Quando ela acordou, um homem com uma máscara de metal a tratava. Ela se afastou assustada.

—-Quem é você? O que faz em meus aposento?

—-Seus aposento?--O homem riu. Tinha um sorriso vermelho. Deve ter mascado muita folhamarga--Minha jovem, esse aposento é a sua cela. Feita para o seu padrão de Nascimento. Acima das outras celas.

—-Celas!?

Foi então que se lembrou. A fuga, a queda de Megga, as cartas... O riso de Cersei e Varys ecoaram em sua mente.

—-Quem é você?--Ela perguntou novamente.

—-Sou o arquimestre Marwyn. Vim aqui para tratar de você. Já faz três dias que você está aqui.

Arquimestre. Sim, de fato. Agora ela via que ele utilizava uma corrente no pescoço. Ele tinha um anel na mão e havia bastão deixado de lado na parede. Ambos eram de aço valiriano. Assim como sua mascara.

—-três... Três dias?--Ela questionou atordoada.

—-Febre, pulso fraco, tosses excessivas e sangue...--ele disse, colocando suas poções em uma pequena bolsa--Já estava para morrer, praticamente. Daenerys me enviou aqui para salva-lá e foi isso que fiz. Ela sabia que apenas eu seria capaz de tal feito. De nada.

—-Minhas primas...

—-Não tenho que lhe dizer nada--Ele disse, sem nem olhar para ela e pegando em seu bastão.

Ela tentou ir atrás, mas sua cabeça estava explodindo e seu corpo se retorceu em dor e ela caiu da cama.

O arquimeistre saiu e uma jovem das ilhas do verão e um jovem com pele de ambar vieram para ajuda-lá a se levantar.

Ela sentiu vontade de repudia-los, mas o que poderia fazer? Estava caída e fraca precisava de ajuda para se levantar.

Um deles lhe trouxe uma taça de água e depois deixaram-na. Os imaculados que faziam guarda em sua porta cruzaram as lanças após eles saírem, fazendo um grande "X".

Depois de beber a água e parar para pensar, ela começou a refletir sobre o que aconteceu.

O Alto septão a traiu. Ela acreditou que um fanático como aquele jamais teria a capacidade de aceitar reis que traziam consigo outra fé. Mas estava enganada.

Mas e Tommen? Ele havia sido enganado também? Se sim, por qual motivo Cersei ria livre enquanto Margaery era presa? E Varys? Ele tramou tudo também?

Será que tiveram a coragem de soltar a Megga daquela altura? Ela é só uma garotinha, pobrezinha...

Pouco tempo depois, os servos vieram e deixaram comida, mesmo ela falando que não queria.

Ela tentou resistir. Não queria comer nenhuma comida de Essos, dorne, e nem nada que aqueles usurpadores oferecessem... Mas estava com tanta fome e se sentia tão fraca. Devem ter alimentado-na com mingau enquanto dormia.

Ela comeu tudo. Os figos, os limões, as laranjas, as pimentas; o frango, o peru e o peixe bem gordo, todos recheados com açafrão e mostarda. Comeu as espigas de milho assadas, junto com todos os outros tipos de grãos e as maças cozidas. Até comeu as pequenas frutas cristalizadas e a cobra assada de Dorne. Tiveram até que lhe trazer duas safras de vinho de Asshai para ela, pois, por mais que odiasse admitir, era o melhor vinho que ela já provou; por mais que a cada gole, ela tinha medo de engordar como Cersei.

Aquele vinho exótico e estranho fazia Margaery se sentir estranhamente inchada a cada gole. Olhou para os seus dedos viu que não era apenas impressão. Estava realmente ficando inchada com aquele vinho escuro.

Ela acabou vomitando quase tudo na liteira logo depois. Bebeu e comeu tudo muito rápido.

Ela foi até sua cama. Olhou para a janela com grades. Ainda era noite. Achou estranho, pois já tinha acordado fazia um bom tempo e a escuridão permanecia. Na verdade, poderia jurar que era a mesma noite que tentou escapar, pois naquela noite, a luz era sugada pelas trevas. Até as enormes velas e lâmpadas chumbadas pareciam mais fraca naquela escuridão.

Após ter se deitado, ela foi acordada por alguns serviçais de... Bem... Ela nem imaginava de que parte de Essos vinham. Mas eles lhe deram banho e a vestiram. Achou melhor não protestar.

Pouco tempo depois, a princesa Arianne entrou. Atrás dela, seu fiel cão-bastardo sor Daemon e uma outra dornesa de trinta anos. A moça mais velha quis entrar, mas a princesa de dorne a impediu, e apenas ela e Daemon adentraram.

—-Princesa--Disse Margaery, secamente. Não devia mais nada para aquela víbora de saia.

—-Lady Margaery--Ela se sentou na poltrona à sua frente--Estão lhe tratando bem?

—-Ah, me poupe!--Disse sem rodeios--Diga-me, o que quer? Se vangloriar? Me insultar? Fale o quer logo e depois saia com seu cachorrinho bastardo para longe.

Sor Daemon conteve qualquer sugestão de ira e chutava o ar, para se distrair e talvez para fingir que não estava escutando.

Arianne se remexeu desconfortavelmente na cadeira.

—-Eu vim aqui lhe explicar a sua situação.

—-Então explique e saia. Volte para os demônios que chama de rei e rainha.

A serpente dornesa poderia falar o que quisesse para Margaery, ela já estava farta de tudo aquilo e esperava o pior.

—-O exército de seu irmão foi derrotado.

Aquilo foi um golpe certeiro em Margaery; na sua cabeça nem teria qualquer exército. Ela deu um suspiro horrorizada e o medo tomou conta dela.

—-Eles nunca tiveram chance-- Continuou Arianne-- Montaram um acampamento de guerra perto das montanhas; mas o exército das terras da tempestade se revoltaram numa noite, junto com...

—-Sim?--Ela não conseguia mais fingir indiferença.

—-Os Fossoways e os Florents que fingiram estar aliados com Garlan os ajudaram. Eles tramaram tudo... Conosco....

Os Fossoway? Não... Não era possível. Eles eram seu vassalos. A esposa de Garlan era uma Fossoway. Nunca se revoltariam por Aegon...

—-Eles fizeram isso, pois os dois ramos tinham medo que o Bastardo Florent da companhia pegasse suas terras---Explicou Arianne, ao ver que Margaery não tinha mais palavras---E o Florent apenas fingiu se aliar a Garlan e lhe dar o castelo para depois traí-lo e entregá-lo para o trono de ferro.

Margaery percebeu a visão ficar borrada e piscou para expulsar as lágrimas indesejadas. Seu queixo tremia.

—-Meu irmão... Lorde Garlan...

—-Eu sinto muito--O olhar que Arianne lhe dava, era como se ela fosse um animal sofrendo, que estava preste a ser sacrificado--, mas ele foi morto covardemente por lorde Florent, pouco antes do ataque. Estava dormindo em sua tenda, nunca teve chance.

—-Dormindo?--Aquilo era inaceitável. Garlan era o filho de Lorde Mace Tyrell. Ele liderou a tropa junto com Loras e expulsou Stannis. Garlan até usou a armadura de Renly e fez muitos pensarem que era um fantasma. Ele treinava desde jovem com a espada, lutando sozinho contra dois ou três inimigos.

Era para ele ser um Herói. Era para ele crescer e ter inúmeras canções sobre ele. Sobre sua bravura. Não apenas a de um fantasma de um falso rei. Ele merecia mais do que aquela morte covarde.

Ele merecia mais do que ser morto covardemente enquanto dormia... Merecia pelo menos o direito de empunhar a espada mais uma vez e mostrar toda a sua habilidade e coragem.

—-Os florent terão suas terras salvas?--Perguntou, ignorando as lágrimas no rosto.

Arianne negou com a cabeça.

—-Lorde Florent já trocou de rei pela terceira vez. Matou Garlan de forma covarde e enquanto estava a dormir. Matou-o pois queria agradar o rei. Mas fez o contrário e cavou a própria cova. Areo Hotah o decapitou como punição.

Aquilo devia fazer ela se sentir feliz. Mas se sentia morta demais para sequer se importar.

A princesa dornesa esticou uma mão para tocar a sua, mas a jovem afastou a mão e perguntou:

—-Então as terras vão para os Tarly? Aqueles que já estão apoiando o quê? O quarto rei? E para aumentar as terras?

Arianne corou:

—-Sim...

—-E o que acontecerá com meu irmão? Meu irmão mais velho, Willas, o que acontecerá com ele? que acontecerá com minha família?

—-Seu irmão...

—-Vai se casar com a princesa de Dorne---Disse Sor Daemon, secamente.

A princesa o olhou furiosa, mas teve que assentir.

—-É verdade... Não existe mais Campina. Existe apenas Dorne maior. Seus parentes capturados serão levados para Dorne.

Margaery deu um sorriso amargo.

—-Oh, que bom para você, princesa. Minha família é derrotada e perdemos nossos títulos, mas você e sua família irão ganhar mais terras, e muito mais férteis! Que triunfo para os Martell!

A princesa pareceu terrivelmente ofendida com a acusação.

—-Margaery, por favor... Eu nunca concordei com isso. Apenas fiz o que fui mandada fazer.

—-Espera que eu acredite em você?

—-É verdade! Foi tudo um plano de Varys, ele queria provar sua lealdade para Daenerys, a única que desconfiava dele, e você piorou tudo irritando o rei, falando que era Daenerys quem comandava. Por que raios você e sua família tinham que cair na armadilha!?

—-Achava mesmo que nós aceitaríamos dois usurpadores sem fé em nossas terras!?

—-Que eu me lembre---desafiou Arianne---Sua casa ganhou justamente as terras que comandavam dobrando os joelhos e deixando o resto arder!

—-Como se atreve!?--Se a taça a taça de Margaery estivesse cheia, teria jogado o conteúdo dela na cara daquela princesa atrevida--Que eu me lembre, sua casa lutou mesmo entre as chamas contra Aegon, o conquistador!

—-Os tempos mudaram; não foi Aegon quem matou minha sobrinha e nos fez achar que esmagou o crânio de meu sobrinho; não foi Aegon abusou de minha tia, Elia Martell; não foi Aegon quem levou os sete reinos numa guerra inútil e esgotou todos os suprimentos para defender um reino que não era dele... Ou que armou a fé e quebrou o direito do hóspede. Quer mais? Exemplos são o que não faltam.

Com a fúria tomando totalmente conta de seu corpo, Margaery se levantou abruptamente da cadeira, não tendo mais as mesmas dores de antes.

—-Foi Daenerys quem derramou ouro no próprio irmão! E matou o seu irmão, Quentyn, até onde eu sei!

—-Você não sabe do que fala! Não sabe como ela e eu temos tentado lhe ajudar!

—-Eu não quero mais nada de você e da sua rainha estrangeira! E dúvido muito que possam fazer qualquer coisa boa por mim!

—-Ela e eu estamos tentando manter sua vida!

Aquilo pegou ela de surpresa. Deixando-a em alerta.

—-O que quer dizer...?

—-Quero dizer que quase todos no conselho a querem morta. Tyrion está irritado, pois você revelou para todos que ele mentiu sobre Joffrey. Agora, a fúria dele contra você é assustadora!

—-Ele leu a carta?---Perguntou assustada, caindo sentada na cadeira. Nem sequer tinha pensado nesse detalhe.

Não, não, não...

—--É claro que ele leu. Todos nós lemos. Os reis não gostaram nada do que você escreveu...

—-Eu estava com medo e assustada!---Disse, não era mentira. Mas estava mais assustada agora. A morte poderia ser uma misericórdia naquele momento--Estava com medo e sozinha, não falava por mim. E aquele alto Septão me enganou! Ele e aquela falsa septã, devia ser alguma espiã de Varys disfarçada.

Arianne desviou o olhar para Daemon.

—-Princesa, conte. Ela merece saber antes que o pior aconteça.

—-Saber o quê?---Ela questionou. Mas de fato, nem ela sabia se queria saber.

—-A jovem septã--disse Arianne, se virando para ela---, ela é filha de meu tio, Oberyn. Se chama Tyene.

—-O quê...?--Perguntou sem entender.

—-Foi ela quem convenceu o Alto septão a entrar nesse esquema com Varys. Eu juro que fui contra, mas ela é muito confidente dele. Ela é quem o convenceu sobre Aegon. Agora está fazendo de tudo para tirar o poder de Highgarden.

—-Sua família me destruiu...--Disse com amargura e nojo---São serpentes, todos vocês...

—-Por favor, eu juro. Eu falei para ela não fazer isso, eu nem sequer imaginava que ela havia falado com você até poucas noites antes de sua falsa escapada.

—-Foi ela? Foi ela quem deixou minha prima cair?

—-Não! Foi um acidente, eu juro!

—-Tal qual o de Myrcella?

Aquilo fez lágrimas pularem dos olhos de Arianne:

—-O que houve com Myrcella foi minha maior vergonha... O agressor dela já pagou. Já não estou livre dessas acusações?

—-Foi o mesmo que matou sor Balon?--Questionou--Ou sua querida família cuidou dele?

A princesa de Dorne pareceu ter suas forças esgotadas.

—-Foi Obara e Areo--Disse tristemente--Eles o mataram pouco depois de derrotarem Darkstar. Ela é a moça que me acompanhou até aqui e não deixei entrar. Estava querendo tirar glória de sua derrocada e a retirei.

—-Obrigada por sua piedade---Disse, sem vida na voz--O que houve com megga? E as outras?

—-Estão nos aposentos de sempre. Megga quebrou umas costelas mas passa bem. As pessoas que a servem são de Essos e septões e septãs tem horários para rezas rigorosas e mais longas. E, como penitência religiosa, septão lhes tirou as jóias e vestidos; agora elas vestem lã grossa. Elas ficarão aqui, Margaery. Não vão para casa. O rei e o Septão não querem isso.

—-E como elas estão?

—-Tristes. Sem vida no olhar. Não cantam, não costuram e, quando não rezam, ficam apenas perto da lareira pelo frio e esperam o dia acabar. Nem se atrevem a ficar no banco da janela... Que já foi selado, pois, além de temerem uma invasão, não seriam as primeiras a tirar a vida pulando de uma torre da fortaleza.

—-Elas não tem contato com ninguém?

—-Os pais logo estarão aqui, mas só por um tempo. Eles irão para Dorne ou para Campina quando acharmos bons casamentos para elas, mas o Alto septão quer elas aqui até lá.

—-Por quais motivos?

—-Ele acha que são mulheres ambiciosas e que não sabem o seu lugar. Que podem fomentar rebeliões e que merecem vigia e penitência. O rei não quer irritar a fé e dança conforme a música. Mas Mathis Rowan parece discordar.

—-Mathis Rowan?

—-Ele tem tentado fazê-los mudar de ideia. Ele até disse que poderia ter você e suas primas como reféns, mas nada.

—-Imagino que Tarly não seja assim...

[C]---Ele parece odiar tudo que usa saia, para ser sincera.

—-E cersei?

—-Daenerys e Tyrion a querem morta. Mas o rei não está seguro disso...

—-Cersei estará viva e eu posso ser queimada!?

—-Ele sabe que ela foi horrível, mas tem cooperado. Ela foi quem disse que ajudaria no plano e deu a ideia de Tommen lhe entregar a carta.

De fato, a maior víbora dos sete reinos. Pelo menos esse título ela nunca perderá.

—-E os outros crimes dela? E as rebeliões do Oeste?

—-Margaery, não existem rebeliões no Oeste. Era tudo mentira. O Oeste largou Cersei e seus filhos, as cartas para sua família eram apenas uma prova de sua lealdade conosco. Cersei abriu mão de sua coroa, a legitimidade de seus filhos.

Aquilo era mais um golpe. Era tudo mentira? Nada do que sabia era real? Sua família inteira podia estar morta e eles não lhe diziam.

—-E como isso ajuda? Ela já está perdida mesmo!

—-Sim, mas rei não quer matar simples crianças. E Daenerys também não. Os dorneses tem apreço por Myrcella, ela é amiga de Trystane e de minhas primas. Ela e sua família virão para Dorne. Cersei tem uma cela especial em lançassolar

—-Só querem matar a mim...--Disse sem rodeios--Eles são tolos? Cersei nunca irá aceitar isso. Tem alguma coisa aí...

Arianne balançou a cabeça.

—-Ela está acaba, Margaery. Ela já não pode lhe fazer mal algum. Não vai mais machucar ninguém.

Então vocês não a conhecem. Tolos, estão botando a corda no próprio pescoço.

Margaery também não achava que Cersei poderia ser tão cruel e diabólica antes. Mas nunca mais cometeria esse erro novamente. Nunca.

Sansa tinha lhe avisado sobre Cersei e Joffrey, mas ela não lhe dera ouvidos...

Foi então que se lembrou.

—-E o norte?--Perguntou. Talvez algo ao norte pelo menos poderia mudar sua sorte, embora fosse improvável.

—-A lady Sansa enviou uma carta em sua defesa. Não sei como ela sabe. Moqorro diz que deve ser a Melisandre e Aegon acha que Mindinho tem espiões aqui; mas não entendo como uma carta do norte chegou tão rápido. Ela teria que enviar antecedência, e não parecia ter certeza se você já teria sido presa ou não. Nem os motivos para a prisão.

—-Sansa enviou uma carta?

—-Sim. Os três reinos ao norte parecem estar quietos e ignoram qualquer coisa a sul das terras dos rios. Nem lorde Stannis parece mais interessado no trono.

—-Lorde Stannis está vivo?--Arianne assentiu para sua Surpresa.

—-Era uma armadilha. Ele se fez parecer de morto e derrotado na batalha contra os Bolton. Os boatos variavam bastante, mas sim. Ele está vivo. Apenas demoramos para ter certeza e não lhe falamos nada.

[--E como ele permite que três Stark...?

—-Não sei--Interrompeu Arianne--Parece que alguma coisa fez os lordes do Vale e das terras do tridente largarem suas terras e irem para o norte. Entregaram todo campo ao que parece. Só sabemos que alguns dos Frey e dos Lannisters morreram no casamento em Riverrun de Daven lannister, graças aos foras-da-lei; depois foram atrás do restante que não estavam presentes. Nem os bebês escaparam.

Margaery ignorou totalmente a última parte.

O que seria capaz de fazer com que Lorde Stannis e os Stark deixassem qualquer inimizade de lado? Seriam os dragões ou outra coisa?

Uma ventania bateu contra a janela e Margaery sentiu um arrepio na nuca.

A princesa Arianne se levantou.

—-Eu não tomarei mais o seu tempo...--Começou a dizer, enquanto se virava para a porta.

Desesperada, Margaery se levantou abruptamente, ignorando a dor nas pernas, e a garrou pelo braço.

—-Você não pode confiar nela--Disse Margaery--Ela queimou seu irmão. Ela deixou cinzas em Essos.

—-Margaery, por favor... Não foi isso que aconteceu...

—-Não foi? É isso que diz para si mesma? Olhe para a realidade, Daenerys é instável e perigosa. Ela destruirá a Campina e fará o mesmo com os outros reinos e exercerá a fé dela. Deixará ela no trono de ferro? Deixará ela escapar impune?

Arianne não disse "você está errada" ou "ela não é o que você pensa"; apenas disse:

—-Ela é esposa de Aegon--Disse com medo nos olhos. margaery sabia que ela também tinha medos e dúvidas.

—-E se Aegon tiver outra rainha? Uma que não lhe imponha medo e nem o faça parecer menos legitimo?

Ela soltou calmamente o braço da Martell. A semente da dúvida estava plantada.

—-Princesa--Disse, fazendo uma reverência.

Depois que a princesa e seu bastardo passaram pela porta, a outra Dornesa que esperava do lado de fora segurou as grades após a porta se fechar e sorriu.

—-Eu pensava que passaria Vilavelha no archote, mas no fim, foi você quem começou o incêndio.

—-Obara!--Repreendeu Arianne, puxando-a para longe--Já chega!

A dornesa de cara enviesada pareceu ainda ter muito a falar; porém deu ouvidos a prima e virou seus calcanhares e deu passos largos para o corredor. Os outros dois a seguiram.

Margaery sentiu o quarto ficar mais frio conforme os sons dos passos de seus carcereiros iam diminuindo o som até não os ouvir mais. Ela se dirigiu até sua cama e deitou-se. Mesmo após cobrir seu corpo com os espessos cobertores de pele, ela ainda se tremia de frio.

Imaginou que iria sonhar com Highgarden, com seus irmãos, seus pais e sua avó; que estaria correndo e rindo com suas primas em um grande campo de rosas douradas...

Mas, quando os sonhos não vieram, ela começou a se abraçar e ficou chorando baixinho.

Logo tudo isso irá acabar... Logo irei morrer. Posso não visitar a Campina novamente, mas logo serei cinzas. Não terei mais dores, nem medo, ou sequer ilusões de liberdade. Esse pesadelo horrível irá acabar. Terei, finalmente, paz.