Maya e os Mistérios de Castelobruxo escrita por Wesley Rego


Capítulo 4
Capítulo 4 - Poder Oculto


Notas iniciais do capítulo

Maya se surpreende com os acontecimentos na aula de Defesa contra artes das trevas.



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A porta de ouro da sala da diretora se escancarou como se tivesse sido chutada para dentro. A diretora entrou na sala as pressas puxando Maya pelo braço. Seu olhar era de fúria e sua respiração ofegante. Pôs a menina sentada na cadeira de frente a escrivaninha e sentou-se do outro lado da mesa em sua poltrona dourada. 

— Você tem noção do que fez? - perguntou a diretora fitando a jovem - O que está acontecendo com você? Primeiro falta as aulas e agora isso?

— Eu não fiz por querer. Foi um acidente. 

— Um acidente? Você conjurou um feitiço proibido nos terrenos da escola. Sabe que feitiços inflamáveis podem destruir a floresta que nos cerca e também atrair trouxas para as redondezas desse templo? E o pior, fez isso dentro de uma estufa. 

— Eu agi por impulso. Não sei explicar. Apenas senti muita raiva e pensei em...

— Pensou em algo destrutivo! - interrompeu a diretora se levantando com brutalidade - Essa escola tem como objetivo ensinar os jovens bruxos e bruxas a usar a magia de forma disciplinar e também a controla-la. Essa atitude que você tomou demonstrou total falta de controle emocional. - continuava enquanto andava pela sala com passos lentos - e uma extravagante falta de responsabilidade no uso da magia. 

— Não vai se repetir. Eu prometo que vou consertar tudo. 

— Afinal, o que aconteceu que lhe irritou a esse ponto? 

Por um segundo Maya pensou em dizer a verdade, mas acreditou que isso deixaria a diretora ainda mais irritada, ao saber que causou todo aquele estrago por causa de um artefato inútil dos trouxas. 

— Eu perdi a paciência, pois não conseguia realizar a tarefa de forma perfeita. - disse abaixando a cabeça e olhando para os joelhos. 

— Perfeita? - A diretora parou para olhar mais atentamente para a garota - Ah, Maya. Sempre buscando perfeição, onde o correto e aceitável já sejam suficientemente satisfatórios.

A diretora retornou a sua poltrona dourada e sentou-se novamente. 

— Terei uma reunião hoje com o professor Robert e iremos discutir sobre seu comportamento. 

— O que vão fazer? Serei expulsa? - Maya levantou a cabeça. Seus olhos estavam agora cheios de lágrimas e suas mãos trêmulas. 

— Não. Mas como medida preventiva irei recolher sua varinha. Até o professor Robert e eu decidirmos o que fazer. 

— Minha varinha? Mas sem minha varinha, como...

— Vamos Maya - a professora esticou a mão para a jovem - entregue-a para mim. 

Relutante, a jovem bruxa colocou as mãos nos bolsos das vestes para pegar sua varinha. Sentiu que havia dois objetos e lembrou-se que carregava duas varinhas naquele momento. Pensou em entregar a varinha que encontrou, mas no último segundo achou melhor entregar a sua própria, já que a diretora poderia reconhecer e notar que tinha entregue uma varinha que não pertencia a ela. Puxou a varinha do bolso e conferiu para ter certeza que estava se desfazendo da varinha correta e entregou-a a diretora. 

— Obrigada. Você a terá de volta em breve. Agora retorne a seu dormitório e não falte a aula amanhã. 

Enquanto voltava para o dormitório, Maya notou que a maioria dos alunos já haviam ido dormir e que ainda haviam alguns bruxos mais velhos reparando os estragos da estufa. Apressou-se para chegar a oca número dois. Ao passar pelo portal de entrada, ouviu um breve sussurro seguido por um silêncio absoluto. imaginou que suas colegas estavam cochichando sobre ela e fingiram dormir ao notar sua chegada. Maya se deitou em sua rede e ficou pensando sobre todos os acontecimentos desse dia, desde o momento que afugentou os trouxas até o momento que destruira a estufa juntamente com a agenda que pretendia investigar.  Pegou a varinha misteriosa das vestes e ficou revirando e analisando até adormecer. 

As semanas seguintes foram difíceis para Maya. Percebia muitos cochichos que foram virando uma bola de neve até se tornarem mentiras mal contadas. A mais absurda foi o boato de que a jovem bruxa tentou destruir todas as estufas por odiar o professor Robert e sua matéria. Outra ainda pior, foi de que Maya teria atacado o jovem Hugo, que desmentia sempre que vinham lhe perguntar sobre o boato. 

Os dias foram aos poucos se tornando tão amargos que a jovem bruxa indígena contava os minutos para que as aulas acabassem e ela pudesse voltar ao seu dormitório, ainda mais que não podia fazer magia nem mesmo nas aulas práticas. Sentia-se sozinha e preferia que fosse assim. Passava tanto tempo tentando evitar os olhares dos colegas que havia se esquecido do motivo que causou toda essa situação. 

Com o passar do tempo, Maya encontrou a distração para seus problemas nos arredores no templo. Quando não estava estudando, aproveitava para explorar a natureza, interagir com criaturas mágicas, deitar sob a sombra de uma árvore, sempre isolada de todos é claro. 

— Olá - disse uma voz familiar enquanto a jovem estava lendo um grande livro, cujo título era Misterios do Castelobruxo - ah, já li esse. A fundação do templo, a guerra da colonização, o tesouro escondido. Adoro ler sobre as histórias que envolvem a escola. 

Maya olhou para cima e diante dela estava Hugo, com um olhar gentil. 

— Oi Hugo. Eu ainda não me desculpei pelo incidente na estufa. Você tentou me ajudar e eu não dei ouvidos. Me Perdoa. 

— Ah, tá tudo bem. Já faz muito tempo. - disse o jovem sorridente - tudo bem que eu fui envenenado, tive que ficar alguns dias sob os cuidados do curandeiro. Mas agora já está tudo bem. Estou vivo e forte. 

Maya riu suavemente pela primeira vez em semanas, depois tornou a ler o livro novamente. 

— posso me sentar ao seu lado? - perguntou o jovem colega - a garota afirmou balançando a cabeça. 

— Sabe, eu fico muito sozinho e sei o quanto nossos pensamentos nos consomem com o tempo. Então, se quiser desabafar sobre alguma coisa, pode falar. Prometo só ficar quieto ouvindo. 

— Você é gentil - disse Maya - Mas está tudo bem comigo, sério. Não precisa ficar se preocupando. Eu só preciso de um pouco mais de tempo pra absorver tudo isso. 

— Tudo bem, mas antes tenho algo a te entregar. - disse Hugo puxando do bolso um pedaço de papel - encontrei isso próximo a estufa. 

Maya pegou o papel e reconheceu a página, era um folha da agenda, intacta. O papel estava em branco e não havia nenhuma parte queimada ou danificada. 

— Como pode? - Maya se surpreendeu levando a mão a boca. 

— É um artefato mágico. Caso contrário teria sido destruído pelo fogo. A agenda inteira desapareceu, mas essa folha não foi afetada. - Explicou Hugo entusiasmado - Agora, me diga. Onde conseguiu isso? Você mesma a encantou? 

— Promete não contar a ninguém sobre isso? - sussurrou. 

— Eu não tenho pra quem contar. 

— Tá legal. Eu encontrei essa agenda próximo as Ruínas, pertencia a um suposto trouxa, ele deixou cair depois que o assustei. - Hugo arregalou os olhos - E não apenas isso. Ele também deixou cair essa varinha - tirou a varinha do bolso e mostrou ao colega que se impressionou. 

— Espera aí. Ele tinha uma agenda com uma folha mágica e uma varinha. Como sabe que não era mesmo bruxo?

— Tuka viu tudo das árvores. Ela consegue sentir o cheiro de sangue mágico e me garantiu que ele era um trouxa. 

— Tuka? Seria aquela caipora? 

— Sim. No dia que achei esses objetos eu tentei descobrir do que se tratava. Mas a maioria dos feitiços anotados na agenda eram desconhecidos pra mim. 

— Podíamos ir a biblioteca e procurar algum livro que fale sobre os feitiços que você leu e também sobre artefatos mágicos. - disse Hugo empolgado. 

— É uma boa ideia. Mas daqui a pouco vou ter aula de Defesa contra as artes das trevas. Podíamos ir amanhã? 

— Sim. Estou com tempo livre amanhã. Estarei te esperando na biblioteca as oito. 

Após se despedirem, a jovem bruxa correu para o templo. Subiu os degraus da grande escadaria de entrada e seguiu pelo corredor. Subiu mais uma escadaria estreita até alcançar a sala de aula. 

Chegou bem no horario, o professor Tiago Souza ainda ajeitava seu material didático e os alunos ainda estavam agitados. 

— Bem vinda senhorita Maya. Fico feliz que tenha chegado no horário para aula. Sente-se. - o professor Tiago parece ser um homem justo e gentil. Tinha longos cabelos negros e usava uma longa capa vermelha. Sua aparência era de um bruxo nobre - hoje teremos uma aula um tanto diferente. Abordaremos um assunto teórico e outro prático porém distintos. 

Ao sentar-se em sua carteira, Maya notou que alguns colegas cochichavam e a olhavam de canto. Sabia que estavam falando do incidente da estufa mas também jurou ter ouvido alguém dizer: "prática das trevas". Isso a incomodou muito, mas evitou da atenção aos cochichos de seus colegas e se esforçou para prestar atenção na aula. 

— Sobre o assunto teórico falaremos sobre um feitiço avançado de proteção, muito útil, e que foi muito utilizado há alguns anos na guerra bruxa que ocorreu em Hogwarts. Esse feitiço chama-se patrono. Alguém sabe quando é necessário se utilizar um feitiço do patrono?

— Quando somos atacados por dementadores. - respondeu Abigail. Uma Aluna loira e muito séria. 

— Parabéns Senhorita. - continuou o professor - Mas, o feitiço do patrono não é útil apenas contra os dementadores. Várias outras criaturas das trevas podem ser repelidas por esse feitiço. Alguém poderia me dá um outro exemplo de criatura das trevas que pode ser combatida com uso do patrono?

Todos ficaram calados. Até que em alguns segundos Victor, um aluno gordinho, respondeu algo baixo demais para ser entendido. O professor Tiago mandou que Victor ficasse de pé e repetisse em voz alta o que havia dito. Victor respirou fundo e aos tremores respondeu:

— mortalha-viva. 

— Excelente senhor Victor! - parabenizou o professor com um olhar de surpresa e alegria - a mortalha-viva também é uma criatura das trevas que pode ser repelida com o uso do patrono. Porém, poucos bruxos tiveram a chance de se defender contra essa criatura, já que a mortalha-viva costuma atacar suas vítimas quando ainda estão dormindo, primeiro as prendendo com seu corpo comprido e em seguida devorando-as. Por sorte, a mortalha-viva é uma criatura bastante rara de ser encontrada e faz muitos anos que nenhuma é vista. - o professor puxou sua varinha e apontou para o teto - Para se conjurar um feitiço do patrono, é necessário concentrar os pensamentos em uma lembrança feliz, a mais feliz que você conseguir lembrar. Dessa forma, o bruxo consegue conjurar um feitiço de pura energia positiva. Expecto Patronum - disse o professor em voz alta e um gavião real como uma luz prateada saltou de sua varinha e voou pela sala - O feitiço pode assumir a forma de animais e não é capaz de destruir as criaturas das trevas, mas consegue espanta-las, e assim proteger o bruxo do ataque desses seres. Agora vamos iniciar nossa aula prática, todos de pé.

Os alunos se levantaram. Com um gesto de sacudir a varinha, o professor Tiago fez com que todas as carteiras levitassem para o canto da sala, deixando um grande espaço aberto no centro. Em seguida, usou a varinha para levitar uma caixa de madeira e a pousou no centro da sala. 

— Em nossa aula prática não iremos usar o feitiço do patrono. Esse é um feitiço avançado demais para vocês. Contudo, iremos praticar um feitiço bastante útil hoje, que pode ser usado para proteger não só o bruxo que o conjurou mas também a floresta e os animais de nosso território. - o professor Tiago fez um gesto com a varinha e a caixa de madeira se abriu revelando uma gaiola. Dentro haviam várias criaturas gosmentas e de cor vermelha. A maioria das alunas fizeram cara de nojo - Essas são lesmas de fogo. A diretora Dourado ordenou que o máximo de lesmas de fogo fossem capturadas e removidas de nossa floresta, pois estavam se multiplicando rapidamente e causando queimadas em vários locais, ameaçando a destruição de muitas espécies. Essas que temos aqui são filhotes e não são capazes de causar grandes incêndios, porém, podem causar queimaduras de até terceiro grau. Na aula de hoje iremos aprender como enfrentar essas criaturas. Quero que vocês se posicionem um ao lado do outro e façam uma barreira na frente da porta. 

Os alunos obedeceram. Maya ficou na ponta da esquerda, pois havia notado que os alunos estavam se afastando dela. O professor Tiago preparou novamente sua varinha. 

— O Feitiço que iremos praticar hoje é o Aqua Eructo. Todos já conhecemos esse feitiço, fizemos uma abordagem teórica sobre ele na semana passada. Hoje quero que vocês trabalhem juntos e impeça as lesmas de fogo de incendiarem a nossa sala. Vocês serão como uma brigada de resgate. Mantenham a barreira e proteja o colega ao seu redor. Prontos?  

O professor Tiago fez um gesto com a varinha e a gaiola se abriu liberando dezenas de lesmas de fogo que imediatamente começaram a se rastejar para todos os lados. Embora fossem lentas, a sala era pequena para a quantidade imensa de lesmas. A medida que se rastejavam deixavam o rastro de fogo no chão. Os alunos perceberam que o professor não se preocupou pois o chão e as paredes da sala são feitos de pedra e o fogo não se espalhava. 

Os alunos apontaram suas varinhas para as lesmas e gritavam em voz alta o feitiço. A maioria não conseguia conjurar e os que conseguiram conjuraram jatos fracos de água que atingiam poucas lesmas. Maya sacou a varinha que havia encontrado mas exitou em usa-la, temendo o que poderia acontecer. Alguns alunos foram alcançados pelas lesmas que subiram em suas calças e causaram queimaduras. 

— Não subestimem as lesmas por serem filhotes, elas também machucam e podem ser mais rápidas e astutas do que aparentam. Mantenham o foco e lembrem-se de proteger o colega ao lado de vocês. - dizia o professor enquanto observava pacientemente os alunos entrarem em desespero quando as lesmas subiram em suas calças. 

Em certo momento Maya sentiu que precisava fazer algo ao ver seus colegas tendo dificuldades em enfrentar os animais. Então decidiu usar a varinha que estava em mãos. 

Aqua Eructo! 

Um grande e poderoso jato de água esguichou da ponta da varinha. Maya foi jogada pra trás com a força da água e tentou equilibrar a varinha que se movia loucamente. O jato era tão forte que atingia várias lesmas, jogando-as contra a parede. Alguns alunos também foram derrubados com a força da água. Ao ver que não conseguia controlar a magia, Maya abaixou a varinha para que o feitiço parasse. Ao se levantar percebeu que a sala parecia uma piscina, quase toda inundada. Todas as lesmas estavam se afogando e os alunos ensopados. 

O professor também foi atingido pela água e suas vestes estavam todas molhadas. Ele olhou para Maya e com um sorriso falou em voz alta: Esplêndido! 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


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