A Dama das Névoas escrita por Hana


Capítulo 2
Traição de um Capitão pirata




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/809955/chapter/2

A entrada da caverna exalava uma aura sinistra e perigosa, mas interessante, era como uma fenda escura e misteriosa, com rochas irregulares que se projetavam como garras à espreita. Uma corrente de ar frio soprava de seu interior, carregando consigo um leve aroma de umidade e terra. As paredes rochosas exibiam antigas marcas e relevos, como se narrassem a história de séculos de mistérios e segredos que ali residiam.

Cada passo que dávamos ecoava pelos estreitos corredores, criando um som soturno que se dissipava na escuridão adiante. A sensação de estarmos sendo observados se intensificava a cada metro que avançávamos, envolvendo-nos em uma atmosfera de tensão e alerta constante. Olhávamos para os lados, mas nada se revelava além da escuridão impenetrável. Não sabíamos o que esperar, e isso causava mais angústia para nós. Veja bem, não tínhamos medo, só… receio. 

Com um olhar sério, acendi a tocha que estava em minhas mãos, e a luz iluminou o caminho à frente. Levei comigo os tripulantes que sabiam lutar melhor, caso precisássemos batalhar, enquanto os tripulantes mais experientes em vigília esperavam e cuidavam do navio. Todos estavam confiantes, mas eu sentia uma tensão palpável no ar. Esta não parecia, e tenho certeza de que não seria uma aventura comum. Envolvia uma batalha de vontades e passados entrelaçados. Muitas coisas estavam em jogo.

A câmara central da caverna era impressionante, com formações rochosas majestosas que se erguiam em torno de nós, como pilares antigos que sustentavam o peso do tempo. No centro da câmara, iluminado por feixes de luz que atravessavam rachaduras no teto, estava o baú entreaberto com o tão cobiçado tesouro. O que pareciam ser muitas e muitas jóias brilhantes, artefatos antigos e pilhas de moedas de ouro reluziam, criando um espetáculo hipnotizante de riqueza acumulada.

E lá, em meio a esse esplendor de riqueza, estava o capitão LeBlanc. Sua figura era imponente, envolta em um casaco de couro envelhecido pelo tempo e com marcas de inúmeras batalhas travadas. 

Seu olhar, como um predador que avista sua presa, recaía sobre o tesouro com cobiça incontrolável. Sua testa era marcada por rugas de preocupação e experiência, cada uma delas contando histórias de desafios superados e inimigos vencidos.

Sob uma barba mal cuidada, os lábios do capitão LeBlanc curvavam-se em um sorriso sardônico, denotando sua natureza ardilosa e calculista. Cada movimento que fazia era fluido e confiante. Em seu pescoço, ostentava um medalhão com o símbolo de uma caveira, símbolo de sua tripulação notória e temida em todos os sete mares. 

Capitão LeBlanc era um inimigo implacável, e eu estava prestes a encarar meu passado de frente.

— Ora, ora, ora, Dama das Névoas.. Ravena Blackwell… Enfim nos encontramos novamente. — A voz de LeBlanc ecoou pelas paredes da caverna, provocando arrepios em minha espinha.

Rapidamente, sinalizei aos meus tripulantes que retornassem ao navio e me aguardassem lá.

— Tem certeza, Capitã? E se você precisar de ajuda? — indagou Stephan.

— Fiquem tranquilos, eu consigo me virar. — respondi. 

A presença de LeBlanc ali era intimidante, e eu sentia meu coração acelerar à medida que me preparava para enfrentá-lo. Ele me conhecia desde os tempos em que eu era apenas uma garota ingênua e indefesa, mas agora, diante dele, eu era a Dama das Névoas, a Capitã Blackwell, e não mais permitiria que ele me subestimasse.

Assim que vi meus homens correrem para fora da caverna, direcionei meu olhar ao capitão pirata à minha frente. 

— Capitão LeBlanc, não há necessidade de mais derramamento de sangue. Entregue-me o tesouro e siga em paz. — Falei, tentando apelar para o bom senso.

Ele riu cinicamente, seus olhos não revelando nenhum vestígio de piedade.

— Você realmente acha que estou aqui pelo tesouro? --- indagou, respondendo gloriosamente em seguida. --- Sim, me interessa muito o ouro. Mas quero principalmente o poder que vem com ele. Esse tesouro é a chave para conquistar os mares e dominar todos que ousarem cruzar o meu caminho.

Meus olhos ardiam com determinação enquanto eu fitava o Capitão LeBlanc. O perigo que ele representava era real, e eu sabia que não poderia evitar esse confronto.  Respirei fundo e ergui minha espada, preparando-me para o duelo que estava por vir.

— Você não mudou nada, LeBlanc. Ainda é o mesmo pirata ambicioso e cruel de sempre. — eu disse.

Foi após essas palavras, que o duelo começou. Nossas espadas se chocavam em uma dança mortal de destreza e estratégia. Cada golpe era calculado, cada movimento visando ganhar uma vantagem sobre o outro. O som do metal ecoava pela caverna enquanto batalhávamos, ambos determinados a sair vitoriosos. 

Nossas espadas se lançavam em uma dança violenta e implacável. Cada golpe meu tinha a intenção de mostrar a ele que eu não era mais a mesma garota ingênua que ele conheceu. Eu era a Dama das Névoas, a Capitã Blackwell, e não permitiria que ele subestimasse o meu poder e a minha determinação. 

Meus movimentos eram rápidos e precisos, como os de uma predadora preparada para a caçada. Investia com golpes vertiginosos, buscando brechas em sua defesa, enquanto me esquivava com agilidade de seus ataques retaliatórios. Cada vez que nossas lâminas se encontravam, uma onda de energia reverberava por meus braços, lembrando-me da força formidável que ele também possuía.

— Ainda se apega à ideia de redenção, Ravena? Acha que pode escapar do seu passado? — Ele provocou, ofegante, lançando um golpe poderoso.

Com agilidade, desviei do ataque e contra-ataquei com fúria.

— Não estou fugindo do meu passado, LeBlanc. Eu enfrento as minhas escolhas, e é isso que me torna mais forte. Se você quer poder, que seja, mas saiba que o verdadeiro poder está em escolher o caminho da redenção, em se tornar um capitão que respeita sua tripulação, não um tirano ambicioso que só se importa com o próprio umbigo.

As palavras ecoaram na caverna. O combate se tornou mais acirrado, e nossos olhares se entrelaçaram em meio à batalha. Eu via o ódio em seus olhos, mas também uma centelha de dúvida.

— Você não sabe do que está falando. Eu preciso desse poder para sobreviver. A fraqueza não é uma opção! — Ele rugiu, investindo com força redobrada.

Enquanto nossas espadas colidiam, lembrei-me de que um dia fomos aliados. A dinâmica entre nós era invejável, nossa estratégia era impecável. E olha para nós agora, brigando como dois animais covardes.

O duelo atingiu o ápice quando nossas espadas colidiram uma última vez, e com um movimento certeiro, eu consegui desarmá-lo. Ele caiu de joelhos, derrotado.

— Acabou, LeBlanc. Sua ganância o cegou, mas ainda há tempo para mudar. Escolha o caminho da redenção. Seja um capitão que respeita a tripulação e encontra sua verdadeira riqueza na liberdade.

Ele olhou para mim com raiva e desespero, e a espada ainda em punhos.

— Ravena… — Ele começou a falar, mas antes que pudesse terminar, uma explosão repentina de luz o interrompeu. O tesouro que jazia no chão irradiava uma energia brilhante, como se estivesse respondendo ao nosso conflito interno. 

A força da explosão nos separou e, quando a poeira baixou, LeBlanc tinha desaparecido da caverna. Meus olhos se arregalaram ao perceber que o tesouro, antes banhado pelo brilho místico, havia sumido junto com ele.

— Maldição! Ele conseguiu roubar o tesouro no meio do caos! — exclamei, com um misto de fúria e incredulidade.

A adrenalina da batalha ainda pulsava em minhas veias, e agora eu ainda me sentia frustrada por ter deixado LeBlanc escapar. Ele sempre fora astuto, e mesmo em meio à confusão, encontrou uma oportunidade para agir. Típico.

Retornei cabisbaixa, de mãos vazias, para o local onde havia deixado meu navio. Me perguntava como LeBlanc tinha atracado e desaparecido com sua esquadra sem ser percebido. Cogitei a possibilidade de ter um traidor em minha tripulação, mas… não, eu confio em cada um deles, não consigo acreditar nisso. Mas alguma coisa ele tinha feito. E eu iria descobrir. Ele não fazia ideia do que estava por vir. 

Quando embarquei novamente no Skullscythe, minha tripulação se aproximou, olhando para as minhas mãos vazias, onde deveria estar o baú com o tesouro. Eu sabia que havia falhado. A decepção pesava, mas eu não iria fraquejar.

— Capitã, o que faremos? — indagou Louis, com o olhar firme.

Respirei fundo, erguendo a cabeça com determinação.

— Não vamos desistir. Vamos perseguir LeBlanc e recuperar o tesouro a qualquer custo. — minha voz era um sussurro carregado de resoluta vontade. — Hora de zarpar.

Minha tripulação assentiu. Essa batalha estava longe de terminar, e nossas emoções estavam à flor da pele. Esse tesouro havia sido roubado da fortaleza naval, quando desativaram o sistema de segurança e atravessaram as muralhas do local. Por alguma artimanha do destino, foi parar naquela Ilha, e agora… com LeBlanc. Mas não por muito tempo. Ou eu não me chamo Dama das Névoas

Enquanto deixávamos a Ilha, a madrugada se estendia, e com ela, a tempestade começou a se intensificar. Nuvens escuras se acumulavam  no céu, e os ventos sopravam ferozmente, agitando as águas do oceano. Meus homens trabalhavam com rapidez e precisão, ajustando as velas e tomando medidas para enfrentar a tempestade iminente.

Enquanto eu manobrava o timão, observava o horizonte preocupada. A tempestade prometia ser impiedosa, e nossa prioridade era garantir a segurança do navio e de todos os que estavam a bordo. 

— Guinada a bombordo!¹ — Meu subcomandante, Nicholai Lima, gritou para mim.

Com as mãos firmes no leme, guiei o Skullscythe pelas ondas revoltas, buscando abrigo em águas mais protegidas.

Enquanto navegávamos, os ventos zuniam em nossos ouvidos, e a chuva começou a cair torrencialmente. A visibilidade ficou ainda mais prejudicada, e os raios cortavam o céu, iluminando momentaneamente o mar agitado.

— Subcomandante Lima, a tempestade está piorando! — Alertei, meus olhos atentos ao mar revoltoso. 

Ele assentiu, sabia tanto quanto eu que não poderíamos continuar avançando naquelas condições. Buscando uma opção segura, avistamos uma ilhota rochosa ao longe, um refúgio providencial em meio à fúria da tempestade.

Meus marinheiros, incansáveis em sua devoção ao navio e à tripulação, soltaram o ferro com habilidade, lançando a âncora com precisão milimétrica para garantir nossa estabilidade naquele mar revolto. O som metálico do ferro se fundiu com o rugido da tempestade, como se a própria ilhota estivesse recebendo-nos com uma saudação poderosa.

Os ventos sopravam tão forte que era difícil se manter em pé no convés. A chuva caía incessantemente, encharcando nossas roupas. 

Enquanto esperávamos a tempestade passar, nos reunimos no convés principal, buscando conforto uns nos outros. O rugido do trovão ecoava pelo ar. A adversidade sempre foi nossa companheira mesmo, aquela tempestade não seria exceção.

—  Não podemos deixar essa tempestade abalar nossa determinação. O tesouro ainda é nosso objetivo, e nada nos deterá. — disse, elevando minha voz acima do som da chuva e do vento. 

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

¹ "Guinada a Bombordo" é uma expressão náutica que significa "virar o navio para a esquerda"

Se tiver algum errinho, podem me avisar, muito obrigada ♥



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Dama das Névoas" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.