Jin fazia um esforço desesperado para prender Yoongi, tentando criar raízes sob os pés dele, no entanto, isso se mostrou inútil. A cada momento, Yoongi parecia crescer em força e tornar-se ainda mais incontrolável. Ele estava totalmente fora de si, sem o menor reconhecimento de Jin.

A única preocupação de Jin era o filho em sua barriga. Ele fechou os olhos, quase sem ar, enquanto sentia seu corpo sendo libertado gradualmente. Yoongi o soltou e o devolveu ao chão. Jin abriu os olhos para entender o que fez Yoongi parar. Para sua surpresa, viu Taehyung abraçando Yoongi firmemente por trás, chorando e suplicando para que ele parasse. Os olhos de Yoongi ainda estavam completamente negros, como se estivesse travando uma batalha interna consigo mesmo. No entanto, a presença e as palavras de Taehyung pareciam dar a ele forças para tentar recuperar o controle.

Taehyung permaneceu diante de Yoongi, não demonstrando medo diante dos olhos negros. Com gentileza, ele tocou o rosto pálido do elfo e o beijou ternamente.

— Yoon, volta pra mim — Taehyung implorou, colando suas testas.

Lentamente, os olhos de Yoongi se abriram, e dessa vez estavam de volta ao normal. Taehyung chorou e abraçou-o, aliviado ao ver que seu amado estava de volta.

— Tae, o que houve? — Yoongi olhou para Jin, que ainda tentava recuperar o fôlego, alisando sua barriga, preocupado.

Taehyung olhou para o chão com tristeza.

— Tae! Me diz o que houve! — Yoongi insistiu — Eu apaguei, aconteceu alguma coisa? Por que Jin está assim?

Taehyung lançou um olhar a Jin, ciente de que não poderia mais esconder a verdade de Yoongi. Eles precisavam enfrentar esse problema juntos, pois sabia o quanto seria doloroso para Yoongi se ele machucasse alguém de verdade.

— Vamos conversar em casa — Disse Jin se levantando.

— Jin, você está bem? — Yoongi tentou ajudá-lo, mas Jin empurrou sua mão instintivamente. 

Yoongi percebeu uma certa frieza vinda de Jin, mas não conseguia compreender o motivo por trás desse comportamento.

...

Ao chegarem de volta ao castelo, Jin subiu para o quarto e cuidadosamente acariciou sua barriga, conectando-se com a energia que o bebê emanava. Ele sentiu um alívio ao perceber que tudo estava bem com o bebê.

No amplo salão do castelo, Taehyung e Yoongi estavam diante da lareira, suas mãos unidas, e Taehyung olhava para Yoongi com um olhar compassivo.

Yeontan, o lobo de estimação, chegou correndo como de costume, bagunçando tudo em seu caminho. Ele estava prestes a pular no colo de Taehyung, mas parou abruptamente, freando com suas duas patas dianteiras. Ele se aproximou de Taehyung com um olhar desconfiado e farejou ao seu redor.

— Yeontan? Vem cá! — Taehyung bateu em suas coxas para que Yeontan pulasse em seu colo, mas o lobo o olhava pendendo a cabeça para o lado — Será que ele está bem? 

— Ele deve estar cansado, Tae.

— Chame ele, para ver se ele vai com você.

— Yeontan! Vem cá garoto! — Yoongi o chamou e ele rapidamente pulou em seu colo. Taehyung o olhou com tristeza. 

— Yoon, acho que o Yeontan me odeia.

— Claro que não, meu amor. Ele ama você.

— Então por que ele não vem no meu colo como ele sempre fez?

— Ele não deve estar com vontade agora, não se preocupe, Tae — Yoongi fez carinho em seu rosto. 

Yeontan desceu do colo de Yoongi e colocou a cabeça nas pernas de Taehyung, olhando-o com ternura. Queria que Taehyung entendesse o quanto o amava, demonstrando cuidado para não machucá-lo.

Jin chamou Taehyung e Yoongi em seu quarto. Queria conversar com os dois a sós.

— Precisamos conversar sobre o que aconteceu na floresta — Disse Jin, pegando na mão de Yoongi.

— Sim, Jin. Eu preciso de respostas.

— Yoon, não posso te dar as respostas que você procura, pra ser sincero também não sei ao certo o que está acontecendo.

— Jin, por favor, seja direto e sincero comigo, o que houve lá?

— Yoon... eu… eu não sei como dizer isso...

— Jin — Yoongi fechou os olhos, sentia como se seu mundo estivesse prestes a desabar — Jin, eu perdi o controle e te ataquei, foi isso o que aconteceu?

Taehyung sentiu seu coração despedaçado ao ver seu amado naquela situação.

— Yoon — Não querendo demonstrar seu medo, Jin observou Yoongi com tristeza nos olhos, preocupado que ele pudesse ser dominado pelas trevas, mesmo sem mencionar essa preocupação em palavras —, não foi sua culpa, nós vamos dar um jeito...

— O bebê está bem? — Yoongi não conseguia encarar Jin.

— Sim Yoon, está tudo bem, não se martirize por isso, não foi culpa sua.

— Foi culpa minha sim, por algum motivo eu apaguei e não me lembro de nada do que aconteceu naquele momento — Yoongi parou de repente se lembrando de algo — Não, não, não — Colocou as mãos na cabeça, sua expressão de desespero fez Taehyung abraçá-lo, preocupado. 

— Yoon, está tudo bem?

— Tae — Algumas lágrimas começaram a cair de seus olhos — Aquele dia que eu acordei e você estava no chão, chorando. O que foi que eu fiz com você?

— Yoon, não foi nada, eu caí no chão, foi só isso.

— Não minta pra mim, por favor — As lágrimas caiam de seus olhos só de imaginar que tivesse feito algum mal a pessoa que mais amava no mundo. Yoongi sentiu vontade de desaparecer.

— Está tudo bem, Yoon, já passou — Taehyung tentou abraçá-lo, mas Yoongi o afastou. 

— Eu te machuquei?

O coração de Taehyung sangrava ao ver Yoongi tão desesperado.

— Não, não me machucou. Vamos esquecer isso, hum?

— Me perdoa, eu não quis... — Yoongi soluçava de chorar — Tae, eu te amo muito, muito mesmo, eu nunca te machucaria... eu, eu, eu sou um monstro.

Taehyung pegou seu rosto e olhou em seus olhos.

— Yoon, você não é um monstro, me ouviu bem? Você é um anjo, um herói que salvou milhares de pessoas. Salvou todo esse reino, e me salvou, me protegeu inúmeras vezes. Você cuida de mim, faz eu me sentir amado, feliz e protegido. Estar ao seu lado é minha maior alegria. Eu te amo Yoon, e sempre vou te amar... Vamos resolver isso juntos, está bem? Você não está sozinho —Taehyung o abraçou. Aquele abraço serviu como um calmante em meio aqueles sentimentos turbulentos que assolavam Yoongi. 

— Nós vamos te ajudar — Disse Jin, colocando a mão no ombro de Yoongi — Por hora não use seus poderes, preciso pesquisar e entender o que está acontecendo.

— Sim, me perdoem, prometo que não usarei mais meus poderes. Não quero mais colocar ninguém em risco.

— É como o Tae disse, você não está sozinho, nós te amamos e estamos nessa com você.

Nesse instante, o som estridente das trombetas de alarme ecoou pelos arredores, alertando-os de que inimigos estavam se aproximando da cidade. Levantaram-se abruptamente, tomados pelo susto.

— O que está acontecendo? — Perguntou Taehyung, assustado.

— Tae, Jin, fiquem abaixados — Yoongi se dirigiu até a janela, no horizonte pôde ver uma massa de criaturas correndo em direção às muralhas da cidade, centenas, talvez milhares — Estamos sendo atacados!

Namjoon entrou no quarto desesperado, à procura de Jin.

— Jin, vá para a saída secreta na biblioteca e leve as crianças e idosos.

— Joonnie, eu vou lutar também...

— Não Jin, você não vai! Precisa cuidar do nosso bebê.

— Joonnie, eu não posso te deixar de novo.

— Jin, nós treinamos isso várias vezes, é o protocolo de segurança, agora vá. Prometo que voltarei para você.

Jin suspirou com um peso enorme em seu coração. Não queria separar-se de Namjoon, queria lutar, era um bom guerreiro e seu poder ainda era forte. 

— Quem está nos atacando? — Perguntou Yoongi. 

— Orcs, um exército deles se aproxima.

No reino de Amicitia, forças malignas ameaçavam constantemente a paz de todos. Namjoon, o General do Rei Jimin, liderava incansáveis expedições pelas Florestas Sombrias de Sollicitus em busca dos temíveis Orcs, mas muitas vezes os inimigos escapavam, mudando constantemente de local, tornando a caçada um desafio constante para Namjoon e seu exército.

Entre todos os inimigos que assolavam Amicitia, um se destacava: um espírito maligno que habitava nas sombras. Mesmo após capturar um Orc e submetê-lo a variadas formas de interrogatório, pouco se conseguia extrair de informações, já que os Orcs eram criaturas que não temiam a morte. A única coisa que conseguiram desvendar foi que esse espírito maligno, conhecido como Lord Lecter, liderava o exército de Orcs e tinha como objetivo a dominação do reino. 

No entanto, suas origens eram obscuras, deixando dúvidas sobre se já fora um humano ou um elfo em tempos distantes. Lord Lecter havia desaparecido de maneira misteriosa, e os Orcs pareciam agir com base em instruções prévias. Um dos Orcs capturados por Namjoon mencionou que Lord Lecter estava se preparando para conquistar um mundo que não o de Amicitia, o que deixou Namjoon perplexo, uma vez que aquela informação não fazia sentido. Independentemente disso, sua prioridade era capturá-lo antes que seus planos pudessem ser concretizados.

— Joonie, eu quero ir com você — Jin insistiu. 

— Jin, sua missão é outra. Leve os que não podem lutar para um lugar seguro. Por favor, faça o que estou te implorando, confie em mim, vai dar tudo certo.  

— Eu ainda posso lutar.

— Sei que pode, você é o homem mais incrível e poderoso deste mundo. Mas Jin, você não é mais imortal, apesar de ainda ter seus poderes, eles estão fracos. Acima de tudo, você está frágil, está carregando o nosso bebê, precisa ter mais cautela — Namjoon pegou em seu rosto carinhosamente e beijou sua testa.  

Jin abraçou Namjoon com força e, embora relutante, forçou suas pernas a saírem do quarto. Ele desejava ficar ao lado do marido, mas compreendia a importância de cumprir sua responsabilidade em ajudar a evacuar o local e garantir a segurança das crianças e idosos.

As muralhas de Regium City eram altas e praticamente impenetráveis, mas todos sabiam que não eram invulneráveis. Ao longe, podiam avistar as forças dos Orcs trazendo enormes catapultas. Alguns Orcs eram de um tamanho anormal, medindo quase quatro metros de altura, mas sua lentidão não indicava grande inteligência. O exército Orc também incluía numerosos arqueiros se posicionando nos flancos, enquanto um grande contingente se dirigia diretamente às muralhas, empunhando escudos maciços e lanças. Outros montavam criaturas horrendas, com quatro cabeças e chifres, uma vez que os cavalos normais evitavam os Orcs e criaturas do submundo.

Namjoon, o respeitado general do exército real, liderava a formação com maestria, e todos os soldados sabiam precisamente o que fazer.

O Rei Jimin, liderando o exército de Amicitia, montava seu cavalo branco com uma postura imponente, distante do Jimin que outrora enfrentou medos. Agora, ele irradiava confiança. Seu traje de veludo azul realçado com detalhes em ouro dava-lhe uma aparência majestosa. Uma longa capa branca esvoaçava atrás dele, e a coroa de ouro adornava seus cabelos cinzentos, adicionando um toque de elegância e requinte.

Os dois principais espadachins da guarda real marchavam logo atrás, Jungkook e Yoongi estavam prontos para a batalha. Nas ameias do castelo, Taehyung e Hoseok lideravam os arqueiros, com uma vista privilegiada dos inimigos emergindo da floresta e se aproximando. Taehyung sentiu o peso do medo, mas Hoseok segurou sua mão, infundindo-o com coragem e confiança.

— Vamos conseguir vencer, Tae. Nosso exército é forte, e nós também somos, não se preocupe.  

— Obrigado, Hobi — Taehyung preparou seu amado arco roxo, presente do Capitão Hyunjin. Colocou sua aljava nas costas, com muitas flechas prontas para acertar as cabeças de seus inimigos, olhou novamente para o horizonte e sorriu, Hoseok tinha o incrível poder de trazer esperança a corações aflitos e temerosos.  

Todos estavam prontos para o início de uma batalha árdua. Yoongi estava decidido a não permitir que nenhum Orc sequer passasse por ele. Seu desejo era proteger a todos, especialmente Taehyung, a luz que iluminava seu coração sombrio. Ele estava disposto a dar sua própria vida para garantir a segurança de todos.

... 

Jin liderava um grupo de crianças e idosos em direção a um esconderijo. Além da passagem secreta na biblioteca que Jungkook havia utilizado anteriormente para resgatar Jimin de seu tio, o castelo possuía várias outras passagens semelhantes, cada uma levando a um local diferente. No entanto, desta vez, eles escolheram um lugar de acesso extremamente difícil, onde, no caso do pior cenário, os Orcs não conseguiriam alcançá-los.

Yeontan acompanhava toda a multidão, auxiliando Jin a levar todos para um local seguro. Embora fosse um lobo hiperativo e teimoso, em momentos de perigo, Yeontan sabia exatamente o que fazer, assim como seus pais o haviam ensinado outrora.

Eles desceram por uma íngreme escada, com Jin à frente, segurando um archote cujo fogo iluminava o caminho. Dois guardas reais adicionais ajudavam na evacuação. Passaram por corredores apertados, com paredes úmidas, onde o ar parecia pesado e difícil de respirar. O lugar tinha um cheiro forte de enxofre, fazendo com que Jin sentisse seu estômago revirar, enquanto a ânsia de vômito e a tontura se manifestavam. Ele precisou apoiar a mão na parede para se manter em pé.

— Agora não, agora não — Disse pra si mesmo. 

Yeontan se aproximou, esfregando o focinho em suas mãos e o olhando com ternura.  

— Obrigado amiguinho, já vai passar, é só um mal estar — Jin pegou um frasco de sua bolsa e consumiu todo o líquido, que era um elixir que ele havia preparado antecipadamente para enfrentar circunstâncias como aquelas. A gestação frequentemente o deixava mal, e o elixir ajudaria a aliviar seus sintomas.

Jin respirou fundo, sentindo o alívio proporcionado pelo remédio que começava a fazer efeito. Sabia que a gestação era a causa de seus enjoos constantes, e embora o elixir não pudesse curá-los, pelo menos os tornaria mais suportáveis. Consciente de que todos dependiam dele e o viam como líder, confiando-lhe suas vidas, Jin liderou com determinação. Enquanto seguia com o grupo, uma pequena criança começou a chorar, provavelmente assustada com a situação, enquanto seus pais estavam na linha de batalha.

— Ei pequeno, não chore. Vamos conseguir vencer e todos ficarão bem — Disse Jin, fazendo carinho na cabeça da criança e tentando acalmá-la.  

— Meus pais — A criança chorava amargamente — Meus pais vão morrer?  

— É claro que não, meus amigos estão lá, e eles são muito fortes, vão protegê-los, não se preocupe, está bem? 

— Está bem — Esfregou os olhinhos vermelhos —, o senhor Taehyung está lá?  

— Sim, você o conhece?  

— Conheço! — Animou-se — Quando eu crescer quero ser um arqueiro como ele. Sabia que ele já matou um dragão de dez metros?  

Mesmo naquela situação sombria, Jin não conseguiu conter o riso ao notar como Taehyung conseguia enganar as crianças com suas histórias nada verdadeiras. 

— Sim sim, fiquei sabendo dessa história do senhor Taehyung. E você será ainda mais forte que ele... Viu? Não precisa se preocupar, pois Taehyung “O Matador de Dragões” protegerá seus pais.  

... 

Todo o exército de Amicitia se posicionava diante das altas muralhas, os trajes brancos e dourados reluziam sob a luz do sol. A bandeira com o brasão da Casa dos Park tremulava na torre mais alta do castelo, um símbolo de resistência.

Os olhos de Yoongi varreram as ameias do castelo, cientes de que Taehyung estava lá, cuidando dos arqueiros. Sentia um nó na barriga, uma mistura de ansiedade e medo. Enfrentara inúmeras batalhas em sua vida, mas essa era diferente. Tinha algo a perder, alguém a proteger com toda a força que tinha. O medo de perder aquilo que estimava era avassalador.

Uma tentação o assolava. Ele conhecia a extensão de seus poderes, sabia o que era capaz de fazer. Sentia uma força latente querendo dominá-lo, inclinando-o a usar esses poderes para proteger Taehyung e todos ali presentes. No entanto, também estava ciente de que esses poderes eram um território desconhecido, até mesmo para ele. Não compreendia totalmente o que estava acontecendo.

As dúvidas o consumiam. Seria capaz de controlar esses poderes? Poderia ser a salvação do reino ou sua destruição? Após o que fizera com Jin, era ético tentar usar esses poderes? Estas questões tumultuavam a mente de Yoongi enquanto o exército de Orcs avançava implacavelmente.