As névoas pairavam densas sobre o convés do navio, como um véu misterioso. Era ali que eu me sentia verdadeiramente em casa - navegando em meio à neblina que esconde meus segredos e protege minha tripulação. Meu nome é Ravena Blackwell, mas neste vasto oceano, sou conhecida como a Dama das Névoas. Em breve você saberá o porquê.

Com um sorriso sutil nos lábios, observava minha leal tripulação se movendo com destreza pelo convés, cada membro tão valente quanto o próximo. Cada um com suas histórias e razões para estarem a bordo, todos eles encontraram abrigo sob as asas sombrias do Skullscythe. Juntos, formamos uma família improvável, unida por um desejo em comum: liberdade.

Mas a liberdade tem um preço, e o meu é alto. Meu passado é um que poucos conhecem, um que guardo sob as sombras das névoas marítimas. Mas essa busca pelo tesouro roubado da fortaleza naval trouxe à tona os fantasmas que eu preferia manter escondidos. Fantasmas que agora rondam meu navio, ameaçando mergulhá-lo em um turbilhão de perigos e incertezas.

Olhei para o mapa do tesouro estendido à minha frente, suas linhas e símbolos sendo guiados pelas correntes dos oceanos e pelos segredos enterrados no meu coração. A lenda diz que esse tesouro pode mudar o destino dos mares, concedendo poder inimaginável àquele que o possuir. Mas não sou movida pela ganância, nem pelo desejo de governar, apenas pelo anseio de proteger os meus.

As vozes da tripulação sussurravam inquietas enquanto eu permanecia no convés, ainda fitando o mapa do tesouro com olhos penetrantes. 

— Esse tesouro é cobiçado por muitos, Capitã — disse meu primeiro oficial, uma figura sombria de cabelos negros conhecida como Lâmina Afiada. Mas seu nome mesmo é Stephan. Você vai perceber que meus tripulantes sempre acabam com um apelido… carinhoso. — Muitos homens dariam tudo para possuí-lo, mas você não parece motivada pela riqueza que ele promete.

Um sorriso astuto brincou em meus lábios, e meus olhos encontraram os dele, refletindo a determinação que ardia dentro de mim.

— O ouro não é minha motivação, caro Stephan. É verdade que meu passado esconde segredos e escolhas que nem todos entenderiam. Mas o que me impulsiona é a promessa de proteger aqueles que amo, e acredito que esse tesouro pode ser nossa salvação e nossa redenção.

Enquanto o navio avançava, eu sabia que nossas rotas se entrelaçariam com as de um adversário implacável e particularmente irritante: Capitão LeBlanc, um homem que se esconde nas sombras e cuja sede de poder é insaciável. O passado sombrio entre nós transparece em olhares de desafio e em golpes cortantes. Parece que estamos destinados a continuar essa batalha através dos mares.

À medida que nos aproximávamos da ilha onde o tesouro repousava, a tensão aumentava a cada onda que quebrava contra o casco do navio. Meus dedos apertavam o mapa com firmeza, enquanto meu coração batia no ritmo acelerado de uma aventura que poderia mudar o curso da história pirata.

— Capitã, talvez devêssemos recuar. A presença de LeBlanc é um mau presságio — sugeriu um jovem marinheiro, seu rosto evidenciando sua preocupação com a crescente tempestade que se formava no horizonte.

Eu lhe lancei um olhar de desaprovação.

— Nós não navegamos esses mares para recuar diante do perigo. Vamos enfrentar o que vier. 

As palavras ecoaram no ar salgado, e com um aceno de cabeça, dei a ordem para seguirmos em frente. Sob meu comando, o Skullscythe cortou as ondas com determinação, desafiando o destino e provando que as lendas são forjadas por aqueles que estão dispostos a enfrentar o desconhecido.

Enquanto avançávamos em direção à ilha, nossos olhos se direcionavam para o  horizonte, procurando qualquer sinal do Espectro Noturno ou da presença de Capitão LeBlanc e sua tripulação.

De repente, o som de um canhão sendo disparado rasgou o ar, e um projétil atingiu as águas próximas ao nosso navio. Com a velocidade da luz, minha tripulação se mobilizou, preparando-se para o ataque. Sabia que o confronto era inevitável, e a tensão que preenchia o ar era cortante como uma faca.

— Preparem-se para o combate! — gritei, minha voz ecoava pelo convés enquanto segurava o timão. Minhas mãos estavam firmes, mas meu coração acelerou com a adrenalina do confronto iminente.

Os canhões rugiram e os tiros foram trocados enquanto nossos navios se aproximavam, mas a experiência de minha tripulação prevaleceu. As balas de canhão cruzavam o ar, lançando cortinas de fumaça densa que obscureciam momentaneamente nossas visões. Os navios sacudiam sob os impactos dos tiros, mas as manobras ousadas nos permitiram escapar de alguns dos ataques inimigos, e em breve, nossas tripulações estariam frente a frente.

O confronto corpo a corpo era inevitável. Eu brandi minha espada com habilidade e destreza, enfrentando tripulantes invasores em um embate que reacendia antigas chamas.

Meus olhos fitaram um jovem em particular. Não me passava uma sensação ruim vinda dele, mas seus olhos azuis me encaravam com uma intensidade maliciosa, e seu sorriso sinistro provocava minha determinação. 

A batalha se desenrolou em meio a rugidos de fúria e o eco de aço contra aço. Minha tripulação mostrou sua bravura e habilidade, enfrentando os invasores com valentia. O convés do navio se transformou em um campo de batalha, onde amizades se solidificaram e a honra era colocada à prova.

Os sons metálicos ecoavam enquanto os golpes se encontravam, e cada momento era incerto.

— Lute como se sua vida dependesse disso, porque depende! — Zombei para o pirata de cabelos loiros que avançava contra mim. Perdendo o equilíbrio, ele não teve chances, quando o atirei para fora do navio. Em seguida, voltei para o comando do timão.

Os invasores não eram páreos para a nossa destreza e experiência. Um dos marinheiros inimigos tentou desesperadamente alcançar o convés do nosso navio, mas Stephan o deteve com um sorriso sádico.

— Aqui é onde seus sonhos naufragam, amigo. — disse ele.

Infelizmente, nem tudo eram risadas e bravatas. Gente ferida tombava ao nosso redor, mas não havia tempo para lamentações. 

— Cuidem dos nossos feridos, rápido! — gritei para os marinheiros mais próximos. Notei que alguns já carregavam os feridos para os quartos, que ficavam na parte inferior do navio. 

O som da batalha continuou por horas, e o convés estava manchado com o sangue derramado. O casco rangia e gemia sob o estresse da luta, mas a tripulação permanecia resiliente.

— Rendam-se ou pereçam! — eu vociferava, com a bandeira negra tremulando ao vento como um aviso para quem ousasse enfrentar a mim ou aos meus.

Finalmente, o sinal da vitória soou quando o navio inimigo começou a ceder, suas velas despedaçadas e sua tripulação em desordem.

Os invasores, derrotados e desesperados, baixaram suas armas e recuaram, deixando-nos vitoriosos no confronto, mas eu sabia que isso era só o começo. 

— Não tenho certeza se era o Capitão LeBlanc, mas eu não duvido de que tenhamos inimigos em outras fronteiras. — Joguei meus cabelos para trás, orgulhosa. — Continuem atentos! 

— Sendo ou não o Capitão LeBlanc, não vai ficar muito feliz em ser derrotado por uma mulher. — rebateu o pirata Louis, o Exilado, com um meio sorriso entre os lábios.

Horas depois, aportamos na ilha em busca do tesouro, nossos corações ainda palpitantes com a adrenalina da batalha. Sob o brilho da lua, caminhamos em direção à misteriosa caverna onde o tesouro repousava, prontos para enfrentar os perigos desconhecidos e a tempestade que se formava.