Fúria escrita por alegrrdrgs


Capítulo 25
Capítulo 24 - Marcos (2022)




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"Hell was the journey but it brought me heaven

And isn't it just so pretty to think

All along there was some

Invisible string

Tying you to me?"

 

Marcos tocou a campainha, sem saber exatamente o que esperar. Ver Penélope? Ela estaria bem ou estaria magoada, machucada, ferida? Ou não estaria de maneira alguma? Depois de semanas buscando por ela, finalmente tinha conseguido uma indicação de onde ela estava. A morte de Louis e Franco tinha ido parar nos jornais franceses, assim como a prisão dos culpados e a trágica morte da sua filha, mas nada mencionava Penélope. Claro, ele não lia em francês, mas esmiuçava cada artigo procurando o seu nome.

Estava tão nervoso e tão preocupado que achou que fosse morrer. Alguém falou algo de dentro do apartamento, e mesmo não entendendo ele sabia que era a voz dela.

— Sou eu - silêncio - Marcos.

A porta se abriu devagar, o rosto de Penélope em choque aparecendo atrás da porta. Ela ficou parada ali por um momento, como se não soubesse o que fazer, e então se jogou nos braços dele exatamente como tinha feito meses atrás, quando apareceu na sua casa pela primeira vez. 

— Eu não acredito. Não acredito - repetia sem parar, e Marcos achou graça. Ela o puxou para dentro e fechou a porta, trancando. Ainda o olhava abismada, mas parecia menos em choque, o tocando como se quisesse ter certeza que ele era real - O que você... Como você veio parar aqui? 

— Eu vim atrás de você - Penélope sorriu, um sorriso mínimo mas ainda assim um sorriso, e o puxou para um beijo antes mesmo que ele pudesse falar qualquer outra coisa. 

Marcos passou as mãos pela sua cintura, pelos seus braços, tocou onde alcançava, checando. 

— O que foi? - Penélope perguntou, sussurando com a boca colada na sua.

— Eu só... Quero conferir se você está inteira. Nada fora do lugar? Nenhum pedaço faltando? Tudo bem?

Penélope revirou os olhos, seu sorriso aumentando enquanto ela balançava a cabeça antes de o puxar para si de novo. Ele ficou feliz ao constatar que ela sentia tanta falta dele quanto ele sentia dela, pela maneira como ela parecia não conseguir se afastar. Estavam contra a porta, e Marcos estava tão entretido nela, na saudades que sentia dela, na felicidade em lhe ver de novo, e aparentemente bem, que quando ouviu um choro ele pensou que estava imaginando. Só quando Penélope se afastou dele, caminhando para o tapete da sala, a poucos passos de onde estavam, ele notou um bebê deitado sobre uma manta no chão, e as coisas de criança espalhadas pela casa. 

Penélope se abaixou, sorrindo para ele com algum receio. 

— Ela sempre chora quando deixa a chupeta cair.

De todas as coisa que Marcos poderia ter dito, tudo que a confusão permitiu que ele falasse foi:

— O que? - Ela o chamou com a mão, pedindo que ele se aproximasse. A criança era exatamente como Penélope tinha descrito a filha. Mas aquilo não fazia sentido, sua filha não tinha morrido? - É a Mia? 

 Ela assentiu, olhando para ele do chão.

— O que aconteceu? 

O olhar de Penélope ficou mais duro, mais magoado. Apesar de saber que Louis não chegaria perto dela novamente, Marcos sentiu a raiva que tinha dele aumentar. O que quer que fosse, sabia que era culpa dele. 

— Não era ela a criança que ele matou. Ele me deu outra criança, e eu passei semanas achando que era a minha filha. Todo esse tempo ela estava com ele, na casa dele. Todos esses meses e eu não fazia ideia, ela estava tão perto de mim... - Penélope fechou os olhos, espalmando a mão sobre a barriga da filha. Quando os abriu, sua voz estava mais determinada - Mas ela está comigo agora. Todos pensam que a filha de Louis morreu, e ela foi registrada só no meu nome.

— Eu sinto muito - ele balançou a cabeça, sem saber o que dizer, mas falando com sinceridade. - Eu soube sobre a morte de uma criança, e eu achei que era outra filha dele ou talvez uma fachada para a morte de Mia. Eu nunca imaginei que... Mas, é claro, que eu sabia que você não machucaria uma criança.

Ela se sentou no chão ao lado da filha, onde ele imaginou que ela estava antes dele chegar. Havia uma caixa de pizza na sua frente, e a TV estava ligada. Ele se sentou ao seu lado, e a bebê sorriu para ele. Parecia ser uma criança sorridente. Marcos ficou feliz por ela. Penélope passou a mão pelo cabelo dele, sentindo a cicatriz que havia ficado do seu último encontro com Iago. Ela fez uma expressão culpada.

— Como você está?

— Muito, muito melhor agora. - sorriu para ela, pegando sua mão e deixando um beijo na palma -Me conta o que aconteceu com você.

— Eu não quero te contar tudo - confessou, olhando para a filha sobre o tapete. - Tem coisas que... Eu não acho que você me veria da mesma forma se eu contasse tudo. Eu não me arrependo de nada do que fiz, mas sei que não foi algo bonito. 

Marcos assentiu, entendendo o que ela queria dizer. 

— Me conta o que você puder contar. Eu feliz só em saber que vocês estão bem.

Então ela contou. Contou sobre Caim, um dos seguranças que foi com Franco ao Brasil, que vinha lhe ajudando com tudo, e sobre a perda dele, que Louis tinha causado. Ele tinha lhe conseguido o apartamento, e o novo registro de Mia, e Penélope deixaria tudo nas mãos dele quando saísse da França. Sobre como tinham planejado juntos a traição de Franco, e como ficou surpresa ao encontrar Mia na casa de Louis, sob o nome de Camille. Disse que voltaram também na ilha onde tinha ficado durante a gravidez para se certificar da punição dos homens que tinham ajudado Louis na sua farsa, o que fez Marcos ficar tenso ao imaginá-la de volta naquele lugar, e concluiu dizendo que nunca voltaria lá. 

— Nós não vamos voltar aqui também - disse, determinada. - Nem pra visitar. Quero ficar longe de tudo isso.

Marcos deixou que ela descansasse a cabeça no seu ombro, e eles ficaram em silêncio por um momento, observando Mia. Entendia que ela tinha deixado informações de fora, conhecia Penélope bem o suficiente para saber disso. Sabia que ela falaria com ele quando se sentisse mais a vontade, como tinha feito em relação à gravidez de Mia. Se ela e a filha estavam bem, Marcos não se importava em esperar.

— Eu fiquei tão... Tão... - ela fechou os olhos, escondendo o rosto nas mãos, parecendo não conseguir continuar. Marcos a abraçou de lado, puxando Penélope para que se encostasse nele. - Eu não acredito que ela estava bem todo esse tempo. A criança que morreu... Não tinha nada a  ver com isso, nada a ver com nossos problemas. Foi puro sadismo de Louis. Fico pensando na mãe dela, se ela sofreu como eu. 

— Você cuidou dela no período que ela esteve com você - Marcos disse, tentando lhe consolar. 

— Acho que sim, mas... Não sei. Eu só pensei demais nessas últimas semanas desde que recuperei a minha filha. Me desculpa por tudo. 

— Tudo o que? - perguntou.

Pela voz de Penélope, Marcos sabia que ela queria chorar. Ele a abraçou com mais força, porque sabia o que ela ia dizer, e o quanto ela se culpava ainda que, na opinião dele, a culpa do que aconteceu não fosse dela. 

— Iago. Eu fiquei com tanto medo por você, achei que... E Giovanna estava em casa, foi tudo tão perigoso. Você foi parar no hospital, e se alguma coisa tivesse acontecido com Giovanna eu nem sei o que eu faria.

— Não foi culpa sua, Penélope. Nem eu nem ela achamos isso. Iago era só um infeliz completamente maluco... Ele não vai voltar a nos incomodar. Eu estou bem, ok? Completamente bem - olhou para ela, para se certificar de que ela estava olhando para ele - Absolutamente nada tem me feito mal além da saudades. E eu te avisei que ficaria tudo bem.

— É, eu devia ter acreditado. Você não erra - resmungou.

Penélope fungou, se sentando para oferecer um mordedor para Mia, que tinha cuspido novamente a chupeta. Ela pareceu se entreter um pouco, e Penélope olhou para ele de canto de olho quando perguntou: 

— Como Giovanna está? 

— Com saudades de você. 

Penélope baixou o rosto, parecendo envergonhada, mas logo ergueu a cabeça e olhou para ele. 

— Achei que ela estaria com raiva.

—Isso também. Ela consegue sentir muitas emoções ao mesmo tempo, eu mal consigo acompanhar.

Eles riram baixinho, e Mia balbulciou algo incompreensível, querendo participar da conversa. Ela rolou, ficando de barriga para baixo no tapete entre eles. Parecia muito satisfeita consigo mesma por isso, achando graça. Marcos esticou as mãos para lhe pegar, e ela foi com ele de bom grado. Era uma bebê linda, gorducha e tinha os olhos da mãe, exatamente como ele pensou que a filha de Penélope seria. Marcos a levantou, ficando frente a frente com ela, e não conseguiu conter a risada quando ela deu uma risada banguela. Deu um beijo na sua testa, e ela tentou segurar seu cabelo com as mãozinhas gordas. Penélope os olhava com um sorriso preocupado. 

— Eu pensei em falar com você, eu ia te ligar, mas as coisas estão diferentes agora. Tem a Mia, e as investigações estavam em curso e acabaram atrasando... Me fizeram algumas perguntas, mas ninguém me procurou além do advogado. Eu já resolvi tudo isso, na verdade estava tentando decidir o que eu faria quando você chegou. 

Marcos sabia que alguma coisa estava lhe incomodando, porque Penélope não o olhava direito, não falava direito com ele. Ele sentou Mia no seu colo e segurou a mão de Penélope, tentando ser o mais gentil possível. Não queria lhe pressionar, mas estava mais do que disposto a convencer Penélope a voltar para casa com ele se fosse preciso.

— E o que você vai fazer? 

— Você acha que amaria ela? - a voz de Penélope estava baixa, insegura até, e ela brincava com as mãos de Mia com a mão livre. - Amar de verdade, como você ama Giovanna?

Marcos não conseguiu se segurar, soltando uma gargalhada. Era aquele o problema? Penélope realmente achava que existia alguma chance dele rejeitar Mia? 

— Que ideia, Penélope! Eu amo você, e eu amaria qualquer filho que você tivesse - disse com um sorriso, tocando o cabelo escuro da bebê. - Por que com ela seria diferente? 

Penélope finalmente deixou as lágrimas caírem, abraçando Marcos pelo pescoço com força. Ele deixou que ela chorasse no seu ombro, lhe apertando contra si, e devolveu a chupeta para Mia quando achou que ela fosse chorar, mas a bebê parecia muito distraída ao sentir a textura do tapete nas mãos. 

— Eu não queria me impor na sua vida de novo, chegar na sua vida e na Giovanna como um furacão, com uma filha a tiracolo - fungou.

Marcos segurou seu rosto com cuidado, sorrindo com gentileza. 

— Você não tá se impondo. De jeito nenhum, ok? Eu vim aqui te buscar, que tipo de imposição é essa? Nós queremos você na nossa vida, na nossa família. Eu te quero na minha vida, para sempre. Quero que você volte comigo, quero que passe o resto da vida ao meu lado, não quero me afastar de você de novo nem por um segundo. E você acha mesmo que Giovanna vai querer perder a oportunidade de ser uma irmã mais velha mandona? 

Penélope riu, uma risada verdadeira, e era tão bom ouvir a risada dela de novo.

— Diz que vem pra casa comigo - pediu. - Tem uma vida inteira te esperando. Esperando vocês duas. Uma vida que vocês vão gostar. Prometo que as coisas vão ser diferentes para você, eu não vou sair do seu lado ou do lado de Mia. Só existe uma grande chance de ela ser incrivelmente mimada, exatamente como você e como Giovanna, mas já aceitei que eu não consigo evitar mimar as mulheres que eu amo.

Ela riu novamente e assentiu, emocionada, o puxando para um beijo. Um beijo cheio de saudades, cheio de sentimentos, e dizendo contra a sua boca que o amava também. Tinha sido uma vida tão longa, e Marcos mal podia esperar para passar o resto da sua vida com ela, finalmente. Ele podia ficar ali com ela para sempre, perdido nela, se Mia não tivesse chorado. Eles se separaram, rindo, e Penélope secou as lágrimas. 

— Essa garotinha ciumenta - brincou, ninando a filha no colo, e beijando sua cabeça. Marcos pensou que ela ficava ainda mais bonita com a filha no colo, parecendo tão satisfeita com isso - Você tá mesmo pronto pra isso? Giovanna já é adolescente, você vai ter que voltar a trocar fraldas e passar a noite acordado. 

Marcos revirou os olhos, sem se dar ao trabalho de responder. Pegou Mia do colo de Penélope e a balançou devagar, e ela logo parou de chorar, o olhando com seus olhos azuis. Penélope o encarou surpresa.

— Eu nasci pronto - se gabou, se inclinando para lhe beijar. - Vamos trocar: eu fico com ela de madrugada e você lida com a adolescência de Giovanna. Você é muito melhor do que eu nisso, e essa fase dura bem mais.

Penélope riu mais uma vez, se aproximando mais dele.

— Não me parece muito justo. 

— Tudo bem, eu cuido de tudo e faço tudo, contanto que você venha comigo. 

Marcos sorriu quando ela se aproximou ainda mais, ficando colada nele e beijando sua boca muito levemente, quase com medo de ser interrompida por Mia novamente. 

— Isso também não me parece muito justo. 

— O que é justo então? 

— É justo se você conseguir fazer ela dormir e depois me beijar até amanhã. Eu tava com tanta saudades de você, do seu cheiro - ela escondeu o rosto no pescoço dele, beijando a pele. 

— Isso sim é justiça - concordou, sorrindo para ela. 

Mia grunhiu no colo de Marcos, dando um gritinho.

— Isso eu sei que significa fome - Penélope se levantou rapidamente, indo até a cozinha e voltando com uma mamadeira cheia. 

Ela pegou Mia no colo para que ela mamasse e se levantou, e Marcos não evitou reparar como Penélope parecia natural naquilo. Imaginou que tinham sido semanas intensas de adaptação entre as duas. Ficou sentado no mesmo lugar, observando ela caminhar pela sala enquanto ninava a bebezinha. Quantas vezes tinha imaginado aquilo? 

Penélope sorriu para ele, e Marcos pensou que não tinha imaginado o suficiente. A realidade era muito melhor. Depois que Mia dormiu, Penélope a colocou no berço e pediu que ele ligasse para Giovanna, e as duas choraram na ligação, que durou uma hora. Quando finalmente foram se deitar, Penélope se aninhou nele como costumava fazer, o mínimo de espaço possível entre eles. 

— Essa é a nossa vida agora? - brincou, já de olhos fechados - Dois velhos que colocam as filhas para dormir e vão se deitar? 

Penélope riu, carinhosa. 

— Eu acho que sim.

— Por mim tudo bem. 

E para ele realmente estava.

 


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