Jedis e Padawans – Diferentes Tons de Cinza escrita por MarcosFLuder


Capítulo 8
Não vou desistir de você


Notas iniciais do capítulo

Última dia do não e aqui estou eu, postando mais um capítulo da fanfic. É a partir deste capítulo que as diversas linhas de tempo vão começar a se alinhar no tempo presente, pois as tramas que se passam nos períodos passados começam a ser resolvidas. Ainda demora alguns capítulos, mas esse alinhamento já começa nesse. Eu já estou encaminhando a fanfic para o seu final, pois já estou escrevendo o capítulo 15. Estou calculando que a história deve ter 18 capítulos. Vamos ver se vai seguir mesmo por esse caminho. Aproveitem a história.



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PLANETA LOTHAL – TEMPO PRESENTE

 

A manhã toda foi marcada por treinamentos Jedis, com os respectivos Mestres e Padawans em intensas preparações. Não passou desapercebido pelas outras pessoas no local que esta poderia muito bem ser a maior aglutinação de usuários Jedis da Força, num mesmo lugar, desde o fim da Ordem Jedi. Era visível a diferença nas formas de treinamento. Tanto Shin quanto Ezra focavam muito mais no preparo de seus jovens padawans para as atividades de luta, os sons de bastões de madeira soando fortes por toda a base. Ahsoka, por sua vez, privilegiava muito mais a meditação, o aperfeiçoamento da capacidade de Sabine em se unir com a Força. Já se podia notar também um início de rivalidade tipicamente infantil entre Jace Syndulla e Ath’Zarah Het, sendo evidente para seus respectivos Mestres, como cada Padawan tentava se provar mais habilidoso que o outro. Já era mais de meio-dia quando os treinamentos pararam, os preparativos para um almoço coletivo sendo feitos.

 

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Shin olhava intrigada para a montagem de uma imensa mesa. Ela sentia-se bem refrescada, nada como um bom banho depois de um intenso treinamento. No entanto, estava lidando agora com sentimentos confusos sobre o que se desenrolava diante de si. Foi com um certo alívio que viu Sabine se aproximando. Nem foi necessário a ligação que ambas compartilhavam com a Força para notar que a mandaloriana exibia um aspecto um tanto triste no rosto. Foi visível para Shin o tanto que Sabine tentou dissimular isso com um sorriso forçado. Por um segundo ela pensou em indagar qual era o problema, mas nem teve essa chance, pois logo Sabine falou de algo que também ocupava os pensamentos de Shin.

 

— Hera e Ahsoka meio que criaram esse costume de almoço coletivo – Sabine disse para Shin, ambas observando os preparativos.

 

— Qual a finalidade disso? – a voz de Shin tinha um certo ceticismo envolvido.

 

— A finalidade é reforçar os laços de companheirismo – um suspiro meio exasperado de Shin é acompanhado de um olhar compreensivo de Sabine – eu sei, eu sei – ela muda o tom de voz para enfatizar o sarcasmo – eu sou uma loba solitária, não preciso de companhia.

 

— Eu já fui assim – Shin olha para Sabine, e depois desvia o mesmo olhar para sua Padawan que está chegando – agora não posso mais me dar a esse luxo.

 

— Espero que vocês duas apreciem o seu primeiro almoço coletivo conosco – Sabine sorri para Shin e sua Padawan – Zara vai poder provar um pouco da comida dos Noti.

 

— Você só pode estar brincando – há um certo ceticismo na voz de Shin – está me dizendo que conseguiram mesmo estabelecer os bichinhos pedregosos em Lothal?

 

— Eles se adaptaram muito bem, se quer saber – é a voz de Ezra que se ouve agora, Jace está do seu lado, ele e Zara trocam um olhar de rivais, provocando um sentimento de diversão nos adultos presentes.

 

— Você deve ter visto aquele oásis a uns 50 quilômetros de distância daqui, quando estava vindo com a nave – é Sabine quem fala agora – os Noti acamparam ali por 7 meses e transformaram uma área desértica naquilo que você viu – o olhar surpreso de Shin foi acompanhando por uma nova fala de Ezra.

 

— Como eles não tem mais que se preocupar com ataques dos errantes de Peridea, podem agora ficar longos períodos acampados – Ezra falou – ao mesmo tempo, o solo do deserto de Lothal parece um “mar” de fertilidade para eles, em comparação ao do seu planeta natal.

 

— Eles montaram um novo acampamento uns 100 quilômetros depois do primeiro e ficaram lá por 8 meses – Sabine volta a falar – eles se mudaram de novo 1 mês atrás, deixando outro oásis no lugar do deserto de antes. Não duvido nada que em 6 meses teremos outro oásis surgindo no deserto onde eles estão acampados agora.

 

— Interessante. E o que os governantes de Lothal dizem sobre isso? – há uma sincera curiosidade de Shin em perguntar.

— Toda a desconfiança que tiveram no começo virou euforia agora – é um alegre Ezra quem responde – já tem até cientista dizendo que em algumas décadas os Noti podem transformar as áreas desérticas de Lothal num paraíso verde.

 

— Hera está nos chamando – Sabine nota a mãe de Jace fazendo gestos em direção ao grupo.

 

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É uma mesa grande, coberta com um lençol todo estampado, desenhos cobrindo toda a sua extensão, trabalho de Sabine, é claro. Shin notou que ninguém se sentou nas cabeceiras, com todos de frente uns para os outros. A mesa estava coberta com uma farta variedade de comida, algumas que Shin reconheceu de seu tempo em Peridea, outras típicas de Lothal mesmo. O ambiente era alegre, mas ela notou que Sabine e seu suposto namorado estavam sentados longe um do outro. A mandaloriana ficou de frente para Shin, enquanto o tal Arlo estava ao lado de Ezra. Além das pessoas que Shin já conhecia, também havia outros que ela já tinha visto, que cuidavam da manutenção dos equipamentos e dos X-Wings. Era um total de 12 pessoas, 6 de cada lado. Shin não estava acostumada com reuniões muito cheias, mas procurou se ajustar, seu olhar se voltando para falar com Sabine.

 

— Devíamos estar preparando os planos para deter o Thrawn.

 

— Vamos tratar disso – Sabine responde.

 

— Enquanto comemos? – o estranhamento era visível no rosto de Shin.

 

— É compreensível o seu ceticismo, Shin, mas acredite em mim quando digo que esse método funciona – é Hera quem fala agora.

 

Todos começaram a se servir, conversas foram iniciadas. Em princípio eram apenas assuntos banais do cotidiano de cada um. Foi Hera quem tomou a iniciativa de falar sobre os preparativos da missão contra Thrawn. Shin ouviu os informes das pessoas que cuidavam da manutenção, dizendo que tudo estaria pronto no final do dia seguinte. Ela ouviu de Arlo sobre o local onde ficariam em Tespyn, bem como dos contatos dele no planeta, para ajudar a encontrar o local da reunião de Thrawn com os demais líderes imperiais. As vozes de protesto, praticamente em uníssono, de Jace e sua Padawan, por ficarem para trás, provocando um sentimento de diversão em Shin. As duas crianças estavam sentadas entre ela e Ezra, a proximidade acentuando ainda mais a rivalidade infantil que se formava entre os dois.

Foi um processo quase imperceptível, mas aos poucos Shin foi ficando cada vez mais confortável naquele misto de almoço e reunião. Seus informes sobre as movimentações de Thrawn e dos demais imperiais foram ouvidos com atenção. Os questionamentos que recebeu de volta se deram de forma tranquila e respeitosa. Ela esperava uma certa tensão com o tal Arlo, mas ele se comportou de modo muito correto, fazendo perguntas muito pertinentes. Ainda assim, Shin se questionava a respeito do afastamento entre ele e Sabine, que sequer trocavam olhares. Ao final ela teve de dar razão a Hera, pois a reunião, enquanto almoçavam juntos, se mostrou bem produtiva. Uma leve tensão surgiu quando Jace perguntou sobre como Shin e Zara se conheceram, mas foi logo superada com a intervenção de Ahsoka. Ver a reação de sua Padawan, ao saber pela Mestra de Sabine que Shin foi conduzida pela Força até ao seu encontro, foi emocionante.

Após o fim do almoço, todos foram designados para as tarefas de arrumação do local, para depois descansar. Depois de terminar a sua parte na tarefa, Shin aproveitou para andar até um dos limites do local elevado onde se encontrava, admirando a vastidão do deserto de Lothal. A antiga Padawan de Baylan Skoll sentiu alguém chegando, mas nem se deu ao trabalho de se virar, pois sabia exatamente quem era. Sabine parou ao lado dela, mas nada disse, ambas as mulheres passando um bom tempo apenas contemplando a paisagem que se descortinava diante delas. A pergunta rondava a cabeça de Shin, em vários momentos na ponta da língua, mas nunca feita. Foi Sabine quem tomou a iniciativa, como que percebendo a hesitação da outra mulher.

 

— Arlo e eu terminamos – Shin ouviu a declaração, mas manteve em seu rosto uma expressão neutra.

 

— Eu tenho alguma coisa a ver com isso?

 

— É claro que tem – foi a resposta de Sabine – desde o início eu fui muito honesta com ele. Eu sempre deixei claro que tudo terminaria entre nós quando você aparecesse de novo em minha vida.

 

— Essa é uma responsabilidade muito grande que você está pondo em minhas costas, Sabine Wren – a voz de Shin tem um tom de contestação que não passou despercebido por Sabine.

 

— Não estou pondo responsabilidade nenhuma em suas costas, Shin – Sabine é firme em sua resposta – eu teria terminado com o Arlo mesmo que você tivesse aparecido com uma namorada a tiracolo, em vez de uma Padawan – um momento de silêncio se fez entre as duas, até Shin dar um forte suspiro.

 

— E seu tivesse aparecido com uma namorada a tiracolo? – Shin perguntou – o que você teria feito, Sabine Wren?

 

— Eu não sei direito – é a resposta de Sabine – mas certamente teria envolvido momentos tensos e potencialmente bem embaraçosos – as duas permanecem uma ao lado da outra, com Shin abrindo um sorriso relutante.

 

— Eu senti muito a sua falta – Shin diz isso quase sussurrando, notando em sua visão periférica, o sorriso no rosto de Sabine.

 

— Eu também senti a sua falta, Shin – Sabine vê Shin se virando para encará-la de frente.

 

— Nesse último ano a minha vida mudou drasticamente, Sabine – há um tom bem sério na voz de Shin – Ath’Zarah Het é a minha prioridade absoluta agora. Treiná-la, fazer dela uma… Jedi? Não importa o rótulo. O fato é que nada é mais importante para mim do que isso, nem mesmo o que... existe entre nós – Sabine dá um passo à frente, as duas quase coladas uma na outra agora.

 

— Eu sei, e estou do seu lado nisso, Shin – ela sorri enquanto fala – me permita dividir essa prioridade contigo.

 

— Uma Padawan com duas Mestras? – Shin dá uma suave risada – não creio que aja algum precedente sobre isso na história dos Jedis.

 

— Você é a única Mestra dela, Shin – Sabine devolve a risada – eu me contento tranquilamente em ser sua ajudante nisso.

 

— Ensinando técnicas de luta mandalorianas para ela – ela continua sorrindo para Sabine.

 

— Técnicas que poderão ser muito úteis para ela no futuro – Sabine diz convicta, enquanto devolve o sorriso para Shin.

 

— Você tem ensinado essas técnicas para o Padawan do Bridges também?

 

— É claro que sim – Sabine responde – e fique sabendo que o Jace é um ótimo aprendiz – a reação de Shin é um grunhido de leve ceticismo.

 

— Talvez seja mesmo divertido ver a Zara trocando socos com o moleque do cabelo verde – as duas riem ao mesmo tempo.

 

— É só tomarmos cuidado para as coisas não saírem do controle com aqueles dois – é uma Sabine sorridente quem diz.

 

— Você tem medo da Zara machucar muito o garoto do cabelo verde? – é uma Shin igualmente sorridente quem pergunta. As testas delas coladas agora, os olhos fechados, com uma sentindo a respiração da outra.

 

— Pode ter certeza de que tenho – Sabine responde numa voz quase sussurrante – afinal a Zara sendo quem é, a Padawan de uma Sith gostosa – um suspiro de excitação de Shin se segue a fala de Sabine.

 

— Não me chame assim – a voz de Shin em nada parece de reprimenda – pelo menos não na frente dos outros.

 

— E quando estivermos sozinhas, eu posso sussurrar isso no seu ouvido? – um tom de voz cheio de intencionalidade é o que se ouve de Sabine. Ela está de olhos fechados e não vê Shin mordendo os lábios antes de responder.

 

— Pode – Shin responde de maneira quase inaudível, seu rosto incrivelmente corado. É com uma voz embargada que ela continua a falar – obrigada por não ter desistido de mim em Peridea.

 

PLANETA PERIDEA

UM ANO E OITO MESES ANTES DO TEMPO PRESENTE

 

A noite caiu a pouco mais de uma hora, pelo menos é isso que Shin calcula. É muito difícil ter uma noção de tempo nesse planeta. O céu está escuro a um bom tempo, o frio já se insinuando nela. A fogueira que fez dentro da caverna ajudando a manter o calor à sua volta. Seu rosto ainda está ligeiramente úmido de lágrimas, mas ela está mais calma agora, comendo pela primeira vez em muito tempo. O luto que viveu ao menos lhe permitiu afastar a influência de Abeloth. Sua mente em paz, os pensamentos voltados para as lembranças dela com Baylan. Ela lembra dos primeiros tempos de treinamento, a primeira vez que ele fez a sua trança padawan. Shin vislumbra o seu sabre de luz, lembrando da primeira vez que o ativou, o sorriso emocionado em seu rosto, o orgulho que ela viu na face austera de Baylan.

Ela deixa a caverna pela primeira vez desde que retornara no dia anterior. Seu olhar contemplando o céu estrelado. Seus pensamentos voltados para a dúvida se ela acabaria morrendo nesse planeta. Não é que ela tivesse algum lar de verdade para voltar, mal conseguindo lembrar de seu planeta natal. Shin fecha os olhos, aspirando o ar frio da noite. Ela sabe que Sabine está vindo, tal como prometera. Sabe disso bem antes de notar a montaria ao longe, a figura esbelta que pode ser vista agora, sob a luz das estrelas. Seu rosto é uma máscara neutra, mas por dentro ela sente um enorme alívio, um contentamento ligeiramente reprimido, pela mandaloriana ter cumprido a sua promessa.

 

— Você não vai me deixar em paz, não é mesmo – ela diz isso afetando uma tentativa de expressar irritação, mas o discreto sorriso em seu rosto a desmentia.

 

— Eu não vou é deixar você sozinha, Shin – é uma Sabine abertamente sorridente quem diz – já que você não quer ficar conosco na nave, então eu virei te visitar sempre que possível.

 

— Não sei se temos muito o que conversar, Sabine.

 

— Podemos fazer algo bem melhor – é o que diz Sabine, enquanto saca o seu sabre de luz, diante de uma incrédula Shin.

 

— Você está brincando comigo – a ex-Padawan de Baylan Skoll responde – sua Mestra não está treinando você no sabre de luz?

 

— Ahsoka prefere priorizar os treinamentos de meditação – Sabine responde – ela acha que a minha prioridade agora deve ser aumentar a minha capacidade de me unir à Força.

 

— Ela não está errada – Shin diz isso, mas também saca o seu sabre de luz – ainda não sei se é uma boa ideia – o sorriso de Sabine aumenta ainda mais.

 

— Não finja que você não adora me jogar de bunda no chão, Sith gostosa.

 

— Não me chame de Sith – é o que Shin diz, iniciando o ataque.

 

As duas se perdem na luta, mal notando a passagem do tempo. Shin percebe como Sabine está cada vez melhor com o sabre de luz, embora ainda um pouco longe de ser uma rival de fato para ela. A adrenalina corre solta no sangue das duas mulheres, uma sensação de euforia tomando conta delas. Seus olhares se cruzando todo o tempo, uma estudando os movimentos da outra, sempre buscando uma brecha, o que Shin consegue em diversos momentos, superando a defesa de Sabine. A mandaloriana só consegue superar a defesa de Shin uma única vez, o que a faz comemorar ruidosamente, se colocando bem vulnerável a um novo ataque da ex-Padawan de Baylan Skoll. Sorte a de Sabine, que Shin apenas se manteve parada enquanto sua rival comemorava. Ataque esse não acontecendo, pois a antiga Padawan de Baylan Skoll apenas observa a comemoração da mandaloriana, com um sorriso bem evidente, que apesar de sua tentativa, ela não conseguia tirar do rosto. Sabine interrompe sua comemoração ao ver o rosto sorridente de Shin, ela sorrindo de volta. Ambas em silêncio por um momento.

 

— Já deve estar bem tarde – Sabine desliga e guarda o seu sabre de luz, com Shin fazendo o mesmo – eu preciso ir senão Ahsoka e Huyang podem vir me procurar.

 

— Eu acompanho você – Shin tem um tom neutro na sua voz, mas por dentro sente uma estranha ansiedade.

 

— Não precisa – é uma ligeiramente embaraçada Sabine quem responde.

 

— Tudo bem, vai ser bom respirar um pouco do ar frio da noite – Shin retruca – estou enfiada nessa caverna desde ontem.

 

Elas cavalgaram juntas, um silêncio se mantendo entre as duas. O ar da noite estava mesmo frio, mas ambas lidavam bem com isso. As poucas vezes que falaram foi sobre as condições do planeta, sobre as estrelas desconhecidas no céu, sobre os Noti e os errantes. Havia uma certa dificuldade em entrar nos assuntos que pudessem levar a questões pessoais, como a ligação que tinham uma com a outra. Mas o que elas evitavam mesmo era falar sobre Abeloth. Ambas evitavam falar sobre como a ligação delas com a Força era a nova prisão da criatura, em como isso também fazia de ambas um pouco prisioneiras também. Shin se despediu de Sabine quando chegaram próximas ao acampamento. A mandaloriana não teve coragem de convidar sua antiga inimiga a entrar no local com ela, embora tivesse muita vontade. Um sentimento dentro dela lhe dizia que ainda era cedo. Ela viu Shin cavalgando para o meio da noite, um trote vagaroso, com algumas eventuais olhadas dela para trás, vendo uma Sabine ainda parada.

Foi só quando a figura de Shin sumiu na escuridão que um sentimento novo chegou até Sabine. Uma sensação quente de ter sido cuidada e protegida. Um sorriso cheio de enternecimento se mantinha no rosto da jovem mandaloriana, enquanto ela adentrava o acampamento, ainda vendo alguns Noti aproveitando a tranquilidade da noite em volta de fogueiras. Ela viu Ahsoka e Huyang junto com dois dos Noti numa das fogueiras, desmontando de seu bugio para se juntar a todos ali. O Droide perguntou a Sabine sobre onde ela esteve, recebendo dela uma resposta vaga. A intervenção de Ahsoka, informando a mandaloriana sobre como se darão os treinamentos no dia seguinte, interrompe uma nova indagação de Huyang. Um olhar cúmplice entre Mestra e Padawan dispensa as palavras de gratidão da parte de Sabine, o leve sorriso de Ahsoka, a ligação de ambas na Força, sendo suficiente para a mandaloriana perceber a aprovação que precisava.

 

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A rotina se manteve ao longo de mais de dois meses. Sabine ia visitar Shin quase diariamente na caverna, as duas praticando lutas com seus sabres de luz. O fato do desejo homicida ter sido deixado de lado não mudou o sentimento de euforia das duas mulheres enquanto praticavam juntas. Cada vez mais que Sabine crescia em habilidades, menos eram as oportunidades para Shin romper suas defesas. Ainda assim, era visível que a mandaloriana estava abaixo de sua antiga inimiga em termos de habilidade. Não era algo com que Sabine estivesse desconfortável. Isso só acontecia nos momentos em que Shin usava a Força contra ela, empurrando-a longe. Sabine até fez a sua tentativa, mas esbarrou numa experiente Shin, que bloqueou o ataque com relativa facilidade. Elas também praticaram juntas técnicas de luta mandalorianas, que Shin conhecia muito pouco, mas se mostrando logo uma rápida e eficiente aprendiz.

Ao final desses encontros, Shin sempre acompanhava Sabine até a entrada do acampamento. A atitude claramente protetora da antiga Padawan de Baylan Skoll se mantendo entre as duas como um segredo compartilhado, mas nunca dito em voz alta entre elas. Depois de todo esse tempo, a mandaloriana finalmente teve coragem de convidar a outra mulher para adentrar no local onde vivia com sua Mestra, Huyang e os demais Noti. Shin só aceitou o convite na terceira tentativa de Sabine. A entrada das duas no acampamento não se deu sem tensão. Por um momento a antiga Padawan de Baylan Skoll se arrependendo de sua decisão. Aos poucos, no entanto, os Noti se tranquilizaram, todos voltando as suas atividades rotineiras, depois de cumprimentar as duas mulheres. Sabine se permitiu um sorriso tranquilizador, voltado para Shin.

 

— Eu te disse que os Noti não seriam problema – ela diz para sua antiga inimiga.

 

— Eles são confiantes demais para o próprio bem – retruca Shin – fico imaginando o que será deles quando você e sua Mestra não estiverem mais presentes – o sorriso de Sabine morreu em seu rosto, a ideia de que o destino dos Noti estivesse nas mãos dela e de Ahsoka, caindo sobre seus ombros como uma grave responsabilidade.

 

— Vejo que finalmente você conseguiu convencê-la – a voz de Ahsoka interrompendo o momento de preocupação de Sabine.

 

Aquela foi a primeira vez que Shin viu a Mestra de Sabine desde o funeral de Baylan. Ela sentiu um sentimento crescente de hostilidade surgindo em seu íntimo. Era parte dela, sem dúvida, mas a intensidade do mesmo era óbvio de onde vinha. Imagens suas com Baylan surgiam em seus pensamentos. Os ensinamentos dele, sua incrível paciência com uma menina ao mesmo tempo fascinada e assustada com suas novas descobertas. Shin lembrou do seu jeito austero, disfarçando o cuidado e proteção com ela. Essas lembranças só enfatizavam os sentimentos negativos que tomavam conta dela, sentimentos esses dirigidos justamente à figura diante de si, cuja tranquilidade que emanava só acentuava a negatividade dos sentimentos que continuavam crescendo em Shin.

 

— Eu… eu creio que… creio que não foi uma boa ideia – Shin começou a manobrar sua montaria para ir embora.

 

— Não fuja dessas emoções, Shin Hati – a voz de Ahsola soava tranquila como sempre – lembre dos ensinamentos do seu antigo Mestre. Não reprima essas emoções, use-as como uma ferramenta, mas jamais permita que elas assumam o controle de suas decisões.

 

— É Abeloth – a voz de Sabine tinha um tom angustiado que chamou a atenção das duas outras mulheres, ambas percebendo como a jovem mandaloriana era afetada de maneira diferente por Abeloth – ela é quem está fazendo isso conosco – seu olhar volta-se para Ahsoka – nos ajude Mestra, precisamos nos livrar dela – o olhar suplicante de sua Padawan provocou uma dor muito forte no coração de Ahsoka. Ela se aproximou para tocar suavemente no braço de Sabine.

 

— Eu não sei se posso livrar vocês duas de Abeloth – Ahsoka responde, olhando de Sabine para Shin – mas eu vou fazer o meu melhor para ajudá-las a manter essa criatura maligna sobre controle. Unam-se comigo na Força. Ela é nossa aliada. A Força irá fortalecer vocês duas contra a influência de Abeloth – Ahsoka se dirigiu para dentro da nave. Sabine desceu de sua montaria imediatamente, mas Shin ainda hesitou, até ser convencida pelo olhar da mandaloriana, as jovens mulheres seguindo a mulher mais velha.

 

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Os quase dois meses seguintes se passaram com Shin se acostumando a ficar cada vez mais próxima do acampamento. Ela passou a acompanhar as migrações dos Noti, tal como Ahsoka, Sabine e Huyang. A presença das três mulheres Jedi, e do Droid, deu uma grande sensação de segurança para as criaturas nativas de Peridea. Na única vez que o acampamento foi atacado por errantes, a ação das três mulheres foi mais do que suficiente para espantá-los, de forma que não voltaram mais. Ter ficado mais tempo acampado permitiu aos Noti cultivar um pouco melhor o terreno, apesar de sua extrema infertilidade. A comida ficara um pouco mais farta, embora o gosto ainda fosse um pouco estranho para as três mulheres.

Durante esse período, exercícios de meditação se tornaram bem frequentes entre Shin e Sabine, com Ahsoka participando as vezes. Ainda era tenso estar muito perto da togruta, mas Shin fez o seu melhor para enfrentar essa emoção que estava lá dentro dela, embora fosse muito amplificada pela influência de Abeloth. Ao longo das semanas elas conseguiram lidar com isso. O treino Jedi de Sabine também continuava firme, bem como seu esforço visando aumentar sua capacidade de se conectar com a Força. O que nunca faltava também era o sparring diário entre as duas jovens. Isso refletia o fato de estarem cada vez mais ligadas por um sentimento que só fazia crescer nelas. O maior problema para esse sentimento foi ter encontrado muitas barreiras e muitos medos, que ambas cultivavam, antes mesmo de se conhecerem.

 

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Aquele dia em específico estava chegando ao fim. Depois de um intenso treinamento Jedi, Sabine quis tirar um momento de relaxamento, com ela e Shin cavalgando seus bugios pelo imensidão que viam diante de si. A montaria de Ahsoka de a muito tinha sido liberada, voltando a vida selvagem. O local do acampamento era uma espécie de savana, com uma vegetação bem rasteira, ainda assim, chegando a ser exuberante, se comparado a dos locais anteriores. O tempo ocioso fez com que Huyang se dedicasse a analisar várias amostras colhidas do solo de Peridea, buscando as razões de sua quase total infertilidade. Nada em específico foi encontrado, o que gerou a especulação de Ahsoka, sobre se Abeloth pudesse ser a responsável por isso. Essa especulação teve que ser deixada de lado. Um som de grande agitação podia ser ouvido do lado de fora, vindo dos Noti. Ahsoka já saiu de sabre de luz na mão, temendo um novo ataque dos errantes, mas foi grande a sua surpresa, quando viu a nave pairando acima.

A nave pousou suavemente. Ahsoka viu Sabine e Shin vindo correndo em suas montarias, saltando delas e se posicionando, cada uma ao lado da togruta. Huyeng saiu da nave com uma arma engatilhada, enquanto os Noti se escondiam em suas moradias que também serviam de transporte. A nave abriu sua escotilha e duas pessoas saíram dela. Toda a tensão do momento começou a ser desfeita, um sorriso surgindo nos rostos de Sabine e Ahsoka, embora uma certa tensão ainda se mantivesse no rosto de Shin. A arma de Huyang foi abaixada, os sabres de luz desligados, mesmo o de Shin. Sabine foi a primeira a falar.

 

— Eu sabia que você não ia nos deixar mofando nesse planeta – ela sorria em direção a Ezra, que retribuiu o sorriso, Hera do seu lado, sorrindo também.


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Notas finais do capítulo

Capítulo 8 postado como prometido. No capítulo agora só em 2024. Aguardem.