Dias antes

       Um tempo longe foi o que Karoline achou necessário para tentar dar um jeito no nosso casamento. A viagem que deveria ser de dois meses mal chegou ao seu primeiro mês, ela queria de mim algo que claramente eu não sentia mais e tentava fazer com que eu reagisse da pior maneira: através dos ciúmes. E o resultado não podia ter sido outro, quebrei o braço do engraçadinho que estava tocando nela de uma maneira cujo só eu – ao menos enquanto estiver na posição de marido – posso tocar. E cá estávamos, retornando a nossas origens e a nossa casa, seis horas de viagem de carro e o máximo de palavras que ela dizia era sobre parar para ir ao banheiro ou comer.

        Verdade que quebrou o braço de alguém? – Leah Clearwater se divertia as minhas custas, enquanto se juntava a mim naqueles raros momentos em que minha mente em forma de lobo era só minha. Deixei que ela visse toda a cena do meu ponto de vista. – É, ele não deveria ter te chamado de corno mesmo.— debochou – Embora, você esteja merecendo um belo par de chifres.

        Era só o que me faltava, vai tomar as dores de Karol também? Você não gosta dela, nunca gostou.

        Não gostar não significa não apoiar, e você tem se mostrado um grande babaca com alguém que só te apoiou todo esse tempo.

         Eu tentei. Ok? Você sabe o quanto tentei, droga! Mas, não dá, é como se algo dentro de mim continuasse buscando algo que certamente nunca vou encontrar em Karol.

       Bem, você sabe o que esta buscando.— bufou – todos nós estamos buscando o mesmo. Rebecca vai querer te matar também ao perceber que enfim você chegou a mesma conclusão que ela, que nunca deveria ter tentado.

        Você também busca um imprinting, Leah?

  Ficamos em silêncio por alguns instantes, o que não era muito comum, até que ela resolveu quebrar o silêncio novamente.

       Karol não te traiu, Jake. Ela ama você, sabe disso não é?

       Sei. Teria sido bem mais fácil ela o tivesse feito mesmo. – lamentei

        Rachel vai querer te matar quando souber que decidiu seguir com o divórcio.

         Do jeito que ela ama a Karol, facilmente teremos uma nova lobo na matilha, e claro, eu não estarei mais presente para testemunhar a loucura que isso será.

        Reassumi a forma humana bem próximo a casa de Sam e Emily, eu havia sido o segundo a chegar para uma pequena reunião. Claire ajudava a tia a organizar a mesa, havia uma quantidade significativa de bolos e tortas ali, comida o suficiente para alimentar um batalhão mas que acabaria logo quando toda a matilha estivesse reunida.

        - Oi tio Jay – Claire foi a primeira a se dar conta da minha presença, nem mesmo o palerma do Quil parecia ter me notado, na verdade quando estava na presença da sobrinha de Emily , de dezessete anos, pouca coisa mais fazia sentido para o Quil, nada tinha mais importância do que sua ursinha Claire, seu imprinting. E mesmo já sendo quase uma adulta, Claire não perdia o costume de chamar a todos na matilha de tios, afinal também nos fizemos presentes em sua infância a protegendo.

         Emily tinha a marca do lobo cravada em seu rosto, Claire tinha a marca do vampiro cravada em seu ombro e pescoço desde que tinha seus doze anos e se perdeu na floresta tentando ir atrás do cachorro que Quil havia lhe dado de presente.

          - Como está a sobrinha mais linda desse mundo? – perguntei passando minhas mãos por sua cintura, beijando sua bochecha a fazendo rir. Claire estava se tornando uma linda mulher por dentro e por fora, se um dia ela realmente escolher ficar com o Quil então ele será um homem de sorte.

           - Deixe Anne escutar isso e você terá sérios problemas – apontou Emily colocando uma torta de chocolate a mesa. Anne era filha de Rebecca e Tyler Summers, que era irmão da Karoline. Eles moravam em Forks já a alguns anos, e foi em uma das visitas de Karoline para o irmão e sobrinha que nos conhecemos.

         Rebecca odiou essa relação, ela sabia que cedo ou tarde isso refletiria no casamento dela com o Tyler, e por isso eu havia tido uma longa conversa com ela que resultou no entendimento de que ela poderia tomar partido da cunhada caso houvesse um divórcio de fato, cosa que não rolou pois minha irmã perdeu a paciência quando Karoline resolveu pela centésima vez no dia reclamar de mim na frente da Rachel e Billy que a veneram.

        - Não se preocupe tio, eu guardo segredo. – ela brincou, se desvencilhando e retornando a ajudar a tia a preparar a mesa para a reunião que haveria logo mais.

       - Sabe do que se trata isso? – questionei ao Quil

     - Algo sobre rastros frescos de sanguessuga. – a fala dele fez Claire estremecer.

       - Não se preocupe Claire, nunca mais aquilo vai acontecer.- Emily rapidamente fala algo para acalmar a sobrinha.

       - Claro que não, por que acham que estou tão na cola dela esses dias?! – Quil resmungou- Eu não vou deixar que nada desse tipo aconteça a você novamente.

     Quil se sentia culpado por todo o trauma vivido por Claire, a garota passou dias no hospital e boa parte dessa dias foi dormindo graças às medicações já que acordada ela se agitava e isso fazia mal a recuperação. Toda a matilha acompanhou o sofrimento de Quil nesse período, e por causa disso a proteção encima das garotas imprinting aumentou, fazendo com que Emily, Rachel, Kim e Claire se tornassem sagradas no mais intenso dos sentidos. Não havia nada que não fizéssemos para manter elas a salvo, e isso incluía dar a nossa vida em troca.

      Embry, Leah e Paul foram os próximos a chegar quase que ao mesmo tempo. Sam já havia avisado que demoraria um pouco pois o outro segurança do hospital ainda não havia chegado para a troca de turno. Brady e Collin, assim com alguns outros membros mais novos da matilha já não residiam em Forks pois assim como nós ( mais vlehos) eles também optaram por ir a faculdade com a promessa de retornar após isso. Sam não nos deixaria totalmente livres para seguir longe daqui, na cabeça dele nosso destino era viver aqui como protetores do nosso povo e sua visão não estava tão distante da realidade,.afinal era bem como Leah disse: seriam contados os dias que viveríamos normalmente sem nos expor e acabar vivendo em um laboratório como cobaias.

          - Nem pense nisso, Paul. – advertiu Emily dando um tapa na nuca do meu cunhado quando o mesmo tentou pegar um pedaço da torta de chocolate com frutas.

           - Não seja cruel, Emily. Eu passei a noite toda em ronda junto com Jared. – reclamou

         - Falando em Jared, onde mesmo ele esta que ainda não chegou? – Leah questionou e estava certa em seu questionamento, Jared já devia estar aqui.

          - Passei pela casa dele na vinda, Kim chegou de viagem. – Seth pegava o final da conversa ao chegar e tirava nossas dúvidas.

          - Já sabemos que ele não vem - falei em meio a risos, levando os outros comigo. Kim cursava medicina em Seattle e só vinha a Forks quando tinha uma folga de pelo menos dois dias e quando chegava Jared não a deixava sair de casa.

          - Jake, eu preferi vim correndo pra cá. – Seth trabalhava em Vancouver a alguns meses, era o mais longe que Sam o permitia ia. – Peguei um rastro de vampiro, mais de um. – ele já adiantou o assunto. Estavam mesclados, não dava para sentir direito mas eram ao menos cinco deles.

       - Cinco? Sanguessugas não costumam andar em grupos maiores que três no máximo. – Quil disse o que me era óbvio.

      - Os Cullen eram sete – afirmou Emily

      - Eles são bem incomuns para a espécie – Leah corrigiu a prima – Não pense que outros viveriam do mesmo modo.

      - Podem ser dois ou mais grupos que se encontraram, são nômades então é comum que aconteça- Sam chegava e já ia em direção a Emily a beijando.- Quero todos em alerta. Embry, assim que Jared e Kim derem as caras comunique que você e farão a segurança dela enquanto ela estiver por aqui, Jared também terá permissão de ir a Seattle com Kim por uns dias até que fique claro que ela está segura por lá. Leah, você trabalha na escola da Claire então pode ficar de olho nela por lá. Quil, fique longe ou os humanos podem confundir seu interesse em estar cercando uma escola. Paul e Jake, Rachel é a prioridade de vocês. Seth, está dispensado e pode continuar suas atividades comuns.

      - E quanto a Emily? Tem certeza que pode dar conta da segurança dela sozinho? – questionei.

     - Da minha esposa cuido eu, Black. Além do mais, todos estarão por perto o suficiente para correr até ela caso seja necessário. O mesmo vale para qualquer outra. Lembrem-se, elas são nossas prioridades mas não são as únicas que precisam da nossa proteção.

     - Protegemos essa aldeia a tempo demais para saber disso. – Leah rosnou em resposta

     - Ah, antes que eu esqueça. Paul, seu irmão continua dando sinais da transformação? – Paul assentiu – Vocês sabem o que isso significa não é?

     Todos assentiram, mas foi Embry que verbalizou.

          - Se outros se juntarão a nós é sinal que uma nova tempestade esta prestes a acontecer.