Maya e os Mistérios de Castelobruxo escrita por Wesley Rego
Notas iniciais do capítulo
Maya tenta cumprir a detenção por ter faltado a aula de herbologia, mas um novo desastre acontece.
Após deixar a sala da diretora, Maya saiu do templo e caminhou de volta para a Aldeiabruxa, um conjunto de ocas de palha (como as dos índios) que se situava ao sul de Castelobruxo. É nessa Aldeia que ficam os dormitórios dos alunos da escola. Cada oca abriga seis alunos e embora seja pequena e simples vista por fora, por dentro é imenso e cheio de cômodos.
Ao chegar a oca número dois, Maya passou pelo pequeno portal de entrada e se deparou com uma grande sala. No meio havia uma grande mesa de jantar feita de madeira, nos cantos ficavam os cômodos da cozinha, banheiro, e o quarto com seis redes. O interior da oca parecia uma mansão, com paredes e o teto de palha arquitetado de forma luxuosa. Maya se deitou em uma das redes, puxou a agenda do bolso das vestes e começou a folhear com mais atenção. Percebeu que não conhecia a maioria dos feitiços que estava escrito ali. Haviam vários rabiscos e até feitiços escritos de forma errada.
— Revelio! - disse apontando sua varinha para a agenda. Nada aconteceu.
Depois avaliou mais cuidadosamente a varinha que encontrou. Não a reconheceu, não fazia ideia a quem poderia pertencer e não tinha certeza se era uma varinha mágica autêntica. Então tentou experimentar.
— Accio!
Uma cadeira que estava próximo a mesa de jantar voou em sua direção. Maya caiu da rede após ser atingida pelo objeto.
— É real. - Disse massageando o braço que ficou dolorido com o tombo - como um trouxa conseguiu essa varinha?
Maya assobiou e em segundos uma figura pequena com pelos vermelhos surgiu no quarto como um estalo.
— Pu-pu-ru-ru. - Fez Tuka ao surgir - o que você quer vossa alteza? Ah, ainda está perdendo seu tempo com o livro dos trouxas - disse a caipora ao percebar a agenda no chão.
— Tuka, descobri que a varinha contém núcleo. É de verdade. Consegue descobrir a que bruxo ela pertence?
— Eu pareço uma fabricante de Varinhas? - perguntou cruzando o braços.
— Conheceu o rosto do homem que a carregava?
— Eu nunca vi aquele homem na minha vida - disse Tuka pensativa - mas tenho certeza que não era um bruxo. Ele não tinha sangue mágico.
— Mas sabia como passar por vocês. Seja quem for é alguém que sabe da existência da escola e de nós, bruxos.
— As lendas das caiporas, dos curupiras, da mula sem cabeça e da maioria das criaturas mágicas dessas regiões são contadas a várias gerações. Todos do seu povo, até os não mágicos, já ouviram falar. Eles chamam de folclore. É comum que trouxas saibam nossos segredos. Mas atualmente, poucos acreditam que sejamos reais.
— Tem razão. - concordou Maya se ajeitando e guardando a agenda e a varinha nos bolsos das vestes - Mas ainda sim, é estranho um trouxa está carregando uma varinha com anotações de feitiços.
— Aonde você vai?
— Me encontrar com o professor Robert na estufa número três, para cumprir a detenção por ter faltado a aula hoje.
Tuka riu e desapareceu aos risos. Já estava anoitecendo quando Maya chegou a estufa número três. De pé e de braços cruzados, estava o professor Robert. Maya notou de longe seu imenso barrigão sob uma vestimenta cinzenta.
— Vamos! Você tem muito o que fazer. Anda logo menina! - Disse em tom arrogante apontando para um grupo de vasos cheios de plantas empilhados próximo a uma comprida mesa de madeira - a professora Beth me pediu a gentileza de extrair o veneno de alguns tentáculos venenosos para usar como ingrediente em suas aulas de porções. Essa noite estou bastante ocupado tratando de alguns assuntos particulares, então, sua detenção hoje será extrair o veneno desses tentáculos pra mim.
Maya odiava herbologia e seu conhecimento sobre o assunto sempre foi muito deficiente. A primeira coisa que pensou foi como faria isso sem ter o menor jeito com plantas.
— Ah, antes que você comece, gostaria de lhe apresentar Hugo Silva, meu assistente e seu ajudante essa noite. Não quero correr o risco de você destruir minhas plantas. Portanto, Hugo vai te supervisionar na minha ausência. - Puxou o menino pelo braço e o empurrou para perto de Maya.
— Achei que fosse ficar preocupado, e se uma coisa dessas me envenenar? - disse Maya irritada.
— Isso não me preocupa. Se acontecer é só tomar o antidoto, Hugo sabe onde estar. Esse é um tipo de descaso que eu já espero que aconteça em suas mãos inexperientes, portanto já me preparei para essa situação. Agora já vou indo, volto em duas horas. - disse saindo da estufa as pressas.
Maya olhou para Hugo e o reconheceu. Era o mesmo garoto que havia ajudado mais cedo. No momento estava tão apressada que não pode reparar tão bem como agora. O garoto tem a pele escura, cabelos trançados e olhos azuis. Usa óculos baratos bem redondos e possui um olhar gentil.
— Oi de novo. - disse Hugo entusiasmado - nos vimos mais cedo, no campo.
— Eu lembro. Você é o garoto das amizades estranhas.
— Bom... Não são exatamente meus amigos. Eles estavam caçoando de meus óculos e acho também, porque eu estava falando com um tronquilho próximo a floresta do silêncio.
— Sei. Podemos começar logo? Eu tenho muitas coisas pra fazer.
— Ah, claro - disse Hugo gentilmente carregando um vaso, com uma planta cheia de tentáculos se movimentando e colocando sobre a mesa - Para extrair o veneno de forma segura vamos precisar cortar um pedaço desses tentáculos. O que pensa que tá fazendo? - Hugo se assustou ao ver Maya preparando para usar sua varinha. - Não vamos usar magia para isso. Guarde sua varinha!
— Vamos cortar de que jeito? - perguntou impaciente e ansiosa.
— Com essas tesouras específicas - respondeu o jovem segurando duas tesouras bem compridas.
Cuidadosamente, Hugo ensinou a Maya como cortar os tentáculos, isola-los em um recipiente de barro, moe-los até escorrer bastante veneno e depois filtra-lo com segurança. Mesmo desajeitada, a jovem bruxa indígena conseguiu realizar com o sucesso a extração do veneno de pelos menos três tentáculos.
Enquanto tentava cortar o quarto tentáculo, a jovem sentiu o bolso de seus vestes ficarem mais leves. Ao virar-se, viu a agenda sendo suspensa por um tentáculo de uma grande planta que a levou a boca e em seguida o engoliu. Maya saltou um grito de desespero e sacou sua varinha.
— Diffindo! - gritou movimentando a varinha para cima e para baixo.
Vários tentáculos da enorme planta foram cortados e se espalharam pelo ar, jorrando veneno para todos os lados. Hugo entrou em desespero ao ver a chuva de veneno cair sobre ele.
— Em nome de Merlim! Que diabos você está fazendo? - Tentou se abrigar embaixo da mesa de madeira enquanto via a colega podar a planta inteira.
— Ela engoliu minha agenda! - gritava Maya furiosa enquanto movimentava a varinha apontada para a planta - Como faço pra ela vomitar?
— Agora já é tarde! Você a irritou atacando desse jeito. Ela não vai vomitar até que se acalme e vai ser muito difícil agora que você cortou todos os tentáculos dela.
— Maldita! Você vai devolver minha agenda! incendio! - uma labareda de fogo saltou da ponta da varinha de Maya e a planta foi coberta por chamas.
A planta se debatia e arremessava partes dela mesma, envolvida em chamas, para todos os lados. Em questão de segundos, todas as plantas da estufa estavam em chamas, assim como as mesas de madeira e a estrutura do lugar. Hugo desesperado, correu para fora da estufa horrorizado, assim que ouviu a colega conjurar o feitiço. Maya conseguiu sair da estufa quando notou o fogo se espalhando.
Diversos alunos correram para ver de onde vinha o clarão que iluminou todo o campo ao redor do templo. A maioria foi barrado pelos professores que rapidamente chegaram ao local. O professor Robert imediatamente lançou o feitiço aquamenti e da sua varinha um jato de água esguichou. Os outros professores fizeram o mesmo e juntos conseguiram apagar as chamas como uma brigada de resgate.
O coração de Maya congelou e seu corpo ficou pálido ao notar todos os professores e alunos olhando para ela. O professor Robert furioso, apanhou-a pelos braços.
— Que diabos você estava tentando fazer menina? Você destruiu minhas plantas, a estufa inteira e quase incendiou o terreno. Podia ter destruído tudo!
— Professor Robert. Deixe-a comigo! - ordenou a diretora chegando ao local também irritada.
A diretora apanhou Maya pelas mãos e a levou para dentro do templo. Enquanto era levada, Maya notou que todos falavam dela e a olhavam atravessada. Jamais havia sentido tanta vergonha como estava agora, e pra piorar, havia destruído a agenda. Agora jamais poderia descobrir a quem pertencia e nem seguir suas pistas.
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