O Beijo que Mudou Tudo escrita por By Thay gc


Capítulo 2
Dakota




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DAKOTA

Após sair de duas escolas naquele mesmo ano por mau comportamento, meus pais, se é que poderia chamá-los assim, resolveram me mudar para um colégio religioso. Achei uma ideia besta, afinal, eu daria um jeito de sair de lá também. Já sabia o que me esperava, tudo óbvio e tedioso. Porém, me enganei perdidamente. Havia quase duas semanas que já estava por lá e não arrumei confusão até então, apenas queria que ela me visse, que prestasse atenção em mim, que soubesse que eu estava lá.

Aquela garota de cabelos longos em cascata castanha, olhos levemente puxados e um ar distraído havia me deixado completamente boba. Mesmo que com meus treze anos, já tivesse uma ideia do que gostava, não demorou para que eu descobrisse seu nome. Nicole. O som era doce na minha boca e gostava de imaginar conversando com ela, ou sendo vista por ela. O que nunca acontecia. A menina mesmo envolta de amizades, se mostrava distante. A mente se encontrava em um canto obscuro que eu ficava fascinada em observar a distância. Está bem que eu parecia uma stalker, porém, por uma boa razão.

Um dia resolvi que daria um jeito em meu maior problema com Nicole. Mesmo que fosse um tanto indiscreto e exagerado, eu teria o resultado que ansiava. Combinei com um menino, o Juan, alguém que se tornou meu colega rapidamente desde o dia que cheguei no colégio, pedi que jogasse comida em mim no refeitório. De início ele recusou, sabia que poderia levar bronca da diretora ou pior, no final, consegui assegurá-lo de que não aconteceria.

Me sentei estrategicamente em uma mesa na mesma fileira da qual Nicole estava, no celular, troquei mensagem com Juan para começar o plano e quando aconteceu, sorri por dentro, gostava de bagunça e ferrava com as regras, portanto, para cumprir meu lado do acordo, subi na mesa me sujando ainda mais e gritei um lindo palavrão. A diretora surgiu das sombras para me levar para conversar. E como idealizei, Nicole estava me encarando assustada. Não pude evitar em piscar para ela, foi mais forte que eu. Antes que desaparecesse do refeitório, vi suas bochechas corarem. Ponto para mim.

No final, peguei uma suspensão, o que não fez diferença em minha fama, já que meus pais não faziam questão de saber o que eu teria feito, sequer surgiram na escola. Apenas me jogaram aos leões como sempre, se não me expulsassem estava perfeito. Eles não podiam se dar ao luxo de me deixar sem matrícula, ou o conselho tutelar cairia em cima deles. Às vezes eu ouvia umas conversas sobre isso antes de dormir. O desgraçado do meu pai cogitando de me deixar ser levada logo para não precisarem mais cuidar de outro problema além do casamento deles.

Quanto a Juan, tive pena do garoto. Apareceu no dia seguinte com o olho roxo, ele me disse que sua prima mais nova havia dado um soco nele enquanto ele brincava com a pequena, mesmo que os outros do colégio espalhassem a história de que eu teria batido nele, Juan não desmentiu os boatos. Pelo visto, era melhor apanhar de uma menina da mesma idade do que de uma menina de cinco anos.

Era comum, após a cena no refeitório, que encontrasse Nicole me olhando entre os cílios; ela sempre disfarçava quando notava estar sendo observada. Mesmo assim, eu ainda não tinha ideia do que ela gostava, se de homem ou mulher, e seria estranho chegar e perguntar. Portanto, tentei me informar pela escola; contudo, ninguém sabia me dizer. Ela nunca demonstrou interesse em ninguém, normalmente com a mente longe em qualquer canto mais interessante que os estudantes do Colégio São Miguel. Acho que pensei tanto naquilo, que acabei atraindo, e o universo me deu o que eu precisava para saber.

Sempre fui do tipo com facilidade para ficar com uma menina, e naquela tarde não seria diferente. Como não tinha ideia de como me aproximar de Nicole, aceitei ficar com uma garota que já há algum tempo estava de olho em mim. Lembro que pensei na ironia. Fomos para uma sala vazia e ficamos. De repente, ouvi o som da porta se abrir e o furacão Nicole entrou carregando a mochila e tirando um caderno de dentro, completamente ofegante; devia estar atrasada para variar, ela nos flagrou imediatamente. Parei os beijos com a outra e fiquei encarando Nicole, tão surpresa quanto ela estava. Meu coração acelerado, pernas bambas; era estranho ficar daquele jeito por alguém. Nicole saiu em disparado da sala me deixando ainda mais confusa. Não sabia o que ela gostava e não sabia o que havia pensado quando viu a cena; era como se nunca tivesse visto duas meninas se beijando. Fiquei curiosa com o pensamento.

Depois disso, acabamos conversando em uma aula onde o professor, com aquele filme sobre Moisés, me ajudou a ter assunto para conversar com ela. Rapidamente me surpreendi com a língua afiada e a gentileza escapando dos seus olhos, tudo ao mesmo tempo. Estranhamente eu conseguia ver uma profunda tristeza todas as vezes que nossos olhos se cruzavam, mesmo que normalmente as emoções gritassem nas expressões dela, algo em Nicole estava escondido. Sempre quis saber o segredo que vinha dentro dela, e com o tempo nos tornando mais amigas, eu ainda me esforçava em saber. O segredo parecia ficar ainda mais cavado dentro de Nicole.

Gostávamos de criar mundos fictícios em desenhos; Nicole tinha mão boa para tal habilidade, e ficávamos horas pensando em vidas diferentes. Aquilo me divertia. Outras vezes, começávamos a fingir que éramos adolescentes ricas que queriam comprar roupas com o dinheiro dos pais abastados. As lojas sempre nos tratavam bem e com vontade em nos tirar as dúvidas que precisávamos. Logicamente, algumas vezes não funcionava, mas só o fato de tentar já tornava as coisas mais interessantes.

Acabamos parando de fazer isso quando, nas últimas vezes, fomos nos trocar juntas no provador, e durante a troca, mal tive tempo de fingir que não olhava para o corpo de Nicole. Sentia-me terrível com isso, por isso, consegui convencê-la a parar.

Os meses passaram, e minhas esperanças em ficar com ela se tornaram mais difíceis. Nossa amizade ficou forte, um laço profundo que eu não trocaria por nada no mundo. Nunca conversamos sobre sua sexualidade, nem a minha; na verdade, era algo tão comum que não era pauta de conversas, assim como um heterossexual não fica perguntando sobre a própria sexualidade. Às vezes, eu sentia um clima entre nós, todavia, sempre era quebrado por algo, normalmente minhas inseguranças sobre Nicole talvez ser até mesmo assexuada. Eu me contentava com sua amizade.

Mas as coisas mudaram em nossa última noite juntas, uma daquelas tranquilas noites de piqueniques nas sextas-feiras, ficou marcada em minha pele para sempre. Jamais esperei que isso pudesse acontecer; nem em meus maiores sonhos cogitei que pudesse surgir uma oportunidade como tal, e mesmo que ansiasse ter um toque físico com Nicole, eu preferiria nunca ter tido paixão por ela; era melhor, pois assim o que aconteceu em nossa última noite juntas poderia ter sido diferente.


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