Os Sem Nome escrita por Trashcan Bin
Tóquio, Japão - 1973
— Yamada (1), depois da reunião, vamos para o hospital da Fundação em Ueno.
— Sim, senhor - respondeu prontamente enquanto esperava o homem e Tatsumi descerem do carro. Ultimamente, sentia menos vontade de matar seu chefe.
Seguiu para levar o carro para a garagem do prédio, onde esperaria até o fim da tal reunião. Depois de estacionar, fez o de sempre: entrou no prédio, caminhou até uma cafeteria que ficava no piso térreo, pegou um jornal e sentou-se.
Uma garçonete logo trouxe uma xícara de chá-verde quente e perguntou:
— Você vai querer comer alguma coisa?
O “benefício” de ser o motorista do Kido é que ele podia comer de “graça” nas cafeterias dos prédios da Fundação Graad quando estava esperando a serviço.
— Ah, por enquanto não, obrigado.
— Não é muito chato?
— O quê?
— Ter que ficar esperando por horas todas às vezes.
— É, mas é meu trabalho, né?
— Parece um trabalho que eu não duraria mais uma semana.
— Pelo menos não é um trabalho em pé. Isso, sim, é pra sair em uma semana.
— Cada um, cada um… mas, ei, Keisuke, e essa história toda de neta?
— O que tem?
— Ah, é tão estranho… queria saber, né, se você sabe alguma coisa…
— Não posso saber.
— Pelo amor, você anda com o senhor Kido pra cima e pra baixo, acha que eu acredito que você não sabe nada?
— Você não entendeu. Eu não posso falar nada disso. Qualquer coisa que eu saiba, não é para saber.
— Vaaai, conta, alguma coisa pelo menos. Quando ela chegou? Como foi? Ele tem uma amante? Uma esposa? A mulher pariu em casa?
Keisuke suspirou e botou as mãos na testa.
— Eu não posso falar. Se eu falar, eu posso perder meu emprego.
— Mas eu não vou contar pra ninguém! Eu quero saber a fofoca, não preciso passar pra frente. E, além disso, ninguém acreditaria em mim.
— Não.
— Vai!!! Eu faço um takoyaki bem gostoso pra você. Não sei, qualquer coisa! Eu juro que não conto.
Keisuke se deu por vencido.
— Tá bom. Mas não sei quase nada. O Tokumaru deve saber mais coisa… O senhor Kido simplesmente chegou com a menina. Não sei quem é a mãe, e acho que nem quero saber.
— E a menina é como?? Não sai uma foto no jornal!! A indústria de fofoca desse país já foi melhor.
— É um bebê, normal. Não tem cara de japonesa. Mas, sei lá, ele é rico, né?
— Aiii, tem um monte de história correndo de máfia, de traição, achei que alguém saberia.
— Mas tem uma coisa estranha.
— O quêêêê?? Ai, conta.
— Ele tem ido muito ao hospital. No começo, levava ela. Depois, os médicos passaram a ir à mansão, mas ele ainda vai bastante ao hospital. Não sei o motivo.
— Será que ela tem alguma doença?
— Não sei. Não parece.
— Vai ver é ele que tá doente, e com peso na consciência. Tem umas coisas que a gente ouve por aí…
— Shh! Melhor não falar disso. E eu quero meu takoyaki agora.
— Aff, tá bom.
Keisuke achou melhor deixar a conversa para lá e voltou a ler seu jornal.
*-/-/-/-/-*
O senhor Kido finalmente voltou, acompanhado de Tatsumi. Keisuke se levantou e fez uma reverência.
— Yamada, a reunião acabou. Vamos para Ueno.
— Sim, senhor.
Ele saiu para pegar o carro.
*-/-/-/-/-*
Após ser dispensado pelo dia, Keisuke foi à casa da mansão onde moravam os empregados. Era quase como um alojamento: eles possuíam quartos, individuais ou divididos, e áreas comuns. Ele tomou um banhou, e se dirigiu até um dos quartos, batendo na porta:
— Você tá aí?
— Keisuke? Tô sim, pode entrar.
Ele abriu a porta e viu uma moça, com uniforme de empregada, sentada na cama de solteiro. Keisuke se dirigiu a uma cadeira que ficava em frente à cama, sentou-se e perguntou:
— E aí, como foi hoje?
— Bem. É sempre melhor quando ele fica o dia fora. E pra você?
Keisuke fechou os punhos.
— Ah, é desagradável, mas acho que tem ficado melhor.
Ela riu.
— Essa é uma batalha com só um homem em campo.
— Eu sei. Só que é difícil.
— Eu sei. Se é pra você, imagina pra mim. Mas, posso dizer que nunca mais aconteceu. Eu ainda tenho medo que aconteça, mas as meninas também andam achando que é pra valer…
— Yoshiko.
— Eu sei, eu sei. Mas não tem nem como tomar cuidado. Ele é o patrão, e você sabe que eu preciso desse emprego. E você também precisa.
— É...
— Ando achando até que se ele descobrir, não vai ter problema pra gente. Mas melhor não dar na cara. Nem pra ele, muito menos pro Tokumaru.
— Eu sei, eu sei. Eu me controlo bastante, viu?
— Acho que as coisas vão melhorar. Santa seja essa menina, ou o raio que caiu na cabeça dele. Bom, eu vou tomar um banho, e já volto. Aí… pra algumas coisas você não precisa se controlar - ela deu uma piscadela.
Ele sorriu. Não importava de onde vinha aquela menina, só uma coisa importava: ultimamente sentia muito menos vontade de matar seu chefe.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
(1) Como tanto Mitsumasa quanto Saori chamam Tatsumi pelo sobrenome (o nome dele é Tokumaru), padronizei que os outros funcionários também são chamados pelo sobrenome por eles, exceto algumas potenciais exceções.
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