Antes do para sempre escrita por Cupcake de Brigadeiro


Capítulo 4
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo foi todo escrito em agosto de 2020! Espero que vocês gostem! ♥️



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Entro na padaria com as mãos trêmulas.

John é o primeiro que vejo, o marido de Delly, e suspiro aliviada.

— Cadê o seu patrão, hein? — riu, divertido, dando o troco para uma jovem.

— Terminando uma encomenda de bolo para uma festa de casamento. Lá nos fundos — agradeci, e passei para o outro lado, passando por dois ambientes diferentes até chegar onde Peeta está, muito concentrado, fazendo flores de açúcar perfeitas. Eu sei que é de açúcar apenas porque estou vendo os sacos do doce. Mesmo tanto tempo caçando no meio da floresta, não conseguiria dizer qual a semelhança do trabalho dele para o que é real.

— Vai levar para casa alguma dessas? — Continua modelando com todo o cuidado, mas sorri, desfazendo um pouco da concentração. — Sempre vou achar que você é mágico quando faz essas coisas.

Tirou os olhos do seu trabalho, pra olhar para mim. Arte é o que faz ele feliz, é seu talento, e eu acho impressionante o quanto isso até dá a impressão de que ele é mais novo do que realmente é. Seus olhos azuis me desconsertam por um momento, como todas as vezes. É inevitável não sorrir também.

— Obrigado — agradece, sorrindo. — Quer comer alguma coisa diferente? 

Assenti, embora não seja totalmente verdade. Venho aqui com frequência, geralmente para vê-lo mesmo, mas sempre saio com alguma coisa gostosa também. Sou degustadora oficial da padaria, e trago os filhos de Delly comigo pelo menos duas vezes, para ela resolver coisas em sua casa.

— Não almocei ainda, pensei que talvez pudéssemos comer algo na barraca da Grease Sue — concordou, depois de ver a hora. São três da tarde, mas uma sopa ou algo leve é uma boa opção para nós dois agora. — Posso escolher um doce?

— Katniss, você é a minha mulher, você poderia pegar tudo que sabe que eu nunca brigaria por isso — responde, revirando os tão bonitos olhos azuis. — Você sempre pega o que quer. Que pergunta sem noção!

Será que o bebê vai herdar esse traço? Eu tenho os olhos parecidos com o do meu pai, com muito orgulho, ainda que seja um traço comum para quem é da Costura, mesmo até os dias de hoje. Pensar na aparência do bebê me dá ansiedade. Então resolvo comer para não contar sobre minha decisão logo de uma vez.

— Ótimo, vou pegar dois cupcakes — riu, me vendo pula em uma das banquetas, me servindo com os mais recheados. — Não foi você quem fez esses, foi? Você coloca mais caramelo e glacê porque eu gosto.

Negou, se aproximando, pegando um também.

— James — responde, sem estar surpreso com o fato que eu sei exatamente o modo como prepara o recheio dos bolos, e ficou entre as minhas pernas, mas sem ser de forma maliciosa. Faz um casto carinho na minha bochecha. — Não está com cheiro de mato ou de terra molhada. Só do meu xampu. O que houve?

Dessa vez, eu quem ri, passando um dos braços por sua cintura, nos aproximando para um abraço. Não vou conseguir esconder a decisão por muito tempo.

— Eu fui ao médico. Trimestral, a vacina... — assentiu, fazendo carinho nas minhas costas. Ele sabe que eu tomo anticoncepcional, e venho ao hospital para reaplicar a dose. Fiz isso nos últimos 15 anos. Mas agora, não mais.

Quis contar, mas ainda não acho ser a hora.

— Vamos comer alguma coisa na Sue, e então ir para casa, ok? Precisa descansar. E o meu trabalho eles podem terminar, só falta organizar.

E aqui está. O amor impressionantemente bem demonstrado por Peeta, que sabe quando eu preciso dessas demonstrações mesmo quando nem eu mesma sei.

(...)

Fomos andando até em casa com os dedos entrelaçados. Descanso a cabeça em seu ombro, aproveitando ser um pouco mais baixa que ele. Comemos uma simples sopa na Greasy, e então viemos para casa, como havia prometido. O sol está se pondo quando passamos pela porta.

— Deita no sofá, vou pegar água para você — avisa, beijando minha bochecha. Nem percebo que estou extremamente ansiosa, e sem força nas pernas. Estou suando, em plena primavera, onde faz uma temperatura amena. — Ou prefere subir?

Balancei a cabeça, para tranquiliza-lo, e subi. Deixei a blusa em cima da cama, e fui para o chuveiro. Tomei um banho demorado, até me cansar de passar sabonete. Suspiro, cheirosa de maneira irritante. Eu estou pronta para ser mãe, sim. Mas e se o meu “preparada” não for tanto quanto eu devo estar?

Um nervoso passa por todo o meu corpo, enquanto penteio o cabelo na penteadeira do banheiro. Suspiro. Talvez eu deva ligar para o doutor Aurelius. Quando saio, Peeta já me espera, de banho tomado - por termos três banheiros funcionando na casa-, e com uma garrafa de água.

— Está se sentindo melhor? — concordo, embora não seja tanta verdade assim. Ele vem até mim, e me abraça, me fazendo descansar a cabeça em seu peito e escutar as firmes batidas do seu coração. — Agora está?

Rio, assentindo. Por que estou nervosa? É o Peeta. Ele nunca vai deixar algo ruim acontecer. Nós temos um ao outro, e o bebê terá nós dois.

Me afasto só um pouco, para poder olhar em seus olhos. Fico na ponta do pé, e beijo seus lábios. Ele sorri, correspondendo, então eu sinto. Sinto que tudo vai ficar bem, quando arrepios passam por mim, e eu quero ir além hoje.

Demonstro minhas intenções através de um beijo mais intenso, colando nossos corpos. Logo estávamos na nossa cama. Peeta é carinhoso e incrível como todas as vezes, me perguntando se eu estou mesmo confortável para isso.

Tiro sua blusa, arremessando para outro lado. É um sinal suficiente. Não me incomodo com as cicatrizes no lado direito do meu pescoço e clavícula, nem com as do meu braço. Já não tem um tom sombrio de antes, e mesmo que tivesse, sei que Peeta não se importaria nem se não pudéssemos estar juntos dessa forma.

Permito que tire minhas roupas, mas mantendo a calma. Ficar ansiosa não vai me levar a lugar algum. Temos muito tempo. Não me decepcionou, como sempre. Ultimamente temos feito mais amor do que em outros tempos, e de algum modo, eu tenho apreciado mais também. Não sei ao certo o motivo... talvez a maturidade. 

Amanhã faremos 15 anos de casamento, mas são quase 16 que estamos realmente engajados um com o outro, depois do final da guerra. Pensar em uma velhice sempre foi algo muito surreal para mim, e para qualquer pessoa no distrito 12, mas agora, nesse instante em que eu e Peeta somos uma pessoa só... é assim, nessa companhia, que eu quero passar o resto dos meus dias.

Peeta deita ao meu lado, suado e ofegante como eu, mas é possível sentir o coração bater por outros motivos: felicidade. Estranhamente, é quase como se pudéssemos ler a mente um do outro hoje em dia. Mas não vou externalizar agora, nesse momento, a minha decisão. A médica disse que pode levar cinco meses ou mais até eu conseguir engravidar, e não quero decepciona-lo de forma alguma. Mas me pergunto se essa não foi a vez que eu já fiquei grávida.

(…)

Todo aniversário meu ou nosso, sempre sou acordada com beijos e uma bandeja com biscoitos de leite, pão de queijo e uma caneca enorme de chocolate quente já me esperam na cama com Peeta, mas hoje decidi fazer algo diferente.

Apenas escovo os dentes, lavo o rosto, e me enrolo em um roupão, sem me preocupar em vestir nada além disso para não perder tempo, descendo as escadas muito pouco antes do sol nascer. Mal dormi, porque ficamos a madrugada... ocupados. Dou um sorrisinho ao pensar, e toco o ombro, pensando nos beijos que deixara aqui por saber que eu gosto. Todas as palavras lindas que ele me diz.

Deixo o forno ligado, e com o máximo de silêncio preparo um bolo de hummingbird com recheio de morango, seu favorito. Andei treinando nas últimas semanas, e estamos casados há 15 anos hoje, seria no mínimo humilhante se eu não conseguir fazer um bolo de nozes-pecãs.

Butter parece apreciar, e dou um sorriso para a gata. Sinto muita falta de Buttercup, chorei muito com sua partida. Entrei em uma crise horrível, por ele ser a última coisa realmente viva que me conectasse à Prim, então vê-lo morrer bem no colo de Peeta, enrolado em uma manta que Prim gostava de enrolar ele, foi devastador. Eu chorei por uma semana, sem parar. 

Logo dispenso esse pensamento, só por esse instante. Tenho que terminar isso para Peeta. Com muita determinação, preparo o recheio, e logo a casa é preenchida com o adorável aroma de bolo bem assado. Fiz uma curta oração, desejando que não tenha solado e nem nada do tipo.

Butter me vigia todo momento, ela é realmente uma companheira. Coloco um sachê inteiro, que Peeta sempre deixa no armário. Acho que é por isso que ela passa mais tempo em casa do que Buttercup passava.

Quando finalizo, é possível ver claramente que eu estou muito longe de ser alguém digna de trabalhar na padaria - embora quando estou mal fico tardes inteiras ajudando Peeta e os seus ajudantes a organizar prateleiras e me fazer de louca -, mas é obra de alguém que não é tão inexperiente assim. Provo um pouco, e quase grito de felicidade. Finalizo com açúcar de confeiteiro, para não fazer barulho ligando a batedeira e fazer um chantilly.

— Katniss? — Peeta murmura, descendo as escadas esfregando os olhos. Só veste a calça do pijama cinza, me fazendo suspirar por um momento, ao vê-lo sem camisa, bem às quase 8 da manhã. O sol entra na casa pelas janelas da cozinha, que abri para não acordá-lo caso desse errado e o bolo queimasse ou mesmo o recheio. — Você está bem?

Ri, assentindo, indicando uma das banquetas para ele se sentar. Beijo sua bochecha, desejando bom dia. Ele sorri também, desejando o mesmo, apertando levemente minha cintura, me dando um beijo de verdade na boca. Passo os braços por seu pescoço, suspirando, mas logo me solto.

— Fiz algo para você.

Eu deveria ter tirado foto do momento em que Peeta viu o bolo. Sua surpresa foi tão grande, que eu até me senti um pouco mal por quase nunca fazer algo na cozinha assim. Geralmente fico responsável pelo almoço, quase sempre sobra para a janta também.

— E por quê? Nossa, Katniss, eu ia fazer o bolo red velvet para você hoje, além de pães de queijo, não precisava se incomodar. Sabe que eu faço porque gosto — balancei a cabeça em negativa.

— Fiz porque eu quis. Nos últimos 15 anos, você quem sempre acordou antes — digo, me sentando ao seu lado, com uma faca e dois garfos. Não tem necessidade de prato. — O que quer nesse mais um ano de casados?

Pergunto, fazendo carinho em seus cabelos. Muitos homens da sua idade por algum motivo não tem nem metade do cabelo, mas Peeta tem bastante, sendo quase engraçado que precisa que eu corte seus cabelos a cada dois meses. Ainda não cortei esse mês, então está com os cachos ainda mais volumosos.

— Você me basta — diz, se inclinando para o carinho. — Mas acho que o mundo vai acabar agora que você fez alguma coisa na cozinha que não seja sua caça e sem atear fogo em nada. Estou morrendo e você descobriu antes de mim?!

Acerto um tapa em seu braço, e nós dois caímos na risada. Butter passa cuidadosamente pela pia limpa, já que joguei toda a louça na máquina, sumindo pelo quintal. Peeta me abraça. Sento em seu colo, com as pernas pendendo para um lado, e meus braços em seu pescoço. Aproximo nossos rostos, e fecho meus olhos. Peeta tem cheiro de casa. Lar. Meu lar.

— Seria bom se tivéssemos um filho... — diz, em um sussurro tão baixo. Todos os anos ele me pede isso. Sempre assim, cuidadosamente, para não me machucar. Como se ele pudesse me fazer mal.

Nem nos atualmente poucos momentos em que o veneno das teleguiadas atingem suas memórias ele me machuca. Peeta é um ser quase evoluído para esse mundo.

— Eu também acho.

Digo, me escondendo na curva do seu pescoço. Sinto seu corpo arrepiar. Dou uma risada, me apertando mais contra ele em um abraço. Ele é para quem eu volto para casa, e será o conforto para o filho que pretendo que tenhamos. Isso me alegra.

— O quê, Katniss? — Ficou tão surpreso que sua voz está trêmula. 

— Ontem eu menti. Bem, meia verdade... fui ao médico, mas não tomei a vacina — digo, me afastando só um pouco para olhar em seus olhos. — Eu estou pronta.

Seus lábios se entreabrem, e parece querer dizer alguma coisa, mas nada sai. Apenas caem lágrimas dos seus olhos, e dos meus, e então um sorriso enorme no seu rosto.

— Ano que vem, talvez, espero, não será só eu e você — ele ri, balançando a cabeça, como se tentasse entender no que eu disse.

O que aconteceu depois foi como um vulto incrível e intenso. Eu na bancada da cozinha, deitada, Peeta abrindo meu robe, eu descendo sua calça, ele nos juntando, murmurando as palavras mais lindas que eu poderia ouvir, e muito agradecimento. Me sentir mais do que bonita. Peeta fez eu me sentir celebrada. Amada. Louvada. Adorada. Meu corpo se arrepia, ao chegar no máximo, sentindo ele junto comigo, segurando em mim como se fosse dele.

E eu sou. Eu sou de Peeta como Peeta é meu. Nossos sons foram tão altos, somente agradeci por ter sido no final da bancada, que dá para o jardim dos fundos — onde não temos vizinhos e ninguém pode nos ouvir ou ver. Quem divide o quintal, praticamente, é Haymitch, que está certamente não-sóbrio para poder nos escutar. Se ele escutasse, eu não me incomodaria.

Isso me faz rir, e eu chamo por Peeta mais alto, sentindo seu corpo dentro do meu, o que faz mais sentido do que termos estrelas no céu de noite e o sol pela manhã. Quando paramos para tomar o café, o bolo está frio, assim como o chá, mas nenhum de nós realmente se importa.


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Notas finais do capítulo

Feliz ano novo, pessoal! Tem uma galera lendo os capítulos, eu consigo saber kkkkkkkk mas enfim, comentem se gostaram, e podem acompanhar, eu tenho praticamente tudo escrito. Um abraço, até o ano que vem!



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