Mestre do Poço dos Desejos escrita por Sorima


Capítulo 2
Bianca


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Segui determinada pela rua até o carro de Lucas, que tinha me trazido até ali e me esperava no carro com a minha mala. Senti meus dentes cerrados, eu estava furiosa. Furiosa com meus pais, furiosa pelo sentimento de impotência e frustração pelas barreiras que tinham sido erguidas para me impedir. E, como se não bastasse, furiosa com a minha namorada, que tinha tido a cara de pau de dizer que eu era mimada.

— Lucas – chamei quando me aproximei – valeu pela carona, mas não vou te alugar mais. Pode deixar que eu pego um táxi.

Meu irmão mais velho tinha o cabelo preto rebelde e olhos cinzentos, como os meus, mas ao contrário de mim ele tinha sardas nas bochechas e sobre o nariz.

— Tá maluca? Papai e mamãe vão me matar se eu não te deixar com responsáveis – meu irmão franziu a testa.

— É só você não contar para eles; eu não vou. E essa cidade parece bem tranquila, não acho que alguém queira me sequestrar, me matar ou o que for – falei para convencê-lo. Ele não pareceu acreditar.

— Me liga quando chegar na casa dos amigos da tia-avó – ele concordou resignado.

— Beleza. Você é meu irmão preferido, sabia?

Abri meu melhor sorriso para ele. Lucas riu.

— Sou peça única, minha querida irmã.

Ele me ajudou a tirar minha pequena mala do porta-malas e se despediu de mim antes de dar a partida no carro. Sorri vitoriosa. Finalmente eu poderia resolver aquilo por minha conta.

Saí arrastando a mala pela calçada em direção ao ponto de táxi. Estava quase lá quando a voz ofegante de um rapaz soou atrás de mim.

— Licença.

Me virei para ver quem era, era o mesmo rapaz do mercadinho, o que usava óculos escuros no começo da manhã. Ele carregava várias sacolas, nenhuma parecia realmente leve, e usava uma camiseta larga, jeans e tênis. Ele respirava com dificuldade e parecia sem jeito. Aquilo me deixou nervosa:

— Posso te ajudar com alguma coisa, moço?

— Você... – Será que eu tinha esquecido alguma coisa? – O que você quer com os meus avós?

Fiquei surpresa com aquela pergunta. Franzi a testa. O que os avós daquele cara tinham a ver com o que eu tinha ido fazer ali?

— Seus avós?

Ele afirmou com a cabeça.

— Senhor Rodrigues e Dona Maria são meus avós – ele explicou me deixando espantada. – O que você quer com eles?

Abri e fechei a boca algumas vezes, suspirei, e lhe respondi:

— Minha tia-avó falou para eu me encontrar com eles. Eles podem me ajudar a encontrar o Poço dos Desejos.

— Poço dos Desejos! – exclamou surpreso.

— Eu sei, é totalmente bizarro, não é?  Nem deve existir algo como um poço dos desejos – comecei a tagarelar tentando encobrir meu constrangimento de acreditar em contos de fada. Era a mesma coisa que acreditar em Papai Noel ou Coelhinho da Páscoa: tão infantil.

— Na verdade... – ele me cortou com timidez – meus avós já falaram sobre um Poço dos Desejos pra mim, quando eu era criança. Disseram que tinha um na terra deles, mas eu nunca vi, me falaram que eu era muito novo, por isso não precisava do Poço.

Ergui as sobrancelhas. Aquela não era o tipo de conversa que eu esperava ter, mas não deixaria a oportunidade passar.

— Você acha que eles me deixariam ver esse Poço? Eu vim aqui só pra isso...

O rapaz baixou a cabeça e negou.

— Desculpe, meus avós faleceram na última semana.

Senti como se alguém tivesse puxado meu tapete. Minha única esperança tinha acabado de sumir e, de bônus, fiz a pessoa da minha frente sofrer de forma visível, já que ele encarava os próprios pés e balançava vagamente para frente e para trás. Talvez ele não usasse óculos escuro à toa.

— Meus pêsames. Eu não sabia – falei suavemente.

— Tá tudo bem – ele disse com a voz rouca – se você quiser eu posso te guiar até a casa deles. Na verdade, talvez eu também queira saber se esse Poço dos Desejos realmente está lá – a voz dele soou mais firme, como se ele tivesse tomado uma decisão.

— É sério? – senti meu coração acelerar – Eu posso mesmo?

Ele assentiu.

— Eu recebi uma carta no testamento deles. Eles falam do tal Poço e também me passaram a escritura da casa. Se você não se importar com a sujeira...

— Sem problemas – concordei animada – se estiver tudo bem pra você. A sujeira eu te ajudo a limpar.

Ele deu um pequeno sorriso e ajeitou as sacolas na mão.

— Deixa que eu te ajudo – falei pegando algumas sacolas da sua mão e apoiando na minha mala.

— Obrigado.

— Meu nome é Bianca – me apresentei estendendo a mão.

— Me chamo Pedro. É um prazer te conhecer – ele retribuiu meu aperto de mão.

— O prazer é meu. Vamos ir de táxi?

— Por favor.

Fomos caminhando até o ponto de táxi e pegamos o primeiro da fileira. Pedro passou o endereço e em poucos minutos chegamos ao destino. Era uma casa bonita e simples, daquelas saídas de histórias infantis. Mas parecia meio abandonada.

— Você deixou a casa aberta para ir no mercado? – me dei conta perplexa.

Ele deu de ombros.

— Ela precisava arejar. E as pessoas aqui são bem educadas.

Tudo bem, pensei. O mundo realmente é diversificado.


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