Reencontros e Recomeços escrita por ancientsoulwriter


Capítulo 7
06 - Revelações


Notas iniciais do capítulo

UFAAAAAAAAA
NEM ACREDITO QUE ESTOU FINALMENTE POSTANDO ESSE CAPÍTULO!

Gente eu passei os mêses de janeiro e fevereiro inteiros trabalhando nesse capítulo, acreditam? Marquei até a data que comecei e terminei: 19/01 e 28/02. E o início desse mês eu usei pra revisar, corrigi muita coisa mas ainda assim é bem capaz de vcs encontrarem algum erro de gramática ou de concordância. Peço que relevem, eu sou amadora (como bem diz minha bio do Spirit ksks) e não professora de português kkkkk.

AGORA, PRESTEM ATENÇÃO AQUI SUAS CRIAS DE SAM E FREDDIE (ke?) como já é de praxe, eu preciso dar alguns avizinhos antes de (finalmente) liberá-los para a leitura, então vamos lá:
•Esse é o maior e MAIS IMPORTANTE CAPÍTULO da fic, por isso eu peço para que LEIAM AS NOTAS FINAIS pq nela eu explico muita coisa por trás de alguns temas abordados nesse capítulo, por isso é de extrema importância que vcs leiam.
É sério gente, se eu souber que alguém aqui não leu as notas finais eu não vou dar balinha de cereja, hein? (brinks).
•Entramos oficialmente na reta final da história, agora temos apenas mais três capítulos pela frente. Triste né? Pois é... mas não tanto quanto o término de Seddie em iLove You!
•Eu fiz uma playlist pra fic, o link está nas notas finais. Mais um motivo pra vocês irem lá, né? Ksksks.

Agora sim queridos, aproveitem o capítulo! Eu realmente espero que vcs gostem pq eu me esforcei muito pra escrever ele! Tem muito sangue, suor e lágrimas meus aqui.

Feliz dia das mulheres a todas nós, e boa leitura! ♥ ♥



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Alguma força te levou porque eu não rezei?

Cada coisa que está por vir se transformou em cinzas

Porque está tudo acabado, não é para ser

 (Bigger Than The Whole Sky, Taylor Swift)

 

...

Sam caminhava descontraída pelo shopping, as duas sacolas em seu braço direito com o logo de duas grifes de roupas denunciavam um costume que ela adquiriu em seus dias como aluna da UCLA; fazer compras como forma de terapia. 

Se sua versão de treze anos soubesse que no futuro uma de suas formas favoritas de se acalmar seria algo que julgava como "coisa de patricinha", ela se revoltaria e bateria na primeira pessoa que cruzasse seu caminho. Mas isso já não era mais algo que a atual Sam se preocupava, afinal, havia levado pouca roupa para Seattle justamente com a intenção de rechear seu closet em Los Angeles com mais peças. 

 

Um dia havia se passado e ela ainda estava muito triste e com muita raiva, de Carly, de Gibby, de si mesma... da situação como um todo. 

Se sentia sobretudo cansada. 

Cansada de se decepcionar com as pessoas, de se decepcionar consigo mesma, com os planos que traçava, com as pegadinhas do destino... há anos sua vida tem sido assim.

Se perguntava por que não conseguia viver em paz, por que sempre tinha alguma turbulência para resolver. Será que a culpa era das origens de sua família? Estava pagando pelos erros de quem exatamente? Dela mesma ou de seus parentes? 

Tudo o que ela queria era viver em paz com Freddie, exercendo sua profissão majestosamente como sempre fez e ser feliz. 

Era pedir muito? 

 

Saiu de uma loja de sapatos carregando mais duas sacolas e decidiu fazer uma pausa para um lanche, havia chegado ao shopping pouco depois das três da tarde após convencer Freddie de que já se sentia bem o bastante para sair e passar um tempo sozinha. "Seattle é uma cidade enorme, Benson. Encontrar aqueles dois em um dos vários shoppings que tem nessa cidade é uma agulha em um palheiro!" Ela disse, e ele a deixou aonde ela havia pedido. Três horas depois já sentia sua barriga roncando, de uma forma que não sentira no dia anterior, devido aos acontecimentos. 

Pediu um balde de frango frito com molho barbecue e refrigerante Blue Dog. Se sentou em uma das mesas da praça de alimentação e começou a comer, enquanto os pensamentos, mais uma vez, invadiam sua mente. 

Por mais que quisesse, sua raiva não era maior que sua tristeza. Nem poderia ser! Olhava para o passado e a única coisa que conseguia sentir era pura tristeza quando se lembrava de que a pessoa que a salvou de si mesma foi capaz de apunhála-la pelas costas. Se perguntava se algum dia conseguiria perdoar Carly, ou se as coisas voltariam a ser da mesma forma de antes. Mas julgava que não... não teria como ser tudo igual depois de tudo o que veio a tona. 

 

Suspirou. Se levantando e indo até o lixo se desfazer do balde vazio, da garrafa de refrigerante e dos guardanapos. Saiu da praça de alimentação após limpar as mãos e voltou para sua caminhada pelo shopping. 

Uma vitrine cheia de botas estilo cowboy estranhamente a chamou atenção, então caminhou até ela, se perguntando o por quê seu cérebro de repente decidiu achar aquele estilo de botas atraente a seus olhos. 

Analisava cada peça cuidadosamente até sentir alguém lhe cutucando o ombro. Estreitou os olhos, pronta para mandar a tal pessoa para um lugar não muito educado, quando se surpreendeu ao ver de quem se tratava. 

—Wendy? -sua voz saiu mais como uma indagação, tamanha a surpresa ao ver a antiga amiga de escola bem a sua frente, depois de tanto tempo. 

—Como você está, Sam? Que surpresa te encontrar aqui! -a ruiva não se conteve e abraçou a loira, que retribuiu o gesto com um meio sorriso. 

—Eu vou bem, e você? 

—Vou muito bem! 

—Que bom! 

E foi então, ao desfazer o abraço, que Sam notou o carrinho de bebê ao lado de sua amiga. Wendy percebeu a curiosidade da loira e seu sorriso se alargou ainda mais. 

—Deixa eu te apresentar aos meus bebês. -virou o carrinho e o coração de Sam se aqueceu ao ver dois bebêzinhos que não aparentavam ter menos de um ano vestidos com macacõezinhos azul e rosa, dormindo ao lado um do outro. -Esse aqui é o James, -apontou para o bebê vestido em azul. -E essa é a Abigail, -apontou pra bebê vestida em rosa. 

O sorriso de Sam se alargou ainda mais, e a emoção estava começando a falar mais alto, podia sentir lágrimas querendo sair de seus olhos. 

Olhou para Wendy, ela não havia mudado quase nada desde a época da escola; a não ser pela franja lateral, que já não existia mais. Algo nela estava diferente... parecia até engraçado pensar que a mãe de família a sua frente já aprontou tanto na escola a ponto de ser uma de suas parceiras de pegadinhas. 

—Que gracinha, Wendy. Parabéns! -disse, tentando disfarçar a aparição das emoções fortes. 

—Muito obrigada. Mas agora eu quero saber de você, vamos sentar aqui. -a ruiva virou o carrinho novamente e foi em direção a uma espécie de sofá que tinha no centro daquele espaço, fazendo com que Sam a seguisse. As duas amigas se sentaram, prontas para colocar a conversa de um espaço de dez anos em dia. -Como você está? Você sumiu antes que o colegial acabasse! 

Sam deu uma risadinha nervosa.

—Pois é... sabe como é, né? Adolescência... eu sentia que precisava me encontrar. 

—E se encontrou? 

—Sim! -sorriu ao responder. -Me tornei advogada, e sou muito apaixonada pela minha profissão!

—Uau! Preciso dizer que eu nunca te imaginei como advogada, mas fico muito feliz por você ter se encontrado. 

—E você, o que faz hoje em dia, além de cuidar desses dois amores? 

Dessa vez fora Wendy quem sorriu. 

—Eu comecei a estudar enfermagem, mas no segundo período descobri que não era aquilo que eu queria, então tranquei e fui cursar artes cênicas, e foi aí que eu me encontrei! Conheci o meu Mark, nos casamos logo depois da formatura, montamos uma escola de teatro e ano passado fomos presenteados com os gêmeos. 

Sam se pôs a observar Wendy mais uma vez naquele curto período de conversa. 

Se sentia profundamente e verdadeiramente muito feliz pela amiga. Mas algo dentro de si se entristeceu, e ela sabia muito bem o que era; e odiava quando aparecia. Se sentia péssima, fraca em situações assim, e se perguntava se essa sensação era mais um dos carmas que pagaria em sua vida. 

No entanto, mais uma vez, disfarçou o que sentia com um sorriso, -que apesar de verdadeiro, também era uma máscara para que ninguém soubesse de suas fraquezas- e tentou se animar. Afinal, havia acabado de reencontrar uma antiga amiga que sentia falta. 

—Que bom, Wendy. Algum dia vou querer visitar sua escola! 

—Pode deixar, eu te chamo. Agora vem cá, você voltou para Seattle pra ficar ou vai voltar para Los Angeles? 

—Eu vou voltar, só estou passando as férias aqui. Eu nem tinha planejado ficar tanto tempo, mas um certo alguém me fez mudar de ideia... -Seu rosto assumiu uma expressão divertida de quem tentava ser misteriosa e Wendy riu. 

—Sério? Qual é o nome do gato? 

—Freddie! 

Wendy tapou a boca com as mãos a fim de conter um grito de empolgação. 

—Não acredito! Vocês voltaram? -Sam balançou a cabeça em afirmação- Que notícia incrível, meus parabéns! Eu sempre torci por vocês! 

—Obrigada. 

As duas amigas ficaram um tempo em silêncio e foi então que Wendy percebeu que Sam não estava tão bem quanto aparentava. Seu sorriso se desmanchava rápido, suas íris estavam caídas, e sua expressão denunciava o esforço que fazia para convencer aos outros de que não havia nada de errado acontecendo. 

Estreitou os olhos de leve. 

—Sam... está tudo bem mesmo? -se arriscou a perguntar. 

A Puckett olhou para a amiga e se sentiu vencida. Por um segundo não encontrou problemas em se abrir, nem que fosse apenas um pouquinho. 

Suspirou.

—Não muito...

—O que houve? 

—Eu... estou brigada com a Carly e o Gibby, descobri algo horrível que eles fizeram no passado, quando tínhamos dezessete anos. 

—Mas, se foi há tanto tempo assim, será que não valeria a pena perdoar? 

Boa pergunta!

Mas Sam não tinha a resposta naquele momento. 

—Não sei... é que é algo grave... que interferiu no meu futuro com o Freddie. Mas não me sinto muito legal agora para falar sobre isso. 

Wendy sorriu de forma compreensiva e segurou as mãos da amiga. 

—Tudo bem, mas saiba que eu estou aqui, ok? E agora que nos reencontramos, não vamos mais nos largar, eu vou te visitar na Califórnia e você vem me visitar aqui. Pode ser? 

Sam sorriu. 

—Pode sim! 

Wendy a puxou para um abraço e elas conversaram mais um pouco e trocaram contato. Em algum momento os gêmeos acordaram e Wendy pediu a Sam para que segurasse Abigail enquanto ia ao banheiro trocar a fralda de James. No início, a loira relutou, apesar de já ter sido babá, não achava que tinha muito jeito com crianças, principalmente os bebês, mas acabou aceitando. 

E foi inevitável não abrir um sorriso completamente sincero quando a pequena Abigail sorriu para ela e encostou a mãozinha em seu rosto. 

Sam tentou evitar, mas foi impossível uma pequena lágrima não descer de seu olho direito. 

 

                             {...}

 

Sozinho naquele apartamento pela primeira vez desde que Sam levou suas coisas para passar o tempo de férias com ele, Freddie refletia sobre o dia anterior. 

Como a situação havia chegado á aquele ponto? 

Não se referia apenas a discussão com os amigos, mas também ao passado com sua mãe; como ele pôde ter sido manipulado durante tantos anos sem nem ao menos perceber? Algo que Marissa fez, tantos anos antes, afetara negativamente não apenas seu passado, mas principalmente, seu futuro. 

Quando Sam dissera a Carly, no meio da discussão, que se não fosse a armação, ela e ele poderiam estar casados hoje em dia... aquilo o pegou de surpresa, o fez sentir algo se aquecer no coração e logicamente, pensar muito porque... era verdade!

Se o relacionamento entre ambos não houvesse sido estremecido por conta da armação e dos comentários negativos em volta, dificilmente eles teriam terminado, e tantas coisas ruins que passaram enquanto estavam longe um do outro, não teriam existido. 

Deixou o olhar cair para o copo de whisky em sua mão direita e se perguntou, encarando a foto da mãe na estante, como ela achava normal causar dor e sofrimento a quem mais dizia amar. Como ela achava normal pensar que o criando em uma redoma de vidro ele iria estar isento dos males do mundo? 

O mal existia dentro de sua própria casa. 

Fechou os olhos em lamentação e entornou o líquido quente, que poderia ter descido rasgando pela garganta se ele não estivesse acostumado com a bebida. 

Concluiu que deveria ter sido mais forte, estabelecido alguns limites mesmo temendo uma reação exagerada da mais velha. Lamentou não ter pedido ajuda, lamentou pelo sentimento de culpa que tinha sempre que pensava a respeito do comportamento superprotetor e obsessivo de Marissa. Afinal, era uma situação delicada; apesar de tudo, ele amava a mãe, era praticamente a única familia que ele tinha, -tendo em vista que seu pai abandonou a família quando ele ainda era bebê-, e seus parentes moravam em outras cidades. 

Fechou os olhos em lamentação novamente, tendo a certeza de que essa seria uma parte de sua vida destinada a eterna inconclusão. 

 

Ouviu o barulho de chave na fechadura e olhou para o lado, sorrindo ao encontrar uma Sam cheia de sacolas nos braços e cabelo um pouco úmido por conta da chuva que caía. 

Estava preocupado com ela, mas sabia que ela precisava passar um tempo sozinha e se distrair, era assim que Sam lidava com os problemas. 

Mais um ponto em que eram parecidos. 

—Oi amor. -ele colocou o copo na mesa de centro e foi até ela, que havia simplesmente jogado as sacolas perto da porta. A cumprimentou com um selinho. -Por que não me telefonou? Eu teria te buscado no shopping. 

Ela balançou a cabeça de leve, abriu a geladeira e serviu água em um copo. 

Nah, eu não iria fazer você sair de casa com esse dilúvio que está caindo, era mais prático pegar um táxi que já estava lá mesmo na porta do shopping. 

Ele sorriu. Amava quando ela demonstrava preocupação. 

—E como foram as compras? -sentou em uma das banquetas da ilha, ficando de frente para ela, que permanecia encostada na porta da geladeira. 

—Foram boas, comprei algumas coisas pra você, estão na sacola azul. Estou morrendo de fome! 

Ele revirou os olhos em divertimento. 

—Novidade! Vai tomar um banho quente porque você pegou um pouco de chuva, que eu vou fazer algo pra gente jantar. 

Ela sorriu, colocando o copo na pia e indo até ele, fazendo carinho em sua nuca, que por sua vez enlaçou a cintura dela.

—Obrigada amor, te amo! 

Ele sorriu, dando um beijo em seu rosto e ela foi em direção ao quarto. 

 

Meia hora depois o casal se deliciava de uma macarronada com queijo e molho de tomate. 

—Obrigado pelas lentes de câmera e a agenda de Guerra nas Galáxias. -disse Freddie, enquanto servia vinho nas taças. Sam deu um meio sorriso. 

—Você gostou, amor? 

—Eu adorei, baby! 

—Fico feliz que tenha gostado. -deu uma garfada na macarronada. -A propósito, encontrei a Wendy hoje!

Freddie arregalou os olhos. 

—A Smith? -ela assentiu. -Caramba! Eu não tinha notícias dela desde o fim do ensino médio... e como ela está? 

—Está bem, tem uma escola de teatro com o marido e dois bebês gêmeos que são a coisa mais fofa do mundo! -deu um gole no vinho. 

—Que bom, fico feliz. Ela sempre foi meia doidinha. -deu uma risada. 

—Igual eu! -Os dois riram com a fala dela e então após poucos segundos Sam novamente assumiu a postura reflexiva de mais cedo, voltando suas atenções a comida. 

—É verdade. 

Freddie deu mais uma garfada no macarrão e então se pôs a observar a namorada. Pensou que fosse algo normal ela estar mais quieta do que de costume, mas mesmo assim sua preocupação se fez presente, e nem haveria como ser diferente! 

Se preocupar com Sam já era algo natural á Freddie, se lembrava que mesmo antes de descobrir seus sentimentos por ela, a forma durona de ser da garota o chamava atenção. É claro que na época ele não entendia o porquê, até que houve aquela vez onde ela engoliu o orgulho e pediu ajuda a ele em relação a Missy. Naquele momento Freddie percebeu que por trás daquela "garota problema", existia uma menina assustada, desesperada para ser cuidada, desesperada para criar (e manter) vínculos, e que não mostrava sua vulnerabilidade justamente por já ter sofrido muito. Em grande parte, por causa de sua família. 

E foi por essa menina que Freddie se apaixonara. 

A partir do momento em que teve acesso ao lado vulnerável de Sam, -e mais tarde descobriu seus sentimentos por ela-, ele decidiu que iria destruir os muros que ela havia erguido, para que pudesse externalizar quem realmente era. 

Ele sabia, que sustentar aquela imagem era exaustivo, e Sam estava cansada de carregar aquele peso. 

E foi por isso que ela se apaixonara por ele. 

Apesar do passado conturbado, Freddie fora o único que se interessou por ela o suficiente para se interessar em destruir seus muros. 

Antes dele ninguém, nem ao menos Carly, suspeitou que havia algo de muito errado com aquela garota. E apesar de Carly saber de tudo sobre sua vida, ela nunca se preocupou o bastante com os muros que a amiga erguera. 

A dor te torna mais forte, não é esse o ditado? 

—Amor, está tudo bem? -ele perguntou, soltando os talheres no prato. 

Ela não respondeu, ao invés disso apenas soltou os talheres no prato, assim como ele, e manteve o olhar na comida, ainda perdida em pensamentos. 

—Eu só estava pensando em tudo o que aconteceu ontem... passei o dia inteiro tentando encontrar uma forma de entender a situação, me perguntando se vale a pena perdoar ou não... -cemicerrou os olhos e então olhou para ele. -A questão é; você ainda quer viajar? 

Freddie franziu as sobrancelhas, havia se esquecido completamente disso. 

—Eu... não sei. Por que a pergunta? 

—Porque, enquanto eu estava no táxi, eu cheguei a conclusão de que talvez seja melhor pra gente se afastar daqui por um tempo, acho que eu não vou conseguir absorver essa história na cidade em que ela ocorreu, morando, ou passando um tempo, no mesmo prédio que as pessoas envolvidas... eu sei que eu prometi a mim mesma não fugir mais dos problemas, mas esse caso é completamente diferente. -fez uma pausa ao perceber que a voz estava começando a exaltar, e respirou fundo. -Eu vou surtar se eu ficar mais um dia nessa cidade, Freddie! Eu preciso respirar novos ares, ver outras pessoas... na verdade nós estamos precisando disso, amor! 

Ela apertou a mão dele sob a mesa e através de seu olhar, Freddie sabia que ela tinha razão. 

Assentiu, concordando. 

—Tudo bem, quando e pra onde quer ir? 

 

                            {...}

 

Três dias depois o casal estava no carro em direção a Lynnwood. A cidade ficava apenas vinte e dois minutos de Seattle e era agraciada com uma arquitetura clássica e clima arborizado. 

Decidiram sair cedo para não pegar transito e não encontrarem ninguém, iriam ficar duas semanas fora e se hospedariam em uma pousada perto do centro, assim não precisariam usar o carro todas as vezes, algo que Freddie julgara como prático. 

No caminho uma música do The National marcava presença no carro enquanto Sam ora olhava a paisagem na janela ora tirava rápidos cochilos. Freddie prestava atenção na estrada, não gostava muito de dirigir em rodovias, mas a presença de Sam ao seu lado o acalmava. Nas poucas vezes em que precisaram parar o carro, ele olhava para seu rosto sereno, a admirando e colocava sua mão desocupada do volante na coxa dela, a arrancando um sorriso pequeno e sincero. 

 

Sam mal percebeu quando finalmente chegaram e Freddie estacionou o carro no estacionamento da pousada. 

Saíram do carro, pegando as poucas bagagens que consistiam em três mochilas; duas com roupas e uma com equipamentos tecnológicos. 

Fizeram o check-in e Sam se sentiu aliviada quando chegaram a suíte, jogou a mochila com suas roupas em um canto qualquer para depois se jogar na cama, se permitindo cair no sono. Por mais que a maturidade tenha lhe ensinado a acordar cedo e suas vantagens, uma parte sua ainda preferia acordar depois das dez, principalmente quando estava de férias. Saíram as seis e agora o relógio marcava sete e dez, ela precisava dormir. 

Freddie riu com a cena e então começou a organizar as coisas no quarto. Começando pelo guarda-roupa; tirou as roupas das mochilas e as pendurou nos cabides, guardou as roupas íntimas nas gavetas, e optou por não retirar os equipamentos eletrônicos da mochila, a colocando apenas em um compartimento do guarda-roupa, o fechando em seguida. 

Levou as coisas de higiene para o banheiro, as guardando nas gavetas do armário da pia e também no compartimento dentro do box. Voltando para o quarto, averiguou o frigobar e se sentiu aliviado ao ver que não estava vazio, havia muitas garrafas de água, bolachas recheadas, chocolate, sorvete, biscoito salgado e gelatina. Pensou em como Sam ficaria feliz com isso e sorriu. 

Ao terminar de ajeitar tudo, decidiu tomar um banho pra relaxar, não sentia sono como Sam, mas a tensão em seus músculos por ter dirigido na rodovia ainda se fazia presente, -assim como o estresse causado pelos acontecimentos dos últimos dias-. 

Ao entrar no box, sentiu a água gelada o envolver, estava fazendo muito calor nas últimas semanas, algo não muito comum para uma região acostumada a chuvas intensas. 

Fechou os olhos e se permitiu relaxar, dando o aval a sua mente para se dissipar de qualquer tipo de pensamento, a esvaziando e a clareando. 

Foi quando sentiu braços o envolver por trás e beijos pela extensão entre as costas e pescoço. Sorriu. 

—Adivinha quem é. -a dona da voz sussurrou em seu ouvido, e isso foi o suficiente para que ele abrisse os olhos, o sorriso alargando ainda mais. 

—Não gosto de adivinhar, prefiro ver. -ele disse, se virando para encarar o mar azul e o sorriso travesso de Sam. As vezes se perguntava se ela tinha noção do quão adorável era. -Dormiu bem, amor? -colocou uma mecha de seu cabelo atrás da orelha. 

—Dormi sim, mas aí acordei com o barulho do chuveiro e resolvi te fazer uma surpresa. -deu um selinho nele, que sorriu com a declaração dela. 

—Preciso ser surpreendido assim mais vezes... 

—E você será. 

—Mesmo? -arqueou as sobrancelhas- Vou cobrar, hein? 

—Pode cobrar, mas em troca eu também vou querer surpresas... e se tiver comida, melhor! -enlaçou os braços no pescoço dele, que apenas deu uma risada baixa e agarrou sua cintura, a puxando para baixo do chuveiro junto com ele, o que a arrancou um gritinho, -ainda que ela já estivesse com os braços parcialmente molhados por o ter abraçado.

Um beijo calmo se iniciou; um mero carinho entre línguas. E ao findar dele, se abraçaram; um sentindo os batimentos cardíacos um do outro. 

Até agora não havia nem um pingo de malícia em seus gestos, eram apenas duas pessoas que se amavam sentindo fisicamente a conexão transcendental que os unia enquanto a água molhava seus corpos. 

Mas quando Sam saiu dos braços de Freddie e o olhou nos olhos, não houve outra coisa a se fazer senão deixar o desejo assumir lugar naquele espaço. A conexão era intensa, e nela existia uma linha tênue entre dois opostos; água e fogo

E não tinha como ser diferente no caso deles, que tinham os dois elementos como características marcantes de suas personalidades. 

Outro beijo se iniciou, mas a calmaria não durou muito, foi só as línguas se encontrarem que a urgência foi tomada, e logo os lábios não eram o suficiente. Se separaram por falta de ar e Freddie desceu os beijos pelo pescoço da loira, fazendo com que Sam agarrasse seu cabelo e o puxasse devagar, suas costas batendo na parede involuntariamente. O gesto fez com que ele se sentisse encorajado a descer dois dedos para a área mais íntima da namorada, que revirou os olhos de prazer quando ele a tocou, e o som que se seguiu foi inevitável quando sentiu as ações com a língua começarem. O ritmo era frenético, então não demorou muito para que ela se liberasse. Freddie se levantou e a pegou no colo, as pernas entrelaçadas na cintura dele. Se olharam nos olhos e se beijaram calmamente antes de, com as testas coladas, se unirem de vez, agora com ritmos mais calmos, apenas desfrutando das sensações que um proporcionava ao outro. 

Ao final do ato se encontravam extasiados e maravilhados, parecia que as sensações posteriores melhoravam toda vez que se amavam daquela forma, talvez nunca se acostumassem completamente com isso, o que era excitante, na opinião de Sam. 

Já recuperados, Freddie colocou Sam no chão para que enfim pudessem tomar banho. Quando saíram do box, se enrolaram em uma única toalha e risadas foram proferidas pelo moreno quando viu que as roupas de Sam estavam em lugares diferentes no chão do banheiro e do quarto. 

—O que é tão engraçado, Benson? -a loira perguntou em um tom que soava mais curioso do que irritado.  

—Você tirou a roupa enquanto andava? -ele respondeu com outra pergunta, ainda rindo, e ela sorriu marota. 

—Sim! Sempre achei sexy aquelas cenas de filme onde um dos personagens vão deixando uma pilha de roupas pelo chão... não me pergunte porquê!

A risada dele apenas aumentou com a fala dela, nada fora do comum. Com Samantha ao seu lado, Fredward sabia que a vida seria sempre uma comédia!

 

Deu um beijo na testa dela e então se separaram para começaram a se arrumar, haviam decidido, enquanto tomavam banho, almoçar no restaurante da pousada e depois passear um pouco pelo lugar. 

Após terem se vestido, Sam voltou ao banheiro a fim de secar o cabelo e riu quando percebeu a bagunça que o momento a dois causou no box e no chão do banheiro.  

Suas risadas chamaram a atenção de Freddie, que entrou no banheiro e começou a rir junto com ela. 

—Vamos ter trabalho quando chegar. -ele disse e ela concordou, assentindo. 

—Aí, quer secar meu cabelo? -ela perguntou e o moreno arqueou as sobrancelhas. 

—Por que? 

—Ah, sei lá... você amava arrumar meu cabelo na adolescência e eu amava o jeito que ele ficava...

Ele sorriu, se lembrando dos momentos mencionados e se posicionou atrás dela, pegando o secador de sua mão. A Puckett fechou os olhos, aproveitando o gesto que para ela significava carinho e amor, e os abriu apenas quando ouviu o secador ser desligado. Se olhou no espelho e sorriu quando viu seu cabelo escovado com a franja na lateral, por um segundo se sentiu com dezessete anos novamente. Freddie colocou o secador no balcão da pia e a abraçou, suas imagens sendo refletidas no espelho. 

—Ficou lindo amor, obrigada. -ela disse e se virou, dando um selinho nele. 

—Por nada, baby, seu cabelo é maravilhoso de mexer, isso ajuda. -beijou a pontinha do nariz dela. 

—Meu cabelo e eu agradecemos, mas vamos logo porque eu estou com fome... você me deixou completamente sem forças, nerd! -saiu do banheiro, com o Benson atrás dela. 

—Ah, agora é culpa minha você estar sempre com fome?

Ela olhou para ele, tentando segurar a risada. 

—Digamos que nem sempre é culpa sua, mas nessas situações, sim. 

—Ah mas você gosta... sempre pede por mais. -se aproximou da mesa de cabeceira e pegou a carteira. 

—E você também, sempre dizendo no meu ouvido o quanto eu te deixo louco... -ele corou e ela riu com isso. Atravessou o quarto, segurando em sua mão. -Vamos logo, seu bobo antes que criemos raízes aqui! 

O puxou para fora do quarto e trancou a porta. 

 

                              {...}

 

O almoço fora tranquilo, escolheram uma mesa perto de uma das enormes janelas, conversaram, curtiram a música tocada pela banda... conseguiram se distrair das preocupações pela primeira vez em três dias. Sam se sentiu aliviada por isso, durante toda sua vida se sentiu culpada por sempre fugir dos problemas, era reconfortante saber que nem toda fuga era sinal de fraqueza ou irresponsabilidade.

Após o almoço, decidiram dar uma volta pela área externa da pousada. Havia um jardim muito bonito, uma piscina, e um parque dedicado a crianças. 

O jardim foi a primeira parada, Freddie queria aproveitar a luz do sol para tirar algumas fotos de Sam. A loira bufou de tédio mas acabou cedendo, ela gostava de ser admirada e amada por Freddie. E, apesar de não concordar com musas, era uma sensação boa ser a musa de seu nerd favorito. 

—Agora a última, amor, embaixo daquela árvore. -ele disse, sinalizando o lugar. 

—Já pensou em ser fotógrafo? -ela perguntou, de forma irônica porém divertida, enquanto caminhava para a árvore. 

—Ninguém contrata fotógrafo de uma modelo só. -ele respondeu, em tom descontraído. 

Sam revirou os olhos sem conter um sorriso de lado e fez uma pose divertida. No entanto, após poucos segundos, ela percebeu que o moreno não mexia com a câmera, apenas a deixava parada em direção a ela. Franziu o cenho, revirou os olhos e bufou. 

—Não acredito que você está filmando! -brava, foi em direção a ele, que apenas encerrou a gravação e começou a rir. -Seu pateta! -deu um soco no ombro dele. 

—Ai amor, doeu. 

—É pra doer, mesmo! Por que fez isso? 

—Porque eu amo seu jeito espontâneo! Estou te filmando desde que pedi para você ir pra baixo da árvore. 

A Puckett bufou, mesmo sabendo que seu interior estava achando uma graça a situação. Talvez mais tarde ela diria isso a ele. 

—Vamos nub, continuar esse passeio... -agarrou a mão dele e continuaram a andar. –Podemos cair nessa piscina amanhã, -ela disse, quando passaram pela área de lazer. 

—Pode ser, Princesa, mas por que não hoje? 

—Tá maluco que eu vou lavar meu cabelo duas vezes no mesmo dia... não tenho nem paciência, nem vontade e nem energia pra isso. 

Ele deu uma risadinha. 

—Tudo bem, então. 

Continuaram caminhando até que Sam parou de repente, o que chamou a atenção de Freddie. 

—O que foi, amor? -ele perguntou, preocupado. No entanto ela não respondeu, continuou olhando para o lado direito; para o parquinho infantil. O Benson percebeu isso e franziu o cenho. -Você quer ir lá? 

E com essa pergunta Sam voltou a realidade. 

Ahn? Ah, n-não, eu estou bem. -disse ela, tratando de disfarçar e olhando para ele. -Vamos voltar pra dentro, estou cansada. 

Mesmo cismado, ele concordou e continuaram a andar.

 

No entanto quando chegaram ao hall, se depararam com uma criança chorando. Era um menino, não aparentava ter mais do que dez anos de idade e estava sentado no chão. Sam e Freddie se entreolharam ao ver a cena e a loira imediatamente correu em direção a criança. 

—Ei... o que aconteceu? -ela perguntou, mas o menino continuou abraçado aos joelhos. 

—Eu me perdi do meu pai... -ele disse, entre soluços. 

—Qual foi a última vez que você viu ele? -Freddie se aproximou, se ajoelhando no chão igual Sam. 

—No restaurante. Eu queria ir brincar logo mas ele disse pra eu esperar um pouco e foi no banheiro, daí eu aproveitei pra ir no parquinho. Só que eu cansei de brincar e voltei para o restaurante, ele não tava mais lá e a mesa tava vazia. -soluçou. 

—Ele deve estar te procurando, por isso você não o encontrou... -disse Sam. -Freddie, vai chamar alguém pra ajudar. 

Ele apenas assentiu e saiu do hall. 

—Ei, ei, está tudo bem. -a loira disse, abraçando o menino, que enfim levantou o rosto. -Vai ficar tudo bem, meu namorado vai achar seu pai e daqui à alguns anos vocês vão rir dessa história. 

—Acha mesmo, moça? 

—É claro que sim, querido. Isso acontece sempre, eu mesma já me perdi da minha mãe várias vezes quando era criança... é normal, mesmo sendo desesperador. 

Minutos depois Freddie apareceu com o pai da criança; o encontrara na sala do gerente. O homem estava transtornado e havia notificado a pousada do sumiço do filho apenas uma hora antes do Benson chegar. 

Quando o menino viu o pai, saiu dos braços de Sam e foi correndo até o mais velho, que o pegou no colo, agradecendo ao casal por o terem encontrado. 

 

Ao voltarem para o quarto, Sam estava em silêncio. Pegou uma garrafa de água no frigobar, bebeu um pouco e então assumiu uma expressão pensativa, olhava qualquer ponto no chão do quarto de forma silenciosa. Freddie percebeu e se preocupou, eram poucas as vezes em que Sam ficava assim, e em todas elas eram por motivos sérios, o que fez sua preocupação aumentar.

No entanto, decidiu não questioná-la no momento, se a noite ela continuasse assim, aí ele perguntaria. Mas por ora era melhor respeitar o silêncio da amada, se insistisse muito, poderia ser pior. 

 

                              {...}

 

A noite chegou rápido, Sam e Freddie optaram por jantar no quarto já que estavam muito cansados do passeio e depois tomaram banho de novo, dessa vez separados, sabiam que se fossem para o chuveiro juntos novamente o acontecimento de mais cedo se repetiria.

Freddie estava sentado na cama lendo um livro sobre empresas quando Sam saiu do banheiro com o cabelo preso e vestindo uma camisola preta um pouco transparente. Ele sorriu e deixou o livro na mesa de cabeceira. 

A loira sentou ao seu lado na cama e o abraçou, profundamente. Ele a abraçou de volta e foi inevitável sua preocupação não voltar, não que fosse uma raridade ela o abraçar, ela sempre fazia isso. Mas ele conhecia a namorada, sabia muito bem o que cada abraço, beijo ou gesto afetuoso que ela lhe dava significava. E esse abraço... era sim um pouco suspeito. 

—O que foi, amor? -ele perguntou e ela suspirou pesadamente. 

—Só... só me abraça. 

Ele franziu o cenho. 

—Está tudo bem? -não conseguiu mais evitar essa pergunta, e ela apenas assentiu. -Tem certeza Sammy? Você sabe que pode me contar tudo, não sabe? -assentiu de novo. -Então... eu sei que tem alguma coisa errada, você está assim desde hoje a tarde... -fez uma pausa e ponderou sobre a próxima coisa a ser dita naquela frase, não sabia como ela interpretaria isso ou como seria sua reação... mas precisava arriscar. -Fora que, essa não é a primeira vez que eu percebo você ficando sensível perto de crianças...

Isso foi o suficiente para fazer Samantha sair do abraço e encarar Fredward. A expressão em seu rosto denunciava a surpresa que sentia. Seus olhos estavam arregalados e seu coração batia descompassadamente. 

Nunca imaginou que alguém olharia tanto através de si para que percebesse esse detalhe... mas estamos falando de Freddie Benson, ele percebe tudo, a conhece mais do que qualquer pessoa, Sam suspeitava que até mais que ela mesma. 

Mas ainda assim... era difícil de acreditar, sempre conseguira mascarar isso tão bem. 

—O-o-que? C-como v-você? -gaguejando, ela tentou inutilmente formular uma frase. 

—Está tudo bem, -ele pegou em suas mãos, a confortando-, não precisa me dizer nada se não quiser ou não se sentir pronta, mas... se tiver mesmo acontecendo alguma coisa, seja lá o que for... quero que você saiba que você pode me contar, eu estou aqui para te ouvir e te apoiar, porque eu te amo! 

Novamente ela se lançou nos braços do moreno, -que mais uma vez, a segurou como se pudesse protegê-la de tudo e qualquer coisa-, e ela deixou as lágrimas caírem. 

 

 

                             {...}

 

A chuva torrencial que caiu no dia seguinte fez com que os planos do casal de irem para a piscina fossem adiados para outro dia. Passaram a manhã e o início da tarde maratonando série no aconchego das cobertas. Quando os ponteiros do relógio bateram quatro horas, Freddie se levantou e foi tomar banho, ao passo que Sam ligou para a cozinha a fim de pedir um chá com alguns cookies, a chuva fez a temperatura da cidade cair para quinze graus, estava bem frio. 

Colocou a chaleira e as duas xícaras em cima da mesa e se serviu, se sentando no sofá da janela, observando a vista do dia bucólico enquanto se aquecia com a bebida quente. No entanto, seus pensamentos estavam longe, pensava nos acontecimentos da noite anterior, o que Freddie lhe disse ainda martelava em sua mente; contar ou não contar? Ele já suspeitava de algo, estava preocupado com ela... mas ao mesmo tempo era perturbador reviver essa história porque, ainda doía, e muito. Mas, se não colocasse isso pra fora algum dia, provavelmente enlouqueceria. E se quisesse realmente ter um futuro com Freddie, precisava contar isso a ele. 

Respirou fundo e deu um longo gole no chá. 

Foi quando ele saiu do banheiro, secando o cabelo com uma toalha. 

—Eu pedi cookies... e chá. -ela disse. 

—De chocolate... ótima ideia, amor. -ele disse, pegando um cookie no prato e dando uma mordida. Colocou a toalha para secar na cadeira e Sam terminou o chá, colocando a xícara na mesa, em seguida se sentou novamente no sofá da janela. 

—Freddie... senta aqui. -ela disse, dando um tapinha no lado vazio do assento. Ele franziu o cenho, confuso, mas fez o que ela pediu. -Eu pensei muito sobre o que você me disse ontem e... eu cheguei a conclusão de que você merece e precisa saber o porquê eu estava estranha ontem...

Aquilo pegou Freddie de surpresa. 

É claro que ele achava que se suas suspeitas estivessem certas, Sam iria dizer em algum momento, se ela se sentisse a vontade para isso. Sua fala na noite passada nunca fora uma espécie de exigência, apenas queria reforçar que ela poderia contar com ele para tudo. 

Mas não achou que esse momento chegaria tão cedo... tampouco que havia algo realmente incomodando a amada. 

Se preparou para o que pudesse ser, mas nada se passava em sua mente, afinal, o que poderia ser? Nunca vira Sam muito próxima de crianças, exceto pela época em que ela trabalhou como babá... inclusive, quando mais nova, ela dizia que não gostava de crianças. 

Mas seja o que for, decidiu que iria apoiá-la, como sempre fazia. Segurou em sua mão direita e sustentou um olhar confortante e acolhedor. 

—Pode falar... eu estou te ouvindo. 

Ela sorriu, e então respirou fundo. 

—Bom... tudo começou no final do último semestre da faculdade. Alguns colegas da minha turma decidiram fazer uma festa na Praia de Malibu um dia depois da nossa formatura para comemorar, e era aberta, nós podíamos chamar quem quiséssemos, então eu chamei a Cat, a Jade, a Tori, o Robbie, o Andre e o Beck. Eu estava animada, sempre gostei de festas. -deu uma risadinha baixa- Mas, na manhã do dia da festa, eu encontrei no meio das minhas coisas uma foto minha com a Melanie, de quando tínhamos cinco anos... ela usando duas tranças amarradas com lacinho rosa e eu com o cabelo solto e um boné jeans. -deu uma risadinha- Olhei atrás e tinha um recado dela, foi uma das primeiras cartas que ela me mandou quando foi para o colégio interno, o recado dizia o quanto ela estava com saudades de mim e que me amava muito; da lua até Saturno. -deu mais uma risadinha, dessa vez com um brilho diferente nos olhos.- Eu fiquei... emocionada, fazia muito tempo que a gente não trocava cartas... com o tempo o nosso único contato passou a ser através de mensagens de aniversário e Natal... eu sentia falta dela, eu amo a minha irmã... a única coisa que me separava dela além da distância era a constante comparação que a Pam sempre fez entre a gente. Eu nunca culpei a Melanie por isso, mas era inevitável pra mim não olhar pra ela e não me lembrar da voz da minha mãe dizendo o quanto ela era melhor que eu. -deixou o olhar cair e ficou em silêncio por alguns segundos, parecendo absorta nos próprios pensamentos. -Mas enfim... enquanto eu divagava eu deixei uma lágrima cair na foto, foi então que eu acordei, guardei a foto no bolso da minha calça jeans e consegui seguir o dia bem, ainda estava um pouco tocada mas consegui me divertir até o começo da festa. Eu me soltei, dancei as várias músicas, cantei junto com a Cat... até que eu fui pegar bebida no bar. Enquanto o barman preparava a minha marguerita meu celular começou a tocar, eu vi que era a minha mãe e caí na burrice de atender...

 

| Flashback on |

 

                     Malibu, California 

                  19 de junho de 2017

—Uma marguerita, por favor! -disse Sam ao, finalmente, conseguir chegar ao bar. Se sentou na bancada e tirou as rasteirinhas do pé. 

Já havia um bom tempo que estava dançando e seus pés estavam doendo. Fora que aquela multidão de pessoas ao seu redor já a estava irritando, por essa razão decidiu sair da pista e ir tomar um drink, precisava se refrescar, descansar os pés e a cabeça antes de voltar a se divertir. 

—Aqui, moça. 

—Obrigada. 

A jovem pagou o barman e deu um gole na marguerita, fechando os olhos em apreciação a bebida, que estava do exato jeito que gostava; geladinha, com a borda salgada e o álcool na medida certa. Tomou mais um gole e olhou pra cima, as estrelas estavam lindas, a lua cheia... era a noite de verão perfeita! Sorriu. 

Até que um barulho a fez despertar do perfeito estado de contemplação em que se encontrava; era o toque de seu celular, que poderia ser qualquer um mas que ela fez questão de ser uma música da Avril Lavigne. 

—Alôôuhah! -atendeu, de forma divertida. 

—Samantha! 

A voz do outro lado do telefone a fez desmanchar o sorriso lentamente; como assim sua mãe a estava ligando? Já tinha muito tempo que ela não fazia isso.

—Mãe? 

—Agora você me chama de mãe? QUANDO VOCÊ FUGIU PRA LOS ANGELES EU NÃO ERA SUA MÃE, NÃO É? 

Sam arqueou as sobrancelhas e estreitou os olhos, extremamente confusa. A voz de Pam estava lenta e enrolada, como se tivesse bebido muito.

—O-o que? Eu... eu não fugi... está bêbada? 

—Ah, não? Então por que nunca mais deu notícias? Você nos abandonou, sua ingrata! 

—Eu não abandonei ninguém... mas você deve entender algo de abandono, não é? 

—Do que está falando? 

Sam ficou em silêncio por alguns segundos, sentia lágrimas silenciosas escapando de seus olhos e a garganta se fechando, mas fez um esforço colossal para conseguir se manter firme. 

—Estou falando que durante anos você me deixou sozinha, nunca agiu como mãe... vivia me xingando, me comparando, nunca me ensinou nada, me trocava por namorados...

Silêncio. 

Já estava se tornando habitual naquela conversa. No entanto, quando Sam menos esperava a resposta veio:

—Como ousa me dizer essas coisas? -a voz de Pam estava um pouco mais firme agora, e ela já não gritava, apenas falava de uma maneira calma que chegava a assustar a mais nova. -Você... você é uma traidora! Foi só pisar em outra cidade, que se esqueceu que é uma Puckett... mas isso já era de se esperar, né? Decepção é o seu nome do meio! -respirou fundo- Ainda bem que a Melanie nunca deu, nem nunca vai dar tanto desgosto! Ela sim é digna do meu amor... ela vai salvar a família, ao contrário de você, que prefere nos ignorar... mas como poderia ser diferente? Ela é perfeita! 

Sam estava em choque. 

Não que fosse uma surpresa esse tipo de comentário, ela estava acostumada. Mas não conseguia acreditar que sua mãe realmente tivera a coragem de ligar apenas para ofendê-la. 

Desde que se mudara, quatro anos atrás, Pamella nunca havia ligado nem atendido suas ligações, o mesmo para com seus parentes, com exceção do tio Carmine e do primo Chaz, esses eram os únicos que Sam sentia que realmente gostavam dela. 

Era inadmissível o fato de ela resolver ligar em um dia completamente aleatório, bêbada, chapada, apenas para destilar seu veneno. 

Não havia sentido, não havia lógica nenhuma!  

As lágrimas corriam silenciosas e grossas de seus olhos, não haviam palavras que ela pudesse dizer por agora, se sentia péssima... um lixo. 

Com muita dificuldade, abriu a boca para dar uma resposta, dessa vez definitiva;

—Eu poderia perguntar o porquê você me ligou. Eu poderia tentar entender o motivo por trás dessas ofensas... mas eu prefiro não saber mais nada sobre você. Seja lá qual foi o seu motivo pra essa sua surpresa desagradável, eu não me importo, porque você é movida a atenção, e eu recuso a dar a minha pra você. Então, vai se foder! Me esquece, porque eu também vou esquecer você. E ah, depois que você curar esse porre, tenta arrumar um emprego, é feio uma mulher adulta depender dos outros pra comprar as próprias calcinhas! 

E desligou. 

 

| Flashback off |

 

—Depois disso eu bloqueei e exclui o contato dela, não tenho mais notícias dela desde então. 

—Amor, eu... -Freddie tentou buscar as palavras certas a se dizer, mas nada vinha em sua mente, apesar de esse tipo de acontecimento não ser uma raridade entre as Puckett. -Eu sinto muito... 

—Tudo bem, baby... mas essa não é nem a pior parte... enfim, eu terminei de beber a minha marguerita e comecei a beber várias outras coisas, enchi a cara, eu queria ficar chapada, fora da realidade... queria esquecer a ligação que eu tinha acabado de receber da minha mãe, queria aproveitar o que me restava de festa... eu lembro que até cocaína eu cheirei, tinha umas bandejas passando entre a pista de dança com os pozinhos... eu devo ter cheirado umas três ou quatro carreiras, não lembro... mas foi o suficiente para eu conseguir ficar fora da realidade. -suspirou- Tão chapada, tão louca... que eu cheguei ao ponto de... transar com um desconhecido em um dos banheiros que tinham lá. Eu não sei quem é o cara, não lembro do rosto dele, estava tudo escuro... só lembro que ele estava tão chapado quanto eu, que eu estava dançando com ele já tinha muito tempo, e que eu fiz a proposta da ficada. -fechou os olhos em lamentação e respirou fundo. -No dia seguinte eu acordei na minha cama no quarto do hotel que eu estava dividindo com a Cat e a Jade. Elas me disseram depois que me encontraram sentada na areia da praia rindo da lua -conseguiu dar uma risadinha-. Ficaram preocupadas então chamaram a Tori e os meninos e voltamos para o hotel, elas disseram que foi só elas me jogarem na cama que eu peguei no sono... enfim, eu contei pra elas o que tinha acontecido... elas estavam muito preocupadas. Mas quando elas saíram eu comecei a chorar muito, principalmente pelo fato de que eu odiei ter me comportado igual a Pam... fiquei um pouco deprimida por alguns dias mas depois passou, a vida continuou. Nessa altura eu já estava trabalhando em um escritório de advocacia, o que eu fiz estágio e estou até hoje. Foi o trabalho que me deu forças para superar esse acontecimento. 

—Eu imagino o quanto deve ter sido pesado pra você... eu queria estar lá pra te ajudar de alguma forma... -disse Freddie, ainda chocado com o que tinha ouvido. 

—Foi sim... bom, um mês se passou e eu já estava melhor, era como se nada tivesse acontecido. Mas em contrapartida eu comecei a me sentir estranha, eu passava muito mal, tinha tonturas, perdi muitas roupas porque muitas delas não cabiam mais em mim, minha menstruação não descia... aí em um final de semana eu me encontrei com a Cat, chamei ela pra dormir lá em casa e contei sobre o que estava acontecendo, e ela disse que eu podia estar grávida. -fez uma pausa, fechando os olhos e os abrindo poucos segundos depois- Ela estava me zoando, porque começou a rir depois, mas me aconselhou a ir ao médico, estava tendo um surto de virose em Los Angeles na época. Só que, mesmo sendo zoeira, eu fiquei preocupada com essa hipótese e comecei a considerar. Eu me xingava mentalmente porque era loucura... afinal, eu não podia estar grávida, principalmente de um cara bêbado que eu só vi uma vez... tipo, não fazia nenhum sentido! Mas então eu fiz o teste e deu positivo. 

Um silêncio se instaurou no ambiente, Sam olhava Freddie procurando em seu rosto algum indício de julgamento ou sentimento negativo. Mas o moreno não demonstrava nada além de profundo choque. Ela enxugou uma pequena lágrima que caia no rosto direito, apertou mais forte a mão dele, e prosseguiu: 

—Eu fiquei em profundo choque, eu nunca tinha pensado em ser mãe até então, sempre disse que não gostava de crianças, nunca tive paciência... então é claro que eu não ia querer aquela criança, eu estava de cinco semanas, dava tempo de fazer o aborto. -suspirou profundamente- Eu cheguei a pegar o telefone pra marcar o procedimento, mas não tive coragem de discar o número da clínica. E assim os dias se seguiram; sempre que eu saía de casa eu passava em frente a clínica de aborto... mas ao mesmo tempo eu parei com o álcool e não saía mais a noite. E eu não entendia o porquê... por que eu nunca entrava naquela clinica se era o que eu queria fazer? Por que eu cortei o álcool e as noitadas se eu não queria aquela criança? -fez uma pausa- e foi então que... um dia eu fui embora mais cedo do escritório porque estava me sentindo péssima... uma dor insuportável na barriga. O prédio que eu morava na época não tinha elevador então eu me lembro de ter subido as escadas correndo com medo de cair... e me sentir aliviada quando finalmente entrei no apartamento. -fechou os olhos e fez outra pausa, dessa vez um pouco mais longa, abriu os olhos novamente e voltou a falar- É claro que eu fui correndo para o banheiro... chegando lá eu caí no chão de tanta dor e foi então que eu percebi que a minha calça estava molhada... tirei a calça e daí eu vi... uma poça de sangue... saindo de mim... eu não sou idiota eu sabia muito bem o que aquilo significava... fiquei alguns minutos paralisada, só... encarando aquela poça, até que eu caí em mim e comecei a chorar, muito. E eu... eu também gritava, a sensação que eu tinha era que eu ia morrer, a dor era muito forte, muito maior do que a física... aquela poça... aquela poça era o meu bebê! 

As lágrimas se tornaram impossíveis de serem derrubadas, e Sam se deixou desabar em um choro agudo e sofrido. Apoiou as mãos no rosto e os cotovelos nos joelhos e Freddie imediatamente a abraçou, também sentindo lágrimas quererem sair de seus olhos. 

Minutos depois os choros cessaram, Sam saiu do abraço e Freddie secou suas lágrimas com o polegar. Seus olhos estavam inchados e vermelhos, mas ela continuou;

—Era o meu bebê, o meu bebê... ali, na minha frente, em forma de sangue. Meu mundo caiu, porque naquele momento foi que eu percebi que... que eu queria o bebê, eu queria ser mãe... eu só não sabia, ou não aceitava, por puro medo. Até porque eu nunca tive bons exemplos... como eu ia ser uma boa mãe se eu nunca tive uma que prestasse? Como eu ia cuidar dessa criança se eu mesma nunca fui cuidada? Eu não ia saber criar aquela criança... acho que no final ela, ou ele, teve um livramento... eu ia ser uma péssima mãe! 

 

Ela fechou os olhos e respirou fundo, sem acreditar que realmente fora capaz de se abrir sobre essa história. Desde que tudo aconteceu Samantha tinha certeza de que essa seria uma dor apenas sua, e de fato era, mas nunca pensou que o dia em que ela contasse sobre o que considerava o episódio mais trágico de sua vida realmente chegaria. 

Sentiu novamente os braços protetores de Fredward ao seu redor, e se sentiu profundamente grata por tê-lo. Correspondeu o abraço, deitando sua cabeça no ombro dele, que aproveitou o gesto para encostar no encosto do sofá, de forma que ficassem ambos deitados, com Sam deitada encima de si. 

Ele não sabia o que dizer, afinal, o que deveria dizer? Jamais pensou em ouvir algo como o que Sam compartilhara consigo minutos atrás. É claro que sabia de casos de aborto espontâneo, isso é mais comum do que se imagina, principalmente na primeira gravidez. Mas ao mesmo tempo... nunca pensou que isso aconteceria com uma pessoa próxima, principalmente com Sam, que sempre teve um espírito livre e por conta disso era de se esperar que fugisse da maternidade. 

Flashs vierem em sua mente; de repente tudo fez sentido... ela trabalhar em casos de crianças em estado de vulnerabilidade, ela se emocionar quando a filha daquela fã acariciou o cabelo dela, quando ela parou em frente ao parquinho e pareceu estar em transe, e quando ela se sensibilizou com o choro desesperador daquele menino quando ele se perdeu do pai, o acalmou e pediu para que ele ajudasse. 

A segurou com mais força e acariciou o cabelo dela. Fechou os olhos, tentando absorver todas as novas informações. 

Não conseguia imaginar o tamanho da dor que a amada sentiu, perder um filho... porque mesmo que fosse apenas um feto, era filho dela, um bebê que ainda estava se formando... não haviam palavras pra isso, e se sentiu um inútil por não ser capaz de proferir uma única palavra que a confortasse. 

Foi inevitável segurar as lágrimas, então deixou que elas saíssem como cascatas silenciosas pelos seus olhos. A segurou com mais força em seus braços, querendo ser capaz de protegê-la de tudo e todos e apagar todas as suas dores, mesmo que, infelizmente, fosse impossível. 

Sentiu lágrimas silenciosas molhando sua camisa, olhou pra baixo e Sam estava com o olhar perdido em qualquer ponto daquele quarto. 

Precisava falar alguma coisa, já estava ficando constrangedor e desesperador todo aquele silêncio melancólico. 

—Eu...

—Não precisa dizer nada, Freddie, eu sei. 

—O... que aconteceu, depois? -ele perguntou. 

—Dois dias depois eu me internei pra fazer a limpeza do útero... tive alta rápido, em três dias eu estava indo pra minha primeira audiência. Disse a todos no trabalho que eu tinha pegado aquela virose. E depois eu simplesmente segui a minha vida. Tive uma fase depressiva, mas fui melhorando com o tempo. Não foi nem um pouco fácil, mas eu consegui. 

—E quem mais sabe? 

—Ninguém. Você é a primeira pessoa pra quem eu conto isso... eu nunca consegui falar sobre isso antes, era... doloroso demais, e ainda é, mas sei lá... com você tudo que é doloroso acaba sendo um pouco fácil de lidar... 

Ela saiu dos braços do amado e eles novamente se sentaram como antes; um ao lado do outro. 

O Benson pensou em fazer uma pergunta arriscada... mas que atiçara sua curiosidade. 

—E você... você ainda quer? -ele perguntou, secando as lágrimas presentes em seus olhos. 

Sam respirou fundo antes de responder. 

—Sim! Eu quero, muito! Eu sempre quis, mesmo só descobrindo isso mais tarde e da pior forma. Mas, querer não é poder... eu sei que eu nunca vou poder ser mãe.

Freddie franziu o cenho. 

—Como assim? Você não pode mais gerar? 

—Não é isso, o médico disse que isso é normal de acontecer em uma primeira gravidez, e que eu posso engravidar de novo. O problema é que... eu não saberia ser mãe, eu nunca tive uma família bem estruturada, bons exemplos dentro de casa... eu não iria saber como criar uma criança. Fora que por causa desses problemas familiares esse desejo da maternidade ficou tão enraizado dentro de mim, que eu nunca percebi isso, acredito que por puro medo. 

—Entendo, amor. -ele apertou os lábios, assumindo uma expressão pensativa, pegou a mão dela novamente, fazendo um carinho. -É completamente natural que você se sinta assim, eu não gosto nem de imaginar tudo o que você já passou por causa deles... mas, se me permite uma sincera opinião, nunca mais diga que você não saberia como criar uma criança e não seria uma boa mãe. 

Sam franziu o cenho, confusa. 

—Por que, Benson? 

—Porque... amor... você já criou uma criança antes! 

—Quem? -ela perguntou, se sentindo ainda mais confusa enquanto se perguntava se o namorado estava lúcido. 

—Você mesma!

Aquilo surpreendeu Sam, que por sua vez permitiu que mais lágrimas silenciosas escorressem de seus olhos. Porque, era verdade. 

Desde muito cedo precisou aprender a se criar sozinha, com uma mãe parcialmente presente e irresponsável, um pai desconhecido e parentes na cadeia, não lhe restava nenhuma alternativa a não ser se tornar sua própria responsável. 

Sam se lembrava que não tinha nem sete anos quando aprendeu a amarrar os cadarços de seus tênis sozinha, apenas por ver na televisão. Suas habilidades de luta surgiram por observar os vizinhos de seu bairro e a necessidade a fez cometer pequenos delitos para se defender e matar a fome antes mesmo de chegar a adolescência. 

Um tempo depois pessoas chegaram à sua vida, e ela não precisou mais ser tão sozinha, mas ainda assim, continuava sendo a principal responsável por sua própria criação. Quando chegou aos dezoito anos, não sentiu que um ciclo havia se encerrado e outro começado, porque suas responsabilidades para consigo mesma sempre foram adultas. 

E olhando em retrospecto... ela havia feito um bom trabalho! Apesar de todos os problemas que enfrentou no caminho, sobretudo os relacionados à criminalidade, o presente momento de sua vida estava maravilhoso. E a única pessoa a quem devia esse feito, era a si mesma, e isso era triste mas ao mesmo tempo... reconfortante.

Pela primeira vez durante aquele diálogo inteiro, conseguiu sorrir de verdade. Um sorriso que era de alívio, de paz, de amor... mas sobretudo um sorriso que traduzia a frase "missão cumprida" para o mais sensível dos idiomas. 

Abraçou o homem a sua frente, fechando os olhos enquanto tentava transmitir a ele sua profunda gratidão por aquelas palavras, que a fizeram se sentir confortada. Sempre soube disso de alguma forma, mas ver alguém, pela primeira vez, proferindo-as em voz alta... era tudo que ela precisava e não sabia. Tentou transmitir também um pouco da paz que estava sentindo por finalmente conseguir se abrir. Mil anos se passariam e ela continuaria sem entender como era possível existir tal sentimento que os unia. Era transcendental, beirava a magia. 

—Você tem razão, amor. -ela disse, ao findar do abraço, e ele deu um beijo em sua testa. -Sabia que eu... ainda guardo o teste? 

Foi inevitável para ele não sorrir ao ouvir isso. 

—Sério? 

Ela assentiu.

—Já pensei em jogar fora muitas vezes, mas, sei lá... uma parte minha gosta de guardar porque, é uma lembrança... uma prova de que um dia eu... eu gerei uma vida, mesmo que tenha sido por pouco tempo... se nada tivesse acontecido ela ou ele teria cinco anos. As vezes eu me pego pensando em como seria... se teria cachos iguais aos meus, se iria gostar de frango frito, se iríamos ter uma boa relação... se fosse uma menina, será que ela iria ser toda feminina, ou moleca como eu fui? Se fosse um menino, será que ele seria protetor comigo? Dizem que garotos se sentem na missão de proteger a mãe, mas sei lá se é verdade... 

Freddie achou adorável a forma dela falar... havia tanto carinho, tanto amor em suas palavras. "Ela teria sido uma mãe incrível!" Pensou ele, enquanto fazia carinho na mão direita dela. 

—Seria uma criança linda, Sammy, e iria puxar muito pra você. E tenho certeza que de onde o bebê estiver, ele conhece a mulher incrível que é a mãe dele e te ama muito. 

—Obrigada, Freddie. E você? 

—Eu? O que? 

—Você quer ser pai? 

Ele sorriu. 

—Quero sim! Só não disse antes porque a gente reatou muito recentemente. -pegou as mãos dela e entrelaçou seus dedos-. Mas eu quero construir uma vida com você Sam, quero ter crianças loirinhas correndo pela casa me chamando de papai e quero ter a felicidade de você ser a mãe delas. Dormir e acordar ao seu lado todas as manhãs e noites sabendo que é você a minha companheira de vida, a mulher responsável por me fazer o homem mais feliz do mundo. 

Sam simplesmente se jogou nos braços dele novamente, o abraçando e dando vários beijinhos em seu rosto. Freddie riu com a situação e a abraçou de volta. 

—Mas amor... e a distância?

—Já combinamos que vamos falar sobre isso depois, lembra? Por agora eu só quero que você saiba que eu estou aqui com você e que não importa o que aconteça, vamos enfrentar juntos. 

—Obrigada amor, obrigada por sempre ser aquele que eu posso contar, de todas as pessoas que eu conheço você é a mais importante... me apoia sempre, é a fonte de apoio, amor e cuidado que eu sempre quis e precisei. Foi muito difícil contar tudo isso, confesso que pensei por um momento que você fosse me julgar um pouco, pelas circunstâncias em que eu engravidei...

—Eu nunca ia te julgar, não pensa mais isso, ok? Você foi muito corajosa por ter enfrentado a situação, ouvido seus instintos... 

—Acha mesmo? 

—Acho. 

Ela sorriu e saiu do abraço, olhando para ele.

—Eu te amo. 

—Eu também te amo. 

Colocou uma mecha de seu cabelo atrás da orelha e a puxou para um beijo, selando dessa forma todas as palavras ditas e confissões reveladas naquela tarde. 

Não importava o que passou, e o que ainda viria pela frente, tendo um ao outro conseguiriam passar por qualquer adversidade. 

Essa era uma das únicas certezas que tinham, no entanto, não sendo a mais importante do que a certeza de que dessa vez estavam mesmo juntos para valer!


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Notas finais do capítulo

....e aí? Querem uma água?

Bom gente, vamos lá:
•A cena do telefonema da Sam com a Pam foi inspirada em uma cena do último episódio da série Daisy Jones & The Six.
•A menção às bandejas com cocaína e o fato da festa ter sido em uma praia em Malibu, foram uma referência ao livro Malibu Renasce, de Taylor Jenkins Reid.
•Já a cena (que eu considero a mais tensa do capítulo inteiro) da revelação do aborto espontâneo que a Sam sofreu, foi inspirada em uma cena da primeira temporada da série Firefly Lane (Amigas Para Sempre em português). Na ocasião, a personagem Tully Hart, uma mulher rica e famosa que nunca havia pensado em ser mãe, engravida e não sabe o que fazer com a gravidez até que sofre um aborto. Nesse momento ela descobre que na verdade queria sim aquela criança, só estava com medo. E por que eu trouxe isso pra cá? Porque essa cena combina muito com uma teoria que eu tenho sobre a Sam que eu achei que seria interessante abordar aqui, e que eu vou explicar agora.

Basicamente a minha teoria se consiste no fato de que o maior sonho da Sam era ter uma família que realmente fizesse jus a esse título, por mais que ela nunca tenha falado isso. Porque várias vezes durante a série ela demonstra carência afetiva parental, principalmente materna. No entanto ela não nasceu em uma família assim, algo que é perceptívelmente triste e incômodo pra ela. Lembram daquela cena de iGo To Japan onde a Carly e o Freddie correm para os braços do irmão e da mãe deles quando os reencontra e a Sam fica ali no meio sem ter ninguém pra onde correr? Pois é, cenas assim se repetem muitas vezes durante a série.
Então era de se esperar que, se ela não havia nascido em uma família estruturada, ela desejasse formar uma, certo? Existem várias formas de se formar uma família, com ou sem um parceiro. Eu penso que a Sam preferiria ter o Freddie ao lado dela pra isso, justamente por ele ter sido o único homem que ela já amou. Mas, se isso não acontecesse, acredito que ainda assim ela não desistiria totalmente, e com isso chegamos a um outro ponto específico da teoria; a maternidade.
Eu sei que muitos podem discordar de mim e dizer que não conseguem imaginar a Sam como mãe e que ela fugiria disso completamente, e tá tudo bem, mas, >>eu<< acho interessante analisar que, mesmo que durante as séries iCarly e Sam&Cat ela tenha dito várias vezes que não gostava de crianças ou não tenha demonstrado paciência com elas, ainda assim ela era carinhosa. Por exemplo; em um ep da quarta temporada de iCarly a Carly pede para que ela leve um bebê -que a estagiária contratada pelo Freddie achou-, para a mãe dele, e a Sam aceita numa boa sem reclamar (seria de se esperar que ela reclamasse caso realmente não gostasse de crianças, certo?). Fora que em Sam&Cat ela era uma boa babá, cuidava das crianças, ensinava coisas a elas, se importava com o bem-estar delas. Tratava a Cat e o Dice como irmãos mais novos, sempre protegendo e cuidando deles. E por último, mas não menos importante; o fato dela se chamar de mamãe em terceira pessoa.
Eu sei que existem teorias de que ela fala isso só por ser uma expressão, ou pela fama que o Freddie tem de "filhinho da mamãe", e pode até ser, mas não é levemente suspeito? Ela SEMPRE se chamou assim, independente de quem estivesse por perto (em Sam&Cat ela também se chama assim e o Freddie nem está na série, exceto pelo ep The Killer Tuna Jump).
Então sim, eu acredito fielmente que o maior sonho da Sam era ser mãe e formar uma família, mas que devido aos traumas familiares que ela tinha, só viria a descobrir esse desejo em uma situação extrema.
Sue me!

Enfim, espero que tenham gostado desse capítulo assim como eu amei escrevê-lo.
E sim, eu vou demorar pra voltar com o capítulo 7, talvez bem mais do que eu demorei com o 6, mas assim né gente... vida de universitária ksks.

Muito obrigada por terem lido, principalmente por terem ficado para as notas finais, segue o link da playlist: https://open.spotify.com/playlist/3mvzWwp2ydsWteXG7nNQib?si=MaH7HO8zQMyFAUkjdYRNQQ&pi=u-WzGMTXnMSfK8


Bjinhus, até! ♥ ♥



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