Margaery Tyrell: A Rosa Dourada de Highgarden 🌹 escrita por Pedroofthrones


Capítulo 6
Winterfell




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/810920/chapter/6

Os lordes nortenhos, do vale, dos rios e os poucos lordes da tempestade estavam reunidos no grande Salão de Winterfell.

A grande cadeira de pedra dos Stark estava vazia. Jon estava em pé, com a coroa de bronze e espadas de ferro em sua cabeça, a antiga coroa de seu falecido irmão Robb; trazida de volta ao Sul pela irmã de Sansa e de seus tios. Seu irmão mais velho estava mudado; com um ar mais sério e quieto, e com a pele mais pálida. Seus cabelos também estavam grisalhos, talvez pelo estresse de seus anos após sair de Winterfell. Entretanto, que sem dúvida era facilmente marcado como sua mudança mais significativa era seu olho direito; arranhões vermelhos deixaram feridas malcicatrizadas, e o olho cinza e escuro sumira, dando lugar para um olho de obsidiana, detalhadamente bem feito. Tinha um brilho azul fosco, mas agora tinha um leve tom de dourado, graças as chamas douradas das velas do local que refletiam em seu olho falso e escuro.

Rickon estava afastado em seus aposentos, não só pela idade, mas pela selvageria indomável. Era impensável deixá-lo por perto num momento importante como aquele — porém, ele ainda era o príncipe de Winterfell herdeiro de Jon, caso este nunca viesse a ter um herdeiro, como poderiam ensiná-lo a governar se sempre o deixavam longe da política?

Com uma coroa de ouro vermelho em forma de chamas, Stannis Baratheon estava em pé também. Seu rosto era severo, seus olhos azuis-escuro olhavam para o mapa. Sua sacerdotisa vermelha estava fora de vista, mas seu fiel cavaleiro das cebolas estava ao seu lado, como sempre.

Sansa se lembrava de quando o irmão mais velho de Stannis, o falecido Rei Robert I, esteve em Winterfell; lembrava-se de como ele nunca parecia sério, respeitoso... Mas ele ainda era o dito Rei dos sete Reinos.

Stannis, por outro lado, apesar de parecer ser feito de um material mais duro, inflexível e frio, parecia mais respeitável para a alcunha de um monarca do que Jon ou Harry.

Sansa estava ao lado de seu marido, Harrold Hardyng, o Rei das Montanhas — ou Rei do Vale, que era mais correto e mais utilizado —, e Lorde Yohn Royce encontrava-se a sua esquerda.

Mas onde está Petyr?, se questionou, vendo que ele não estava no local. Não gostava de ter ele fora de vista.

Conforme o tio de Sansa, lorde Edmure, falava os olhos cinzas de Jon e os olhos azuis de Stannis seguiam para onde seu dedo apontava.

 — Temos alguns homens em Harrenhal — Disse o tio de Sansa, apontando para o enorme castelo — Ele é o ponto mais próximo de Porto Real. Temos alguns homens lá, mas se pudéssemos enviar mais homens e comida para lá...

 — Não — Disse Stannis — Nossos homens devem guardar o norte. Os intitulados "reis Targaryen" podem esperar.

 — E vão esperar — disse Jon, ecoando com as palavras de Stannis — Nós vamos podemos enviar alguns suprimentos aos homens de Fosso Cailin, no entanto. final, temos de proteger o Sul.

Sansa percebeu que muitos lordes estavam em desacordo.

 — Não acho que os muros caídos e velhos de Fosso Cailin vão ser mais úteis que os de Harrenhal. — disse Stannis — Mas sim, temos que ter alguma defesa.

O tio-avô de Sansa, lorde Brynden interveio:

 — Acho que seria mais útil se nós também protegermos as terras do tridente, ao invés de as deixarmos dando sopa para os abutres do Sul, não acham?

Stannis era impassível:

 — A verdadeira ameaça é ao norte.

 — Contra o que? As histórinhas que sua prostituta vermelha sussurra aos seus ouvidos durante a noite? Eu e meus homens deixamos nossas casas, famílias e reinos para terem medo de contos para assustar crianças?

Jon iria falar, mas Sansa, sabendo do pouco amor que seu tio por seu meio-irmão, decidiu intervir:

 — O norte é o reino mais longe de Porto Real, meu tio — disse a jovem Stark, levantando a mão — As terras dos tridente estão devastadas, o Vale está coberto de neve e clãs da montanha; eu sei que deve ser difícil para o senhor e aos outros valentes lordes e cavaleiros deixarem vossas terras assim... — tentou achar palavras para defender aquelas tolas decisões — Mas, acreditando ou não nas palavras de Stannis e de meu irmão, mas o Norte é um lugar duro e resistente. Deixem que os Targaryen briguem no sul e depois se banqueteiem com as terras devastadas que encontrarem antes do Gargalo.

"Nós vamos estar abastecidos até lá, montando exércitos e tomando os castelo da muralha. Deixem que as neves os matem, enquanto bloqueamos as entradas no tridente"

 — E quanto aos dragões? — O filho de Lorde Blackwood questionou — e se queimarem nossos castelos?

 — Ora — disse Sansa — , já que estão tão seguros de que Os Outros além-muralha não existem, já que não viram nenhum, não vejo porquê teriam medo de animais míticos. Ou, por o acaso, algum de meus lordes viram algum lagarto gigante e cuspidor de fogo voando sobre Winterfell?

Alguns lordes soltaram algumas risadinhas enquanto outros pareceram não gostar da situação.

 — Minha irmã tem razão — disse Jon — , nós devemos agir agora e proteger nosso atual território para nos prepararmos para a ameaça que está por vir; seja ela qual for.

O Peixe Negro pareceu ter alguma coisa para dizer, mas Edmure colocou a mão no ombro de seu tio.

 — Certo, Vossa Graça — disse Edmure — Nós faremos o que formos ordenados para fazer.

Sansa deu um leve sorriso em direção ao seu tio, em um agradecimento silencioso. Os lordes do tridente tinham mais respeito por ele do que Peixe Negro dava crédito.

 — Talvez devêssemos terminar por hoje, Milordes — Disse Jon — Devo conversar com meus colegas monarcas. Vamos nos reunir novamente amanhã, obrigado, meus lordes.

O intendente bateu o bastão no chão para anunciar o fim da sessão.

Os lordes fizeram suas vênias e foram para fora do Salão. Apenas Stannis, Sansa, Harrold, Sor Davos e Sor Yohn Bronze continuaram.

O Peixe Negro parecia ter mais a dizer, mas Edmure botou a mão em seu ombro novamente e o fez repensar e sair.

Sansa deu um sorriso cansado e agradecido ao seu tio, que sorriu de volta.

 — Precisa de sua irmã para protege-lo, Stark? — Desafiou Stannis — Parecia-me ser mais corajoso com a marca da bastardia sobre você.

Esse Rei nunca vai controlar suas palavras, pensou Sansa. Admitia que ele lhe lembrava da Rainha dos espinhos; ambos falariam o que quisessem com quem quisessem.

 — Estava tentando manter os lordes calmos — se defendeu Jon — Funciona melhor que afastarmos eles e pedindo para que eles larguem suas famílias por uma ameaça que eles nunca viram.

Stannis era impassível:

 — A ameaça ao Norte da muralha é a única ameaça que importa.

O marido de Sansa, Harry, soltou um risinho ao ouvir aquilo.

Stannis deu a ele um olhar duro.

 — Parece que o Rei do Vale também precisa que a Rainha Sansa controle-o.

Jon — que nunca gostou do Marido de Sansa — não perdeu tempo:

 — Talvez Sor Harrold tenha alguma solução para os nossos problemas? Visto que ficou calado até agora?

Harrold fez uma carranca.

 — Não vejo em que posso ajudá-los; parece-me que minha linda esposa é mais bem requisitada do eu.

Stannis rangeu os dentes. Até mesmo ele escutava a esposa Selyse e sua feiticeira de Asshai.

 — Vossa esposa pode esquecer o lugar de uma esposa — Disse o Rei Baratheon — Mas é você quem esquece o lugar de um Rei; os lordes do Vale vieram ao norte pela memória do pai de sua esposa e pela memória de lorde Jon Arryn. Talvez se se preocupasse mais com o próprio reino não dependeria de sua consorte.

Harrold fez uma carranca:

 — Os lordes do Vale vieram por mim  — insistiu —  Eu os trouxe para o Norte! Não minha foi a minha esposa, não foi o remelento do meu falecido primo, não foi Petyr Baelish; fui eu!

Yohn Royce soltou um suspiro de horror ao ouvir seu monarca zombar do falecido primo de Sansa. A Stark manteve a postura e fingiu não ouvir; ela não ia dar a Harry o gosto de tira-lá do sério.

 — Quer uma coroa nova por isso? — Questionou Jon — Os lordes do tridente não vieram por você, vieram por Sansa; os lordes da Tempestade derrotaram Ramsay pela minha casa. Os lordes da tempestade também não vieram por você, até onde eu saiba.

O Harrold poderia ter mil e uma respostas para aquilo: que os cavaleiros do Vale estavam em maior número, que os soldados de Stannis eram pouquíssimos, que a maior parte dos suprimentos que eles tinham era graças ao seu reino... Se tivesse ainda mais coragem e insensatez, diria que Jon era só mais um bastardo legitimado.

Mas não importava que Harry usasse uma linda coroa dourada em seus lindos cabelos cor de areia, ele nunca seria um rei. Apenas abaixou a cabeça.

É melhor calado, pensou Sansa, tal qual Joffrey, ele é apenas bom em ser bonito, mas um desastre em todo o resto.

A bem verdade, pelo menos Joffrey teria uma resposta ou mandaria algum castigo cruel à quem o desafiasse; mas Harry não tinha nem mesmo ódio dentro dele.

 — Meus reis e meu lorde Royce — disse Sansa — , se pudessem me dar um tempo a sós com meu irmão?

 — Claro, minha rainha — disse Bronze Yohn, ele era inimigo de Petyr e um dos mais fiéis lordes do Vale; então ela sempre o mantinha por perto.

Harry, por outro lado...

 — Não — respondeu o Rei das montanhas — , não vejo porquê me separar de minha esposa.

Jon parecia pronto para explodir quando Stannis interveio:

 — Você vai — Disse com uma voz simples mas rigida — Existem assuntos nesse mundo em que nem um rei pode se meter; um deles é a relação de irmãos. — ao dizer isso, Stannis deu uma gargalhada aspera —  Acredite, eu sei disso melhor que ninguém.

Harrold poderia ter dito mais, mas deixou ser levado por lorde Royce.

Stannis se virou para Sansa:

 — Sabe, nunca gostei de seu pai, vosso irmão era um traidor que foi contra seu rei, enquanto seu outro irmão se recusou a aceitar minha legitimação... Acho que você tem a mesma garra de sua família.

Aquilo surpreendeu bastante Sansa... Em parte porque não sabia se era um elogio ou uma ameaça.

Stannis se virou para sua mão do Rei:

 — Vamos, Davos — disse — Melisandre logo irá acender outra porcaria de fogueira e terei que fingir que me importo.

Quando os portões se fecharam, Sansa se virou para o seu irmão:

 — Sinto muito por Harry.

Seu irmão deu balançou a cabeça.

 — Se ele está lhe importunando, tenho certeza que podemos resolver...

Sansa fez um gesto com a mão para indicar que isso pouco importava.

 — Harrold não é o pior homem com quem já tive que lidar; muito menos o pior.

 — Não tem mais que lidar com isso, Sansa. Você está em casa agora.

Apesar de já estar em Winterfell há alguns meses, ainda parecia difícil de acreditar nisso.

 — Sim... Eu estou — respondeu — Mas Jon, sobre os lordes...

 — Obrigado pelo vosso apoio...

 — Eles estão certos, Jon.

Ele a olhou com aqueles olhos cinzas por um tempo.

 — Sansa, eu sei que é difícil confiar em mim...

 — Não é problema para mim confiar em minha família —  interrompeu — , o problema em questão é que é difícil para mim convencer os lordes a largarem suas terras por uma ameaça que eles não acreditam.

 — Nós não podemos deixar a ameaça...

 — Quando ela virá? Tem certeza que virá ainda esse ano? Ou nesse século?

Jon bateu os punhos na mesa, fazendo os potes de tinta preta e as velas cairem. Sansa se retraiu e deu um passo para trás, assustada. Seu irmão a olhou, com os olhos desiguais. Seu olho de vidro de dragão brilhava em fúria.

 — Acha que eu não sei o quão rídiculo tudo isso parece ser? — Gritou Jon — Acha que eu não sei o que estou fazendo? Você não sabe o quanto eu me esforcei!

Sansa foi pega totalmente de surpresa pelo ataque de raiva de seu irmão. Jon, ao contrário de Arya, nunca foi dado a ataques de raiva assim.

 — Eu nunca duvidei de suas capacidades. —Disse Sansa, ainda nervosa, mas tentando manter a calma — Eu apenas estou dizendo...

 — O que fazer? — sugeriu Jon de forma sarcástica — Me diga o quê devo fazer, Sansa? Vamos!

 — Como queira.  —  Ignorou o deboche de Jon e aproveitou a brecha.  — Você deve deixar que os lordes do tridente deixem o gargalo e partam para o Sul; pelo menos uma parte deles. Siga o plano de Brynden e Edmure e vamos usar Harrenhal como nossa principal sede no sul.

 — Fosso Cailin é nossa principal sede no sul, se o restante do Norte cair...

 — Se o restante do Norte cair — interrompeu Sansa — ,  precisamos que o restante do nosso reino esteja seguro. Fosso Cailin nem precisa de tantos homens assim.

Ela não conseguia entender, por qual motivo seu irmão havia deixado de lado o restante do mapa? Ele e Stannis pareciam preocupados demais com o que poderia vir, e não com o que iria vir para ataca-los.

Os escuros olhos cinzas a analisavam.

 — Jon, nós temos três reinos. Não podemos favorecer apenas o Norte, ou os outros irão nos abandonar.

 — É sempre assim — disse Jon, se virando e indo até a lareira no centro do salão — ; Não importa o quanto eu me esforce, nunca será o bastante.

Sansa foi até o irmão.

 — Por favor — pegou a mão de seu irmão, fazendo-o se virar — , confie em mim. Não faça como Robb e se perca em seu objetivo e esqueça o resto.

Seu irmão afastou sua mão e cruzou os braços.

 — Está bem — respondeu — Falarei com Stannis.

 — Ele não vai gostar — avisou Sansa, mesmo que seu irmão já devesse saber — , mas terá que ceder, pelo menos dessa vez. Nosso número de lordes é maior; ele precisa de...

 — Ele não vai gostar — interrompeu Jon, parecendo não gostar que Sansa dissesse coisas que ele já sabia — Mas ele me disse uma vez que um verdadeiro governante deve proteger o reino para ser digno.

 — Acha que ele vai concordar então?

Deu de ombros.

 — Se ele achar que Daenerys e seu dito sobrinho forem uma grande ameaça... — Ele franziu o cenho — Acha que essas histórias de três dragões são verdadeiras?

 — Não achava que Gigantes eram reais, até ver um entre os seus selvagens — respondeu — mas não, não sei se acredito. Todavia, os dothraki, imaculados, a companhia dourada com os seus enormes elefantes de guerra e todo o exército vermelho devem servir.

Seu irmão voltou para a mesa no centro do Salão e se sentou no cadeirão de pedra dos Stark. Quando se sentou, a coroa em sua cabeça parecia esmagar seus ombros.

 — Me desculpa pela explosão, irmã. Não tenho... Andado muito bem.

Está tão estranho que nem deu falta de Arya.

 — Tudo bem — fez uma reverência — deixarei você pensando em seus planos em paz... Mas, Jon?

 — Sim?

 — Acho que é importante que meu tio Edmure e o Peixe Negro protejam o tridente.

Jon anuiu, mas franziu o cenho.

 — Concordo, mas Peixe Negro era o braço direito de nosso irmão e parente de vossa mãe; quer mesmo deixa-lo para o Sul? E Edmure?

Sansa tinha seus motivos.

 — Peixe Negro provou seu valor em batalha antes — Argumentou Sansa — E ele é o mais ferrenho da ideia de protegermos o Sul, então que ele a comande.

Seu irmã assentiu, claramente feliz de se livrar de Peixe Negro.

Sansa saiu e fechou a porta atrás de si.

Enquanto estava andando pelos corredores de Winterfell, recebendo algumas reverencias e elogios de diversos lordes, seu marido Harry entrou no seu caminho.

 — Esposa — disse Harry, friamente, enquanto estendia o braço para ela.

Sansa forçou um simples sorriso e fez uma simples vénia e passou um braço por baixo do dele.

 — Marido.

Eles passaram pelos corredores, enquanto lordes e empregados lhe faziam reverências profundas. O Rei do vale vazia gestos de agradecimento com a cabeça. Estava estranhamente quieto.

Harry abriu a porta de seus aposentos para que sua esposa entrasse e a seguiu logo atrás.

 — Saiam — ordenou Harry para as empregadas.

Elas fizeram vénias profundas e se dirigiram a porta. Quando sairam, ele fechou rapidamente atrás delas.

 — Viu lorde Petyr? — Perguntou Sansa, ignorando o nervosismo do marido.

 — Não, o que tem ele?

O que lorde Petyr pode estar aprontando?

 — Ah, nada. Geralmente ele sempre está por perto.

Seu marido deu um sorriso travesso para ela.

 — Ora, espero que não mais próximo que eu, não, é?

Como se atreve!?

 — Não comece, Harry — ela não ia se fazer de cortês. Não ali, e não com Harry.  — Fale logo o que quer.

Harry riu.

 — Ora, aí está a loba de Winterfell! — Cruzou os braços — Sempre se fazendo de certinha na frente dos outros; guardando o que pensa para si.

 — Chama-se "cortesia", devia tentar qualquer dia. Seria um rei mais amado.

O sorriso de Harry Morreu.

 — O que você e o bastardo do seu irmão estão tramando?

 — "tramando"? — Repetiu confusa.

 — Não. — Disse irritado — Não se faça de tola, não comigo, Sansa. Comigo isso não funciona!

Deuses, o que deu nele?

 — Harry — tentou acalma-lo — , estavamos discutindo o que fazer, só isso. Não via Jon há quase quase cinco anos, é de se esperar que sejamos próximos agora!

 — Seu irmão era um bastardo — ele respondeu sem rodeios — , vai me dizer que eram melhores amigos?

Ele tinha razão, Arya era a mais próxima de Jon, não Sansa. Mas Harry não tinha como saber.

 — Não me conhece, Hardyng! Não pode dizer nada sobre a minha vida!

 — Tem razão — ele admitiu — , tudo que saiu de sua boca desde que nos conhecemos era mentira. Até o seu cabelo era uma farsa.

Sansa corou ao se lembrar de sua época como Alayne Stone.

 — E seu outro irmão, Rickon? Tem o visto.

Sansa se calou. Seu irmão mais novo era um desafio; sempre com aquele lobo selvagem perto dele... Ela já não reconhecia.

Jon também estava mudado. E Arya...

Sou uma estranha em minha própria matilha.

 — Rickon é diferente, ele...

 — Onde está Arya?

Aquilo pegou ela de surpresa. Abriu e fechou a boca, sem saber o que responder.

Agora ele fala dela? Sempre a evitou e agora é o único que lembra dela?

 — O que tem Arya? Está por aí, como sempre.

Mas era tarde demais, sua lentidão não iria convencê-lo.

 — Ela nunca sumiu tanto tempo... — disse Harry, pensativamente; parecia falar mais para si mesmo — o que vocês duas estão aprontando?

 — Não sou obrigada a...

 — Sim, você é — Disse Harry — É minha esposa, lembra? Tem seus papéis para cumprir. Seus deveres.

 — Deveres? — repetiu irritada — É você quem nunca fala nada das reuniões, apenas abana a cabeça; você nunca dá ordens, nem faz alianças... Às vezes nem assina os papéis! — o ódio subia pela sua garganta — Não venha reclamar por se sentir intimidado por mim, nem insinuar que me encontro com outras pessoas, quando você nunca ajuda em nada, prefere beber e ir caçar as moças da corte!

 — Ah, então é isso? — Harrold deu alguns passos até ela, rindo com escárnio. — Você está com ciúmes por eu preferir uma puta de taverna do que você, Milady? Que prefiro mulheres com calor entre as pernas ao invés de gelo? É isso que atormenta meu passarinho?

Sansa sentiu a ira subindo e tomando conta de si, estava quase o esbofeteando. Se fosse a Arya, já o teria matado.

 — Pode fazer o que quiser, Harry — Disse Sansa, se virando e indo até a sua penteadeira. — Não me importa que você vá se divertir com moças que são pagas para lhe agradar. Não é o primeiro homem a fazer isso.

Entretanto, para a sua surpresa, seu marido a pegou pelo braço e a fez se virar, com força abrupta. Nunca tinha feito isso antes.

 — Pois deveria — ele avisou, irritado e apertando seu pulso. — Elas, pelo menos, podem me dar um filho ou dois, mas e você? Depois de tanto tempo, não me deu filho nenhum e ainda me evita!

Sansa tentou se soltar, mas era inútil. Lembrava-se de fazer o mesmo com sua tia Lysa. A memória do portão da Lua e a sua quase queda voltava para ela.

 — Você é fria, Sansa Stark — disse Harry. — Tão fria e infértil quanto a própria muralha de gelo.

Ela puxou o braço e isso rasgou a manga de seu vestido.

A respiração de Sansa estava ofegante. Ela ergueu um pouco o braço e viu que a sua manga estava totalmente rasgada. Seu pulso tinha hematomas vermelhos onde Harry agarrou.

 — Olha o que você fez! — ralhou, furiosa.

Harrold olhou para o tecido rasgado por um instante, mas nem deu atenção, voltando suas atenções para Sansa.

 — Saia do meu quarto! — Gritou Sansa. Estava farta de seu marido. — Saia, agora!

Harry estava com um olhar tão furioso, que ela achou que ele realmente iria lhe bater por gritar com ele, mas logo pareceu ficar frio.

 — É claro, esposa — ele disse — vou deixa-la com seus próprios problemas.

 — O único problema que eu tenho aqui é você... — rebateu Sansa.

 — Será? — ele deu um passo para frente.

Sansa deu um um passo para trás, desconfiada. Seu Rei colocou uma mão em seu queixo e o levantou, para fazê-la olha-lo nos olhos.

 — Sansa Stark, a lady perfeita — zombou Harry — Sabe cantar, bordar, ser cortês e amigável... Mas é simplesmente incapaz de sair das sombras dos irmãos ou de cumprir o dever básico de uma esposa com seu marido.

Ele deu um beijo frio em sua bochecha.

 — Fique com pesares — sussurrou Harry em seu ouvido — Isso é algo do qual você nunca vai se livrar; seja como Alayne, como Sansa... Estando no Sul ou no Norte...

Ele se virou e saiu. Deixando-a sozinha.

Ela suspirou.

Retirou o vestido de lã rasgado e o colocou no fundo de um dos seus baús; não gostava de Harry, mas se seu irmão Jon soubesse daquilo era capaz de mata-lo.

Puxou uma corda para tocar um sino e chamar as empregadas novamente. Não conhecia nenhuma delas, pois quase todos que conhecia em Winterfell estavam mortos.

Queria que Jeyne, Myranda, Mya e Arya estivessem aqui.

Myranda ficou como chefe do Castelo Neve enquanto Harrold, Sansa e os outros lordes estivessem no Norte. Mya, ficou no Vale junto com ela, cuidando dos estábulos.

Sansa tratou de mandar Jeyne para o Vale. Sua colega estava traumatizada demais para ficar na corte do norte, ainda mais em tempos de guerra.

Mas se lembrava do estado dela: chorosa, fraca, sem nariz... Ela se lembrava do horror de Jeyne ao ver Petyr.

 — Você não pode confiar nele — disse Jeyne — Ele me vendeu aos Bolton, Sansa. Ele não está realmente do nosso lado.

 — Eu sei — Sansa segurou a mão de sua amiga — Vou fazê-lo pagar, Jeyne. Ele vai pagar por tudo o que nos fez, eu juro.

A jovem abraçou a Stark. Estava tremendo, mas não achava que fosse pelo frio.

 — Venha comigo — implorou Jeyne, sussurrando em seu ouvido — Vamos para o Vale e esquecer tudo isso.

Sansa afastou a jovem e a segurou gentilmente nos ombros.

 — Não posso. Minha família precisa de mim. Este é o meu lar, Jeyne.

A jovem não pareceu feliz com a resposta.

 — Então... Isso é mais um adeus.

 — Não — prometeu Sansa — Nós nos veremos novamente, quando tudo isso acabar. Eu prometo.

A jovem deu um sorriso triste. Ela não devia acreditar em sua palavra.

 — Se é o que diz, Sansa.

O cabelo de Jeyne estava coberto de neve, assim como o de Robb estava na última vez que o viu. Sansa deu um sorriso triste.

 — Cubra a cabeça com o capuz. Vai acabar pegando um resfriado.

E Arya já havia partido de Winterfell há alguns meses; pouco depois da partida de Jeyne.

A última vez que a viu, estavam no bosque sagrado, onde ninguém iria ver o que três mulheres planejavam. Apenas os olhos do represeiro as observava.

 — Jon não deve saber — disse Sansa — Ele nunca permitiria...

 — Concordo — disse Arya, não parecia se importar com a tarefa que elas combinaram.

 — Arya — disse Sansa — , isso é sério.

A irmã deu de ombros. Continuava petulante, porém muito mais calma do que ela era antes.

 — Gendry já preparou algumas coisas — respondeu a irmã mais nova.

 — Acha mesmo que pode confiar nele?

 — Não tenho motivos para duvidar dele. Embora eu pudesse ir sozinha.

Dessa vez, foi a mulher vermelha quem respondeu:

 — Você deverá ir acompanhada — disse Melisandre, com seu pesado sotaque de Asshai — É muito perigoso.

 — Que seja — disse Arya, claramente não gostava da mulher do deus vermelho.

 — Seja cautelosa — disse Sansa, não conseguia deixar o nervosismo de lado — faça apenas o que precisa.

A jovem Stark se virou para a alta mulher ruiva.

 — Tem certeza do me diz?

A mulher vermelha assentiu.

 — Vossa amiga está cercada de dragões e perigo. Eu a vi em minhas chamas.

Sansa não sabia se deveria concordar com aquela mulher misteriosa; ela era aliada de Stannis, mas sua fé estava apoiando Daenerys e Aegon... Por que ela se importaria com Sansa e Margaery?

Ela apenas quer convencer. Não se importa comigo ou com Margaery; apenas com minha confiança e apoio.

Jon havia dito que havia poderes na mulher vermelha e que ela o ajudou quando precisou. Talvez de devesse dar um voto de confiança...

Sansa assentiu ao ouvir as palavras das visões da moça vermelha e se virou novamente para Arya. Quer a moça estivesse falando a verdade ou não, o plano ainda poderia ser útil.

 — Você vai para Porto Real — disse Sansa — , vai tentar resgatar Margaery e suas primas. Se conseguir, teremos reféns e motivos para Highgarden nos apoiar, mas se fracassar...

 — Não vou — prometeu Arya. — Vou resgatar sua estúpida amiga e matarei os dois novos usurpadores.

 — Você dificilmente vai conseguir isso, Arya — disse irritada, já haviam discutido isso — Não tente nenhum absurdo maior!

A jovem irmã a olhou com aqueles olhos cinzas petulantes.

Algumas coisas nunca mudam, pensou.

 — Como queira — disse Arya, fazendo uma reverencia zombateira — , minha Rainha.

Antes que Sansa pudesse reclamar da zombaria, Melisandre tirou um rubi de uma de suas mangas, parecido com o que tinha no pescoço, e entregou para Arya.

 — Caso encontre a pequena flor — disse a feiticeira — dê isso a ela.

Arya pegou o rubi e tirou das pálidas mãos de Melisandre.

 — O que é? — Perguntou Arya, inspecionando o  objeto.

A mulher vermelha riu.

 — A pequena loba não é a única a brincar com as artes de enganar os olhos de quem vê.

A jovem a olhou desconfiada.

 — Certo — disse a jovem Stark enquanto guardava o rubi — Então está na hora de voltar as garras do Leão.

Quando a jovem se virou, Sansa a pegou pelo ombro e a fez se virar.

 — Tome cuidado — Pediu Sansa — Você é a pior irmã que uma jovem poderia ser, mas ainda é minha irmã. Não quero perde-la novamente.

A jovem deu um meio sorriso e assentiu.

 — Como quiser, minha rainha.

E ela sumiu entre os arbustos do bosque sagrado.

Sansa se virou para Melisandre:

 — Você falou com Arya muito antes de mim — disse Sansa — E imagino que já sabia de Gendry.

Melisandre assentiu.

 — Sor Davos também — revelou. — Ele não gosta de mim, mas fará tudo por seu rei.

 — O que você quer?

 — Quero ajudar o Deus da Luz — Ela respondeu.

A mulher vermelha se virou para a grande arvore coração.

 — Uma vez, eu e o meu rei tentamos fazer seu irmão queimar essa preciosa árvore. Assim como queimei o represeiro em Ponta Tempestade e os sete do Septo de Pedra do dragão.

Sansa ignorou aquele insulto à fé de seu falecido pai e falecida mãe.

 — Se conseguirmos ganhar a guerra — Disse Sansa — Vou fazer de tudo para que possa queimar o grande Septo de Baelor. Pode até queimar seus pardais junto dele.

A mulher vermelha se virou ao ouvir aquilo, tinha um sorriso travesso em seus lábios e um brilho em seus olhos vermelhos.

 — Não ama os sete?

Antes, amava aquele Septo assim que o viu; sendo uma das coisas mais belas que seus olhos já viram...

Mas isso foi até Joffrey macular os seus belos degraus de mármore com o sangue de seu pai.

 — Se se provar útil — disse Sansa, sentindo o peso da Coroa — Eu posso apoiar a sua fé, desde que respeite as outras; não farei oposição nenhuma ao meu irmão.

 — Tudo isso por sua amiga, Margaery? — Perguntou a mulher vermelha, parecendo ficar curiosa com tudo aquilo.

Margaery foi quase uma irmã para ela... Mas a largou após o casamento de Tyrion. Ficaria feliz em ajudar a jovem donzela; mas estava preocupada em salvar a sua família.

E talvez Arya me entregue a cabeça de Cersei, isso era até mais tentador do que salvar Margaery ou matar os usurpadores.

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Margaery Tyrell: A Rosa Dourada de Highgarden 🌹" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.