A Dama das Névoas escrita por Hana


Capítulo 3
O destino que tem que ser




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Enquanto as ondas ainda rugiam e o céu ameaçava com trovões, a tripulação do Skullscythe mostrava sua verdadeira essência pirata. Em meio à adversidade, cada membro da tripulação desempenhava suas tarefas com destreza e eficiência. Alguns marinheiros se ocupavam com a manutenção do navio, verificando velas, ajustando cordas e mantendo a estrutura resistente às investidas da tempestade.

Outros encontravam consolo nas cartas, jogando partidas acaloradas de truco ou pôquer, a aposta de algumas moedas de ouro adicionando um tempero extra à atmosfera. O riso e os gritos de comemoração se misturavam ao estrondo dos trovões, criando uma sinfonia peculiar e animada em meio ao caos.

Alguns membros da tripulação preferiam descansar, sabendo que o descanso também seria essencial para enfrentar o que viria pela frente. Encontravam refúgio em suas redes e camarotes, aproveitando ao máximo cada momento de repouso antes da próxima aventura.

Enquanto observava minha equipe em ação, senti um inegável orgulho pela resiliência e camaradagem que emanavam. Éramos mais que uma tripulação, éramos uma família de piratas unidos pelo mesmo espírito aventureiro.

Ainda observando os homens se movimentarem pelo convés, meus olhos encontraram os do subcomandante Lima, que estava próximo ao mastro principal, dando instruções a alguns marinheiros. Havia algo em sua postura e expressão que me intrigou naquele momento.

Me aproximei dele, me abrigando um pouco do vento sob o guarda-chuva de lona.

— Subcomandante Lima, algo o preocupa? — indaguei, observando-o com atenção.

Ele olhou para mim, seus olhos expressando um misto de emoções. Não era comum ver o subcomandante tão pensativo e inquieto.

— Ravena, é sobre a tempestade e a nossa situação. Estamos encurralados aqui, e a previsão é de que ela possa durar mais algumas horas. Será um atraso significativo em nossa jornada e na busca pelo tesouro. — explicou, preocupado. A propósito, ele era o único que podia me chamar pelo nome. Digo, sem o “capitã” na frente.

Bom, concordei com ele. A tempestade era, de fato, um contratempo inesperado, mas não poderíamos controlar o clima. Precisávamos lidar com as adversidades da maneira mais inteligente possível.

— Eu sei… Nicholai. — chamei-o pelo nome também. — Infelizmente, não há muito que possamos fazer a não ser esperar a tempestade passar. A prioridade agora é garantir a segurança do navio e de todos a bordo. Nossa busca pelo tesouro terá que esperar. — respondi, buscando tranquilizá-lo, ao mesmo tempo em que mantinha a voz firme.

Ele assentiu, mas havia algo mais em seu olhar, algo que não estava relacionado apenas com a tempestade.

— Ravena, posso falar francamente? — ele perguntou, hesitante.

— Sempre. Pode dizer o que está em sua mente. — respondi, com um sorriso sincero nos lábios, encorajando-o.

Ele respirou fundo, parecendo ponderar suas palavras..

— Eu entendo a importância do tesouro para a tripulação e para você mesmo, mas… às vezes, parece que você está tão focada nisso que esquece de cuidar de si mesma. Essa busca tem sido uma jornada perigosa e desafiadora, e eu me preocupo com você… Capitã Ravena. — disse ele, sua voz soava receosa, mas sincera.

Fiquei surpresa com a franqueza dele, mas também agradecida pela preocupação genuína. Eu sempre me esforcei para ser uma líder forte e determinada, mas também sabia que precisava cuidar de mim mesma. 

— Eu aprecio suas palavras, Nick, e sua preocupação. — sim, é mais fácil chamá-lo pelo apelido, ao menos enquanto estamos a sós, é claro. — A verdade é que essa jornada tem sido pessoal para mim. Eu não contei a todos os detalhes do nosso objetivo, mas saiba que estou ciente dos riscos que enfrentaremos. — respondi, olhando-o nos olhos.

Ele assentiu, compreendendo minhas palavras.

— Eu sei que não sou a mesma garota que você conheceu, mas aquela garota ainda faz parte de quem eu sou. Eu não posso simplesmente ignorar o passado. Essa busca é uma chance de enfrentar meus próprios demônios e encontrar respostas que procuro há muito tempo. — expliquei.

Lima ficou em silêncio por um momento, absorvendo minhas palavras.

— Eu entendo. Saiba que estou aqui para apoiá-la, assim como tenho a certeza de que toda a tripulação. Tem os melhores homens trabalhando para você. Seja qual for o seu passado ou o que você busca, estaremos ao seu lado. — disse ele.

Um sorriso terno brotou em meus lábios, tocada pela lealdade e confiança dele.

— Obrigada, Nick. Significa muito para mim saber que posso contar com você e com toda a tripulação. Juntos, somos mais fortes. — respondi, tocada por aquela conversa melodramática. Logo eu, sempre tão fria e durona.

Enquanto nossos olhares se encontravam, algo no ar mudou. Era como se o tempo tivesse parado por um momento. Eu podia sentir a proximidade dele, sua presença reconfortante. E antes que eu pudesse pensar duas vezes, seus dedos deslizaram pelo meu rosto, delicadamente afastando os fios de cabelo que teimavam em grudar na minha pele. O toque de sua mão era quente e reconfortante, e meus olhos não conseguiram se desviar dos dele. Era como se houvesse um entendimento silencioso entre nós.

E então, num gesto tão delicado quanto ousado, ele se aproximou, seus lábios encontrando os meus  em um beijo suave e apaixonado. Foi como se o tempo tivesse desacelerado, e eu pude sentir cada detalhe daquele momento. Seus lábios eram macios e quentes, e o toque dos seus cabelos em meu rosto me fez sentir amparada e desejada ao mesmo tempo.

O beijo foi surpreendente e intenso, repleto de emoções conflitantes que estavam se acumulando entre nós. Foi um momento de vulnerabilidade compartilhada, onde as barreiras caíram, e duas almas se encontraram em meio à tempestade.

Por um breve instante, deixamos de ser a capitã e o subcomandante, e nos tornamos apenas Ravena e Nicholai, duas pessoas cujos caminhos se entrelaçaram em uma jornada cheia de desafios e descobertas.

Quando nos afastamos, o olhar de Lima era carregado de afeto, compreensão e desejo. Não havia necessidade de palavras naquele momento. Ele, então, segurou minha mão e me puxou para a cabine do comando, fechando a porta em seguida. Totalmente a sós, me puxou novamente para mais um beijo.

Cada toque e carícia intensificavam o desejo que estava se formando entre nós. Aos poucos, nossas mãos exploravam delicadamente os contornos um do outro, o calor do momento envolvendo-nos em um abraço íntimo.

O ambiente na cabine estava impregnado de uma energia magnética, repleta de promessas silenciosas e emoções ardentes. Enquanto nos perdíamos naquele momento de conexão profunda, o cenário se dissolveu em uma névoa de sutilezas, e o tempo parecia não ter mais significado.

No silêncio pós beijo, nossos corações batiam como um só, se encontrando em uma sintonia perfeita. Ainda envoltos na aura de intimidade, trocamos um sorriso cúmplice, como se compartilhássemos um segredo precioso. Sabíamos que aquele momento era apenas o início de uma jornada desconhecida, onde as emoções e o perigo se entrelaçariam em uma dança inebriante.

Entretanto, o rufar de tambores da tempestade lá fora nos levou de volta à realidade além das paredes da cabine. Nosso navio ainda estava ancorado próximo à ilhota, enquanto a tempestade rugia. Olhando pela pequena janela, o mar agitado refletia o turbilhão de sentimentos que invadia nossos corações.

Nicholai e eu compartilhamos um olhar significativo, entendendo que não poderíamos ignorar nossos deveres como capitã e subcomandante. Havia um tesouro roubado para recuperar, e um capitão inimigo que ainda precisava ser enfrentado. A tensão entre nós era clara, pois, mesmo em meio à paixão que começava a florescer, não poderíamos esquecer das consequências de nossos atos.

Desvencilhando-me dos braços de Nicholai, levantei-me com determinação. Sabia que, apesar do turbilhão de sentimentos, nosso compromisso com o navio e com a tripulação viria em primeiro lugar. A missão seguia, e o confronto com LeBlanc ainda estava por vir.

— Precisamos retomar o curso, enfrentar essa tempestade e partir em busca do tesouro. LeBlanc não ficará esperando por nós, e a cada momento que perdemos, ele pode se distanciar ainda mais. — minha voz ecoou firme e ao mesmo tempo mais fria do que eu gostaria,  mesmo que em meu interior, um conflito emocional se desenrolasse.

Nicholai assentiu, compreendendo as palavras não ditas. A paixão que vivemos naquele momento permaneceria, mas o dever nos chamava para o desafio à frente.

Juntos, deixamos a cabine e voltamos ao convés. O vento soprava implacavelmente, mas o brilho em nossos olhos não se apagava. A aventura que nos aguardava no mar era tão misteriosa quanto as profundezas do oceano.

Entre tesouros roubados, segredos do passado e um amor que desafiava as tempestades, o destino tecia suas tramas, preparando-os para enfrentar os desafios e mistérios que ainda se ocultavam nas sombras do horizonte.

Quando a tempestade começou a se dissipar minutos depois, o sol espiava timidamente pelas nuvens escuras, lançando seus primeiros raios sobre as águas revoltas. Era um sinal de que a calmaria estava por vir.

Erguemos âncora e zarpamos em direção ao desconhecido, em busca do que nos pertence. Sabíamos que o mar guardava segredos e desafios, mas com nossos corações de ferro e espírito indomável, enfrentaríamos tudo de peito aberto, sem medo das ondas nem das reviravoltas da fortuna. Cada vento soprava a nossa história, e a vida nos revelava a rota para a grandeza e para a glória que apenas nós, piratas audaciosos e ousados, poderíamos conquistar.


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