Entre o Céu e a Terra escrita por Helgawood


Capítulo 4
Capítulo 4




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Tamujin gritava por sua irmã em plenos pulmões. Vê-la tombando na mesa e caindo no chão logo em seguida o desesperou. Enquanto ele era protegido por seus guardas, ela estava só e rodeadas por homens vis e agitados pela confusão.

— Muna! — Berrou. Lutava contra aqueles homens que o protegiam. Não podia sair e deixar sua irmã ali, indefesa.

— Fica aí, vossa alteza! — Ralhou um dos soldados, empurrando-o para fora. Caiu de bunda chão. Na porta aberta conseguia visualizar socos, pontapés e espadas descendo e subindo contra centenas de pessoas reunidas naquele espaço apertado. Chatai também estava preso lá, lutando ou sendo ferido por causa deles.

— Muna! — Gritou novamente, desesperado.

Soldados da mina vieram em peso para estalagem; alguns entraram armados com espadas e chicotes; outros ficaram do lado de fora. Ergueram Tamujin pelas axilas.

— Sai daqui garoto! Aqui não é seguro para você.

Disso Tamujin sabia.

— Minha irmã está lá! — Gritou apontando para a porta.

De repente a porta da estalagem foi aberta e soldados, tanto da mina quanto os seus saíram apoiando Chatai e Muna em seus braços. Desesperado, Tamujin jogou-se sobre sua irmã assim que a puseram no chão.

— Muna! — chamou e a sacudiu pelos ombros. Ela estava consciente, mas os olhos fechados e a respiração fraca. A cabeça pendia de um lado ao outro, até que Tamujin a encostou em seu ombro. — O que aconteceu com ele? — indagou horrorizado aos soldados.

Chatai estava deitado no chão rodeados pelos soldados, de algum lugar da sua perna vertia sangue. Seu rosto estava inchado e cheio de hematomas.

— Vocês têm que ser tirados daqui. Urgente! — Disse um dos soldados. — Há outros mineradores do outro lado da mina. Se eles souberem da confusão daqui, poderá haver uma rebelião em massa.

— Há guardas o suficiente os vigiados. — Respondeu um dos funcionários da mina. — Qualquer coisa que saia do controle soarão o alarme.

— Isso já aconteceu antes? — indagou Tamujin.

— Sim. Na época alguns prédios foram destruídos; guardas e presos mortos.

Tamujin deu um longo suspiro.

— Sua majestade tem que ser avisada disso imediatamente. O diretor está ferido, minha irmã também e não há médicos aqui para cuidar de todos. Escreva uma carta ao rei!

— Não… — a voz baixa e lamentosa de Muna murmurou. — Papai não pode ficar sabendo disso, ele tem que pensar que estamos indo bem. — Ela engoliu em seco. — Logo isso vai acabar. Vai ficar tudo sobre controle; os mortos serão enterrados e os feridos, tratados. Prometa, Mujin…

Tamujin apertou a irmã contra seu colo, num abraço apertado e protetor.

— Prometo…  — Disse. — Mas também tem que prometer parar de achar que todos são inocentes. Se realmente tudo for resolvido, os que estiverem vivos serão torturados e considerados ingratos ao rei.

Mesmo contra vontade, Muna aquiesceu e fechou os olhos.

Acordou com um gosto ruim na boca. Péssimo, na verdade. Sua cabeça latejava e algo na lateral de sua costela lhe causava muita dor. Suspirou. Estava em seu quarto na mina, deitada sobre a desconfortável cama de catre. Viu sua roupa dobrada no canto sobre um banco e ergueu um pouco a coberta. Estava apenas com um conjunto branco.

— Finalmente acordou... — suspirou seu irmão ao entrar no quarto. Muna cobriu-se ainda mais. — Tem vergonha do próprio irmão?

Ela revirou os olhos.

— Você não é o único homem aqui.

— É só nessas horas que perceber que é uma mulher? — Deu um sorriso debochado.

Muna deu de ombros

— O que aconteceu?

— Você não se lembrar? — Soergueu uma das sobrancelhas.

— Não estou falando da confusão. Quero saber o que depois que me tiraram daquele lugar.

Tamujin puxou uma cadeira e sentou-se próximo a cabeceira da cama.

— Bom, antes de desmaiar você concordou em punir todos envolvidos na confusão. Eu, alguns de nossos soldados e guardas da mina nos reunidos para isso. Foi meio desagradável, confesso. Não gosto daqui e menos ainda depois que aconteceu aquilo. — Ele cruzou as pernas. — Fiz questão de cuidar de você e, é bom avisá-la, que a enfermeira está lotada e bastante homens morreram. Chatai está bem ferido, mas está se recuperando bem. Alguns guardas acham que pode acontecer uma rebelião em represália, mas estamos fazendo o possível para que isso não ocorra. Alguns guardas acham que Chatai pode ser atacado a qualquer momento.

— E nós também… — completou Muna.

— Sim. Por isso escrevi uma carta ao nosso pai.

— O quê! — Sentou-se em um pulo e lamento pela reação exacerbada. — Aí… Porque fez isso, Tamujin.

— Porque era necessário, Muna! O rei precisava saber da confusão, que o diretor foi atacado e que tentaram lhe atacar. Não contei tudo e, bem… Confesso que enfeite algumas coisas.

— Tipo o quê?

— Que você lutou, que foi ferida e que deu a ideia de castigo aos baderneiros.

— Mas…

— Ele a elogiou, Muna — interveio ele. — Escreveu que era o que esperava “da primeira princesa de Olmak e comodante em chefe da guarda interna”.

Muna inclinou a cabeça e deu um tímido sorriso. Suas bochechas estavam coradas.

Tamujin pigarreou.

— Ele prometeu enviar suprimentos e um médico. Parece que não vamos ter que pagar por isso.

— Ao menos uma notícia boa — suspirou. Deitou a cabeça de volta ao travesseiro. — Não vai demorar muito para eu me recuperar, não é?

— Não muito… talvez duas semanas para os ferimentos pequenos deixarem de doer, mas a sua costela levara um tempo. Vai precisar do médico.

— O médico fica pra depois! — retrucou ela. — Temos que ir pra dungeon.

Tamujin cruzou os braços e sorriu.

— Achei que ia dizer que primeiro temos que resolver a situação da mina.

— Era o pensamento de uma tola — disse ela. — Se ao menos um de nós tiver um djinn poderemos nos proteger e proteger os nossos. Seremos capazes de impedir o que aconteceu hoje.

— Ontem… — ele a corrigiu. — Você ficou o dia tudo descordada.

— Alguns dos nossos soldados se feriram? Se não, mande alguns atrás da localização da dungeon.

— Se eu fizer isso nossa guarda ficara pequena e ficaremos desprotegidos.

Muna mordeu os lábios. O que ela poderia fazer? O que seu irmão poderia fazer? Era difícil pensar com o corpo todo machucado e quando parecia não ter solução alguma.

Tamujin fez assim como sua irmã. Dois soldados saíram à noite para que ninguém da mina desconfiasse e era esperado que voltasse em três dias. A localização era incerta, mas havia boatos sobre está perto do território do clã Kouga ou no meio desértico no planalto de Tenzan.

Enquanto os enviados não chegavam, Tamujin foi colocado como diretor interino de Nargabad, enquanto Muna apenas o aconselhava e mandava sobre os soldados para que uma rebelião fosse, a tudo custo, impedida.

A chegada do médico vindo da capital fora um alívio para todos. Muna teve sua costela cuidada e Chatai passou a ser observando pelo profissional. Alguns homens feridos foram visitados na enfermeira e tiveram seus devidos cuidados. Mas logo ele foi embora, não suportando o fato de ter que trabalhar num lugar como aquele.

— Acha que o senhor Chatai se recuperara até amanhã noite? — indagou Muna a seu irmão. Estavam no escritório, Tamujin sentado atrás da mesa.

— Um mês não seria suficiente para ele se recuperar de todos os hematomas e da ferida da perna. Também não quero deixá-lo sozinho, Muna, aqui é perigoso demais. Deveríamos ter pedido ao nosso pai reforços.

— Vamos deixar nossos soldados aqui — decidiu ela. — Eles são melhores do que a guarda da mina toda reunida.

— Mas serão tão bons contra rebeldes? Você viu o que eles fizeram naquele dia.

Seu irmão estava certo, apenas seis soldados não eram capazes de conter todos aqueles homens, mesmo com a ajuda dos guardas.

— Não importa! — retrucou Muna. — De qualquer jeito nós vamos pra dungeon.

Os soldados regressaram na noite do terceiro dia para o alívio dos irmãos.

— E então? — indagou Tamujin.

 Estavam todos reunidos no quarto de Muna com apenas uma vela acessa e fazendo o mínimo de barulho possível para que não chamassem atenção.

— Não está tão longe daqui, vossa alteza, se encontra depois do território do clã Kouga.

— Eles viram vocês? — indagou Muna sobre o pessoal de Kouga.

— Eles não pareceram se incomodar com nossa presença. Creio que também não se incomodarão com a de vocês.

— Por acaso havia pessoas ao redor da dungeon? — perguntou Tamujin.

O soldado negaceou.

— O clã Kouga não parece muito interessado na dungeon e quando chegarmos lá, não havia indícios de que alguém havia entrado ali antes.

Muna, que até então estava encostada na janela, andou até o meio do quarto.

— Vocês ficariam aqui protegendo o senhor Chatai?

— Muna! — protestou Tamujin.

— Há guardas o suficiente aqui, vossa alteza, que protegem o diretor dia e noite. Somos responsáveis pela segurança de vocês.

Muna deu de ombros.

— Mas ficarão aqui de qualquer jeito, é uma ordem minha.

Tamujin levou a mão ao rosto e bufou, frustrado com sua irmã.

— Chatai é importante para o rei e corre perigo. Fiquem e o protejam, por favor. Eu temo que ele seja assassinado e que uma rebelião aconteça.

Levou um bom tempo para que os soldados aceitassem a ordem de Muna, mas no fim acataram. Montados em seus castrados partiram de Nargabad para o Planalto de Tenzan em direção a uma aventura desconhecida.


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