Fúria escrita por alegrrdrgs


Capítulo 26
Epílogo (2023)




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Se dependesse só de Penélope, ela nunca mais colocaria os pés na europa. Mas Marina ia se casar, e eles não podiam deixar de ir. Pelo menos o casamento seria em uma cidade pequena, próxima ao acampamento de refugiados onde ela e a noiva trabalhavam, um lugar pacato cuja população era majoritariamente idosos aposentados e onde não tinha muito o que fazer, mas com um cenário muito bonito. 

Independente disso, Giovanna estava exultante por estar ali. Tinha passado todos os dias desde que eles tinham chego batendo perna pela cidade e postando fotos nas suas redes sociais. Vinha perturbando os dois há alguns meses porque queria fazer intercâmbio na França, e Penélope disse que ela só iria se escolhesse outro lugar.

— Liga pra gente se ela chorar - Marcos pediu. Iam sair para jantar em um restaurante próximo e Mia ficaria com Giovanna durante a noite.

Giovanna revirou os olhos e então respondeu, se gabando enquanto segurava a mão da irmã: 

— Ela só chora com vocês, comigo não. Fala pra ele, Mia.

— Gigigigigigigigi! - era tudo que Mia queria falar naqueles dias. Penélope desconfiava que tinha sido Giovanna quem ensinou. A adolescente olhou para os dois, vitoriosa.

— Ela gosta mais de mim que de vocês.

— Você é insuportável, sabia? - Penélope riu e deu um beijo na sua bochecha antes de se abaixar para beijar Mia, então a ofensa não teve peso algum.

Giovanna ainda estava na Argentina com a mãe quando Penélope e Marcos voltaram para casa. Ela adiantou o retorno para conhecer Mia e, Penélope desconfiava, se inteirar de tudo que tinha acontecido na sua ausência. Para ela, eles contaram uma versão muito resumida dos fatos: Penélope tinha voltado para a europa para buscar a filha. Não falaram sobre a morte de Louis ou nada relacionado. Para Giovanna era apenas uma disputa de guarda que tinha devolvido a filha da madrasta. Ela reclamou e reclamou por Penélope nunca ter dito para ela que tinha uma filha, mas a novidade de ter um bebê em casa amorteceu suas reclamações. 

Penélope ficou insegura que ela não gostasse de Mia, que reclamasse de subitamente ter perdido o posto de filha única, mas Mia era tão adorável que isso não aconteceu. Era uma bebê calma e risonha, que só chorava quando estava com fome. Ia com todos sem reclamar, e mesmo quando começou a andar não costumava se meter em problemas. As vezes Penélope até esquecia que ela não era filha de Marcos, porque tinha certeza que aquela calmaria toda a filha tinha puxado dele, e não dela. Giovanna até chegou a perguntar para eles uma vez se Mia realmente não era filha dele, e não aparentou muita convicção com a resposta de Penélope. 

— Claro que é minha filha - Marcos respondeu, achando graça. - Olha só pra ela, é a minha cara. Vem aqui com o papai, amor. 

Mia largou os brinquedos e correu até ele de bom grado, se sentando no seu colo para comer do seu prato. A cada dia que passava ela ficava mais parecida com a mãe, e Penélope ficava feliz que ela não tivesse um único traço do pai biológico. Ficava mais feliz ainda que ela nunca fosse ficar sabendo nada sobre ele: cresceria tendo Marcos como pai, e parecia mais do que satisfeita com isso, pois adorava ele. Ele gostava quando saíam todos juntos e alguém comentava como era engraçado que eles tivesse tido filhas parecidas com cada um: Giovanna era tão parecida com o pai, Mia tão parecida com a mãe.

Penélope gostava particularmente de como os dois tinham incorporado Mia na família com tanta facilidade, soltando frases como "olha a minha irmã!", ou "essa aqui é a minha filha mais nova" sempre que tinham a oportunidade.

Ela ainda se preocupava as vezes. Ainda tinham noites em que acordava nervosa, indo aos quartos das meninas para ver se estava tudo bem com elas, se estavam seguras e se todas as portas estavam trancadas. Em noites como essas Marcos costumava ir lhe buscar para que voltasse para a cama, dizendo na sua voz calma que estava tudo bem e ela não precisava se preocupar, e a abraçava para que ela dormisse de novo. 

Outras dias eram melhores, e ela e Giovanna se sentavam no chão da sala para brincar com Mia, conversando sobre a vida e as fofocas da garota, que pareciam não ter fim. Marcos chegava do trabalho e dormia ali mesmo no sofá, para ficar junto a elas. Tinha também, é claro, as manhãs preciosas em que tinham a casa inteira só para os dois, quando as meninas estavam no colégio e na creche, e Marcos não estava trabalhando. Penélope gostava particularmente dessas manhãs, pois odiam ficam rolando na cama sem se preocupar com mais nada além de dar prazer um ao outro.

— Eu gostei desse brinco - Giovanna comentou com algum interesse, parada na porta do quarto.

— Eu posso te emprestar. Mas vou querer de volta, viu?

— Vi. - imitou sua voz antes de sair, levando Mia com ela. 

O restaurante era pequeno, com comida caseira e simples, e ficava na mesma rua do hotel. Eles foram caminhando, e se sentaram em uma mesa do lado de dentro enquanto aguardavam Marina e a noiva, porque Marcos achou que fosse chover. Penélope estava rindo de algo que Marcos dizia quando notou o casal sentado do lado de fora, que correu para se abrigar do outro lado da rua quando a chuva começou a cair. Ela apertou os olhos, tentando enxergar melhor, e Marcos se virou para saber o que ela via.

Caim estava do outro lado da rua debaixo de um toldo, segurando a mão de outro homem e achando graça. Quando notou o casal lhe olhando de dentro do restaurante pareceu inicialmente surpreso, e então mais ainda quando reconheceu Penélope. Ele acenou para ela de maneira breve, quase imperceptível. Penélope apontou para Marcos, dizendo "Mon mari" sem fazer som. Caim sorriu parecendo contente, apontou para o homem que o acompanhava e que observava a interação distante dos dois sem entender, e repetiu um "Mon mari" para ela. Trocaram um olhar de compreensão mútua, e ele e o homem logo entraram em um carro que estacionou na sua frente.

— Era Caim - contou, e Marcos assentiu. Àquela altura Penélope já tinha contado tudo para ele.

— Que bom que ele encontrou alguém. É difícil criar um filho sozinho.

— Você bem sabe, né - provocou - Teve um milhão de namoradas até eu chegar.  

Marcos riu, mas estava envergonhado. Penélope não queria nunca parar de deixá-lo envergonhado. 

— Para, amor, não foi bem assim. 

Ela riu dele, se inclinando sobre a mesa para lhe beijar. 

— Eu te amo. 

— Eu te amo também. 

— Quer pedir uma sobremesa para Giovanna? Ela com certeza vai estar acordada quando a gente voltar.

Marcou ficou lhe olhando até que Penélope ficasse distraída e parasse de prestar atenção no cardápio, o que não era muito difícil.

— Uma vez você me disse que eu tinha quebrado completamente a corrente, porque era um bom pai. Lembra disso? 

— Lembro.

— Então, eu só queria te dizer que você é uma ótima mãe também. Nós dois quebramos a corrente.

Penélope balançou a cabeça, sorrindo. Não gostava de ficar emocionada, mas era muito fácil ficar quando volta e meia Marcos lhe dizia coisas assim. Viver com ele era bem aquilo: estar sempre cercada de elogios e amor. Ela se levantou de onde estava, indo se sentar ao lado dele e lhe beijando. 

— Você diz essas coisas só pra tentar me conquistar ainda mais e me deixar boba. Por isso Giovanna morre de vergonha de sair com a gente - Marcos riu alto. - Eu te amo.

— Eu também te amo - lhe beijou de novo. 

 


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