Mestre do Poço dos Desejos escrita por Sorima


Capítulo 4
Bianca


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Eu cheguei ali tão aliviada e tive tanto trabalho a fazer que nem reparei na discreta trilha de pneus de carro que circulava a casa. Somente quando Pedro, que ainda tinha manchas vermelhas de choro na face, me guiou por ela é que observei os arredores da casa.

Ela tinha uma ótima posição no terreno, o sol atingiria ela em qualquer horário do dia e as árvores lhe dariam um pouco de cobertura e sombra quando o tempo encrespasse. Algumas árvores estavam lotadas de flores. Quando finalmente chegamos a parte de trás da casa vi que o caminho se dividia em dois: um para o galpão que usavam como garagem e biblioteca, e outro que dava em uma horta com aspecto selvagem.

Pedro lhe dispensou um sorriso triste antes de se virar para o galpão enquanto procurava a chave no molho de chaves.

— Seus avós eram aposentados? – perguntei com delicadeza.

— Eram sim – ele deu de ombros – mas minha vó foi dona de casa a vida inteira, e meu vô foi militar antes de ter que se aposentar; ele teve algum problema de saúde, e aí trabalhou nessa cidade, como um faz-tudo.

— Nossa, o que ele teve?

— Não tenho a menor ideia, mas parece que não impediu ele de trabalhar. O que é muito bom, já que na época eles tinham cinco filhos.

— Cinco? – Uau, que mulher corajosa!

— É... Ah! Achei! – ele disse abrindo a porta de correr do galpão.

Adentramos no espaço escuro e após um breve momento ouvi o som de um interruptor. E pude ver a amplitude inesperada de um galpão tão simples externamente. Caberia outra casa ali dentro, já que depois da garagem cheia de ferramentas e com uma picape, excelente para viajar por estradas de terra, havia um ambiente bem maior de dois andares.

Aquele andar possuía a biblioteca, cheia de prateleiras transbordando de livros, pastas e rolos do que talvez fosse cartolina. Descemos por uma escada circular que dava acesso ao andar de baixo, onde tinha uma área de convivência com sofás e uma pequena quadra para jogar com bola ou peteca, em um canto havia uma estrutura que imaginei que seria um pequeno deposito de materiais de esporte, além disso tinha uma mesa alongada e um grande mural com um mapa da região.

— Foi mais fácil de achar o mapa do que eu esperava – falei animada.

— Foi a parte fácil – Pedro concordou – a questão é onde o tal Poço dos Desejos pode estar...

Ele tinha razão, era um mapa bem grande. Me aproximei para estuda-lo melhor. Havia uma pequena bandeira amarela fincada no mapa com os dizeres “Recanto dos Silva”, outras marcações menores indicavam a casa dos vizinhos havia uma boa distância entre si, no canto do mapa era possível ver a cidade pequena em que eu e Pedro tínhamos nos encontrado e outras pequenas marcações polvilhavam alguns locais: “Café do amor”, “Locar para admirar o mundo”...

Sorri com as referências que tinham sido usadas. E haviam outras também, próximas à casa: “Barco pirata do Pedro”, “Treliça”, “Forte de observação”... Meu sorriso se alargou. Eles deviam ter sido parentes muito queridos para o Pedro.

— Nenhuma marcação de Poço dos Desejos... – o rapaz murmurou, com o olhar passando pelas demais marcações.

— Será que está em algum outro lugar? A informação sobre o poço, quero dizer.

Antes que eu acabasse de falar Pedro estava negando com a cabeça.

— Se esse poço realmente existisse devia estar marcado aqui. Era onde a gente planejava nossas aventuras... é onde eles falaram que eu ia encontrar as respostas que buscava.

O olhar dele soava angustiado enquanto varria o mapa. Parecia estar tentando manter alguma esperança.

— Como assim? Isso foi quando eles falaram pra você que o Poço existia?

— Meu vô sempre me falou que para começar uma aventura eu tinha que ter uma sede e que essa sempre poderia ser a minha se eu quisesse – ele ficou corado com a lembrança – e eles também falaram a mesma coisa na última carta que me mandaram... junto com o testamento.

Fiquei empolgada. Aquilo parecia ser um jogo de detetive.

— Será que posso dar uma olhadinha nessa carta?

Ele olhou para mim confuso.

— Pode... Quer ver agora? - Balancei a cabeça animada – Ok, vou ir lá pegar, espera um pouco.

Fiquei bisbilhotando os murais de foto enquanto ele ia buscar a carta. As pessoas da foto pareciam felizes e notei que acompanhava o casal e o crescimento do garoto que tinha me acolhido ali. Ele brincando em uma poça de lama, escalando árvores, comendo melancia e até lendo o mapa. Contudo as fotos pareciam ter se tornado escassas nos últimos anos. O som dos passos na escada me avisou que ele tinha voltado.

Ele respirava com dificuldade, como se estivesse recuperando o folego. Trazia um envelope em uma mão e o meu telefone na outra.

— Ti-tinha alguém te ligando, não consegui chegar a tempo. Desculpa.

Comprimi os lábios para segurar o riso. Que fofo!

— Obrigada – falei recebendo o telefone e olhando as chamadas.

Senti minha cara se fechando. Seis ligações eram do meu irmão, eu tinha esquecido de avisá-lo de que tinha chagado bem. As outras 30 ligações eram da minha namorada, respirei fundo para me controlar.

— Desculpa, vou ter que ligar para o meu irmão. Só um momento – pedi já acessando o contato dele e começando a chamada.

O telefone tocou algumas vezes antes que ele atendesse:

— Bianca! Graças a Deus! Eu já estava dando meia volta com o carro para ir te buscar – ele me censurou.

— Eu estou bem, Lucas. Desculpa, esqueci de te ligar.

— Pelo amor de Deus, menina. Você queria que eu morresse?

Revirei os olhos e suprimi uma risadinha:

— Você não ia morrer por isso, querido irmão.

— Diz isso, mas nunca teve que encarar o papai e a mamãe; quando se trata de você eles viram monstros – ele explicou.

— Obrigada – falei sorrindo – por confiar em mim. Prometo que não te causo problemas.

Ele suspirou do outro lado.

— Achou as pessoas que estava procurando?

— Não, mas achei o neto deles.

— Neto?

— Sim. Ele está herdando a casa e o terreno, e me ajudando a achar o Poço dos Desejos que a tia-avó falou.

— Entendi. Boa sorte pra vocês – ele falou. Diferente de mim ele não acreditava naquilo, mas não conseguiu refutar nossa tia-avó.

— Valeu! Deixa eu ir lá, ele está me esperando para investigar uma carta.

— Se acontecer alguma coisa me liga. Se cuida, maninha.

— Pode deixar. Até!

Desliguei e coloquei o telefone do bolso da jeans antes de voltar para perto da mesa.

— Ok, posso dar uma lida nessa carta agora – falei voltando a animação de antes.

Pedro me entregou o envelope e se sentou aguardando que eu a lesse. O que fiz em voz alta.


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