Jedis e Padawans – Diferentes Tons de Cinza escrita por MarcosFLuder


Capítulo 11
Uma mentira desesperada


Notas iniciais do capítulo

Estamos entrando no que considero o início da reta final da história. Ainda teremos linhas do tempo diferentes, mas depois deste capítulo, todas as cenas se passarão na galáxia canon de Star Wars. Eu já posso dizer que estou quase terminando a história, já tendo começado a escrever da primeira versão do que provavelmente será o penúltimo capítulo. Enfim, aproveitem a jornada.



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NAVE SION – DENTRO DO HIPERESPAÇO

UM ANO E QUATRO MESES ANTES DO TEMPO PRESENTE

 

A sensação angustiante só fazia crescer dentro dela. Menos de um dia antes ela havia sido informada que sairiam do hiperespaço a qualquer momento, finalmente chegando em sua galáxia. Foram longos dias de viagem, mas a cada momento que esta se aproxima do final, o que Shin sente dentro de si é uma preocupação crescente com o que lhe acontecerá ao final dessa jornada. As dúvidas já existiam dentro dela, a influência de Abeloth só fazendo-as crescer. As garantias que recebeu não sendo suficientes para aplacar essa influência. Ela tentava pensar em Sabine, buscando forças na ligação existente entre as duas, mas não era o suficiente.

O conflito no íntimo de Shin era muito grande. Por mais que a estadia em Peridea tenha aprofundado sua ligação com Sabine e Ahsoka, ainda havia muito passado mal resolvido para que a confiança fosse total. Shin também não era ingênua, a ponto de não perceber que muita coisa estaria fora do controle das duas outras mulheres. Além de tudo isso, apesar dos apelos de Sabine, ela ainda não confiava totalmente em Ezra e Hera, pois já era do conhecimento de Shin que Hera Syndulla enfrentaria um sério julgamento. Ela desobedecera ordens, ao ir buscar suas amigas presas em outra galáxia. A dúvida se ela não seria capaz de entregar Shin, para conseguir algum benefício, não abandonava a antiga Padawan de Baylan Skoll.

Eram sentimentos reais dentro dela, e Shin sabia que Abeloth trataria de se aproveitar de tudo isso. Ela sabia que seu atual estado era uma amplificação de tudo o que já sentia por dentro, que Abeloth queria deixá-la cada vez mais insegura e assustada. Medo e dúvida, ódio e desejo de vingança sendo o alimento que a criatura maligna tanto apreciava. A voz soava em sua cabeça implacável, as vezes firme, as vezes sedutora, mas sempre com argumentos convincentes. Shin se perguntava se Baylan teve que lidar com dúvidas durante muito tempo, ou se foi logo convencido para a causa de Abeloth.

 

— Lady Hati, você está bem? – a voz de Huyang chama a atenção de Shin.

 

— Estou sim, vá embora – Shin tenta manter um tom de voz normal, mas sabe que falhou assim que terminou de falar.

 

— Eu diria que você não está nada bem, Lady Hati – o tom seco e brutalmente honesto de Huyang só deixando Shin ainda mais descontrolada. Ela se vira para ele, sacando o seu sabre de luz.

 

— Eu já disse que estou bem – não chega a ser um grito, mas o descontrole é visível na voz de Shin, ainda mais agravado pelo sabre de luz ligado. Huyang recua, acionando em si mesmo um sinal que é enviado para outras pessoas na nave.

 

— Eu terei prazer em deixá-la em paz, Lady Hati, se você se comprometer a não deixar esse ambiente – a voz de Huyang segue no seu tom neutro normal, irritando ainda mais Shin.

 

— Por que vocês acham que podem me manter confinada nessa nave? – o tom era mais alto agora, praticamente um grito. Shin dá dois passos em direção a Huyang, mas se detém ao ver a figura de Sabine chegando.

 

— O que está acontecendo, Shin? – a mandaloriana vê o sabre de luz de Shin ligado, mas ainda evita pegar o seu – por favor Shin, guarde o seu sabre de luz.

 

— Seus amigos vão me entregar para a República, Sabine – já há um tom de desespero na voz de Shin – eles farão isso.

 

— Não é verdade, Shin. Por favor confie em nós – as palavras de Sabine não mudam o fato de ela sentir em seu íntimo também, a dúvida surgindo – eu sei que você tem dúvidas, mas é Abeloth quem a está deixando nesse estado. Eu posso senti-la também.

 

Shin ouve as palavras de Sabine e tenta manter o seu foco nelas. As duvidas rodeiam sua mente, mas ela sabe também que precisava ficar atenta às manipulações de Abeloth. Ela tenta fazê-lo, mas a chegada de Ahsoka, Ezra e Hera só servem para desviá-la do seu foco. As dúvidas crescem em seus pensamentos ao ver a figura da general Syndulla, o medo que sente de ser entregue à República por ela. Ao mesmo tempo, a presença de Ahsoka Tano reabre a ferida que é a morte de seu Mestre, o fato de que nunca mais irá vê-lo novamente. Até mesmo a presença de Ezra serve para amplificar suas inseguranças. Ela vê Ahsoka se aproximando, tentando um gesto para acalmá-la, mas só fazendo com que o ódio dentro dela apenas crescesse. Shin levanta o seu sabre de luz, obrigando a togruta a ligar o seu, ambas agora em choque uma com a outra.

A visão de sua Mestra entrando em choque com Shin deixa Sabine apavorada. Dúvidas e sentimentos negativos se amplificando dentro dela. A mandaloriana sabia que era Abeloth tentando controlá-la, mas ter esse conhecimento não tornava escapar de sua influência mais fácil. Ela viu o desejo de intervir para deter Ahsoka surgir dentro de si, a mão chegando a tocar seu próprio sabre de luz. O toque de Ezra em seu ombro, a voz de sua Mestra em sua mente, lhe dão forças para resistir a esse desejo induzido por Abeloth. A mandaloriana houve Ahsoka dizer algo para Hera, mas não consegue discernir o que é. Nos segundos seguintes ela vê sua Mestra obrigar Shin a forçar seu sabre de luz para um lado, deixando-a vulnerável do outro. É quando um tiro de blaster atinge a antiga Padawan de Baylan Skoll. Sabine vê com horror a arma na mão de Hera, para depois notar o corpo de Shin caído no chão.

 

— Não! – o grito de Sabine é seguido dela indo ao encontro de Shin – vocês mataram ela.

 

— Ela está viva, Sabine – é Ahsoka quem responde – a arma de Hera estava regulada para atordoar. Verifique você mesma – é o que Sabine faz, sentindo um grande alívio ao ver que Shin estava viva.

 

— Apesar dessa situação… inusitada, creio que todos gostariam de saber que fui informado de que a nave Sion sairá do hiperespaço em alguns minutos – a voz de Huyang se faz ouvir, mas ninguém o responde diretamente.

 

— O que vamos fazer? – Ezra olha de Hera para Ahsoka ao fazer a pergunta.

 

— Primeiro faremos uma parada em Lothal – Hera responde – vocês todos ficarão lá com os Noti – ela se dirige a Ezra – você conhece o local onde podem ficar escondidos com Shin.

 

— E quanto a você? – é a vez de Ahsoka perguntar.

 

— Eu vou para a capital da República – Hera responde – já deve ter uma corte marcial esperando por mim lá. Vamos resolver esse problema primeiro, depois cuidaremos da situação da Shin.

 

PLANETA LOTHAL – TEMPO PRESENTE

 

— Eu não acredito que você e Hera tinham combinado fazer aquilo com a Shin, se ela ficasse sob o controle de Abeloth – Sabine se dirigiu a sua Mestra.

 

— A ideia foi minha, na verdade – intervém Hera.

 

— E eu concordei de imediato com ela – Ahsoka é bem enfática em falar – e antes que você pergunte, Sabine, não lhe contamos pelo motivo óbvio de que não podíamos arriscar que Abeloth usasse isso contra nós.

 

— Se te serve de consolo, Sabine, elas também não contaram para mim – É um Ezra que tinha acabado de se juntar à conversa quem diz.

 

— O temor de ser manipulada por Abeloth certamente explica porque Shin não estava realmente convencida que o encontro com a Zara tenha sido algo previsto pela Força – diz Hera – de qualquer forma, nem sei porque desviamos o assunto para isso, vamos voltar para a história de como Shin e Zara se conheceram – todos os olhares se voltaram para Shin, que retomou sua narrativa.

 

SEGUNDA LUA DE PERKON

MENOS DE UM ANO ATRÁS

 

— Dá para você soltar ela, por favor – Abh’Mari procurou falar com uma voz tranquila. Shin olhou para a outra mulher, para então soltar a menina – vem para cá Zara – apesar do chamado a menina se manteve no seu lugar, os olhos fixos em Shin.

 

— Você é como eu? – ela perguntou.

 

— O que você sabe sobre a Força? – Shin olhou fixamente para a criança diante de si, não querendo perder nenhuma expressão no rosto dela.

 

— Você está querendo dizer que a Zara pode ser uma Jedi? – quem pergunta é Abh’Mari – você também é uma, não é? Esse sabre de luz que você tem…

 

— Esqueça isso – Shin corta a fala da mulher, deixando a menina de lado também – esses dois e o sujeito que fugiu, eles são parte do bando que extorque vocês?

 

— São eles sim – ela olha para o horizonte, na direção de onde o outro bandido fugiu – ele deve avisar o restante do grupo. Eu calculo que estarão aqui em 2 ou 3 dias.

 

— Um deles falou sobre vocês duas os terem espionado.

 

— Eu encontrei o lugar onde eles guardam tudo o que roubam da gente, e de outras pessoas – é a vez da menina falar.

 

— Zara! – Shin nota um olhar de reprimenda na outra mulher, dirigido a menina.

 

— O que? Não é com o que encontramos na caverna que vamos pagar ela para acabar com os bandidos? – Shin não evita um sorriso ao ouvir a menina, seu olhar se voltando para a outra mulher.

 

— Parece que ela tem um problema terrível com o filtro entre o cérebro e a língua – a outra mulher se limita a um suspiro desanimado.

 

— Nós te levamos até a caverna para que possa ver com seus próprios olhos – Abh’Mari disse.

 

A viagem levou pouco mais de 10 minutos na nave de Shin. Abh’Mari se manteve ao lado da antiga Padawan de Baylan Skoll, pouco falando, além das dicas sobre a direção que a nave devia seguir. O que estava atacando os nervos de Shin era ver a menina bisbilhotando por todo canto, fazendo perguntas a todo o momento. Havia nela uma curiosidade, que detestou admitir, lembrava muito a si mesma, em seus primeiros tempos com Baylan. Shin se perguntava se seu antigo Mestre também precisou exercer a capacidade para a paciência com tanta curiosidade e questionamentos. A irritação de Shin, no entanto, só escalou mais quando a menina deu um jeito de abrir um holovídeo mostrando ela com Baylan, tomando-o rapidamente de Ath’Zarah Het. Felizmente foi logo quando a outra mulher anunciou a chegada ao local indicado.

As três mulheres saltaram da nave e caminharam até a caverna, com Shin indo na frente. Zara fez de tudo para ir ao seu lado, mas a outra mulher tratou de mantê-la junto de si. Foi a melhor decisão, pois dois Droids de combate saíram da caverna já atirando. Shin manteve as duas atrás dela, enquanto desviava os tiros com seu sabre de luz. Ela continuava avançando, inutilizando um dos Doids, ao voltar um dos tiros contra ele. O outro Droid ela dividiu ao meio. A antiga Padawan de Baylan Skoll olhou para trás, verificando as duas mulheres. Ela viu uma Abh’Mari muito assustada, mas foi o olhar cheio de entusiasmo da menina que a fez sentir algo estranho dentro de si. Shin se perguntou se era dessa forma que ela olhava para Baylan nessa idade, sempre que o via fazer uso de suas habilidades. Era um sentimento com o qual tinha dificuldade em lidar.

As três mulheres entraram na caverna e mesmo Shin teve de admitir o entusiasmo com o que viu. Era mesmo o lugar onde esse bando guardava o produto de seus saques. Tinha de tudo lá, desde alimentos roubados dos aldeões, além de recipientes com muitos créditos da República, mais do que suficiente para pagar o preço que a Guilda normalmente cobrava. Contudo, o que mais chamou a atenção de Shin foram as muitas armas encontradas no local. Um plano surgiu imediatamente em sua cabeça, pois estava claro que não poderia enfrentar sozinha os membros desse bando. A questão que rondava seus pensamentos era saber se um bando de aldeões sujos, boa parte deles certamente covardes, teriam alguma utilidade no seu plano. Ela se dirigiu para as duas mulheres.

 

— Vamos carregar para a nave o máximo de coisas que pudermos levar. Depois disso vamos explodir esse lugar – ela se volta para Abh’Mari – você disse que eles devem estar de volta em 2 ou 3 dias, não é? Vamos ver o dá para fazer até lá.

 

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— Você pode muito bem ter nos condenado à morte, Abh’Mari – o homem diante dela foi bem enfático.

 

— Nós temos morrido aos poucos, desde que esses bandidos chegaram, Moh’Tizah – a mulher retruca. Ao lado dela, Shin permanece calada, seu olhar avaliando as pessoas reunidas no centro da aldeia.

 

— E você? – o homem que confrontou Abh’Mari se voltou para Shin – sua Guilda foi contratada para acabar com os bandidos para nós.

 

— Eu estou aqui, não estou? – Shin responde – já até comecei o meu trabalho liquidando dois dos bandidos.

 

— Mas deixou um escapar – um outro homem fala – e agora ele está trazendo o restante dos bandidos com ele.

 

— Eu estarei pronta para enfrentá-los – responde Shin – a questão é saber se eles têm números suficientes para me superar. E tenham isso em mente, se eles passarem por mim vão reduzir essa aldeia a pó, junto com todo mundo nela – um murmúrio assustado se seguiu à declaração de Shin. O outro homem que falou voltou a se dirigir a ela.

 

— Então talvez seja melhor você ir embora – ele diz, algumas das pessoas presentes meio que parecem concordar.

 

— Eu posso fazer isso. Aliás, já poderia muito bem ter feito – ela sorri para os presentes – se vocês acham que se ajoelhar e implorar por piedade vai funcionar com esses bandidos, eu posso muito bem ir embora.

 

— Nem pensar – a voz de Abh’Mari se eleva, ela se voltando para Moh’Tizah – você sabe muito bem que sem ela estamos perdidos. Você esqueceu o que esses bandidos fizeram da última vez quue estiveram aqui? – ela faz uma pausa, uma grande tristeza surgindo em seu rosto – eles mataram o meu marido e os pais da Ath’Zarah. Pelos deuses Moh’Tizah, eles estupraram uma de suas filhas.

 

— Não preciso que você me lembre disso – o homem chamado Moh’Tizah tem uma expressão sombria no rosto.

 

— Você precisa ser lembrado é do seu dever de vingar a honra de sua filha e da sua família – Abh’Mari responde – nós trouxemos tudo o que foi possível da caverna dos bandidos, antes de explodi-la. Tem muitas armas também, dá para bastante gente aqui usar.

 

— Quem aqui sabe usar armas, por acaso? – o outro homem indaga. Abh’Mari o ignora, se voltando para Moh’Tizah.

 

— Eu sei que você serviu no exército da Velha República – ela diz – eu cursei um tempo na academia imperial. Mesmo tendo largado tudo antes de me formar, eu sei que nós dois podemos ensinar o básico para todo mundo aqui – Shin viu no rosto de Moh’Tizah o quanto ele estava considerando a ideia.

 

— Se a decisão de vocês for resistir, é melhor começarem a se preparar logo – Shin se dirige a todos ali – o tempo que vocês têm para isso é bem curto.

 

Pouco mais de 2 horas se passaram, o dia quase chegando ao fim, com o sol do planeta se pondo no horizonte. Shin olhava de longe, enquanto via as duas únicas pessoas com um mínimo de experiência militar tentando ensinar o básico sobre manuseio de armas para um bando de aldeões que pareciam assustados até mesmo em segurar um rifle. Shin já contava como vitória o simples fato de não terem acertado tiros uns nos outros. Abh’Mari e Moh’Tizah talvez até consigam acertar 4 ou 5 bandidos, mas tudo indicava que os demais seriam apenas uma distração no meio da luta, além da possibilidade de um fogo amigo, para a antiga Padawan de Baylan Skoll.

Shin deixou os aldeões de lado e tratou de pensar na sua própria estratégia de enfrentamento dos bandidos. Pelas informações que colheu, ela estava esperando ter de lidar com algo entre 20 ou 30 homens. A experiência ensinando-a sempre a trabalhar com o pior número. Era muito gente para enfrentar de uma vez só, ainda mais em espaço aberto, ela sabia. Por isso mesmo tratou de circular pela aldeia, olhando as vielas irregulares, as casas pequenas e de aspecto frágil. Memorizou cada caminho, cada saída. Vislumbrou cada objeto que via diante de si, imaginando as formas como poderiam servir de obstáculo e escudo, na sua luta contra os bandidos.

As lições de Baylan, sobre como enfrentar multidões, retornando à sua mente em grande velocidade. “Use o ambiente a seu favor para separá-los em grupos”. “Jamais tente enfrentá-los todos de uma vez”. “Saiba avaliar o inimigo”. “Aqueles que são capazes de dar as respostas mais rápidas devem ser os primeiros a morrer”. “Deixe o que estão visivelmente com medo para o final”. “Não importa o quão ineptos eles sejam, sempre irão subestimá-la pelo fato de ser uma mulher, faça disso uma vantagem”. Todos esses pensamentos rondavam a mente de Shin, mas não a deixaram desatenta para o ambiente ao seu redor. A antiga Padawan de Baylan Skoll se virou decidida, o sabre de luz já em punho. A expressão em seu rosto não suavizou, mesmo vendo quem estava diante dela.

 

— Eu não queria te assustar, desculpe – a voz, ainda num tom infantil de Ath’Zarah Het, não foi o suficiente para deixar Shin mais tranquila.

 

— Pare de me seguir – ela faz menção de se virar para ir embora.

 

— Eu senti a sua chegada – a menina diz, fazendo Shin se virar para ela, um ar intrigado em seu rosto.

 

— O que quer dizer com isso?

 

— O velho me disse que você viria – a menina responde. Ela vê a expressão no rosto de Shin mudando, passando de intrigada para furiosa.

 

— De que velho você está falando, pirralha – ainda não era um grito, mas o tom de voz de Shin já estava assustando a menina.

 

— O… o velho, ele… você sabe... – Ath’Zarah ficou realmente assustada quando Shin usou a Força para prendê-la junta a parede de uma casa. Ela sentiu seu corpo sendo elevado, com seus olhos agora na mesma altura dos olhos de Shin.

 

— Quem você pensa que é sua pirralha? – havia muita raiva no tom de voz de Shin – pensa que eu esqueci de você mexendo no holovídeo da minha nave? Acha mesmo que inventar uma mentira dessas vai me fazer te adotar ou o sabe-se lá o que você quer de mim?

 

— Por favor, eu… eu só quero… sair daqui – Ath’Zarah diz isso com dificuldade. Shin consegue se acalmar e a livra do poder da Força, com a menina caindo no chão para logo depois se levantar.

 

— Vá se esconder em algum lugar e fique satisfeita se não for morta por algum dos bandidos – Shin vê a menina sair correndo, desaparecendo numa das vielas. Um misto de raiva e culpa remoendo dentro dela.

 

PLANETA LOTHAL – TEMPO PRESENTE

 

— Pelos deuses, Shin – foi uma Sabine visivelmente chocada quem disse.

 

— Ela mentiu para mim, tentou me enganar para tirar proveito de mim – Shin se defende, ainda que sem muita convicção.

 

— É compreensível a sua reação, Shin – é uma Ahsoka em tom apaziguador quem diz – mas o fato é que vocês duas já estão juntas a quase um ano. Você a reivindicou como sua Padawan, não há dúvida em relação a isso. Contudo, eu vejo que essa questão ainda não foi resolvida entre ambas.

 

— Por que você tem tanta certeza de que ela está mentindo sobre ver o fantasma do Baylan? – é Sabine quem pergunta.

 

— Eu já te disse, porque ele era o meu Mestre, não o dela – é uma Shin quase gritando quem responde – pergunte para a sua Mestra. Era para ele aparecer para mim, não para ela – seu olhar se volta para Ahsoka, quase um súplica podendo ser vista neles.

 

— Normalmente seria assim, mas a Força segue por caminhos estranhos as vezes – Ahsoka diz – e claro, há também o fato de que ela pode ter mentido mesmo. Uma criança sozinha, assustada, estando numa situação como aquela, vendo diante de si uma chance de escapar. Quem aqui pode dizer realmente que não usaria um subterfúgio desses no lugar dela?

 

— Pode até ser, mas... – Sabine olha para sua antiga inimiga – sei lá Shin, ainda acho essa sua reação um tanto exagerada.

 

— Eu normalmente me absteria de opinar em algo envolvendo Jedis e Padawans…

 

— Por favor, Hera – Ahsoka interrompe a amiga – você foi companheira de um Jedi, e é mãe de um Padawan. Tenho certeza de que é capaz de contribuir muito para essa questão – a fala dela é acompanhada por um grunhido de Shin, ela se voltando para Sabine.

 

— Não te irrita o fato da sua Mestra estar sempre certa? – há um ligeiro sorriso no rosto de Shin ao perguntar.

 

— Frequentemente – é a resposta de uma igualmente sorridente Sabine, que logo se volta para a mãe de Jace – diga o que você tem a dizer Hera, também tenho certeza que será muito útil.

 

— Eu vejo muitas semelhanças entre orientar um Padawan e criar um filho – Hera diz, seu rosto expressando um ar meio angustiado – só os deuses sabem sobre as minhas dúvidas a respeito de como eu crio o Jace – ela faz uma pausa, dá um leve suspiro, olhando para Shin – as vezes você tem dúvidas sobre a sua condição de Mestra da Zara?

 

Shin Hati sentiu aquelas palavras como um soco em sua direção. Uma verdade jogada diante dela sem qualquer firula, muito clara e objetiva para ser ignorada. Meses pensando, enquanto o sono era difícil de vir, vieram a mente dela. A preocupação que tomou conta de si na primeira noite que passou junto com Zara, como Mestra e Padawan. O temor que sentiu na primeira vez que treinaram juntas. A busca desesperada por parte dela, das lembranças de seus primeiros dias de treinamento com Baylan. Tudo veio a sua mente ao ouvir a pergunta de Hera. Uma sensação de desamparo diante daquelas pessoas, um medo muito grande de revelar para todo mundo ali, as dúvidas que guardara para si no último ano. Ainda assim, foi com a voz embargada que ela respondeu a pergunta de Hera.

 

— Eu tenho essas dúvidas quase o tempo todo – ela diz, incapaz de olhar nos olhos das outras pessoas presentes – as vezes eu não sei se sou realmente a Mestra que a Zara precisa.


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Notas finais do capítulo

Capítulo 11 postado como prometido. Na próxima semana estarei em viagem. Para evitar o que aconteceu antes vou usar o recurso do Nyah de programar a postagem da história. Eu nunca fiz isso antes, por isso mesmo, se der algum problema, é bem capaz de eu postar o capítulo no sábado, mas creio que tudo ocorrerá bem. Aguardem.



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