Voando baixo escrita por MaryDuda2000


Capítulo 1
Por nossas borboletas


Notas iniciais do capítulo

Olá, leitores! Como estão? Espero que muito bem.
Tem algumas ideias que incrivelmente só vêm na véspera, não é?! Todavia dão aquele ânimo para escrever. Assim chegamos à terceira história ShinoKiba ♡♡♡ Justamente um ano após postar a primeira oneshot que começou essa aventura, também em prol do aniversário do Shino.
Esse casal veio de novo me visitar com mais história para que pudesse compartilhar com vocês. Espero que possam gostar tanto quanto eu, pois sentia falta de aventuras desses dois.
Quem não leu, recomendo que deem uma passadinha nas duas oneshots anteriores (Crisálida e Missão presente) para saber como tudo começou para esses dois.
Desejo uma ótima leitura a todos.



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Depois de ler mais um artigo na internet, Kiba suspirou, jogou o celular de lado e afundou o rosto no travesseiro. Nunca imaginou que um dia recorreria a sites e blogs sobre dicas de relacionamento para saber o que fazer com o próprio.

Namoros podiam ser complicados às vezes. Normal. Todo casal passa por desentendimentos vez ou outra. Aprender como resolver que fortalece a relação, certo?! Sabia disso quando decidiu dar um passo adiante e investir pela primeira vez na véspera de Natal, sendo muito bem-sucedido.

Estavam juntos há quase seis meses e surpreenderam bastante gente quando retornaram às aulas. Kiba não sabia dizer se era por ele estar namorando um cara ainda que fosse um atleta popular entre as garotas — consequência da vitória esmagadora no vôlei nas competições escolares — ou pelo felizardo ser Shino, seu oposto no quesito personalidade. Alguns cochichos, mas não ligou. Nenhum dos dois ligava e a fofoca logo foi substituída por outra.

Tudo ia bem. Aos tropeços, aprendiam a lidar com suas particularidades.

Claro, até a semana anterior, quando Kiba cometeu uma gafe enorme e as coisas ficaram estranhas.

Após o ocorrido, não se falaram mais naquela sexta-feira. Nem no dia seguinte. Precisava de tempo para digerir o que tinha acontecido, raciocinar e dar o próximo passo.

Qualquer um diria que o diálogo seria a melhor alternativa para resolver a situação. Só que nem sempre as coisas simples são, de fato, simples. A verdade é que ele nem sabia o que dizer e, covardemente (por mais que não quisesse admitir), esperava que Shino desse o primeiro passo.

Devido ao silêncio, a ansiedade falou mais alto e Kiba mandou mensagem, mas a conversa não se estendeu além do básico.

A semana de provas seguiu com a mesma chatice de sempre. Por ordens de Tsume quando anunciaram o relacionamento, só aprovava o namoro se não prejudicasse seu desempenho escolar, logo o casal não se comunicava tanto em semanas de avaliação. Aquela, em particular, pareceu a mais interminável de todas. Nenhuma mensagem foi trocada.

Kiba tentou ver o lado positivo da situação. Sabia que Shino era bastante responsável por seus atos e talvez estivesse deixando essa conversa para depois, quando estivessem menos atolados com as provas. Responsabilidade afetiva, não é?!

Na sexta-feira, ficou o dia quase todo ocupado, fazendo as tarefas de casa que procrastinou ao longo da semana sob a justificativa de estar estudando. Era a lei. Tsume sabia quando afrouxar e apertar a rédea para garantir que ficasse bem claro quem estava no comando e o papel de cada um dentro de casa.

No sábado, enquanto passeava com Akamaru, deslocou o trajeto propositalmente para que talvez acontecesse um clássico encontro ao acaso programado. No entanto, quando passou por frente da casa da família Aburame, estava totalmente fechada e o carro de Shibi também não estava na garagem.

O restante do dia se alongou o bastante para que Kiba entendesse o significado de “silêncio ensurdecedor”.

A visita de Naruto no fim da tarde para jogarem videogame preencheu uma lacuna e abriu outras.

— Tá. Chega! — o loiro deixou o controle de lado. — O que aconteceu?

— Como?

— Você tem andado todo estranho essa semana. Achei que fosse por causa das provas, mas nem está prestando atenção no jogo. O que foi?

Kiba suspirou, esfregando o rosto.

— Aconteceu um lance outro dia e as coisas andam meio estranhas com o Shino.

— Um lance? Hm...

Sabia muito bem que Naruto queria mais detalhes, porém não estava disposto a dar. Nem mesmo conseguia conversar com o próprio namorado sobre o episódio. Ateve-se ao essencial.

— Eu vacilei e acho que o Shino ficou chateado. Não falou nada, mas...

— Ficou um clima ruim?!

— Isso.

Naruto pareceu entender que se tratava de algo muito pessoal e não fez piadinhas ou perguntas invasivas. Sempre falavam besteiras e provocações quando sozinhos, inclusive sobre os namoros um do outro, porém estar com Hinata pareceu colocar um filtro nele para saber reconhecer tópicos sensíveis.

— Por acaso destruiu a colônia de formigas dele ou derrubou uma colmeia por aí?

— Não! De onde tirou essas ideias, hein?

— Sei lá. É o Shino né?! Lembra como ele ficou meio estranho quando fomos à seção de plantas carnívoras naquele passeio quando tínhamos 10 anos?

— Não teve nada a ver com insetos.

— Ok...

Fez-se um breve silêncio.

Naruto deu um soco em seu ombro.

— Não sei o que rolou, mas não acho que seja algo imperdoável. Tenta conversar com ele depois, com calma. Logo isso passa.

Aquele assunto tinha alugado um triplex na mente de Kiba. Não estava aguentando mais esse clima estranho que se instalou. Precisava colocar um ponto final nessa situação e precisava ser pessoalmente. Só assim conseguiria decifrar se as falas curtas de Shino são normais ou tentam mascarar que ele está realmente chateado ou com raiva.

Domingo de manhã, fez questão de colocar em prática o planejamento. No entanto, o modo como a conversa se desenrolou, se é que se pode chamar de conversa, pareceu deixar Kiba ainda mais encucado.

Shino nunca foi o tipo de pessoa que fica arrumando subterfúgios. Sempre foi muito prático e essa objetividade dele ficava clara até mesmo quando tinham suas briguinhas de casais. Ficavam um tempo sem se falar para organizarem as ideias, contudo o namorado se demonstrava a voz da razão para dar o pontapé inicial da reconciliação.

Isso não significa que desse o braço a torcer e realizasse os caprichos do namorado. Apenas chegavam ao equilíbrio que permitia engavetarem a situação e seguir em frente. Kiba sempre achou essa característica muito positiva nele. Reconhecia sua maturidade. Por isso, a falta de qualquer sinal de manifestação por parte de Shino estava deixando-o cada vez mais paranoico.

Situações desesperadas pedem medidas à altura.

Ficou até tarde navegando entre blogs e sites sobre relacionamentos e, a cada matéria nova que lia, sentiu brotar questionamentos que levaram uma insegurança desgraçada. Odiou-se por isso. A maioria dos textos abordavam sobre confiança, sinceridade e interesse (ser e demonstrar). Com certeza ele era alguém muito interessante. Também tinha se dedicado a entrar mais no mundo de Shino, até assistiram juntos a um documentário de mais de uma hora sobre a migração das borboletas Monarca, quando ele fora à casa do namorado crente que era apenas uma desculpa para se amassarem no sofá. Não é como se um erro fosse mudar tudo, não é?!

De repente, estava numa matéria intitulada “Sinais que ele quer terminar”. Não clicou para lê-la. Um bug do celular o fez. Mesmo assim, ele leu.

Demora para responder mensagens. Quebra na comunicação. Discussões mais frequentes. Demora em solucionar os equívocos na relação. Um pequeno desentendimento pode acabar se tornando gatilho para o término de um namoro, pois não se trata de algo isolado e sim o acúmulo de coisas que não estão mais funcionando.

Kiba largou o celular e foi tomar banho.

Por mais ridículo que parecesse ao ler e ainda que quisesse não pensar nessa possibilidade, aquelas palavras continuaram em sua mente durante toda noite.

Sem dúvidas, precisava tomar uma medida para resolver aquela situação. Não queria ser o responsável pelo término deles. Simplesmente não queria que acabassem o namoro. Gostava de Shino e aquela possibilidade o deixava inquieto.

Logo, tratou de elaborar e colocar em prática um plano infalível.

 

◇ ♤ ◇

 

Ao acordar, a primeira coisa que fez foi verificar a conversa com Shino.

Nenhuma resposta.

Aquele vácuo o fez querer socar alguma coisa. Parte por raiva, parte por estar chateado.

Respirou fundo, tentando não se deixar abater. Estava pronto para colocar seu plano em ação e tinha tudo para dar certo. A maior variável seria Shino colaborar. Para isso, resolveu dar um empurrãozinho cretino.

Precisamos conversar. Hoje.

Enviou a mensagem antes de tomar café da manhã e se arrumar para a escola.

Sabia muito bem o peso das palavras que escolhera e contava que isso fosse dar o susto necessário para que Shino resolvesse romper seu voto de silêncio e pudessem colocar os pingos nos is. Conhecia o namorado bem o suficiente para saber que um pedido daqueles providenciaria um encontro cara a cara.

Na escola, deteve-se ao máximo de direcionar olhares para Shino, que estava sentado no lugar de sempre, enquanto Kiba havia sentado duas cadeiras afrente, na fileira ao lado, próximo a Naruto. Queria parecer determinado e bem. Queria se sentir assim. Era preciso postura. No entanto, nos dizeres mais populares, estava com o c* na mão. Em sua mente, encarava a situação como um jogo de final de campeonato e não poderia falhar. Essa palavra sequer estava no dicionário de Kiba Inuzuka.

Ainda assim, quando saiu para ir ao banheiro, não resistiu em dar uma breve olhada para trás. Uma fração de segundo para visualizar o namorado anotando alguma coisa no caderno e, possivelmente, com um dos lados do fone de ouvido escondidos pelo capuz do casaco.

Por mais besta que parecesse, era uma cena que gostava de ver. O silêncio de Shino tinha se tornado algo reconfortante e admirá-lo naquele cantinho era algo que fazia desde antes de ter coragem de investir no relacionamento. Dessa vez, porém, não poderia ir lá perturbá-lo, interrompê-lo no que quer que fizesse para monopolizar sua atenção.

Essa breve saída rendeu acertos ainda mais oportunos para que pusesse seu plano em prática.

O intervalo foi a distração perfeita para que pegasse sua mochila e saísse de sala, não sem antes olhar para trás e dizer um “Vamos logo!”

O breve instante em que seus olhares se cruzaram foi o bastante para que o coração de Kiba errasse a batida.

“Droga!”, mentalizou. “As coisas precisam dar certo.”

Estudar praticamente a vida toda no mesmo colégio tem suas vantagens, como saber os pontos cegos e descobrir as melhores formas de escapar sem ser pego.

— Estamos em aula. — Shino retrucou assim que chegaram ao estacionamento dos funcionários.

— Kakashi-sensei não veio hoje. Disseram que está resfriado, algo assim.

— Temos Educação Física depois.

— Falei com Gai-sensei que precisamos sair mais cedo. — Kiba falou, munido da maior cara de pau. — Você vem ou não?

Estava saindo da curva. Ele sabia muito bem disso. Sua preocupação maior não era evitar serem pegos. Tinha feito isso algumas vezes antes com os amigos para ir jogar ou vadiar pelo bairro, voltando apenas antes da aula acabar e saírem todos juntos, como se não tivessem burlado as regras.

Dessa vez, era diferente.

Shino sempre foi muito correto com suas atividades, o que quase fez Kiba duvidar se embarcaria nessa ideia suspeita dele. Por sorte, a incerteza desapareceu minutos depois de alcançar o chão do lado de fora da escola, ao ver o namorado também pular o muro.

 Olharam-se por um instante que pareceu longo demais. Por trás daqueles óculos, sentia o olhar de Shino nele. Diante deles, visualizava o próprio reflexo, detalhe que serviu de força motriz para fazer um breve sinal com a cabeça para que o seguisse.

Esperou algum questionamento, comentário ou crítica. No entanto, Shino permaneceu em silêncio durante todo percurso. Apesar do silêncio ter deixado de ser algo confortável nos últimos dias, agradeceu a cooperação. Não podia perder o foco.

Cerca de quinze minutos de caminhada e chegaram ao cenário tão familiar para ambos. Aquele lugar estava cheio de memórias e não podia estar de fora do cronograma para aquele dia.

— O parque.

Foi a primeira fala de Shino desde que deixaram a escola.

Kiba tirou a mochila e colocou aos pés de um grande salgueiro. Ao encarar o namorado de costas, pôde ver o movimento lento que identificou ser como uma respiração profunda, desfrutando o cheiro de terra e folhas. Afrente, havia um trecho mais estreito do rio que cortava a cidade.

Aquele tinha sido o lugar do primeiro encontro oficial como namorados.

Quando Shino retornou o olhar para a árvore, notou a toalha forrada no chão e Kiba retirando algumas sacolas de dentro da mochila.

— Está com fome? Eu trouxe sanduíche, frutas e sushi também. — o Inuzuka falou. — Senta aí!

Assim o fez.

O tempo pareceu passar devagar demais enquanto comiam. Geralmente, quando iam ali, Kiba não calava a boca. Sempre arrumava alguma coisa para falar. De repente, as palavras pareciam calculadas, como se tivessem perdido a habilidade de quebrar o gelo.

— Bom lugar. — a fala de Shino acendeu um alerta dentro dele. — O que você...

— Vamos ter um encontro?!

A pergunta escapou de seus lábios quase imediatamente, interrompendo-o. Kiba o encarou, sustentando o olhar da maneira que torcia ser tão determinada quanto o da mãe quando desejava transmitir confiança.

— Eu quero passar um tempo com você. Posso?

Outrora, encheria os pulmões para dizer “meu namorado”, mas queria ser cauteloso. Sabia que, em algum momento, chegariam ao assunto, quando sentisse que os dois estavam prontos.

As palavras não dominavam o espaço, porém seus corpos lembravam suas estadias ali quase como um ritual. Após comerem, deitavam-se sob a sombra da copa larga da árvore e observavam os feixes de raios solares que tentavam ultrapassar o teto de folhas, as quais dançavam conforme a brisa os cumprimentava.

Era uma manhã bastante agradável de verão.

— Você está bem?

Não se assustou com a pergunta de Shino, mas sentiu um arrepio percorrer seu corpo. Uma brisa mais fresca tinha os abraçado, porém ele tinha plena consciência de que não fora por causa dela. Acreditava que o namorado também notaria isso. Torcia que sim. Desejava que visse como ainda tinha influência sobre ele, que era importante.

— Estou. — respondeu, tentando alimentar a conversa. — Só meio preocupado com a nota de química. Entendi nada que estava escrito. Se eu tirar a média, estou no lucro. E você?

— Acho que fui bem.

Não era sobre as provas que estava perguntando, mas Kiba não repetiu a pergunta. Teve receio de tagarelar. Só queria mandar o clima estranho para longe.

— Deve ter se saído melhor do que pensa. — Shino continuou.

— Agradeço a confiança na minha capacidade.

— Está mais para confiança na minha habilidade de ensinar.

Kiba sorriu e o olhou de soslaio.

Era uma piada. Tinha aprendido a reconhecer o senso de humor singular de Shino. Um lado do namorado que, a princípio, só ele conhecia.

A sensação de patinhas minúsculas em seu braço o causou desconforto. Estava prestes a enxotar para longe quando observou que não era formigas em busca de migalhas do seu piquenique improvisado.

Sorriu e virou-se de imediato para mostrar o inseto que escalava seu braço.

— Uma joaninha. Faz um pedido.

— Ela pousou na sua mão. Não na minha. — Shino esclareceu. — O pedido é seu.

Como se o universo colaborasse, estava repetindo quase a mesma cena de um de seus encontros. Claro que, naquela ocasião, descobriu que o namorado não acreditava nessa superstição de joaninha realizando desejos, mas Kiba o fez.

Fechou os olhos e mentalizou. Antes que pudesse pensar as palavras corretas, sentiu o inseto voar para longe. Torceu para que ainda assim seu desejo fosse atendido.

Sentiu o braço de Shino envolvendo-o como um abraço a fim de mantê-lo ali, deitado próximo a ele, como sempre faziam.

As borboletas no estômago voltaram a se animar.

 

◇ ♤ ◇

 

O lugar. O abraço. O momento.

Aquela combinação foi suficiente para que Kiba desejasse cancelar todos os próximos itens da lista apenas para continuar ali, junto de Shino.

Quem diria que gostar de alguém e namorar o tornaria meio piegas?

Claro que nem tudo são flores. Ainda tinham outros lugares para ir e o universo tratou de dar o sinal a partir de latidos cada vez mais próximos.

Num susto, Kiba quase deu um pulo. Era inevitável pensar que estava muito encrencado quando sua mãe é ninguém menos que a líder em treinamento canino no estado. Quase imediatamente fez sinal para que Shino se apressasse, guardando seus pertences e escondendo-se atrás da grande árvore.

Logo os cães surgiram à vista, correndo soltos, apesar de arrastarem coleiras. Pareciam brincar, divertir-se com os gritos de quem quer que tivessem acabado de escapar.

 — Esperem! — o grito demonstrou o cansaço que sentia.

O homem parou, apoiando as mãos nos joelhos, enquanto um dos cães correu ao seu redor. Estava possivelmente apenas brincando, todavia quase parecia debochar de seu grupo não ter sido alcançado.

— Kakashi! — a repreensão permitiu que reconhecessem a persona.

“Que droga!”, Kiba pensou.

Quais eram as chances de, justo no dia que resolvem cabular aula, encontrarem no parque possivelmente o professor mais certinho existente? Se fossem pegos, com certeza estariam encrencados.

Um assobio anunciou a chegada de Kakashi, o qual fez com que todos os cães o encarassem, mas não fossem até ele.

— Viu só? Eles estão bem. Atentos. Só querem brincar um pouco. Não se preocupe. Não teremos nenhum desaparecimento.

— Assim espero. — Iruka falou. — Aliás, você me parece muito bem para quem disse estar resfriado.

— Deve ser o contato com a natureza. Eu avisei que fazia milagres.

— Não se faça de bobo, Kakashi. — gritou, como sempre o fazia quando repreendia alguém, geralmente alunos. — Você estava mentindo, não é?! Cabulou aula para ficar vadiando e sequer quis levar os cachorros para passear.

No instante seguinte, o professor estava bastante próximo a Iruka.

— Cabulei porque era seu dia de folga. — respondeu baixo e calmamente. — O que tem de errado em querer passar um tempo de qualidade juntos? Aliás, já passou a semana de provas. Sei que corrigiu todas as avaliações. Nosso Irukinha é mesmo um professor muito diligente.

O casal estava distante demais para escutar o que conversavam, mas a proximidade entre os dois serviu como semente para que o Inuzuka ficasse curioso.

— Acho melhor irmos embora.

A voz do namorado retirou Kiba do foco nos professores para avistar um dos cães cada vez mais próximo. Se não fosse dos mais amigáveis, seria apenas uma questão de tempo para serem denunciados.

A intervenção serviu para que seguissem para o segundo tópico da lista: o museu, mais especificamente a Sala dos Insetos. Tinham ido lá no aniversário de Shino. Foi o dia em que percebeu o quão grande era o fascínio do namorado em estudar aqueles seres tão pequenos. Descobriu também que ele já tinha ido com o pai algumas vezes e, ainda que não fosse exatamente o assunto mais interessante para Kiba, o rapaz prestou o máximo de atenção possível só para conseguir admirá-lo empolgado.

Infelizmente, segunda-feira era dia de manutenção. O museu não abria. Sete dias por semana e justo no dia que Kiba resolveu ir lá por conta própria, o local estava fechado.

Contudo, não seria um pequeno imprevisto que o abateria. Seguiu para o terceiro item da lista: cinema, um cenário clássico de grande maioria dos namoros e não foi tão diferente assim. Kiba recordava como tiveram o melhor pior encontro do mundo. Tinha chegado atrasado e pediu para que Shino comprasse os ingressos. A sessão estava praticamente vazia e logo entendeu o motivo. O filme era tão ruim que, mesmo durando pouco mais de uma hora, pareceu uma eternidade. Podia jurar ter pegado no sono uma ou duas vezes. Retornaram para casa apontando os furos de roteiro e atuações ruins dos protagonistas. Só não foram embora antes porque a vilã era bastante carismática.

Dessa vez, tinham três filmes sendo exibidos: uma animação sobre dragões, um terror sobre palhaços assassinos contra um maluco da serra elétrica em pleno apocalipse zumbi e um romance dramático sobre divórcio, que com certeza não era uma opção a ser cogitada. Totalmente anticlimático. A classificação +18 no filme de terror deixou como alternativa apenas o filme de animação.

Acomodaram-se lado a lado e, por um momento, Kiba desligou-se do mundo. Fazer o quê? Era um grande fã de desenhos e isso não era segredo para ninguém. Retornou à realidade quando seu braço esbarrou no de Shino no apoio. Despretensiosamente, seu dedo mínimo enganchou no do namorado, que não recuou.

Lá estavam elas novamente, as borboletas se revirando em seu estômago. Era como se tivesse acabado de sacar a bola e marcado um ponto precioso na final de campeonato. Nem mesmo uma coceira insistente nas costas o fez interromper aquele contato.

Quando o filme acabou, nenhum dos dois deu qualquer sinal de se levantar. Viram a sala esvaziando pouco a pouco, sendo os últimos a deixarem o local.

— Gostou do filme?

A pergunta fluiu tão naturalmente que demorou um instante para que todo contexto daquele encontro retornasse a sua mente.

— Dessa vez, o filme foi bom. — Shino respondeu, acalmando o coração do pobre Inuzuka.

— Claro que foi. Eu sei escolher bons filmes. — destilou sua autoconfiança. De fato, pouco a pouco sentia-se renovado. — Quer comer alguma coi...

Começavam a se afastar do cinema quando sua fala foi interrompida por um grande esbarrão.

— Que merda! — Kiba reclamou.

— Foi mal! Tentei desviar do carro e não vi você.

Um rapaz estendeu a mão para ajudá-lo a se levantar. Shino fez questão de segurar a outra.

— Sem problema.

Depois de desculpar-se mais uma vez, o rapaz partiu, correndo ainda.

— Você está bem? Se machucou?

A preocupação na fala do namorado era tão gratificante que nem mesmo os arranhões nas mãos o incomodavam, por mais que ardessem bastante.

— Tudo bem. Não foi nada demais.

Ainda assim, Shino limpou cuidadosamente suas mãos, avaliando até os cotovelos em busca de qualquer sinal de ferida.

— Ele devia estar com muita pressa.

— Essa desculpa de desviar do carro não foi muito verdadeira. — o Aburame contrapôs.

— Como assim?

— Havia uma boa distância entre o carro e a calçada. A não ser que ele tenha um péssimo equilíbrio, não te derrubaria.

Um sorriso presunçoso surgiu no rosto de Kiba.

— Está com ciúmes, é?!

— Não seja ridículo.

Gostaria de poder explorar mais esse assunto, todavia o aroma tão conhecido do lamén do Ichiraku parecia convidá-los para finalizar o encontro da melhor maneira possível. Era basicamente o próximo ponto de qualquer um que não fosse burguês safado para torrar dinheiro num balde de pipoca no cinema, como eles.

Enquanto esperavam, conversaram um pouco sobre o filme. Kiba quem falou mais, porém ser respondido fazia cada palavra valer.

Shino preparava-se para pagar a conta quando interveio.

— Eu quem te chamei para um encontro. — deu seu sorriso mais galanteador. — Eu pago a conta.

Geralmente dividiam, mas não hoje.

Tateou os bolsos, todavia não encontrou a carteira. Procurou no compartimento de sempre na mochila. Nenhum sinal. Revirou-a novamente, intrigado.

— Eu tenho certeza de que guardei aqui, logo depois de comprar os ingressos do cinema.

Mais uma revista. Nada.

Tocou novamente os bolsos para dar-se conta do que tinha acontecido.

— Desgraçado! — Kiba rosnou. — Aquele cara roubou minha carteira.

— Eu disse que o esbarrão tinha sido suspeito.

— Que droga! Ele levou 50 pilas, minha carteirinha de estudante e o vale transporte. — fez uma careta. — Sabe o pior de tudo? Eu nem posso denunciar, senão minha mãe vai ficar sabendo e eu estou morto.

— Calma! A culpa não é sua, mas daquele ladrãozinho insignificante. Não tinha como você imaginar.

— Mas deveria. Se eu tivesse pensado nisso antes, poderia ter ido atrás dele. Ainda por cima estraguei o encontro com mais uma burrada. Nem consegui pagar a conta. Será que eles aceitam pix? — esfregou o rosto. — Nossa... Eu sou uma anta mesmo.

O silêncio voltou a se fazer presente. O tempo necessário para que Kiba se recompusesse. Shino o respeitou, como sempre. Não havia algo que pudesse dizer que melhorasse a situação. Apenas pagou a conta e esperou.

— Ok! — o Inuzuka suspirou, tentando recobrar o otimismo. — Você pagou dessa vez. Depois eu devolvo. Vamos para...

Procurou nos bolsos. Onde estava seu cronograma? Não seria possível que tinha sido roubado também, certo?!

Para sua surpresa, Shino estendeu o papel em sua direção.

— Plano voando baixo?

— É que...

Precisamos conversar.


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Notas finais do capítulo

Chegamos ao final da parte 1 dessa aventura.

O que acharam do plano infalível de Kiba?
Palpites do que teria acontecido para criar esse climão entre nosso casal maravilha?

Vale a pena lembrar que aqui eles estão com 16 anos, ok?! Adolescentes e suas pérolas...

Agora uma curiosidade: alguém reparou na foto de perfil do Shinão? Uma abelhinhaaaa! Que coisinha mais fofa!!! ♡♡♡

Como é songfic, não podia faltar a trilha sonora e uma que tinha tudo a ver com a história desses dois: Butterfly, do BTS.

Estava com saudades desse casal. Espero que tenham gostado.

Até a próxima!



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