Jedis e Padawans – Diferentes Tons de Cinza escrita por MarcosFLuder


Capítulo 9
Um segredo entre Mestra e Padawan


Notas iniciais do capítulo

Esse é o capítulo que marca o fim das cenas em Peridea. Ainda teremos cenas se alternando em diversas linhas do tempo, mas algumas ainda no hiperespaço, mas a grande maioria mesmo já se passando na galáxia onde a história de Star Wars acontece. Um pouco de discussão política na Nova República, mas principalmente uma visão dos usuários da Força que ainda estão entre nós, e das diferenças entre eles. Prestem bem atenção nisso, pois será importante para o desenrolar da continuidade daquilo que chamamos de “caminho Jedi”.



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SEDE DA NOVA REPÚBLICA

UM ANO E OITO MESES ANTES DO TEMPO PRESENTE

 

Havia uma grande tensão presente no ar. O Conselho da República reunido numa grande sala. A reunião estava sendo transmitida também para a sede do Senado, pois todos os representantes dos planetas não caberiam naquele local. Hera e Ezra estavam sentados juntos, de frente para os membros do conselho. O antigo Padawan de Kanan Jarus cortou o cabelo e fez a barba, fazendo relembrar o rosto juvenil que Hera conheceu na guerra. Ambos estavam tensos, pois sentiam que cada segundo perdido tornava a ameaça de Thrawn ainda maior. A pessoa indicada a falar dessa vez já causou uma sensação ruim em Hera. A voz de Xiono se mostrando ainda mais desagradável de ouvir do que nunca.

 

— Eu devo dizer que me incomoda cada vez mais essa obsessão da general Syndulla em apresentar pretensas ameaças à República – Ezra notou um suspiro exasperado de Hera ao seu lado – isso não passa de uma forma de satisfazer o seu desejo por recursos para suas políticas militaristas, além de suas questões pessoais.

 

— Eu creio que seria bom ouvir o que o senhor Ezra Bridges tem a dizer – a voz da senadora Rodrigo é ouvida.

 

— É claro senadora. Levante-se senhor Bridger – Mon Motma, na qualidade de Chanceler, faz um sinal para Ezra, que prontamente obedece – por que o senhor não nos dá um relato sintetizado de tudo o que já disse, sobre o retorno do Grande Almirante Thrawn?

 

— O que posso dizer de maneira sintética, Chanceler, é que Thrawn está de volta – um grunhido de ceticismo é ouvido da parte de Xion, mas Ezra continua a falar – da última vez que vi, o antigo cruzador estelar dele estava na órbita de Dathomir.

 

— Eu li o seu depoimento completo, senhor Bridges – a voz de Xiono pingava malícia – caixões com bruxas, criaturas capazes de se deslocar no espaço, francamente.

 

— A existência dos Purgils já foi comprovada pelos cientistas a muito tempo senador Xiono – foi Hera quem respondeu – não tem nada de fantasioso sobre essas criaturas. O mesmo vale para as Irmãs da Noite.

 

— E você diz que manipulou essas criaturas para conseguir exilar Thrawn – um sorriso cheio de sarcasmo surge no rosto de Xione – usando “a Força” – ele fez questão de fazer o gesto com as mãos, como forma de desacreditar Ezra – você é um Jedi então. Pelo que sei a Ordem Jedi foi extinta antes de você nascer.

 

— Ela não foi extinta, senador – Ezra responde, fazendo o máximo de esforço para manter a calma – meu Mestre foi um dos poucos sobreviventes da Ordem 66. Ele me treinou fora do templo.

 

— Você poderia nos mostrar um pouco desse seu... “poder Jedi”? – Xiono continuava com sua atitude desdenhosa.

 

— Não serei o palhaço do seu circo, senador – Ezra tem um tom bem firme, mas evitando gritar – a única coisa que devia importar aqui é o fato de Thrawn ter voltado. Os anos de exílio consumiram muito dos seus recursos. Nesse momento ele ainda está fraco e vulnerável. A República não terá uma oportunidade melhor de acabar com a sua ameaça – um murmúrio de preocupação se espalha no salão, o mesmo acontecendo na sede do Senado, onde a voz de Ezra é bem ouvida num telão. Hera também se levanta.

 

— A questão é saber se a cegueira e a arrogância de homens como o senhor privará a República dessa oportunidade, senador – alguns risos são ouvidos depois da fala de Hera, com Mon Motma buscando manter a ordem.

 

— Esse conselho agradece a presença da general Syndulla e do senhor Bridges – declara a Chanceler – estamos encerrando essa sessão para que o Senado possa deliberar sobre o que será feito – ela se dirige a Hera e Ezra – vocês dois estão dispensados.

 

A reunião é encerrada, com Hera e Ezra sendo cumprimentados por algumas pessoas enquanto percebem o olhar do senador Xiono na direção de ambos. Eles tratam de ignorá-lo enquanto se dirigem à saída. A visão da senadora Leya Organa chama a atenção de Hera, uma comunicação não verbal entre elas não passando despercebida por Ezra. Ele nada diz naquele ambiente ainda lotado, onde são o centro das atenções. É só quando se encontram num corredor vazio que ele se dirige para a mãe de Jace. Hera o conduz até uma sala vazia, com o antigo Padawan de Kanan Jarus olhando intrigado para uma série de providências tomadas por sua antiga comandante.

 

— O que é tudo isso? – Ezra pergunta.

 

— Apenas uma precaução para não sermos ouvidos – é a resposta de Hera, que se volta para seu antigo subordinado, este também meio que um filho para ela – a loucura foi tanta desde que você voltou que nem tivemos tempo de conversar. Agora que temos de esperar uma decisão do Senado, creio que podemos tirar esse tempo para isso.

 

— Conversar sobre o quê?

 

— O que você acha? Ahsoka e Sabine, é claro.

 

PLANETA PERIDEA

UM ANO E QUATRO MESES ANTES DO TEMPO PRESENTE

 

— Você não pode estar falando sério, Ahsoka? – é uma espantada Hera quem pergunta.

 

— Ela precisa ir conosco, Hera – a voz de Ahsoka é tranquila.

 

— Só se for para ir a julgamento. Olha tem imagens dela e do Baylan Skoll massacrando vários integrantes da República – Hera fecha os olhos por uns segundos, como uma forma de se acalmar – eu passei por cima de muita coisa para vir buscar vocês, e passaria de novo se fosse necessário, mas não posso ignorar isso.

 

— Eu entendo a sua posição Hera, mas precisamos manter Shin junto conosco – um franzir de sobrancelhas é a reação de Hera Syndulla.

 

— Do que você está falando?

 

— Eu vou te contar tudo.

 

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A cavalgada de Sabine demorou várias horas. Ela sabia para onde Shin tinha ido e precisava alcançá-la. A mandaloriana entendia bem os sentimentos de Hera e Ezra sobre a antiga Padawan de Baylan Skoll, mas ela simplesmente não podia abandoná-la nesse planeta, como os dois sugeriram. Nesses meses de convivência a ligação entre as duas só fez se consolidar. A luta conjunta contra a influência de Abeloth, os muitos sparings, as lutas de sabre. Sabine também conheceu melhor a história de Shin, principalmente depois da noite constrangedora em que a flagrou saindo do banho, a visão que teve das cicatrizes em seu corpo. Sabine evitou tocar no assunto das cicatrizes, mas estava muito claro que estas ajudavam a explicar muita coisa sobre a natureza difícil e desconfiada de Shin. A mandaloriana parou em frente a caverna, gritando várias vezes o nome de sua antiga inimiga.

 

— Vá embora, mandaloriana – o grito de Shin vinha de dentro.

 

— Não sem você, Shin – Sabine respondeu também gritando. Ela viu Shin sair da caverna.

 

— Seus amigos só vão me levar de volta para me deixar numa cela – a voz de Shin está num tom mais calmo agora – eu prefiro ficar atolada nesse mundo morto a isso.

 

— Por favor, Shin – Sabine tem um olhar suplicante para a outra jovem – eu e Ahsoka defenderemos você.

 

— Não tem como me defender do que eu e Baylan fizemos naquela nave, Sabine – há um tom de desânimo em Shin, ela abaixa a cabeça e suspira. Sabine vai até ela, as duas mulheres bem próximas agora.

 

— Eu sei que isso é difícil para você, Shin, mas confie em mim e na Ahsoka – Sabine agarra os ombros da outra jovem – Ezra e Hera também vão ajudar, só permita que eles a conheçam como eu e Ahsoka conhecemos.

 

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As últimas casas, que também serviam de veículos para os Noti, foram embarcadas no cruzador em órbita. Só faltava a nave de Ahsoka decolar para que pudessem deixar o planeta, voltar para sua galáxia natal. A ansiedade da togruta só diminuiu quando ela viu Sabine e Shin cavalgando juntas. Ela sorriu para a antiga Padawan de Baylan Skoll, procurando passar o máximo de tranquilidade para ela. A vinda de Ezra e Hera deixou Shin mais tensa ainda, mas ela e Sabine desceram de suas montarias. A desconfiança era visível no olhar dos dois, mas a postura da Mestra de Sabine passava muita tranquilidade.

 

— Eu já informei Ezra e Hera sobre tudo o que aconteceu enquanto estávamos aqui – Ahsoka olha direto para Shin enquanto fala – creio que poderemos encontrar um meio de conciliar os seus erros do passado com o potencial que eu vejo em você daqui por diante.

 

— É uma situação muito delicada – Hera intervém – durante a travessia você precisará ficar confinada na nave. Ninguém além de nós aqui poderá saber que você está à bordo. Quando chegarmos em nossa galáxia daremos uma solução para tudo isso.

 

Todos embarcaram na nave, incluindo os bugios de Shin e Sabine, ainda que com algum protesto de Huyang. O veículo não demorou a chegar em órbita, com a visão do Olho de Sion deixando as três mulheres impressionadas. Ezra foi quem contou do trabalho que tiveram para encontrar as coordenadas exatas da galáxia, além da luta para impedir que a imensa nave fosse levada a algum estaleiro da República para ser desmontada. Não foi preciso muito para concluírem que Hera certamente ia enfrentar um sério problema no seu retorno. Saber disso só deixou Shin ainda mais preocupada com a sua situação. Mas agora não havia mais volta. A nave da togruta entrou numa das docas do cruzador da República, este já devidamente anexado ao Olho de Sion. O retorno de todos para casa era inevitável.

 

PLANETA LOTHAL – TEMPO PRESENTE

 

Após o descanso do almoço, todos fizeram uma breve excursão até ao acampamento dos Noti, que os receberam da maneira ruidosa habitual. Sabine e Shin reencontraram seus antigos bugios, não resistindo ao desejo de cavalgar com eles pelo deserto. Já era possível ver os primeiros sinais de um novo oásis surgindo, fruto do trabalho dos “bichinhos pedregosos”, como Shin ainda insistia em chamá-los. Foi uma visita breve. Eles retornaram para a base, com todos acompanhando Sabine, enquanto esta começava a preparar os dois pequenos padawans para treinar técnicas de luta mandalorianas. A rivalidade que se formava entre Jace e Zara só fez se evidenciar, quando o menino de cabelo verde se gabou de sua maior experiência com essas técnicas de luta.

 

— Muito bem vocês dois – Sabine buscava se concentrar nas duas crianças – vou aproveitar que ambos estão aqui para ensinar uma série de técnicas que os mandalorianos usam na hora de enfrentar adversários maiores e mais fortes.

 

— Você não devia ensinar isso só para ela – Jace gesticula em direção a Zara, que não faz a menor questão de esconder sua irritação em relação ao filho de Hera.

 

— Você acha por acaso que nunca encontrará alguém maior e mais forte do que você, Jace? – é uma Sabine bem paciente quem pergunta. A resposta de Jace é um dar de ombros – não vou negar que essas técnicas, inicialmente, eram dirigidas às mulheres mandalorianas, mas não demorou muito para se perceber que em algumas situações elas podiam ser muito úteis para os homens também.

 

— Não importa o quanto você cresce e se fortaleça, Jace – é a voz de Hera que se ouve – sempre haverá alguém maior e mais forte a ser encontrado pelo caminho – apesar de uma certa contrariedade, o menino acabou concordando.

 

— Vou dar um exemplo prático para vocês dois de como essas técnicas podem ser utilizadas – Sabine olhou para o grupo que os observava de longe – você poderia me ajudar aqui, Arlo?

 

Shin não conseguiu evitar o choque ao ver o antigo namorado de Sabine se dirigindo até onde ela estava com as duas crianças Padawans. A ideia dele também ser mandaloriano nunca tinha passado pela cabeça da Mestra de Zara, mas agora fazia todo o sentido do mundo. Ela procurou manter uma postura neutra, mas sentir um toque suave de Ahsoka em seu braço mostrou que não conseguia evitar que a Mestra de Sabine percebesse o quanto ficara abalada. Shin viu os dois mandalorianos trocando algumas palavras. Ambos pareciam perfeitamente entrosados; não se sentia qualquer constrangimento, qualquer sensação de desconforto entre os dois. Foram vários momentos em que Arlo tentava subjugar Sabine na luta, com esta utilizando várias técnicas para superá-lo. O fato de parecerem tão à vontade um com o outro, longe de tranquilizar, fez Shin refletir até que ponto eles não seriam perfeitos juntos. Era um pensamento que atormentava a antiga Padawan de Baylan Skoll, mais do que ela gostaria de admitir.

Após várias demonstrações juntos, Sabine e Arlo, começaram a trabalhar os dois aprendizes. Sabine com Zara e Arlo com Jace, com ambas as crianças se esforçando ao máximo para executar bem os movimentos de Sabine, quando ela estava enfrentando Arlo. Por já ter tido aulas com Sabine antes, Jace teve um pouco mais de facilidade que Zara, fazendo questão de deixar isso claro, para a irritação da menina. Shin viu a mão de Sabine no ombro de sua Padawan, com a mandaloriana se abaixando para ficar próxima dela. Não foi possível captar as palavras de Sabine para Zara, mas Shin notou que a menina ficou mais relaxada, até mesmo abrindo um sorriso. Ver isso fez com que a antiga Padawan de Baylan Skoll esquecesse momentaneamente, o desconforto por ver a ligação mandaloriana entre Sabine e Arlo.

Foram quase duas horas de treinamento até Sabine declarar a aula encerrada, cumprimentando os dois aprendizes, fazendo o mesmo com Arlo. Os dois adultos fizeram um gesto um para o outro que Shin não foi capaz de entender, certamente algo do costume mandaloriano. Arlo cumprimentou Jace, que respondeu de forma entusiástica. O cumprimento dele para Zara foi recebido com ela cruzando os braços e mantendo uma expressão fria no rosto. Shin não pode evitar de apreciar a atitude de sua Padawan. Ao mesmo tempo, ela viu Arlo respondendo à mesma com um sorriso que o tornava ainda mais bonito, deixando a antiga Padawan de Baylan Skoll mais irritada do que estava disposta a admitir.

 

— Você devia confiar em Sabine, minha cara – a voz de Ahsoka interrompe os pensamentos de Shin.

 

— Do que está falando?

 

— Ela e Arlo terminaram em bons termos – Ahsoka responde – os mandalorianos costumam ter uma atitude bem saudável em relação a esse tipo de situação. Não há razão para você se preocupar.

 

— Eu não sei do que você está falando, Ahsoka – Shin tenta manter um tom de voz bem neutro – eu e Sabine não temos nenhum compromisso desse tipo. Ela não tem que me dar satisfações de nada.

 

— É uma tolice insistir por esse caminho, Shin – o olhar de Ahsoka para Shin incomoda um pouco a antiga padawan de Baylan Skoll – você e Sabine estão ligadas por um compromisso muito mais profundo que um simples namoro. Nesse nível de compromisso confiança é tudo. Não existir uma firme confiança entre vocês duas, é o tipo de brecha que Abeloth estará sempre pronta a explorar. Ela já fez isso antes, nada a impedirá de tentar novamente.

 

— Eu sei disso, Ahsoka – a resposta de Shin é firme – eu confio em Sabine, sei muito bem que ela nunca seria desleal comigo.

 

— Fico feliz de ouvir isso, Shin. E tenho certeza que Sabine ficará ainda mais feliz ouvindo isso de você – o olhar de Ahsoka é enfatizado pelo seu sorriso discreto – além disso, minha cara, confie também na Força – o olhar da togruta se volta para uma Zara que se aproxima das duas – a Força já te mostrou como pode ser o seu melhor guia. Confie nela.

 

NAVE SION – HIPERESPAÇO

UM ANO E QUATRO MESES ANTES DO TEMPO PRESENTE

 

Os dias se passaram enquanto a nave se mantinha no hiperespaço, seguindo o seu caminho de retorno à galáxia de onde todos pertenciam. Shin não lembrava da viagem anterior ter sido tão demorada. Certamente o fato de estar confinada na nave de Ahsoka tem a ver com essa sensação de demora. Ela estava experimentando algo muito parecido com o que Sabine lidou antes. As visitas constantes da mandaloriana a ajudavam a superar o tédio e a ansiedade, mas havia momentos em que se sentia enjaulada. Shin sabia que essa sensação era muito potencializada pela influência de Abeloth, mas ter isso em mente não tornava as coisas mais fáceis.

Muitas vezes as visitas de Sabine eram acompanhadas pelas presenças de Ahsoka, Hera e Ezra. Shin se irritava um pouco com o jeito alegre e bonachão do último, mas perceber a dinâmica de irmãos que existia entre ele e Sabine tornou a convivência mais fácil. Com Hera cresceu um respeito discreto, principalmente pelo fato dela ser absolutamente sincera com Shin, sobre a situação delicada em que se encontravam. A brutal honestidade, combinada com o jeito formal de se dirigir a ela, fez da relação de Shin com Huyang sujeita a momentos confusos. Ela teve sua curiosidade sobre ele aguçada, ao descobrir a longevidade de sua ligação com a Ordem Jedi. A curiosidade sobre como era o seu antigo Mestre naquela época frequentemente assaltando os pensamentos da antiga Jedi sombria. Em relação à Ahsoka, a tensão entre as duas permanecia. Eram os momentos quando a influência de Abeloth se tornava mais forte. Shin sabia que precisava superar isso, mas se tornava mais difícil quanto mais perto do destino estava.

 

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Ela acordou de um sono agitado com uma estranha sensação. O fato de estar no hiperespaço não ajudou em nada. Não saber ser era dia ou noite, manhã, madrugada ou tarde, só aumentando a sensação de desorientação e angústia. Shin não sabia se era um sonho ou premonição. Sequer lembrava do conteúdo do que vivera em seu sono. Tudo o que tinha em si era a sensação de algo que a esperava no seu retorno. De algo que deveria encontrar. Em circunstâncias outras ela não teria dúvida de que era um aviso da Força, mas a presença de Abeloth tornava tudo confuso. A antiga Padawan de Baylan Skoll se levantou da cama muito agitada. Caminhar pela nave era a melhor solução e foi o que ela fez, indo parar na cozinha, onde encontrou a figura de Huyang.

 

— Dificuldades para dormir, Lady Hati? – Shin ainda tinha dificuldade em lidar com o tratamento formal usado pelo Droid.

 

— Um pouco sim – Shin respondeu, constatando também que era a primeira vez que se via sozinha com o Droid, surgindo nela uma curiosidade que tinha – me disseram que você esteve na Ordem Jedi por milhares de anos.

 

— É verdade, Lady Hati – é a resposta de Huyang, com este notando o olhar de Shin – posso presumir que está curiosa para que eu a informe sobre como era o seu antigo Mestre, quando estava na Ordem Jedi?

 

— Você o conheceu? Como ele era?

 

— Ele era um jovem rígido e formal, bem mais do que a maioria dos da sua idade – um discreto sorriso de reconhecimento surge no rosto de Shin ao ouvir isso – ele também tinha um interesse muito maior que os outros pelo passado da Ordem Jedi – a conversa dos dois foi interrompida pela chegada de Ahsoka, ambos notando a expressão agitada em seu rosto.

 

— Lady Tano parece que também estava com dificuldades em dormir – Ahsoka optou por ignorar a observação do Droid.

 

— Você sentiu também, Shin?

 

— Do que você está falando? – uma Shin de expressão desconfiada respondeu.

 

— Um chamado da Força – retrucou Ahsoka – tem algo esperando por você em nosso retorno.

 

PLANETA LOTHAL – TEMPO PRESENTE

 

Tal como no almoço, a expressão no rosto de Ath’Zarah Het, ao ouvir outra vez de Ahsoka, que Shin chegou até ela por um encaminhamento da Força, é algo que continuava tocando fundo no coração da antiga Padawan de Baylan Skoll. Mestra e Padawan nunca conversaram de fato sobre como Shin chegou até ela. Observando-as de perto, ouvindo-as conversar sobre como se conheceram, Ahsoka percebeu que havia algo mal resolvido entre as duas, mas evitou levantar a questão. Independente disso, a togruta via emocionada a ligação existente entre ambas, não evitando de comparar isso, e sua ligação com Sabine. Era inegável que o fato de ter uma Padawan já adulta, dava à relação dela com a mandaloriana uma certa informalidade que não poderia existir entre Shin e Zara, assim como não existiu entre ela e Anakin. Mesmo Ezra não podia evitar uma certa formalidade, que normalmente não combinava com ele, no seu trato com Jace.

Ainda assim, Ahsoka percebia as peculiaridades da relação Mestra e Padawan entre Shin e Zara. A togruta percebia em Shin, uma clara preocupação sobre se estaria a altura da responsabilidade de guiar uma Padawan. Ela devia acreditar que era um problema só seu, mas Ahsoka sabia que todo Mestre, pelo menos em algum momento de sua vida, já lutou com essa dúvida. Por sua vez, o que via na jovem Padawan era um esforço enorme em se colocar a altura das expectativas de sua Mestra. Mais do que tudo, o que Ahsoka via nela era uma admiração feroz. A posição marcial como a menina se colocava diante de Shin em público era um indicativo claro disso.

Ath’Zarah Het sempre se colocava um passo atrás de sua Mestra, o corpo numa postura bem reta, as mãos cruzadas em suas costas. Era uma postura que ganhava um ar entre o rígido e o adorável. Ahsoka podia ver nessa atitude de Zara, a afirmação orgulhosa do seu status de Padawan. Ela não lembra de ter uma postura parecida com Anakin, menos ainda que ele tenha exigido isso dela. Era algo que Jace tinha certa dificuldade em fazer, e Ezra não fazia questão de exigir. Ao mesmo tempo, era algo que Sabine não faria, e que Ahsoka nem sonharia em exigir. Ainda assim, a Mestra de Sabine percebia que havia um quê mal resolvido ali.

 

— Por que você nunca me contou que a Força a tinha guiado até mim, Mestra? – uma sorridente Ath’Zarah Het perguntou.

 

— Talvez pelo mesmo motivo que Baylan só me contou que viveu uma situação parecida comigo quando eu já era bem mais velha – uma Shin ligeiramente sorridente responde – para não atiçar ainda mais o seu ego.

— Ligações como a de vocês duas são bem raras entre Jedi – afirma Ahsoka.

 

— Você insiste em me chamar de Jedi – uma relutante Shin observa enquanto uma sorridente Ahsoka acaricia a cabeça de Zara.

 

— O que você está fazendo agora, Shin, é a própria essência do que é ser um Jedi – seu olhar voltado para uma Shin confusa – ser um Jedi é muito mais do que manejar sabres de luz, empurrar objetos e pessoas com a Força. Isso só são instrumentos e habilidades, na verdade – Ahsoka volta a olhar para a menina padawan, ainda lhe acariciando-lhe a cabeça – a essência de um Jedi é ensinar, é passar o conhecimento adiante, é dar continuidade a sua linhagem. É o que você está fazendo com essa pequenina. Assim como Baylan Skoll fez com você.

 

— Baylan não se considerava mais um Jedi, Ahsoka – há um olhar de tristeza em Shin ao dizer isso.

 

— É verdade que ele se afastou do caminho Jedi, mas nunca o perdeu de vista – o olhar de Ahsoka para Shin tem uma intensidade que afeta a Mestra de Zara – e eu não tenho dúvida que isso só foi possível graças a você, Shin Hati.

 

— Do que você está falando? – a voz de Shin é quase um sussurro, enquanto pergunta.

 

— Ter salvo a sua vida, tê-la nutrido, protegido e ensinado você nos caminhos da Força – a intensidade do olhar da Mestra de Sabine para Shin só aumenta – foi isso que impediu o seu antigo Mestre de perder o caminho Jedi de vista. Foi isso que o impediu de sucumbir totalmente ao lado sombrio da Força. Graças a você ele conseguiu retomar o caminho Jedi no seu momento final.

 

— Você não tem como ter certeza disso – a voz de Shin estava embargada agora, uma discreta lágrima deslisando pelo seu rosto. Ahsoka sorri para ela.

 

— Pois eu tenho certeza disso – Ahsoka continua sorrindo, agora voltando o seu olhar para Zara – assim como tenho certeza que escolher nutrir, proteger e ensinar essa pequenina nos caminhos da Força, faz de você uma cavaleira Jedi, por mais relutante em assumir esse título que você esteja, Shin Hati.

 

— Eu adoraria ter essa sua certeza, Ahsoka – Shin retruca emocionada – principalmente por causa do Baylan, mas eu não consigo.

 

— Ela está dizendo a verdade, Mestra. Eu mesma vi o velho... – a voz de Ath’Zarah Het se faz ouvir e Ahsoka percebe de imediato uma mudança sombria se operando em Shin.

 

— Pare com isso – Shin não chega a gritar, mas o seu tom de voz é claramente de irritação.

 

— Mas é verd…

 

— Eu disse pare, você está surda? – o tom de voz ganha um acento mais grave, fazendo a jovem Padawan recuar. Shin percebe isso e procura usar um tom de voz mais calmo – pensei que já tínhamos resolvido não tocar mais nisso – o rosto da Padawan é uma máscara de choro, mas ela se mantém firme em evitar as lágrimas, com sua face ganhando um ar mais raivoso. Ela sai correndo sem olhar para trás – volte aqui, Zara – o grito de Shin é seguido de um suspiro frustrado, um claro sinal de arrependimento.

 

— O que foi isso, Shin? De que velho a pequenina está... – Shin percebe o sinal de reconhecimento surgindo no rosto de Ahsoka, antes mesmo dela terminar de falar.

 

— Isso é entre eu e minha Padawan, Ahsoka, não se meta – ela tenta manter uma voz firme, mas falha miseravelmente. A chegada de Sabine só piora o seu estado.

 

— O que aconteceu? Por que a Zara passou correndo por mim e parecendo que estava chorando?

 

— Não guarde isso para você, Shin – Ahsoka toca suavemente no ombro da jovem. Ela sente a tensão vinda do corpo de Shin, retirando a mão rapidamente – confie o seu problema conosco. Tudo o que queremos é ajudar vocês duas a resolver isso.

 

— O que está acontecendo, Shin? – é Sabine quem pergunta agora.

 

— O velho de que a pequenina falou, é mesmo quem eu estou pensando? – a pergunta de Ahsoka é seguida de uma Shin Hati fechando seus olhos e respirando fundo. Ao abri-los, é uma jovem decidida que resolve falar.

 

— Tenho certeza de que é uma bobagem, uma tola mentira que ela inventou quando nos conhecemos.

 

— Que mentira seria essa, Shin? – é a vez de Sabine perguntar.

 

— Ela afirma que costuma ver o Baylan aparecendo na sua frente, na forma de um fantasma da Força.


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Notas finais do capítulo

Capítulo 9 postado. No próximo domingo teremos uma nova linha do tempo surgindo, mostrando como Shin e sua Padawan se conheceram. Aguardem.