Jibbs Como Músicas escrita por Carol McGarrett


Capítulo 3
Love is a Game - Adele


Notas iniciais do capítulo

Eles tentaram em Paris, se casaram, se separaram com menos de dois anos. Ela seguiu a vida, ele também, mas ela volta como diretora e ex esposa dele, O amor é um jogo que eles estão dispostos a jogar novamente.



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"All your expectations of my love are impossible
Surely, you know
That I'm not easy to hold
It's so sad how incapable
Of learning to grow I am"

 

Não sei o que eu poderia dizer neste exato momento. Era a minha primeira vez nesta situação, a terceira dele. Eu não saberia dizer o que deu errado. Se eu esperei demais de uma pessoa que já tinha dado sinais de que não me daria o seu coração completamente, ou se eu era a culpada, com todos os meus sonhos e ambições.

Talvez eu tenha imaginado que casamento era como nos contos de fadas, que depois do “sim” tudo seria risadas e festas. Acho que esqueci de crescer quando se tratava de amar.

Eu era, e ainda sou, uma romântica incorrigível, que sempre acreditou no amor à primeira vista, que casamento era para todo o sempre.

Só que não foi assim. E, parada na porta do tribunal, eu não sei o que fazer.

Jethro parece bem mais à vontade do que eu. Aceitando melhor o fim.

Não tinha tido brigas homéricas, ou traições, nem nada disso. Foi só o fim.

— Bem... – Tentei começar a dizer, mas nada vinha à mente.

— Adeus, Jen. Se cuida. – Jethro em cortou e, após me dar um beijo na testa, desceu os últimos degraus e entrou no carro.

Observei-o partir com um aperto no peito, lágrimas queimando meus olhos.

Esse era o fim de uma história de amor que começou na França, e durou cinco anos. Era isso.

Só isso.

E eu ainda me perguntava o que deu errado...

 

"My heart speaks in puzzle and codes
I've been trying my whole life to solve
God only knows how I've cried
I can't take another defeat
A next time would be the ending of me
Now that I see"

 

Depois do fiasco de meu casamento eu comecei a pensar no que dera de errado, no que eu havia errado.

Cheguei a pensar que o problema era comigo, que Jethro não conseguiu decifrar o que era meu coração, porém, eu também não conseguia saber o que eu queria.

Por noites à fio eu chorei, me culpei e, numa manhã, eu simplesmente me fechei para o amor. Se o homem que eu tive a certeza de que era o certo, não era no final, nenhum mais seria.

Até porque eu tenho certeza, não sobreviveria a outro coração partido. A outro divórcio e ver a morte de todos os meus sonhos.

Tardiamente, em uma noite fria de inverno, sozinha em Londres, conclui que o amor é um jogo para os tolos.

Só os tolos amam.

E eu não era mais nenhuma tola.

Peguei meu coração, guardei em uma caixa e prometi a mim mesma que jogaria a chave fora e nunca mais o tiraria dali.

 

" (...) Love is a game for fools to play
And I ain't fooling again (Fooling)
What a cruel thing (Cruel thing)
To self-inflict that pain"

 

Até porque, eu jamais, jamais, me infligiria tamanha dor novamente. Ainda sinto os ecos da dor do momento em que senti os lábios de Jethro em minha pele pela última vez, de ter que abrir os olhos só para ver que ele já tinha se virado e ia embora.

Eu não era tola de querer passar por isso novamente.

E, assim, sendo tachada de sem coração, de fria e até mesmo de bruxa sem sentimentos, eu segui minha vida, nos últimos cinco anos eu fui de tudo, fiz de tudo, entreguei corpo e alma à única coisa que jamais me machucaria.

O trabalho.

E ele me levou de volta para casa.

Ou pelo menos para a cidade onde cresci, conheci o meu ex-marido, me casei, me divorciei e, bem, deixei de ser aquela Jenny.

Eu estava de volta não como a agente que se casou com o parceiro de equipe (ou chefe, como queiram chamar), mas como a Chefe de Todos.

Inclusive de meu ex-marido.

Seria a primeira vez que eu o veria e ouviria depois de seis anos.

Eu sei que estava preparada para qualquer coisa.

Qualquer mesmo.

 "How unbelievable (Unbelievable)
Of me to fall for the lies that I tell? (Lies I tell)
The dream that I sell (Dream I sell)
When my heartache, it's inevitable (Inevitable)
But I'm no good at doing it well
Not that I care (I don't care)
Why should anything about it be fair?"

 Eu achava que estava sendo sincera comigo mesma, mas não estava. Passei os últimos seis anos certa de que eu tinha superado Jethro, o casamento fracassado e o amor.

Como eu fui tola em acreditar nas minhas próprias mentiras!

Foi fácil inventar um mundo ideal porque eu estava longe dele. Longe de sua presença, de seus olhos...

Porque, tudo foi para água abaixo quando, logo nas minhas primeiras horas como diretora, como a superiora dele, eu notei que eu jamais deixei de amá-lo. Que eu havia me enganado quanto a seguir em frente.

— Algum problema em receber ordens de mim, Jethro? – Foi a pergunta que fiz quando ele parou de me olhar.

— Como mulher ou como diretora?

— Ambos. – Respondi tentando ignorar a dupla conotação de “mulher”.

Nós saímos do MTAC lado a lado, ele nervoso por ter perdido uma agente, querendo passar por cima de mim a qualquer custo e, fazia isso, diminuindo a minha autoridade e me chamando pelo apelido que tinha inventado, Jen.

— No trabalho, Agente Gibbs, é Senhora ou Diretora. – Adverti friamente, separando muito bem nosso passado do nosso presente.

— E fora do trabalho? – Ele me olhou e um brilho há muito perdido passou por seus olhos.

— Não haverá fora do trabalho! – Falei firme, batendo o pé e me impondo como a sua chefe, não ex-esposa.

Jethro subiu um degrau, se assomou sobre mim e, chegando seu rosto perto do meu, sussurrou em meu ouvido:

— Uma pena, eu senti a sua falta, Jen.

Tive que morder o canto da minha boca para controlar o meu corpo. Mas não pude controlar a dor aguda em meu coração. Toda a proximidade não fez bem para o pobre que batia descompassado na presença de Jethro e se despedaçou ainda mais quando eu proferi as palavras que selaram nosso destino.

Contudo, eu deveria saber, deveria ter previsto que Jethro jamais facilitaria a minha vida e, sempre que podia, e até quando não podia, ele me lembrava da sua presença, do seu gênio, da sua teimosia e, até mesmo dos motivos pelos quais eu aceitei a me casar com ele, como quando, já tarde da noite, ele apareceu carregando sacolas e arrumou uma mesa de jantar na mesinha de centro da minha sala.

— E o que esse jantar vai me custar? – Perguntei desconfiada.

— Um cara não pode simplesmente jantar com a ex-esposa e ex-parceira de trabalho manter uma conversa saudável ou discutir um caso?

Estreitei meus olhos na sua direção, ainda nem um pouco convencida da sua atitude.

— Trouxe o seu prato favorito. – Ele mencionou e indicou que eu me sentasse ao seu lado.

E, esse foi o primeiro de muitos. Não tinha dia certo, não tinha uma frequência certa, mas os jantares continuaram, até que um dia, ele apareceu na minha casa.

— Jen... – Disse quando abri a porta.

— De que precisa, Agente Gibbs? – Mantive a formalidade, afinal, meu detalhamento de segurança estava por perto.

— Da única mulher que me entende. – Ele sussurrou e me olhou nos olhos. Eu sabia que o caso de hoje tinha sido difícil para toda a equipe e sabia que tinha sido ainda mais para Jethro. Crianças não deveriam ser mortas. E ele não deveria imaginar a finada filha no lugar da menina que fora morta na última madrugada.

Foi o que bastou para que eu desse um passo para o lado e deixasse que ele entrasse na minha casa e na minha vida novamente.

 "(...)

No amount of love
Can keep me satisfied (Satisfied, satisfied)
I can't keep up (I can't keep up, I can't keep up)
When I keep changing my mind
(Change my mind, change my mind)
The feelings flood me to the heights of no compromise"

 As visitas de Jethro começaram a ser constantes, eu insistia comigo mesma que não era nada demais, que eu não havia mudado a minha mente quanto a um “nós” não ser possível. Era algo sem compromisso. Não fizemos juras de que erámos exclusivos ou que isso era algo mais profundo.

Para mim eram só encontro casuais. Só noites juntos e, antes que o dia amanhecesse, ele saía pela porta e me deixava sozinha.

Só que a cada dia ele ia embora um pouco mais tarde. Se na primeira noite ele saiu ainda de madrugada e sem se despedir, agora ele ficava até um pouco antes do dia clarear e sempre dava um beijo na minha testa antes de sair, estando eu ainda deitada ou de pé.

E foi na última vez, quando ele, além de beijar a minha testa, me abraçou que eu quis mudar a minha mente, e aceitar que não era nada casual. Que nós tínhamos voltado.

Aí eu me lembrei da minha promessa. De nunca mais me apaixonar novamente. Que eu não era uma tola de cair no conto do amor de novo.

Mas bastou que eu chegasse no Estaleiro para encontrar em minha mesa um copo de café, ainda quente.

Olhei em volta, procurando por ele, não o vi, mas vi outra coisa.

Um casaco.

E um tsunami de emoções me inundou. Eu reconheci a peça, sabia a sensação de vesti-la, sabia a sensação que eu senti quando abri a caixa que estava depositada ao meu lado na cama, no lugar onde Jethro dormia. Lembrava perfeitamente de cada instante desde que vi a caixa, até quando vi o conteúdo, e, sorrindo, decidi por me levantar e atrás de quem, até aquele momento, era meu parceiro de trabalho, só para escutar a sua voz no canto do quarto.

— Se eu soubesse que você abriria um sorriso assim quando visse o presente, eu teria te entregado ontem no jantar.

E me lembrava das consequências do presente inesperado, seja naquele dia, seja nos meses seguintes.

E foi por todas estas memórias que eu, deliberadamente, tinha me esquecido de colocá-lo na minha mudança, quando deixei a nossa casa depois do divórcio.

Abandonar a primeira lembrança da declaração de amor de Jethro era a maneira de seguir em frente.

Até que ela aparecesse na minha sala, seis anos e meio depois.

Caminhei com passos incertos até o sofá onde o casaco fora cuidadosamente colocado. Passei minha mão devagar no tecido macio e quando o levantei, duas coisas caíram de um dos bolsos.

Dois anéis.

E, com a garganta apertada, peguei aquela que fora a minha aliança e o meu anel de noivado do chão.

Mais lembranças, mais sonhos passaram pela minha mente.

Balancei a cabeça, e disse não.

Ao guardá-los no bolso, senti que tinha mais coisa ali, um bilhete.

Curiosa, abri e li.

Eu sei o porquê você, de todas as suas roupas, deixou esse casaco pendurado no closet. E, é por este mesmo motivo que eu te devolvo hoje, Jen. Por tudo o que ele representa, por tudo o que jogamos fora, aceite de volta o casaco e cada uma das memórias que ele te traz, que ele nos traz.”

Não tinha assinatura e ele não completava a mensagem. Aceitar o casaco e as memórias de volta, era aceitar Jethro de volta à minha vida. Em todos os sentidos.

Tornei a pegar os anéis no bolso, depois, caminhei até a minha mesa, dependurei o casaco no meu cabide e coloquei os anéis ao lado do copo de café.

Eu tinha o dia para pensar na oferta que meu ex-marido tinha me feito.       

"Love is a game for fools to play
And I ain't fooling (Fooling)
What a cruel thing (Cruel thing)
To self-inflict that pain

 Love is a game for fools to play
And I ain't fooling (Fooling)
What a cruel thing (Cruel thing)
To self-inflict that pain

 Oh you know, I'd do it all again
I love it now like I loved it then
I'm a fool for that
You know I'm, you know I'm gonna do it
Oh-oh-oh-oh
I'd do it all again, like I did then"

 Já passava da meia-noite quando a última operação do dia foi finalizada, e eu estava exausta de ter ficado por mais de dez horas presa dentro do MTAC.

Saí de lá agradecendo por poder ter a vista do lado de fora e ter um pouco mais de ar circulando.

Varri com os olhos as mesas da sala do esquadrão, todas com as lâmpadas apagadas.

Caminhei devagar até meu escritório, coloquei as pastas em minha mesa, indicando que elas seriam as primeiras que eu mexesse pela manhã, hoje nada mais de trabalho.

Desliguei o computador, peguei os anéis e os coloquei no dedo anelar da mão esquerda, e, sem pensar muito, vesti o casaco que tinha sido deixado na minha sala de manhã.

Colocando a bolsa em meu ombro, apaguei a luz e fui em direção à garagem.

Meu destino final, uma casa em Alexandria onde eu não ia, ou pensava em ir, há mais de seis anos.

— Senhora? Essa não é a casa...

— Sim, Melvin, é a casa dele. Só me deixe lá e depois você está liberado.

A viagem foi tranquila, apesar de ser uma noite fria de outono, o céu estava estrelado e, quando notei, estávamos entrando na rua que tinha uma bela vista para o capitólio.

— Obrigada, Melvin, até amanhã de tarde.

— E o seu detalhamento de segurança, senhora?

— O Agente Gibbs saberá muito bem tomar conta de mim, caso precise e, não se esqueça, eu já fui agente de campo. – Falei e fechei a porta.

Esperei que Melvin arrancasse o carro e subi até o pórtico. Procurei pela chave que eu sempre deixei escondida no vaso de flor que fica ao lado da porta. Isso ele também não tinha mudado e, depois de colocar a chave na fechadura, girei-a, entrando na casa que havia comprado com meu, então noivo, e onde havia morado por três anos.

— Como foi fácil deixar tudo para trás... – Murmurei, ao trancar a porta.

O hall de entrada estava escuro, somente a sala de estar estava com uma iluminação fraca, que logo percebi vir da lareira.

Tirei os sapatos, dependurei o casaco e minha bolsa nos cabides vazios e, depois de passar os olhos e notar que nada havia mudado, que a decoração ainda era a mesma que nós havíamos escolhido, que até mesmo o sofá que compramos ainda estava ali, segui para o único lugar onde Jethro poderia estar.

O porão.

O único cômodo da casa pelo qual brigamos incontáveis vezes. Porque ele exigia que a casa tinha que ter um e eu nunca vi utilidade para um porão.

Ele de fato estava lá, a luz fraca do lugar saía pela porta e iluminava a pequena lavanderia.

Atravessei a cozinha e parei no alto da escada, como havia feito incontáveis vezes antes do divórcio, sempre observando como ele era talentoso ao ponto de transformar uma simples tábua de madeira em algo. E, dessa vez não foi diferente, pois tinha um barco lá dentro.

Jethro estava de costas para mim, apesar de que sabia que eu estava ali, ele sempre soube quando eu observava, não seria diferente agora.

Ficamos em silêncio, enquanto ele pintava o nome do barco na popa e eu tentava decifrar que nome ele escolhera.

E, para minha surpresa, Jethro foi o primeiro a se mexer e a falar.

— Seja bem-vinda de volta a nossa casa, Jen! – Virou-se para olhar em minha direção.

Abri um sorriso, era a deixa que eu precisava, assim, desci os degraus com cuidado, segurando com a mão esquerda no corrimão, lembrando-me da vez em que caí ali, para a alegria de Jethro, que por muito tempo, riu de mim cada vez que eu aparecia no porão.

Mesmo a fraca luz do cômodo, a pedra do meu anel de noivado brilhava e isso chamou a atenção do outro ocupante. Eu vi quando sua atenção saiu da minha decida lenta e se virou para minha mão. Vi o momento quando sua mente registrou o que era o brilho e o que significava aqueles dois anéis estarem naquele dedo e vi, espantada, o sorriso que ele abriu ao vir ao meu encontro assim que desci o último degrau.

Ele não pensou duas vezes, suas mãos enquadraram meu rosto, seu polegar fez um carinho em minha bochecha e, antes que eu pudesse dizer o real motivo de minha presença naquela casa, ele me beijou.

O beijo tinha gosto de saudade e me remeteu ao dia de nosso casamento. Foi o mesmo beijo. Com a mesma intensidade.

Quando precisamos de ar, ele não soltou meu rosto, mas encostou sua testa na minha, lendo cada uma das minhas reações, cada uma das minhas emoções, diretamente em meus olhos.

— Respondendo ao seu bilhete, eu te aceito de volta, Jethro. – Sussurrei, e, mesmo assim, minha voz ecoou alto no porão.

O sorriso, que já era aberto, ficou ainda maior e chegou aos seus olhos.

— Eu senti a sua falta, Jen! – Ele repetiu a frase que havia me dito mais de um ano e meio atrás.

 - Você não faz ideia da falta que você me fez, Jethro. Não faz. – Murmurei e o beijei novamente.

Sim, eu tinha quebrado a promessa que fiz a mim mesma, tirei meu coração da caixa onde o colocara e o estava entregando à única pessoa que o merecia. Aliás, não estava entregando nada de volta, apenas constatando o que eu sempre soube, meu coração ficara com Jethro por todos estes anos.

E, assim, eu me permitia amar novamente.

Se o amor era um jogo para os tolos, eu estava fazendo exatamente o que eu havia feito antes e acho que faria de novo e de novo, para sempre.

— Eu te amo, Jethro. – Sussurrei. – Do mesmo jeito desde sempre.

— Eu também te amo, Jen.

Eu era uma tola em acreditar no amor, mas não tinha como não aceitar que, às vezes, essa era a coisa certa a se fazer. Afinal, este era um jogo que eu estava disposta a jogar novamente, ainda mais ao lado de Jethro.


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Notas finais do capítulo

Bem, é isso.
Agradeço a você que leu até e cada um que está lendo os capítulos.
Muito obrigada e até o próximo!
xoxo



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