Jedis e Padawans – Diferentes Tons de Cinza escrita por MarcosFLuder


Capítulo 3
A presença de Abeloth


Notas iniciais do capítulo

Capítulo 3 postado. Segue a minha versão do que poderia ser uma segunda temporada da série Ahsoka, seguindo uma das teorias dos fãs sobre o que Baylan Skoll procura em Peridea. A figura de Abeloth vai ser mais presente ao longo dos capítulos, além de mostrar como se chegou ao que vimos no tempo presente da história. Nesse capítulos temos tem linhas do tempo sendo abordadas. Tem a que se passa logo após o final da temporada, em Peridea, A segunda linha do tempo é quatro meses depois, como todos já de volta, como isso se deu veremos em capítulos posteriores, além da linha do tempo atual. Espero que as marcações que fiz tenha deixado isso claro e facilitado a leitura. Aproveitem a leitura.



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PLANETA LOTHAL

1 ANO E 4 MESES ANTES DO TEMPO PRESENTE

 

Já era o terceiro dia que ela estava naquela cela. Seus pensamentos seguindo um verdadeiro redemoinho de emoções, depois de todo o conflito que a levou até ali. Uma hora era dominada por um sentimento de vingança, querendo ir na garganta de Ahsoka Tano. O que a impelia a deixar esses pensamentos bem fundo em sua mente era saber que, embora fossem verdadeiros nela, tinham sido muito amplificados pela influência de Abeloth em seu íntimo. Shin sabia das terríveis consequências de se deixar levar por eles. Ela tratou de se manter em meditação, buscar o apoio da Força contra esses pensamentos. Fazer isso despertou nela uma sensação que vinha crescendo aos poucos, quanto mais se aproximava de retornar da outra galáxia. O sentimento de que havia algo esperando por ela em algum lugar.

Shin interrompeu sua meditação, ainda temerosa do que seria essa sensação, do que esperava encontrar, se fosse atrás das razões para este sentimento. Ela procurou tirar tudo isso de sua mente. Ajudava muito que também era tomada pelo desejo de não estar só, mais precisamente de estar na companhia de uma certa mandaloriana. Ela não ligava para a possibilidade disso fortalecer a presença de Abeloth, pela proximidade das duas, da ligação cada vez mais forte que as unia com a Força. Apesar de todos os temores, ela ainda acreditava que eram juntas que poderiam enfrentar a influência da criatura maligna, não separadas. É certo que havia um certo receio, mas também havia um forte sentimento de ligação com Sabine, que Shin gostaria de aprofundar mais.

O medo do qual não conseguia se livrar, entretanto, era o que tomava conta dela, agora que estava privada da orientação de Baylan. Desde os seus 8 ou 9 anos que ele era o alicerce de sua vida, seu farol, o norte que sempre a orientou. Isso tudo acabou. Ela sabia que não poderia mais contar com ele, não depois do que acontecera em Peridea, nunca mais. Era do entendimento de Shin que precisava definir sozinha o rumo de sua vida a partir de agora. Nunca admitiria para ninguém, mas essa era uma perspectiva assustadora. Um barulho de passos a tira de seus pensamentos, ela sabia quem era antes mesmo de lhe dirigir o olhar.

— Veio comunicar o meu destino, mandaloriana? – havia um certo rancor na sua voz, que ela também sabia de onde vinha, ou por quem era potencializado, mas era algo que ela não conseguia evitar.

 

— De certa forma sim – ela viu quando Sabine Wren abriu a porta da cela, fazendo menção dela se levantar – venha comigo – Shin viu que ela não esperou uma resposta, se virando de imediato. Apesar da desconfiança, a antiga Padawan de Baylan Skoll, tratou de acompanhar a Padawan de Ahsoka Tano.

 

— Está me conduzindo ao local da minha execução, mandaloriana?

 

— Você não será executada, Shin – Sabine seguia seu caminho sem olhar para trás – mas ainda assim, chegaram a uma conclusão sobre o seu destino.

 

Foi uma caminhada rápida, até chegarem a uma área externa. Shin já tinha notado antes que estavam em um ponto elevado, bem no meio do deserto de Lothal. Ela ainda não sabia o que esperar do que estava por vir, apenas viu algumas pessoas no local, esperando pela chegada dela e de Sabine. Shin reconheceu Ahsoka Tano, Hera Syndulla e Ezra Bridger, mas havia outra pessoa com eles. A antiga Padawan de Baylan Skoll a reconheceu de imediato, embora nunca a tivesse visto pessoalmente antes. A mulher em questão emanava um ar de autoridade e serenidade, mas tudo em Shin a mantinha em alerta sobre a figura diante dela. Essa sensação de alerta, no entanto, foi deixada de lado quando Ahsoka foi ao seu encontro, até surpreendê-la, oferecendo-lhe o seu sabre de luz.

 

— Não tem medo que eu corte você ao meio com ele? – as palavras saíram sem filtro de dentro dela, sendo recebidas com um suspiro exasperado de Sabine, mas com a serenidade habitual por parte de Ashoka.

 

— Essa é uma escolha que está ao seu alcance, caso deseje fazê-la – o oferecimento do sabre de luz ainda permanecia, apesar das palavras de Shin. Esta trata de pegar o que lhe era oferecido – você é livre para partir se desejar.

 

— Pode ficar também... se quiser – a voz de Sabine tem um quê de temor e hesitação, apesar do leve sorriso em seu rosto. Shin também notou o olhar desconfiado de Hera para a jovem mandaloriana.

 

— Se sua escolha for partir, boa sorte – É Hera quem fala agora – mas há uma condição para libertar você.

 

— É claro que há – um sorriso malicioso surge no rosto de Shin.

 

— Nada tão complicado – retruca a mãe de Jace – por conta do seu passado, você pode estar em lugares que são de quase impossível acesso para nós, onde pessoas poderão falar coisas importantes que nós não estaremos por perto para ouvir.

 

— Caso algumas dessas pessoas fale algo sobre as atividades de Thrawn e das Irmãs da Noite, você deve nos informar imediatamente – é Ahsoka quem fala agora.

 

— Vocês vão confiar em mim para fazer isso, depois que eu estiver longe daqui? – há um tom de diversão na voz de Shin.

 

— É mais uma aposta do que realmente um voto de confiança – o olhar de Hera se volta para Sabine enquanto fala. A jovem mandaloriana abaixa a cabeça, ligeiramente constrangida.

 

— De qualquer forma – é Ahsoka quem retoma a palavra – só não faça nada que nos obrigue a ir atrás de você.

 

— Que garantia eu tenho de que a República não irá atrás de mim? – Shin fez essa pergunta porque sabia quem responderia. Ela teve a confirmação de suas suspeitas quando todos olharam para a mulher de autoridade serena que se mantinha calada até então.

 

— Como a líder do Conselho de Defesa da República eu concordei com a ideia de Ahsoka e Hera, de que você merecia uma oportunidade de compensar seus crimes ajudando a República, Shin Hati – a voz de Leya Organa confirmava a impressão de serena autoridade que Shin sentia diante dela – você prestou um serviço inestimável, não só a República, mas a qualquer ser vivente neste universo. Ainda está prestando, segundo me relataram. Por isso estamos fazendo essa aposta com você. Só que nada do que está se dando aqui tem caráter oficial.

 

— Mantendo o seu status de fora-da-lei você poderá circular sem causar desconfianças, por ambientes que são praticamente inacessíveis para pessoas como nós – Hera retoma a palavra – é o melhor acordo que podemos oferecer a você.

 

— Que a Força esteja contigo, minha cara – Leya diz isso e se retira, com os demais fazendo o mesmo, deixando apenas Shin e Sabine. As duas jovens olham uma para a outra por um breve minuto, ambas tentando encontrar algo para dizer. É Shin quem consegue primeiro.

 

— Em vez de eu ficar… porque você não vem comigo? – o tom de voz de Shin é mais firme, embora ela esconda bem uma grande ansiedade pela resposta de Sabine.

 

— Eu não posso – um triste suspiro segue tais palavras – Thrawn está solto por aí, e ainda trouxe um uma legião inteira de Irmãs da Noite junto com ele. Em parte é responsabilidade minha. Não posso virar as costas para isso.

 

— Eu entendo – o rosto de Shin é uma máscara sem expressão, mesmo que por dentro esteja triste, embora não exatamente surpresa – e ainda tem esse temor que todo mundo fala, sobre como ficarmos juntas pode fortalecer a influência de Abeloth sobre nós duas – um novo silêncio se dá entre as duas – acho melhor ir arrumar minhas coisas.

 

— Vem comigo então, deixei tudo guardado no meu quarto – Sabine nem espera uma resposta e já se vira. Shin não pode deixar de notar um certo padrão se formando, ainda assim, tratou de segui-la.

 

PLANETA LOTHAL – TEMPO PRESENTE

 

As três mulheres estavam naquele bar a pouco mais de 1 hora. Haviam feito uma refeição ligeira e agora aproveitavam a digestão com algumas bebidas. O local estava bem cheio, mas elas já eram bem conhecidas dos frequentadores habituais, tornando mais fácil evitar a curiosidade que heroínas de guerra, além de uma conhecida Jedi, normalmente despertam. Hera Syndulla, Sabine Wren e Ashoka Tano estavam esperando a chegada de Ezra, cuja missão de buscar Shin e sua Padawan foi motivo de aborrecimento para Sabine. As duas mulheres mais velhas não podiam evitar de provocar a jovem mandaloriana por conta disso.

 

— Calma Sabine – a voz de Hera tinha um tom bem divertido – a sua namorada vai chegar logo.

 

— Ela não é... – Sabine olhou em volta, preocupada que seu tom de voz mais alto tenha chamado a atenção. Ela se volta para Hera num tom de voz sussurrante – ela não é minha namorada.

 

— É verdade, Hera – intervém Ashoka – Sabine está comprometida atualmente.

 

— É mesmo, quem é o cara, ou a garota da semana? – Hera olha para uma aborrecida Sabine.

 

— Na verdade já tem quase seis meses que ela e o Arlo estão juntos – responde Ahsoka.

 

— Quase seis meses? – Hera faz um gesto bem exagerado, como se estivesse chocada – o que está acontecendo com a minha garota que alternava épocas de intensa promiscuidade com longos períodos de celibato?

 

— É sério mesmo que vocês duas vão ficar discutindo a minha vida sexual num local público? – o rosto de Sabine tinha uma expressão dura, voltada para as duas mulheres mais velhas.

 

— Podemos discutir isso na sua casa então – diz Hera – seria bom convidar esse tal Arlo. Quero ver se aprovo ele.

 

— Pode esquecer, “mãe” – Sabine toma um longo gole de sua bebida – em vez de falar bobagens sobre a minha vida sexual, vocês poderiam explicar porque não me deixaram eu mesma ir buscar a Shin?

 

— O Ezra estava num local bem próximo de onde ela se encontrava, a caminho de Lothal – foi Ashoka quem respondeu – muito mais prático ele fazer isso.

 

— É verdade mesmo que ela arrumou uma Padawan? – Hera tinha uma expressão mais séria agora – e que história é essa de precisar de um refúgio?

 

— Ela ficou de explicar melhor quando chegasse – Sabine tem uma expressão indefinida em seu rosto, pois sua mente vagava para a última vez em que ela e Shin estiveram juntas.

 

PLANETA LOTHAL – 1 ANO E 4 MESES ANTES DO TEMPO PRESENTE

 

O silêncio entre elas permanecia pesado, enquanto Shin arrumava seus pertences para partir. Ela recebera uma pequena nave, como se fora uma recompensa, embora tivesse certeza que era mais uma forma de mantê-la sob vigilância. Ainda assim, era um tipo de recompensa que ela não podia recusar, pois estava liberada para partir. Sabine mantinha-se encostada num canto, apenas vendo a antiga Padawan de Baylan Skoll, aquela que conheceu numa luta de morte, se preparando para partir. A jovem mandaloriana ainda tentava entender que estranhos sentimentos a atraiam para a mulher diante dela. Ela podia contar pelo menos três ou quatro tentativas de Shin Hati em matá-la. Sabine, por sua vez, tivera o mesmo desejo quando a reencontrou em Seatos, e depois em Peridea.

No entanto, era visível que havia uma ligação forte entre elas, que ia muito além do desejo homicida. Embora não percebido na época, já estava claro para Sabine agora que essa ligação se deu desde o primeiro encontro das duas. Tudo o que viveram em Peridea, principalmente depois de terem enfrentado Abeloth, só fortaleceu ainda mais essa ligação. Os breves toques, os olhares intensos entre as lutas, que passaram a ser apenas de sparring, tudo evocava algo que deixava a mandaloriana desconcertada. Eram sentimentos que deixavam Sabine assustada, independente de Abeloth, pois é fato que mesmo antes de conhecer Shin, ela nunca foi muito boa em lidar com isso.

Durante muito tempo, Sabine Wren acreditou que nunca foi seletiva em seus relacionamentos. A maturidade, no entanto, a fez perceber que tinha uma lógica sim, em suas escolhas. Havia sempre a atração por figuras, homens e mulheres, que sempre eram motivo de desconfiança por parte dos mais próximos a ela. Conhecer Shin apenas elevou essa característica ao extremo. A vontade de segui-la para onde ela fosse era muito forte, mas Sabine estava firme em seu propósito de não ceder à sua vontade. A mandaloriana havia chegado num acordo consigo mesma, deixando de lado esse seu sentido de urgência, de satisfação das próprias necessidades a todo custo. Ela tinha um dever e não poderia afastar-se dele, por maior que fosse o desejo de estar com Shin, para onde quer que ela fosse.

Com tudo isso, o espírito rebelde que nunca a abandonou, mantinha-a firme em rejeitar a ideia de que precisavam ficar longe uma da outra. Sabine podia sentir a influência de Abeloth dentro dela, mesmo que de forma mais difusa que Shin, mas ela sabia que estava lá. Essa presença se mantinha bem fundo dentro dela, parecendo apenas esperar a melhor oportunidade para emergir. A ideia de que precisava estar separada de Shin para mantê-la enterrada em seu íntimo era inaceitável para Sabine. Por isso mesmo havia a esperança de convencê-la a ficar, mas a jovem mandaloriana não se iludia, mesmo que se dispusesse a uma última tentativa.

 

— Tem certeza que não dá para você ficar? – havia uma certa urgência em sua voz, por mais que a mandaloriana tentasse disfarçar – eu sei que esta coisa com Abeloth é assustadora, e ainda tem a sua questão com Ahsoka.

 

— Não tem a ver com Abeloth, menos ainda com a sua Mestra – a resposta de Shin veio rápida.

 

— O que quer dizer com isso?

 

— Já falamos sobre isso antes, sobre como comecei a sentir isso ainda na nave que nos trouxe de volta, quanto mais perto estávamos de chegar. Só ficou mais intenso desde que retornamos – a voz de Shin é um quase sussurro, seu olhar agora voltado para Sabine – como se a Força me dissesse que há algo para mim lá fora.

 

— Do que você está falando?

 

— Eu não sei direito – Shin se aproxima de Sabine – me lembra muito o que Baylan me contava, sobre algo que ele sentiu durante muito tempo, antes de me encontrar. Sei lá, no final pode ser tudo coisa de Abeloth mesmo – ela pega seus pertences e faz menção de sair, mas para diante da porta do quarto. É um momento de hesitação, que faz Sabine segurar a própria respiração com o que está por vir. Shin se volta para a mandaloriana – Baylan sempre me disse para evitar o apego, para nunca deixar as emoções assumirem o controle. Ele sempre dizia que tudo isso só dificultava o acesso à Força.

 

— Ele devia estar certo – o tom de voz de Sabine indica um certo amargor ao dizer – eu talvez seja a melhor indicação do acerto dele sobre isso.

 

— Talvez – Shin se aproxima lentamente de Sabine – mas olhe você agora. Talvez Baylan ainda estivesse muito preso aos velhos preceitos da ordem Jedi. Preceitos esses que ele mesmo dizia não acreditar mais – Shin tem um ligeiro arregalar de olhos, ao notar Sabine estender sua mão, acariciando o seu rosto. Um momento de susto que passa, com ela fechando os olhos e apreciando o gesto da mandaloriana.

 

— Talvez ele estivesse mesmo – Sabine retira a mão do rosto de Shin, esta abrindo os olhos com um suspiro. Ambas olham profundamente uma nos olhos da outra – mesmo assim, talvez não seja uma boa ideia, Shin – Sabine sente seu coração dar um salto quando vê o sorriso surgir no rosto de sua outrora inimiga.

 

— Desde quando más ideias e escolhas questionáveis detiveram você, Sabine Wren? – o sorriso se manteve no rosto de Shin, ainda mais quando um mesmo sorriso surgiu no rosto de Sabine.

 

— Antes de conhecer você? Nunca – a ponta dos dedos de Sabine voltam a deslisar suavemente pelo rosto de Shin – a minha vida tem sido uma longa fila de más escolhas e decisões questionáveis, principalmente quando se tratam de sentimentos, emoções e relacionamentos. Creio que você merece algo muito melhor do que fazer parte dessa fila.

 

— Eu não me importaria de fazer parte dessa fila, Sabine Wren – a determinação na voz de Shin faz Sabine suspirar, ao mesmo tempo em que sorri, do seu jeito brincalhão normal.

 

— Eu também não me importaria de ser parte da sua fila de más escolhas e decisões questionáveis, Shin Hati – ela mantém o sorriso brincalhão enquanto diz isso, até notar um ligeiro rubor surgindo na face de Shin, com esta cortando o contato visual – o que foi?

 

— Eu… hã… eu – Shin volta a fazer contato visual, com Sabine notando um temor nada comum refletindo em seu rosto – não tem fila nenhuma, Sabine, nunca teve – a expressão no rosto de Sabine é de puro choque e ela se afasta ligeiramente da outra garota.

 

— Oh Deuses! Shin eu... – a voz de Sabine falha, com ela ganhando também um certo rubor em sua face – talvez não seja uma boa ideia mesmo. Oh Shin! Você merece alguém que não esteja tão fudida emocionalmente como eu, na sua primeira vez – o rubor desaparece de imediato do rosto de Shin, substituída por uma determinação que a faz fechar quase completamente o espaço entre as duas. Sabine recua um passo, acabando por se encostar numa parede, seus rostos quase colados agora.

 

— Se não for você, Sabine Wren, não será ninguém – ela diz isso quase sussurrando. A enormidade dessa declaração atinge Sabine em cheio, seus olhos arregalados, o coração aos saltos. Ambas fecham o diminuto espaço entre elas e começam a se beijar. Um beijo que começa suave, mas vai ganhando intensidade. Sabine logo comprova a inexperiência de Shin, quando esta a imprensa ainda mais forte contra a parede, parecendo faminta pelos lábios da mandaloriana.

 

— Calma, calma, calma minha lobinha selvagem, calma – o sorriso de Sabine para Shin é imenso e ao mesmo tempo tranquilizador – não precisa sugar tudo de uma vez, só tome o seu tempo apreciando o gosto, a sensação. Haverá tempo para me mostrar a loba selvagem que você pode ser. Só aprecie o momento – Sabine volta a beijá-la com suavidade e Shin aceita ser conduzida por ela. Ambas apreciam o gosto uma da outra enquanto Sabine conduz sua antiga inimiga até a cama.

 

PLANETA LOTHAL – TEMPO PRESENTE

 

— Sabine, ei Sabine – a voz de Hera meio que tira a jovem madaloriana de um quase transe – em que mundo você estava?

 

— O mundo eu não sei, mas com quem ela estava nele eu posso imaginar – é uma sorridente Ashoka quem diz.

 

— Calem a boca vocês duas – Sabine se levanta bruscamente, uma forma de disfarçar o seu rubor – temos que ir, eles já devem estar chegando.

 

PLANETA PERIDEA

UM ANO E OITO MESES ANTES DO TEMPO PRESENTE

 

A tensão era grande no local. Shin ainda mantinha seu sabre apontado para as duas outras mulheres, enquanto os errantes sob o seu comando permaneciam na expectativa do que estava por vir. Sabine também tinha o seu sabre ligado, o olhar determinado, em desafio às ordens que foram dadas. Ahsoka desceu de sua montaria. Ela se mantinha em absoluta serenidade, embora sem fazer qualquer menção de entregar o seu sabre. A antiga Padawan de Anakin Skywalker tinha os braços levantados, mas nada em sua postura indicava que estava se rendendo. Ela tinha uma aspecto sereno em sua face, seu olhar voltado apenas para Shin. Ela cruza os braços, abrindo um sorriso suave e discreto.

 

— Já tínhamos percebido a vigilância dos seus homens dias atrás – ela disse, agora voltando a olhar para os demais errantes – imagino que em outras épocas eles não teriam hesitado em nos atacar.

 

— As ordens foram apenas para manter vocês duas sob observação – Shin dizia isso, seu olhar agora voltado para uma Sabine que também desmontava, mas ainda de sabre ligado na mão.

 

— Sorte a deles que você não os mandou nos atacar – Sabine tinha um sorriso predatório agora, o olhar desafiante para os errantes.

 

— Você se preocupa com a vida dos sob o seu comando – há um tom de aprovação na voz de Ahsoka – é o que se espera de um bom líder.

 

— Suas palavras bajuladoras não vão me dissuadir do meu intento, Ahsoka Tano – a voz de Shin se mantém firme e dura.

 

— Não estou bajulando você, Shin – Ahsoka olha de Shin para os demais errantes, e deles para Sabine – nós já prevíamos uma ação como a sua. Os Noti estão seguros dentro da nave, os errantes que você mandou não podem chegar até eles.

 

— E se tentarem o Huyang dará cabo de todos sem muito dificuldade – havia um tom de divertido desafio na voz de Sabine.

 

— Vocês ainda insistem com essa história do meu Mestre estar libertando uma criatura maligna sem saber – Ahsoka consegue notar uma “rachadura” na determinação de Shin. Ela dá um passo a frente e estende a sua mão em direção a mulher mais jovem.

 

— Una-se a mim na Força, Shin. Eu posso te ajudar a encontrar o seu Mestre. Tenho certeza de que você já tentou contato com ele, estou errada?

 

— Ele se fechou para mim – tanto Ahsoka quanto Sabine foram capazes de notar a profunda tristeza contida na voz de Shin. Sabine abaixou sua cabeça, em conflito consigo mesma, pela profunda empatia que sentiu nesse momento.

 

— Eu posso ajudá-la com isso – Ahsoka diz – eu posso ajudá-la a encontrar o seu Mestre na Força, Shin. Saiba o que eu sei, sinta o que eu sinto. Veja por você mesma o medo que toma conta de mim, com a possibilidade do seu Mestre libertar Abeloth.

 

O tempo pareceu adquirir um aspecto de imobilidade para todos ali. Apenas o barulho natural do espaço aberto podia ser ouvido, junto com muitas respirações. Shin desliga o seu sabre e o guarda em seu cinto. Basta apenas um breve olhar de sua Mestra para que Sabine faça o mesmo. A antiga Padawan de Baylan Skoll desce de sua montaria. Ela ainda parece muito hesitante, seu olhar se dividindo entre Ahsoka e Sabine. Alguns passos são dados em direção a Ahsoka, a mão desta ainda estendida em direção a Shin. Ahsoka mantém a postura serena em sua face, tudo em sua linguagem corporal, em sua postura, procurando passar o máximo de tranquilidade para a jovem que se aproxima dela.

Shin Hati nunca foi ensinada a confiar. De fato, todas as lições de seu antigo Mestre sempre tiveram o objetivo de afiar a sua desconfiança dos demais. Sempre estar com um pé atrás, sempre estar preparada para uma traição. Jamais ceder aos seus sentimentos, jamais se perder na luxúria, jamais depender emocionalmente de outrem. Baylan era o único a quem ela se permitiu confiar, o único com quem ela aprendeu a contar, mais ninguém. Evitar ligações de qualquer tipo era um escudo contra futuras decepções. Foi isso que aprendeu com seu antigo Mestre. Ela seguiu esse aprendizado por toda a vida, até aquela noite numa torre de Lothal.

A urgência da missão não lhe permitiu apreender naquele momento, o tamanho da ligação que sentiu com Sabine Wren. Tudo ficou camuflado em desprezo pelas habilidades ausentes dela com a Força, na facilidade com que a derrotou. Tudo camuflado num desejo de morte, que escondia um profundo medo. No orgulho ferido em Seatos, na forma como a evitou o máximo que pode durante a viagem à Peridea. E então seu Mestre a dispensa sem maiores explicações. O sentimento de desamparo só a atingiu de fato quando Ahsoka Tano lhe estendeu a mão, no momento em que se viu só, abandonada por todos, sem ninguém do seu lado.

Agora estava aqui, diante dessas duas mulheres que abalaram, cada uma a sua maneira, tudo o que Shin Hati aprendeu sobre não confiar, sobre abrir-se para as emoções. Ela viu a mão estendida de Ahsoka, ainda desconfiada. Logo depois ela se volta para Sabine, vendo o olhar dela cheio de expectativas. Havia um leve tremor na mão de Shin, enquanto essa ia em direção da mão de Ahsoka, refletindo todo o temor interno da jovem. Entretanto, todos os receios da antiga Padawan de Baylan Skoll foram deixados de lado. Lentamente sua mão se uniu com a de Ahsoka. A cada segundo que passava, os receios foram se desvanecendo. No lugar disso o que ela sentia era uma profunda paz e confiança.

Shin viu quando Sabine deu alguns passos adiante. Ela se aproxima, o olhar ainda refletindo um temor semelhante ao que a outra jovem também estava sentindo. Ahsoka estende sua mão livre para Sabine, que trata de pegá-la. O olhar entre Mestra e Padawan é rápido, uma troca silenciosa de mensagens entre as duas. Shin apenas observa, até ver a outra mão de Sabine estendida em sua direção. O temor já tendo se dissipado facilitou que a mão da antiga Padawan de Baylon Skoll se una a de Sabine. O efeito imediato é uma sensação de quase eletricidade passando de uma para a outra, ambas sob um olhar astuto de Ahsoka. As três mulheres estão de mãos dadas agora, as duas mais jovens comungando dos pensamentos da mulher mais velha, sentindo a ligação dela com a Força. Pouco mais de um minuto se passa e Shin rompe o contato com as duas. Em sua face há uma expressão que mistura horror, mágoa e decepção. Sabine também se encontra atordoada. Apenas Ahsoka mantém uma firme serenidade.

 

— Eu… eu não… ele… eu era só um objeto para ele – lágrimas caiam do rosto de Shin – ele me salvou só para isso? Para fazer de mim um receptáculo.

 

— Pode ter sido isso no começo – a voz de Ahsoka mantém um tom bem calmo – mas eu creio que você cresceu perante ele, Shin. Tornou-se algo muito maior do que isso. Creio mesmo que tê-la liberado para seguir o seu caminho foi uma tentativa dele, talvez inconsciente, de livrá-la desse destino.

 

— E você quer me levar até ele? Até onde está essa Abeloth?

 

— Temos que deter o seu antigo Mestre, Shin – Ahsoka retruca – quanto mais o tempo passa, maior é a influência de Abeloth sobre ele. Se não formos detê-lo, ela pode obrigá-lo a vir atrás de nós. Sabe-se lá quantos inocentes morrerão pelo caminho – Ahsoka vira o seu olhar para os errantes que estão próximos, mas Shin sabe que não são apenas eles que estão nos pensamentos da Mestra de Sabine.

 

— Eu nem consigo imaginar o que deve ser para você a ideia de ir contra o seu antigo Mestre, Shin – agora é Sabine quem fala, as duas jovens trocando olhares – mas Ahsoka tem razão. Não podemos ficar paradas enquanto a influência de Abeloth só cresce.

 

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— “Elas estão vindo, meu filho” – a voz de Abeloth na mente de Baylan ganha um tom cada vez mais forte de autoridade – “esteja preparado para fazer o que deve ser feito”.

 

— “Shin” – Baylan foi capaz de perceber a presença dela na Força, uma profunda dor em seu íntimo pela decepção que sentiu da parte dela, ao descobrir sobre sua ligação com Abeloth.

 

— “O destino dela já estava selado desde que você, guiado pela Força, a salvou das Irmãs da Noite. Foi esse gesto que me fez notar você, Baylan Skoll, deixá-la ir foi uma tolice sua” – a voz de Abeloth guarda um tom de suavidade, mas não esconde a contrariedade com a atitude dele – “é tarde demais para você voltar atrás, meu filho. Trate de se preparar para a chegada delas”.


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Notas finais do capítulo

Capítulo postado como prometido. Espero que quem leu tenha apreciado. Próximo capítulo programado para o domingo que vem. Aguardem.