Entre o Céu e a Terra escrita por Helgawood


Capítulo 6
Capítulo 6




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O vento frio fez com que Muna despertasse. Piscou algumas vezes para dispersar o sono e então percebeu que não estava mais no local escondido na parede junto ao irmão, mas em uma escadaria escura que descia por incontáveis metros até uma luz esverdeada no fundo.

Olhou de um lado a outro procurando Tamujin, mas ele não estava por ali. Novamente havia sido separada do irmão. O seu coração batia descompassado, temia o pior pelo irmão.

Sem saber por onde ir, optou por descer a escadaria. Desceu as escadas cautelosamente, com a mão apoiada na parede, mas, para sua infelicidade, elas terminavam suspenso no vazio. Uma parte havia desmoronando e não seria capaz de pular para o outro lado e subir não parecia viável. Estava presa.

— Ei, por aqui! — Uma voz chamou.

Muna olhou para trás e, de uma fresta na parede, uma mão lhe acenava. Levou a mão ao cabo da espada e apertou com força, pronta para desembainhar.

Aquela mão podia muito bem ser de uma daquelas figuras das sombras. Mesmo desconfiada e hesitante, subiu até o local. Olhou curiosa para dentro da fresta, e franziu o cenho. Era impossível que alguém estivesse por ali; era pequeno e estreito demais.

Contudo, isso não impediu que a mesma mão surgisse e puxasse Muna para dentro da parede. Gritou desesperada. O vento ricocheteia seu rosto com violência.

— Me solta! — Gritou. Conseguia ouvir risos e vozes vindo das paredes.

— Criança assustada — riu alguém. — Vamos brincar um pouco.

Muna cerrou os olhos quando seus pés deixaram de tocar o chão. O vento passou a rugir e sabia que era puxada com muita velocidade. Repentinamente tudo parou com um solavanco.

— Está com medo de quê? — uma voz que Muna conhecia muito bem perguntou.

Ela puxou o ar com força para os pulmões. A repentina estabilidade a fez ficar tonta e sem ar. Abriu um dos olhos e ficou sobressaltada ao se encontrar de sentada num tapete de cores marrons e minuciosamente detalhado.

E a sua frente estava seu pai sentado de pernas cruzadas a olhando curiosamente.

— O que… O que aconteceu? — Indagou. Olhou ao redor apalpando tudo que tinha próximo às mãos.

— Eu que lhe pergunto. Você estava me contando de como gostaria de viajar quando ficou muda. Está bem?

Muna olhou para tudo, desde os detalhes em arabesco nas paredes e no seu pai. O rei não era tão alto e as costeletas de seu cabelo já tomavam uma coloração branca.

— Eu… não sei… acho que tenho que ir.

— Sim. Sim, eu concordo. Já tem controle da sua própria e vida e vem se mostrando mais sensata do que seus irmãos. — Ele sorriu. — É realmente meu maior orgulho! Se fosse um homem ficaria dividido entre você e seus irmãos a herdarem o meu trono.

Muna abriu a boca surpresa e enrubesceu. Sabia que aquilo era uma farsa, mas era tão real.

— Ganbaatar é a melhor escolha, meu pai. — disse ela. —Ele é a sua cópia. E não seria natural quebrar a ordem do herdeiro.

— Você é boa, Muna. Sinceramente, espero que seu destino seja maravilhoso. — Ele colocou a mão calorosamente sobre o ombro dela. — Eu poderia considerar sua mãe como minha primeira esposa, então ninguém reclamaria se eu a colocasse como minha herdeira.

Muna sorriu. Seu coração se aqueceu com aquelas palavras, mas tinha consciência de não acredita nelas, afinal seu pai jamais diria mesmo que fossem de brincadeira.

— Seria um sonho realizado, mas isso causaria uma guerra terrível entre irmãos. Não é isso que queremos, não é? — Então afastou a mão dele e pôs-se de pé. — Eu agradeço a conversa, mas eu tenho que ir. Tenho que ir atrás de Tamujin e sair daqui antes que enlouqueça.

Ele aquiesceu. Muna fez uma reverência, quis beijá-lo no rosto, mas sabia que aquele não tinha como ser seu amado pai. Virou nos calcanhares, saindo da sala.

— Espere! — pediu ele. — Leve isso com você.

Muna virou-se em resposta. Estava feliz por ouvir elogios de seu pai, mas logo sua expressão de felicidade mudou quando a espada dele desceu graciosa e mortal sobre ela. Sangue jorro de seu ombro.

O rei retirou a lâmina com um sorriso debochado e Muna caiu de joelhos no chão, gritando de dor. Pôs a mão sobre a ferida e o sangue descia como cascata por seus dedos, manchando o tapete e o chão ao redor.

Suava frio e tombou quando sentiu os sentidos esfacelarem. Antes de perde a visão viu quando o rei sumiu e o chão abrir num vazio branco.

**

Sua chegada a sala do tesouro fora inexplicavelmente fácil. Muna, assim como todos seus objetos, haviam sumido e ele ficara sozinho num corredor repleto de portas vermelhas. Ao abrir uma das portas encontrou uma escadaria em espiral que, aparentemente, desciam ao infinito.

Mas assim que pisou, ela sumiu e Tamujin caiu em queda livre. Mas não chegou a se chocar no chão, de repente estava lá numa grande e espaçosa sala, com um teto exageradamente alto e… completamente cheio de tesouro.

Mas sua felicidade durou pouco. Não estava sozinho e agora o príncipe tinha suas mãos amarradas as costas.

Estava sentado no chão diante de um exército. Além dos soldados, havia um homem que chamava atenção por sua altura e a aparência de um porco com bigode. Outros dois, que deviam ser os comandantes deles, vestiam sedas e ostentavam recipientes de djinn.

— Devemos acreditar nele, vossa alteza? — indagou um dos soldados.

O mais alto, de cabelos ruivos e cavanhaque ficou em silêncio, encarando Tamujin.

— Ele não deve ter motivo para mentir, meu irmão. — respondeu o ruivo de cabelo longo, bagunçado e de acnes no rosto. — Mas pra que espera? Provavelmente a garota deve estar perdida.

— Ela não vai demora, juro. — implorou Tamujin. — Por que não me soltam? Sou um príncipe e mereço um respeito dig...

Foi um interrompido por um barulho alto que assustou a todos

— O que é aquilo? — exclamou o homem de aparência suína, olhando para o teto alto.

Um vórtex surgiu e alguma coisa saiu por ele caindo em queda livre. Tamujin imediatamente reconheceu e gritou desesperado:

— Muna!

— Aquilo é sua irmã? — estranhou o soldado. Tamujin dardejou um olhar a ele, mas logo o ignorou. Tentou pôr-se de pé, mas caiu. Não conseguia se equilibrar com as mãos amarradas

— Me soltem, por favor! Tem alguma coisa com minha irmã.

Mas nada foi feito para ajudá-lo. Angustiado, o príncipe fechou os olhos imaginando o impacto que a irmã sofreria. Mas para seu alívio e surpresa, o gigante correu e a pegou em seus braços antes que se chocasse no chão.

— Solte-o — pediu o de leque na mão, inclinando a cabeça para Tamujin.

Assim que desataram o nó, Tamujin correu para a irmã. Ela estava desacordada no braço de tal homem, com a túnica embebida em sangue e um corte feio no ombro.

— Muna! — gritou ele. — Muna, acorda!

Sua respiração saiu entrecortada. Começou a se mexer um pouco e desistiu numa expressão de dor.

— O que aconteceu com você? — indagou o príncipe, olhando-a minuciosamente.

Ela nada disse.

Tamujin inclinou-se sobre ela. Sua respiração era fraca, mas constante.

— Você chegou na sala do tesouro, Muna. Estamos perto do djinn.

Ela abriu os olhos cansados, olhou ao redor e os fechou de novo. Levou a mão ao ombro ferido e tentou se sentar. Tamujin e o gigante a ajudaram a pôr-se de pé. Seus olhos passaram por todos, mas focaram somente no irmão.

— Você consegue andar? — perguntou Tamujin amparando-a. A respiração ofegante e o ferimento o preocupavam.

Muna nada respondeu, e nem precisava. Seu rosto estava mais pálido que cera. Tamujin virou-se para o gigante.

— Eu agradeço profundamente por ter ajudado minha irmã. Diferentes de seus colegas aí que mal se importaram, você é boa pessoa. Posso saber qual é seu nome?

Ele riu.

— Eu me chamo Kin Gaku, garoto. Servo fiel a sua alteza Ren Kouen. — Tamujin e Muna, com seu olhar exangue, olharam para os príncipes.

— Vamos invocar o djinn — disse Ren Kouen, virando dos calcanhares

Instintivamente, ele pegou uma pequena caixa de joias quadriculada e ao abri-la uma voz estrondosa ecoou pela sala.

— Quem se tornara rei? — perguntou. Tamujin e Muna olharam abismado para o djinn a emergir. Era uma mulher com cabelos esvoaçantes, com uma tiara na testa, os seios fartos cobertos por uma faixa e com orelhas pontudas enfeitada com brincos. — Eu sou Seire, o djinn da abundância e das sombras.

Tamujin a encarou boquiaberto, impressionado. Muna mesmo que debilitada, não se conteve e disse:

— Uma pergunta… — a atenção de todos foi para ela. — Por que fez aquilo?

O djinn sorriu maliciosamente, o mesmo sorriso que estava na figura que se transfigurou em Tamujin.

— Oh, você não foi a única. Tinha por todos os lados, mas foi burra o suficiente em deixar-se ser atacada por minhas crias. — O djinn riu estrondosamente, mas repentinamente ficou sério. — Mas o que é isso? Vocês dois já são candidatos a rei!

Muna olhou para os príncipes de Kou ao lado. Se o djinn escolhesse um deles a força de Kou – que já era ameaçadoramente forte – ficaria mais ainda. Mas, se ele escolhesse entre Muna e Tamujin, Olmak teria a mesma quantidade de candidatos a rei que Kou.

— Isso é ultrajante! — reclamou o djinn enojada e então apontou o dedo. — Meu mestre é você.

Muna a olhou estupefata.

— Eu? — apertou o braço ferido. — Mas você acabou de me chamar de burra.

— Sim! — ela riu. — Você é burra por ter caído numa armadilha. Mas você e o outro aí – apontou com suas unhas longas para Tamujin. — Não usaram artimanhas para atravessar os meus desafios, tampouco foram brutos como esses acumuladores de djinn. Enfrentar seus medos e mantê-los para si apesar da dor foi um ato valoroso de coragem. Aprecio quem tem um ótimo controle emocional além da manipulação de magoi. — O djinn sorriu. — Eu escolho você como meu mestre.

Muna olhou para o irmão ao lado. Ele parecia mais surpreso do que ela, mas fez um breve maneio com a cabeça, incentivando-a aceitar.

Amparada pelo irmão, Muna deu um passo à frente com dificuldade desembainhou a cimitarra.

A lâmina curva parecia puxar o djinn para seu interior, por fim uma estrela de oito pontas brilhou na lâmina.

Ela passou a espada para o irmão, sorriu debilmente e desmaiou.


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