Mestre do Poço dos Desejos escrita por Sorima


Capítulo 3
Pedro


Notas iniciais do capítulo

Passei por complicações técnicas, mas estou de volta!

Boa leitura!



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A simples ida ao mercado de manhã tinha gerado reviravoltas surpreendentes e bem vindas. Era reconfortante estar na casa dos meus avós com outra pessoa, a presença de Bianca me deixava um pouco mais confortável em uma casa que costumava ser tão acolhedora, percebi enquanto guardávamos as compras.

Mesmo que ela fosse praticamente uma total estranha para mim não parecia ser uma má pessoa, além disso, me passava a impressão de ser jovem. Eu só sabia que ela devia ter mais de 18 anos.

— Quantos anos você tem, Bianca?

— Tenho 20 anos. E você?

Pisquei surpreso. Então ela era uma daquelas garotas de 20 anos com cara de 15.

— Tenho 25.

— Humm, e você faz o que dá vida? – ela seguiu com a conversa.

Dei de ombros.

— Sou formado em Direito, mas ainda não atuo.

— Planejando fazer a prova do OAB antes, né?

— É... – respondi mecanicamente – E você?

— Eu vou ser uma cantora! – ela respondeu sorridente enquanto colocava as frutas na fruteira.

Ergui as sobrancelhas, aquilo era incomum.

— Sério? E sobre o que você vai cantar? – cá estou eu, uma verdadeira negação para o mundo dos famosos.

— Acho que vou seguir o caminho do Rock Clássico – ela falou pensativa – parece que o país inteiro se esqueceu como esse estilo é incrível! No Rock in Rio só tem Funk e sertanejo...

Fizemos careta.

— Bom ponto – concordei. Rock in Rio estava uma pouca vergonha a anos.

Enrolei as sacolas do mercado e guardei-as na gaveta da cozinha. Então mostrei a casa para Bianca e terminei a visita guiada no quarto que ela iria ocupar.

— Que fofo! E tem uma cama de casal! – ela parecia encantada – posso mesmo ficar aqui?

— Claro! Fica à vontade.

— Beleza! – Bianca olhou em volta mais uma vez – a casa parece estar em bom estado até, só está com muita poeira mesmo.

Fiquei encarando ela.

— Um pano bem passado no chão e nos móveis deve resolver – ela disse.

— Ok. Se você quiser ir limpando seu quarto eu posso ir fazendo o almoço, a tarde a gente cuida junto do restante da casa e procura um mapa do terreno – organizei rapidamente a lista de afazeres.

— Pode ser, eu termino aqui rapidinho e te ajudo lá na cozinha.

— Combinado.

Depois de indicar o armário em que ela encontraria o material que usaria fui para a cozinha. Seria uma comida simples, porém bem completa: a famosa macarronada com legumes.

Coloquei uma panela de bom tamanho no fogo e enquanto esperava ferver processei a batata baroa, a cenoura e também o repolho. Ralei um tanto de raiz de açafrão e joguei o pó na água. Lavei um tanto de salsinha e cebolinha e deixei elas escorrendo. Foi quando Bianca chegou:

— Onde que eu te ajudo mais?

— Pode cortar uma cebola e três alhos grandes?

Assentindo ela se pós a fazer o que pedi. Notei que era um pouco desajeitada na cozinha, mas conseguia se virar bem. Quando a água ferveu adicionei o óleo e o macarrão para cozinhar. Coloquei óleo em outra panela onde fritei o alho e a cebola, depois adicionei a carne moída que deixei cozinhando antes de pôr o molho de tomate.

Bianca picou as verduras enquanto eu mexia a panela do macarrão algumas vezes para deixa-lo solto e adicionava os legumes picados que cozinhariam junto. Quando estava quase pronto adicionei sal e cominho.

— Isso está cheirando muito bem – a jovem elogiou enquanto colocava a mesa.

— O gosto vai estar melhor ainda.

Foi uma excelente previsão. Comemos até nos fartar e lamentamos quando não entrou mais. Bianca ficou lavando a louça enquanto eu tirava o pó do meu quarto, depois disso cuidamos da copa-cozinha, da sala, do banheiro, da varanda e, enquanto ela limpava a área de serviço, eu fui cuidar do quarto dos meus avós.

Parei na porta do quarto meio trêmulo. Eu estava tentando ignorar o borrão de lembranças que queria adentrar minha mente em cada um dos cômodos, mas ali, por algum motivo ainda parecia guardar o cheiro deles, talvez por ser o único cômodo que ficou de janela fechada. Lágrimas esparsas forçaram caminho pelo canto dos olhos. Com raiva, passei as costas das mãos com força para secá-las, mas parece que isso só as compeliu a sair.

— Mas que droga... – Sem forças para me sustentar apoiei as costas na parede e me permiti escorregar para o chão, onde acabei permitindo que as lágrimas silenciosas continuassem a cair.

Não sei por quanto tempo fiquei ali, mas de repente ouvi passos se aproximando.

— Pedro?! – ela chamou hesitante, com o tom preocupado.

Sem erguer a cabeça, falei debilmente:

— Eu não consigo entrar no quarto deles... Por motivo algum, já que nem era aqui que eu passava tempo com eles – minha voz soou embargada. Que frustrante!

Ouvi ele suspirar e seus passos de aproximação. Então ouvi o leve ranger da porta quando ela a fechou.

— Você vai fazer isso quando estiver pronto – disse categoricamente – vamos sair daqui.

Ela me ajudou a levantar e me puxou para longe do quarto dos meus avós. A própria Bianca guardou o rodo e o pano que eu segurava e me entregou um maço de papel higiênico.

Depois de me recuperar um pouco e de beber um copo de água, me virei para ela agradecido.

— Valeu mesmo, eu não esperava ficar daquele jeito.

Bianca me olhava atentamente e me deu um sorriso gentil.

— Não se preocupe com isso. Eles devem ter sido bem importantes pra você. Não é vergonha nenhuma! – Ela falava com suavidade.

Um sorriso tímido surgiu nos meus lábios. Era melhor mudar de assunto, ela já estava fazendo muito por um desconhecido.

— Bom, acho que podemos nos dar por satisfeitos com a casa. Que tal irmos atrás do mapa?

Ela franziu a testa antes de permitir que um sorriso se espalhasse no rosto.

— Essa é uma boa pedida! Onde você acha que deve estar?

Parei para refletir. Eu e meu avô tínhamos uma base de operações para diversas aventuras na região quando eu era mais novo. Se procurávamos um mapa, devia estar lá.

— Vamos para a garagem!

— Garagem? – espantou-se.

— Sim. Na verdade é um galpão bem grande, ele deixou os livros e mapas lá, além de ferramentas e também o carro.

— E por que você não foi com esse carro na cidade hoje cedo?

— Eu não tenho carteira, apesar de saber dirigir – respondi sério.

Ela ficou perplexa.

— Esse é o senhor certinho... – murmurou. – Beleza, deixa que da próxima eu dirijo!


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