Voando baixo escrita por MaryDuda2000


Capítulo 2
Por nossos voos


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoal! Tudo bem? Espero que sim.
Chegou a hora de descobrir o que abalou a relação do nosso casal e deles finalmente colocarem os pingos nos is.
Boa leitura!



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O céu parecia estar desabando quando terminaram de assistir Jurassic Park. Óbvio que a ideia de DNA num mosquito ter permitido a reorganização genética e clonagem de diversos espécimes de dinossauros após milhões de anos era bastante absurda para Shino, especialmente quando o inseto usado no filme foi o Mosquito Elefante, que não se alimenta de sangue, mas sim néctar. Entretanto, apesar das ponderações, ateve-se ao fato de ser uma ficção científica. O mais importante de tudo é que tinham passado um tempo juntos. 

— Quer assistir ao filme 2? — Kiba perguntou, empolgado.

— Os filmes duram quase duas horas e está bem tarde. Duvido que a senhora Tsume se importe com dinossauros. Melhor deixar para outro dia.

Aquela ocasião tinha sido bem diferente do planejado. A ideia era que maratonasse os filmes com Naruto, todavia bastou uma mensagem para ser deixado de lado pelo amigo, que foi ao encontro de Hinata sem pensar duas vezes.

Sentiu-se traído. Tinham assistido aquele filme um zilhão de vezes juntos. Era quase como a noite dos garotos. Comiam porcaria, viam TV, jogavam videogame e dormiam super tarde.

Reclamava com Shino por mensagem quando recebeu uma frase que o acendeu por dentro: Eu posso assistir com você, se quiser.

Tinha plena consciência que era um filme totalmente fora da zona de conforto do namorado e, tal como ir ao cinema num encontro clássico, Shino cedia a essas experiências para poderem passar um tempo juntos. Assim eram suas demonstrações de afeto, por atos de serviço e tempo de qualidade.

Em meia hora, batia à porta do namorado.

Agora a realidade o chamava de volta conforme o visor do celular anunciava o nome da mãe.

Ao abrirem a porta, deram de cara com a água barrenta correndo rua abaixo, de modo que sequer conseguiam ver o chão.

— Não acho seguro sair agora. — Shibi alertou, sinalizando para que entrassem novamente.

Uma ligação e, em cinco minutos, Kiba estava autorizado a passar a noite ali.

Demorou mais algum tempo para convencer o namorado a embarcar na sequência, todavia, ao sair do banho, Shino dormia sentado, esperando-o. Optou por deixar a pipoca e as telas de lado apenas para aproveitarem o clima perfeito para dormirem abraçadinhos.

A movimentação na cama despertou Kiba pela manhã.

— Que horas são? — resmungou, esfregando os olhos.

— Sete. — Shino respondeu, tentando se esquivar. — Desculpe, não queria te acordar.

— É sábado. Por que acordar tão cedo? Deita mais um pouco.

— Preciso ir ao banheiro.

Antes que pudesse se levantar, Kiba o puxou de volta para a cama e o envolveu com um dos braços e a perna, prendendo-o a si.

— Me solta. Eu preciso mesmo ir ao banheiro.

Em provocação, o rapaz deu um beijo em seu pescoço, mordendo o lóbulo de sua orelha.

Num movimento rápido, Shino rolou sobre ele, segurando suas mãos sobre a cabeça.

Olhos nos olhos e um sorriso presunçoso surgiu nos lábios de Kiba.

— Quem diria que você é tão selvagem assim pela manhã. — falou, dando um beijo rápido no namorado. — Que foi? Com medo de que eu te devore vivo? Ou por acaso acordou armado?

Em provocação, Kiba subiu devagar a perna até encostar na virilha de Shino, que se esquivou, saindo da cama. Não antes que percebesse o motivo de tanta agitação.

— Espera! Você está duro mesmo.

— Licença.

Shino deu as costas, seguindo para o banheiro do quarto, quando Kiba segurou seu braço.

— Ei, não precisa ter vergonha! Não tem nada de errado nisso.

Desvencilhou-se e fechou a porta, mas Kiba fez questão de ficar do outro lado.

— Quer ajuda?

— Não! — ouviu a voz embargada de Shino.

— Como pretende resolver isso então? — bateu à porta. — Abre logo!

— Kiba, sai daqui, por favor.

— Que foi? Vai bater uma pensando em mim? Porque se for, a gente bem que podia fazer isso junto.

Esperou. Segundos que pareceram longos demais, como num filme de suspense, até que a porta foi aberta e pôde ver uma das cenas mais raras de se presenciar: Shino estava corado.

Ter consciência que seu namorado se armou só de dormirem juntos era bem legal, vê-lo naquele estado era muito mais instigante. O bastante para que outra parte do corpo começasse a pedir por uma atenção especial.

Shino puxou-o para si, envolvendo-o num beijo que até então nunca tinham experimentado. Era intenso e não tão delicado quanto de costume. Quente era a melhor palavra para descrever.

Aquele foi o começo de suas primeiras vezes.

A primeira vez que se viram nus. Que se tocaram intimamente, acariciando partes que até então nunca tinham tocado um do outro mesmo sobre a roupa. Que compartilharam respiração descompassada, ofegantes. Gemidos antes de desfazerem-se quase simultaneamente apenas ao toque das mãos.

Tinha sido uma experiência surreal.

Não é como se Kiba jamais tivesse imagino esse tipo de coisa ou não tivesse curiosidades, mas existe uma grande diferença entre mentalizar e realizar.

Atingir tamanho frenesi propiciou inúmeras ideias que começaram a vagar pela mente de Kiba. Tinham subido um degrau no relacionamento e aquilo era extremamente excitante.

Depois da pedra atirada e palavra proferida, não havia como voltar atrás. Foi apenas uma questão de tempo (e um pouco de pesquisa para se sentir seguro em fazer as coisas direito) para que encontros semelhantes acontecessem.

A primeira vez que colocou em prática um desejo particular de deixar alguns arranhões nas costas de Shino.

A primeira vez que sentiu seus lábios exploraram os corpos um do outro, deixando algumas mordidas que Kiba jamais imaginou serem tão gostosas.

A primeira vez que experimentaram os prazeres de um sexo oral, com direito a gemidos altos, espasmos e o gozo em toda definição física e espiritual.

O quarto de Shino sempre era o ninho onde podiam desfrutar desses momentos de intimidade, afinal Shibi era muito mais tranquilo quanto à intimidade do filho que Tsume e os dava liberdade para ficarem sozinhos quando não estava lá.

E foi numa dessas tardes solo que as coisas desandaram.

Óbvio que Kiba tinha interesse em experimentar coisas novas, todavia não estava preparado para quando, em meio à felação, sentisse o dedo do namorado serpentear por uma área até então não explorada por nenhum dos dois.

O susto foi maior que o prazer e a reação, desastrosa.

Num instante, segurava os cabelos de Shino enquanto soltava um gemido rouco. Na outra, chutava o namorado para fora da cama, que se chocou contra a cômoda, derrubando parte dos livros escolares sobre ele. Logo o som do quarto tornara-se de dor e ele estava no chão, atônito e curvando-se em posição fetal.

Uma mistura de culpa e vergonha o dominou.

Kiba vestiu suas roupas e, covardemente, fugiu. 

 

◇ ♤ ◇

 

Depois de muita espera, chegou a hora.

Ignorar o problema não era a solução. Precisava encerrar o assunto e encarar as consequências de suas condutas, seja elas quais fossem.

Seguiram até um gazebo da praça, local mais próximo onde poderiam ter mais privacidade.

Ficaram sentados em silêncio por algum tempo, como se nenhum dos dois soubesse ou quisesse iniciar aquela conversa. Havia uma bandeira de alerta hasteada.

— Me desculpe! — Kiba se pronunciou.

— Deveríamos terminar? — indagou, cirúrgico. 

Encarou o namorado.

Ver-se no reflexo dos olhos de Shino nunca tinha sido tão assustador.

O peso daquelas palavras era muito maior que o esperado. Parecia comprimir seus pulmões. Em resposta, como se tentasse arrumar forças, fincou as unhas nos próprios joelhos.

— O que eu fiz naquele dia foi horrível. Eu me assustei e acabei te machucando. Te chutei e fugi como um covarde.

— Por isso você quer terminar?

— O quê? Não! Por que acha isso?

— Você me mandou mensagem de "precisamos conversar". — Shino expôs. — Não nos falamos direito há dias e então diz que quer um encontro por lugares onde tivemos bons momentos. Parecia um prelúdio do fim, que estava procurando a melhor maneira de acabar com nosso namoro.

— Não. Eu estava tentando te convencer a não terminar comigo. Realmente, depois daquilo, quase não nos falamos. Te chamei para sair, mas você disse que não. Nem me olhava direito na escola. Parecia questão de tempo até dizer que não dava mais e colocar um ponto final.

Segurou a mão de Shino, a fim de garantir toda sua atenção.

— Eu gosto de você. Muito mesmo. Sei que faço umas burradas, mas não pretendo terminar esse namoro tão cedo, entendeu?!

O que obteve como resposta foi um suspiro indecifrável. Bastou para que Kiba congelasse por um momento.

O canto dos lábios de Shino se curvaram levemente, indicando um sorriso pequeno, tímido e muito significativo que arrebatou seu coração.

— Isso é bom. Também gosto de você e não quero terminar.

Foi a vez de Kiba suspirar, puxando-o para um abraço apertado.

Seu cheiro, seus braços, seu calor. Não podia negar que era caidinho por esse esquisitão.

Afastou-se subitamente, encarando-o.

— Então por que não respondeu antes? Se tivesse mandado uma mensagem decente, eu não teria criado mil e uma paranoias de término na minha cabeça.

Shino suspirou.

— O que aconteceu não foi legal. Seu chute doeu bastante, mas eu também não fiz certo. O fato de estarmos juntos não significa que eu poderia fazer qualquer coisa com seu corpo. Devia ter perguntado se gostaria de tentar algo novo em vez de testar por conta própria. Foi uma ideia do nada, mas você parecia tão relaxado que pensei que... Enfim, não importa o que eu pensei. Não tinha direito de fazer o que fiz. Por isso achei que seria melhor um tempo antes de conversarmos tocarmos no assunto. Sem contar que as provas eram na semana seguinte, o que não ajudou muito. Uma discussão precoce poderia prejudicar suas notas e você ficaria fora do time, além de desagradar sua mãe.

— Mas eu te chamei para sairmos quando as provas acabaram e você disse que estava ocupado. Parecia que não queria nem me ver mais, meio que dando mensagens subliminares.

— Sou homem de palavra, Kiba. Eu falo, não mando recado. — falou, sério; relaxou um pouco e prosseguiu. — Passei o final de semana todo ajudando meu pai com umas coisas de trabalho. Não estava arrumando subterfúgios. Na verdade, pretendia fazer isso hoje, mas então recebi sua mensagem e pareceu bem categórica.

— Aaah... Quanta dor de cabeça!

Suspirou, encostando a testa no ombro do namorado.

— Não acredito que passamos a semana toda pensando besteira por falta de comunicação.

— Pois é. Primeiro a dedada. Depois ficou omisso. Esperava mais de você, Shino.

— Desculpe. Fiquei com medo que pensasse que eu gostava mais da sua bunda que de você.

Aquela fala arrancou uma risada de Kiba. Meio nervosa, meio cômica.

Envolveu Shino pela sua cintura, certificando-se que não se afastaria tão cedo, e o beijou.

Adorava o êxtase que dominava seu corpo todas as vezes que seus lábios se encontravam, como se tivessem sido feitos um para o outro. Nenhum beijo anterior se comparava ao que sentia com Shino.

Permaneceram se encarando por alguns segundos após romperem o contato.

— Agora que esclarecemos tudo, me responde: por que o plano se chamava “voando baixo”?

Kiba deu um sorriso diferente, quase constrangido.

— Eu meio que estava fazendo todo um discurso mental com motivos para a gente não terminar.

— Adoraria ouvir. — falou, claramente satisfeito ao ver o namorado corar.

— No dia seguinte que começamos a namorar, aquela borboleta saiu do casulo. Foi um marco bem legal, único. Naquele documentário que assistimos sobre a migração das borboletas Monarca, dizia que as borboletas normalmente voam alturas baixas, dependendo da vegetação do lugar onde estão. Só que as monarcas migram e podem atingir mais de 300 metros de altura. São como a gente. Podemos voar baixo ou ao infinito e além, não importa. Altura não é um problema para mim se for com você.

— Acabei de descobrir que namoro uma borboleta poeta.

Shino o beijou.

O clima ruim que havia entre eles desapareceu.

Nenhuma borboleta cruzou o gazebo para imortalizar o momento, mas não era necessário. Só o fato de terem esclarecido o grande mal-entendido e estarem bem era suficiente para acalmar seus corações e afastar quaisquer paranoias.

Esse poderia ser o final de tarde perfeito, contudo Kiba tinha perguntas a fazer ainda.

— Então quer dizer que você gosta de mim?

— Não namoraríamos se eu não gostasse.

— E da minha bunda também? — Kiba soltou um sorriso saliente. — Eu entendo. É bem bonita, né?! Saber disso faz valer todos os agachamentos que fiz durante os treinos de vôlei.

Shino respirou fundo, o que tornou o sorriso de Kiba ainda mais largo. Como sentia saudades de perturbá-lo.

— Você também tem uma bundinha bonita.

— É sério que vai insistir nesse assunto?

— Quem começou foi você. — deu uma risada travessa. — A gente demonstra interesse quando gosta de alguém. É o básico. Estou elogiando as partes que montam meu namorado sortudo.

— Você não presta, sabia?!

— E você ama isso.

 

◇ ♤ ◇

 

No dia seguinte, enquanto todos deixavam a sala de aula, Kiba foi notificado para que fosse à sala dos professores.

Uma troca de olhares bastou para que Shino entendesse o que o namorado estava pensando: “Fudeu!” Parecia o tipo de convocação que vinha com suspensão ou expulsão do time de vôlei, o que de maneira alguma poderia acontecer, visto que em três meses aconteceriam as olimpíadas escolares.

— Kiba Inuzuka! — a voz de Kakashi o chamou antes mesmo que batesse à porta.

— Professor?!

— Tudo bem, rapaz?

— Bem e o senhor? Melhorou do resfriado?

Kakashi o encarou, perspicaz.

— Muito melhor. Agradeço por perguntar.

Abriu a gaveta, tirando algo e colocando sobre a mesa.

— Creio que tenha perdido isso ontem.

A carteira. Não sabia se ficava aliviado ou se estava ainda mais ferrado por ter sido descoberto.

— Encontrei com um ladrãozinho que tentou forjar a tática patética do esbarrão.

— Obrigado. — agradeceu, esperando a repreensão que viria a seguir.

— Pode ir agora.

— Sério? Só isso?

— Apenas tinha perdido sua carteira, não é?! Não é como se tivéssemos cabulado aula para namorar ou vadiar. — deu um sorriso meio cúmplice, meio ameaçador. — Simples. Sem papelada ou dor de cabeça. Pode ir.

Kiba levantou-se, ainda incrédulo com o que acontecera.

Estava prestes a sair da sala, quando o professor voltou a falar:

— Aliás, Gai estava curioso para saber se conseguiu se reconciliar com seu namorado. Devo dizer que sim?

O rapaz assentiu.

— Ótimo. Até a próxima!


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Notas finais do capítulo

Chegamos ao final de mais uma aventura ShinoKiba.

O que acharam?

Parece que o buraco aqui foi mais embaixo e super entendo o climão que ficou entre os dois. Conversar era mesmo a melhor maneira de esclarecer a situação, mas estar bem para esse momento, aí são outros quinhentos.

No fim, ambos tinham sua parcela de culpa. Kiba estava se martirizando pela maneira que agiu com Shino. Sequer imaginou que o namorado também estava se culpando pelo que aconteceu.

Os dois erraram, admitiram, desculparam-se e agora podem seguir felizes, lindos e desfrutando cada vez mais da intimidade que o namoro está proporcionando.

Gostei bastante que esse casal veio me visitar novamente, dessa vez trazendo algo que fosse além de uma comédia romântica corriqueira apresentada nas histórias anteriores. Foi bem legal acompanhá-los nesse episódio que aborda sobre autodescoberta e amadurecimento, que tem tudo a ver com a puberdade.

Espero que tenham gostado e se divertido. Agradeço pela chance que deram a essa história. Quem sabe possamos nos esbarrar mais vezes pelo Nyah?!

Até a próxima!



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