O Túmulo de Safira escrita por Hana


Capítulo 3
Veneno do Deserto




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Malik, Alexandre e Rachel estavam exaustos após desativar as armadilhas, então decidiram fazer uma pausa para descansar. Sentaram-se em um local aparentemente seguro — se bem que nada naquele lugar parecia ser exatamente seguro, mas optaram pelo que parecia melhor —, retiraram as mochilas e começaram a compartilhar os suprimentos que haviam trazido. Enquanto comiam, bebiam água para recuperar as energias e conversavam, um forte odor começou a invadir o local. Malik foi o primeiro a sentir a sensação de ardência nas narinas e alertou os demais, mas já era tarde. O gás tóxico rapidamente se espalhou pela área e os três começaram a sentir tontura e fraqueza. O ambiente quente e seco do deserto parecia ter se transformado em um freezer, fazendo com que seus membros ficassem pesados e lentos. 

De repente, sem qualquer explicação, uma sensação de agressividade tomou conta de Malik e Alexandre, fazendo com que se voltassem um contra o outro. Os dois começaram a brigar. Trocaram olhares intensos, seus rostos contorcidos pela estranha agressividade que os dominava. Sem uma palavra sequer, seus punhos se cerraram, e o confronto começou.

Primeiro, um empurrão brusco foi dado por Malik, e Alexandre respondeu com um golpe no ombro. O som de impacto ecoou pelo local, e a tensão no ar era palpável.

Rachel, com os olhos arregalados de surpresa e preocupação, correu para intervir, tentando separá-los antes que a situação se agravasse ainda mais. Ela implorava para que parassem, mas seus apelos pareciam perdidos no calor do momento.

Socos e chutes foram desferidos em meio a grunhidos de raiva, como se algo invisível os estivesse impulsionando a lutar. Eles se moviam de forma desenfreada, como se estivessem possuídos por uma força além de seu controle.

As emoções intensas tomaram conta de Malik e Alexandre, e suas mentes pareciam turvas, incapazes de raciocinar claramente. Uma disputa que antes era impensável se desdobrava diante dos olhos de Rachel, e ela sentia seu coração apertado pela angústia.

Rachel continuava tentando separar os amigos. Aparentemente apenas a cientista não tinha sido tão exposta ao gás que estava preenchendo o local, pois havia protegido suas narinas com a boca, assim que sentiu o odor começar a invadi-la. O barulho dos socos e gritos de Alexandre e Malik ecoava pelas paredes daquele túmulo antigo, criando um ambiente de tensão e medo. Nesse momento, parecia que todo o esforço para chegar até ali tinha sido em vão.

— Parem! — gritou Rachel, em alto e bom tom, ao que Malik e Alexandre se ajeitaram e viraram para ela imediatamente, surpresos com o tom de voz dela — Eu ouvi falar que isso poderia acontecer, mas não imaginava que aconteceria, de fato. Existe uma planta nessa região, chamada Figueira-do-Diabo, ou Datura stramonium, seu nome científico. Ela produz muitos compostos tóxicos, que causam efeitos alucinógenos, irritabilidade e agressividade. Vocês inalaram muito gás. 

Então, Rachel contou aos aventureiros que possuía esses conhecimentos, pois seu avô costumava usar ervas e plantas para curar diversas doenças e malefícios. Os aventureiros tentavam escutar com atenção, percebiam que a sabedoria transmitida por gerações era mais profunda e complexa do que imaginavam. A energia do local por um instante pareceu melhorar, e cada detalhe do relato de Rachel despertava uma nova curiosidade.

— Inclusive, — continuou Rachel — em minhas pesquisas, constava que há uma planta específica aqui que pode ajudá-los a sair desse transe causado pelo gás tóxico. Malik, você vem comigo. Alexandre espere aqui.

Separando os dois por alguns momentos, para que não voltassem a brigar, ela começou a procurar pela planta em meio às runas e paredes do túmulo, enquanto Malik seguia a seu encalço, visivelmente perturbado. Rachel falou, mais para ela mesma do que para Malik, que estava em transe:

— A planta que estou procurando, se chama Erva-de-São-João. Acredito que deve ser a única espécie de planta existente nesta região, além da causadora do gás tóxico. — ela riu — essa planta é conhecida por ter efeitos antidepressivos e anti-inflamatórios, e pode ser usada para aliviar a ansiedade e a tensão muscular.

Depois de um tempo de procura, Rachel finalmente encontrou a planta e a colheu cuidadosamente e, junto com Malik, retornaram ao local anterior, onde Alexandre seguia dando socos no ar e nas paredes, lutando sob o efeito do gás venenoso. Rachel pegou um pequeno frasco de vidro em sua mochila e cuidadosamente espremeu o suco das partes cortadas da planta. O suco, de uma coloração esverdeada intensa, começou a preencher o frasco com um aroma levemente adocicado, embora com um toque terroso que remetia à natureza selvagem do deserto.

Alexandre e Malik olharam para ela abismados.

— O que foi? Uma cientista sempre está prevenida. — ela sorriu. Em seguida, passou o frasco com o suco para os companheiros.

Em poucos minutos, ambos começaram a recuperar a consciência e a clareza mental. Depois disso, Rachel começou a procurar a planta que produziu o gás tóxico. Com cuidado, ela a encontrou e a destruiu, garantindo que a planta não causaria mais problemas para ninguém. Pelo menos naquele momento. Ela sabia que não deveria destruir uma planta, mas naquele momento era a única solução cabível.

Assim, Rachel entendeu que havia aprendido o sentido da obtenção das chaves da coragem e da sabedoria, havia aprendido a usar ambas para ajudar os companheiros, que parecia ter se afeiçoado mais do que poderia imaginar. Graças a isso, haviam conseguido derrotar o inimigo invisível.

— Nosso inimigo invisível era muito mais do que uma presença externa. Era também uma representação de nossos medos e inseguranças, e enfrentá-lo nos fez crescer individualmente e como grupo. — disse ela.

Exaustos, eles finalmente puderam descansar e recuperar as energias. A incerteza do que estaria por vir também pairava no ar. Apesar da coragem que os impulsionava, eles sabiam que o caminho seria difícil e perigoso, e que nem tudo estava sob seu controle, na verdade, quase nada podia ser controlado, ainda mais naque lugar.

No silêncio da noite, a esperança e o medo caminhavam lado a lado, formando uma dança de emoções que ecoava nos corações dos aventureiros. O destino lhes reservava mistérios a desvendar, e a busca pela chave da força estava apenas começando.

 


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