberto e a gravata frouxa. Ele carregava algo curiosamente sob uma capa de couro, algo que, à primeira vista, parecia ser um violão.

Mei Mei ergueu uma sobrancelha em sinal de surpresa, seu olhar perscrutando o objeto envolto.

— Foi você, não foi?


— Foi. - Ogata respondeu com um sorriso enigmático, seus olhos revelando pouco.

Enquanto a recepção continuava a se esvaziar lentamente, Ogata e Mei Mei dirigiram-se para as escadas. Precisavam das gravações da câmera de segurança.


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