Entre o Céu e a Terra escrita por Helgawood


Capítulo 12
Capítulo 12




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Despertou cedo naquela manhã pronta para o primeiro compromisso real: encontrar-se com a imperatriz. Vestia uma túnica azul-esro com detalhes em prata, com um cinto na cintura e colares e pulseiras para enfeitar. Olhou-se no espelho e desgosto de tudo aquilo, mas tinha que agradar.

A porta do quarto então foi aberta por um dos guardas e uma criada entrou.

— Vossa alteza, — ela vez uma breve mesura — estou aqui para acompanhá-la.

Os longos corredores de madeira escura e tapetes vermelhos eram ricamente decorados. Seus olhos prescrutava cada centímetro do palácio, admirando cada detalhe na arquitetura e cada cortesão.

 Enquanto seguia a criada levou a mão a barriga. Estava tão ansiosa e apreensiva por aquele momento que tinha a sensação do estomago congelar.

A sala na qual foi levada era ampla, com colunas e cortinas vermelhas. No meio havia uma extensa mesa farta em comida e ricas louças. Um eunuco anunciou sua entrada e todos na mesa puseram-se em pé, exceto a imperatriz.

Na mesa havia algumas cadeiras vagas e logo reconheceu o primeiro e o segundo príncipe sentados à direita da imperatriz. Do outro lado estava Hakuei e um rapaz sentado ao seu lado.

— Seja bem-vinda a Kou! — cantarolou a imperatriz, sorrindo e abrindo os braços.

Esticou os lábios na tentativa de um sorriso e a reverenciou.

— A honra é minha, vossa majestade.

— Junte-se a nós. —A imperatriz indiciou uma cadeira vazia ao lado de Hakuei.

Ela não sabia o que fazer, dizer ou como se portar adequadamente. Fora ensinada desde a tenra infância a etiqueta de uma filha de rei, entanto, , diante do núcleo Ren presente naquela mesa se sentia insignificante. Fechou os olhos, respirou fundo e ergueu a cabeça. Era a filha de um rei e conquistadora de uma dungeon; tinha que mostrar orgulho de quem era.

— Está tudo bem? — Hakuei perguntou gentilmente, chamando atenção de Muna.

— Oh, sim! — respondeu. —Só não estou acostumada com tudo isso.

—  Entendo... Kou pode parecer um pouco intimidador. Aceita um pouco de vinho?

Muna sequer precisou responder, a bebida clara foi despejada em seu copo por uma das criadas. O bebericou, não era tão forte como os vinhos de Olmak mas era bom.

— Deixe-me lhe apresentar meu irmão mais novo, Ren Hakuryuu. — Ela apontou para o garoto sentado ao seu lado.

Ele era idêntico a irmã com os cabelos pretos e olhos azuis. A cumprimentou com um breve maneio com a cabeça e voltou sua atenção para o prato. A queimadura em seu rosto a fez lembrar do ataque que Kou sofreu, no qual o único sobrevivente foi ele. Engoliu em seco. Ele era só uma criança, lamentou.

— Então, Muna — começou a imperatriz, tirando-a de seu estado absorto chamando a atenção de todos para princesa. — O que está achando de Kou?

— Muito bonito, vossa majestade. — respondeu. — Gostaria de poder conhecer mais.

A imperatriz sorriu.

— Ficarei encantada em levá-la por uma visita por Kou, quando eu puder arranjar um tempo para isso.

— Eu posso fazer isso, majestade. —  Interveio Hakuei, se oferecendo. — Será um prazer lhe mostrar Kou, Muna. Assim também poderá conhecer meus primos mais novos; Kouha e Kougyoku.

Muna sorriu abertamente, grata. Já estava gostando da princesa, e via nela a chance de uma amizade.

— É muito gentil de sua parte, alteza.

 — É o mínimo que posso fazer por ser nossa convidada – disse e mudou de assunto: — Soube que se encontrou com meus primos na dungeon.

Muna olhou para os príncipes sentados à sua frente. A dungeon foi erguida para eles, para que um deles saíssem como conquistador. Não estaria ali agora se tivesse desistido, se não tivesse ciúmes dos irmãos, se não procurasses por poder.

Não peça desculpas, o djinn é seu.

— Isso mesmo.  — Respondeu e virou-se para eles. — Tenho que agradecê-los e a um subordinado de vocês, o que me salvou.

— Kin Gaku, não foi? — indagou Koumei com a sobrancelha soerguida ao irmão mais velho, que aquiesceu. — Transmitirei seus agradecimentos a ele.

Ela agradeceu e então os perguntou:

— Vocês chegaram a se encontrar com Yunan?

— Não... — Respondeu Koumei, cauteloso.

— Você encontrou o magi viajante? — perguntou Kouen com o cenho franzido.

De repente deu se conta que não deveria ter aberto a boca. Todos os olhares estavam direcionados a ela a espera de uma resposta ou, melhor, explicação.

— Ah, bem, sim... — Balbuciou, se arrependendo por ter mencionado o magi.

Gyokuen inclinou e sorriu.

— Oh, então temos um receptáculo de rei aqui.

Muna negaceou com a cabeça.

 — N-não — ela gaguejou. — Nada disso. Eu... ele...

A imperatriz colocou sua mão sobre a dela, a silenciando. Seus grandes olhos azuis pareciam gentis à primeira vista, mas sentada ao lado dela e recebendo toda sua atenção, Muna via que não era bem assim.

— Receio que vou ter que ser uma péssima anfitriã e me retirar mais cedo. Mas, por favor, aproveitem o desjejum. — Ergueu-se da mesa. — Você não sabe como Kou está agitado com sua visita...

A sala mergulhou em um silêncio ao a imperatriz sair farfalhando seu vestido acompanhada por suas criadas e sacerdotes.

Muna mordeu os lábios, arrependida.

(...)

Após a refeição, Hakuei convidou Muna para conhecer o palácio. Sua vontade era de recusar, arrumar suas coisas e voltar para Olmak, mas não podia fazer isso. Calmamente acompanhou Hakuei por salões, corredores, pavilhões e coretos.

— Eu me pergunto se causei uma impressão errada a imperatriz. —Muna disse, enquanto andava por um dos pátios.

— Não se preocupe com isso — Assegurou Hakuei. — Está tudo bem.

Mas Muna não tinha certeza. Mencionar Yunan fora uma péssima ideia, ainda mais quando estava ali para apaziguar e impedir um conflito entre Kou e Olmak.

A pedido de Muna, Hakuei levou-a a biblioteca. A princesa estava interessada nos acervos do império, em seus pergaminhos, mapas e ilustrações. Dedilhou seus dedos pelos pergaminhos velhos e amarelados e contemplou os mapas nas paredes.

— É nossa convidada de honra — comentou Hakuei. —, então fique à vontade para pegar quaisquer livros que forem de seu agrado.

Ouvir aquilo foi como música para seus ouvidos. Enquanto admirava os pergaminhos em suas estantes e prateleiras uma garota irrompeu na biblioteca, surpreendendo as duas. Muna a olhou por alguns instantes e fez uma mesura; os longos cabelos ruivos evidenciava uma princesa Kou.

— Olá Kougyoku — cumprimentou Hakuei. — Muna, esta é minha prima que mencionei antes, Ren Kougyoku.

— É um prazer conhecê-la, princesa.

Kougyoku fez um maneio com a cabeça, enrubescida.

— Bem-vinda a Kou. — sua voz baixa e logo em seguida saiu apressada.

— Ela é um pouco tímida. — Contou Hakuei, dando de ombros.

Depois da biblioteca, Muna voltou para seus aposentos e encontrou Nida entediada, a sua espera. A dama de companhia tirou todas as joias e enfeites da princesa, que suspirou de alívio ao se ver livre delas.

— Espero que sua manhã tenha sido ótima. — Dizia Nida enquanto guardava as joias. — O meu foi tedioso.

— Minha manhã foi tudo, menos ótima. — Muna se sentou na escrivaninha sob a janela. — O desjejum ficou num clima pesado, e a imperatriz saiu cedo. Ao menos a princesa Hakuei foi gentil e me mostrou palácio. É estranho, mas me sinto como um escorpião dançando na frente dos elefantes. — Suspirou. — Me arranje um papel e tinta, vou escrever para meu pai.

Prontamente Nida arranjou o papel e o pincel para ela e se sentou ao seu lado, observando cada frase escrita pela princesa:

            Meu querido pai e rei

      Cheguei bem a Kou e foi bem recebida, apesar de quem me recepcionou foi a princesa Hakuei e não a imperatriz. Isso aconteceu com o senhor? Cheguei de noite e logo foi dormir, e de manhã já tive meu primeiro compromisso imperial; quebrar o desjejum com a imperatriz, filhos e enteados. Não foi tão bom quanto desejava que fosse, creio que...

Houve uma batida na porta e um dos guardas do lado de fora anunciou o nome da princesa Kougyoku.

As duas se entreolharam. Muna não esperava a visita dela, na verdade, não esperava a visita de ninguém.

— Devo abrir? — a dama de companhia perguntou receosa.

— É claro! — exclamou Muna.

A princesa pôs-se de pé imediatamente e ajeitou a saia de seu vestido, imaginando o que a 8° princesa queria com ela. A princesa entrou acanhada, escondendo o rosto com a longa manga de seu vestido.

— Princesa Kougyoku — disse, a reverenciando. — Não imaginava que veria me visita.

— Eu sei... — Ela olhou para os próprios pés. — E peço desculpas. — Sussurrou.

Princesa e a dama de companhia trocaram olhares novamente a procura do que fazer naquele momento. Muna pigarreou.

— Por favor, sente-se.

Estendeu a mão a mesa redonda que havia em seu quarto, de maneira vermelha e decorado com um jarro de flores. Muna sentou-se de frente a princesa, tendo Nida em pé a suas costas.

Perguntava-se se deveria pedir um chá com biscoito para oferecer, entanto, a casa não era dela. Não tinha trazido nada de Olmak que pudesse oferecer como presente, então o que faria?

— No que posso ser útil, alteza?

Kougyoku olhou-a surpresa com tanta nobreza e, enrubescida, e virou o rosto para o lado.

— Não precisa me chamar assim. Kougyoku está bom.

— Certo... Então o que Kougyoku deseja de mim?

Sorria de orelha a orelha com expectativas. Kougyoku era jovem e poderia fazer amizade fácil com ela. Contudo, com um sobressalto a princesa pôs-se de pé mudando seu semblante tímido e envergonhado, para um sério e sisudo.

— Que vá embora!

Seu sorriso murchou e franziu o cenho no misto de indignação e curiosidade.

— Que?!

— Desculpa, mas ouviu bem!

Muna a encarava incrédula. Tentou pôr-se pé, mas a dama de companhia pôs a mão sobre seu ombro.

— Sua alteza é convidada de honra da imperatriz. — Interveio Nida com a voz calma. — E ela tem um compromisso aqui. Não se aborreça tanto, vossa alteza, Muna Saihin não almeja estender seu tempo em Kou.

— Eu... — O peito de Kougyoku peito descia e subia, respirando ofegante. — Eu não quero que se case com meu irmão!

Muna a encarava duvidando de sua saúde mental. Por fim, soltou uma risada seca.

— Enlouqueceu? Não vir pra cá para me casar. Vir unicamente para resolver alguns assuntos e, assim que resolvidos, voltar! Me desculpe, mas não desejo me unir com ninguém da sua família.

Kougyoku ficou levemente abalada. Encolheu os ombros e sentou-se de novo.

— Me... desculpe.

— Por que acha que eu iria me casar com seu irmão? — indagou, franzido o cenho. — Se essa loucura viesse acontecer seria anunciado publicamente.

A princesa virou o rosto envergonhada.

— Eu sei..., mas eu pensei...

— Pensou errado. — retrucou Muna e pôs-se de pé. — É adorável sua preocupação com seus irmãos, alteza, mas eu não gostaria de ouvir isso novamente e, não querendo ser indelicada com a senhorita, eu peço que saia.

Kougyoku abriu a boca surpresa, aquiesceu e saiu do quarto. Muna afundou-se na cadeira de sua escrivaninha e suspirou. Manchou o pincel com a tinta preta e completou:

          Creio que vou enlouquecer aqui.

          Carinhosamente,

       1° princesa real de Olmak, comandante da guarda interna, Muna Saihin.


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