Como começar esse capítulo? Com um “oi eu sou um completo idiota?”. Vocês já sabem disso, e eu suspeito que tenham me xingado muito pelo ocorrido.

Mas espero que me permitam explicar-lhes o que houve realmente.

Fui pego completamente de surpresa com esse negócio de paixão. Quando eu e Valéria começamos a ter um caso, eu achei que nunca passaria daquilo, porque nenhum de nós seria estúpido o suficiente pra dar o braço a torcer e confessar nossos sentimentos.

Não vou negar que eu sentia algo pela Valéria. Desde o começo. Eu posso tentar explicar, mas os sentimentos são tão confusos, que eu tenho certeza que eu não conseguiria me expressar bem.

Eu nunca fui bom com sentimentos e confissões. Pode parecer rude, mas eu não nasci pra isso. Desde criança, eu apenas tenho ouvido “Você tem um grande futuro como exterminador de nossos inimigos” e depois quando eu era um adolescente, e eu estava meio que gostando de uma garota da escola, meu pai vivia me dizendo “Você não pode ficar com essa garota. Ela vai atrapalhar seu futuro”. E depois que eu fui transformado em lobo eu ouvia de Steve “Você não pode ter sentimentos por ninguém. Esses sanguessugas são bons atores. Nunca sinta pena”, e muito blá blá blá.

Sei que essa não é uma boa maneira de me explicar, mas esses são os fatos e ponto.

Eu sabia o que estava sentindo pela Valéria. Eu sabia que gostava dela, e principalmente, eu sabia que seria impossível nós dois ficarmos juntos. Imagine, Valéria e Paul andando de mãos dadas pela escola. Valéria e Paul se casando. Valéria e Paul formando uma família feliz com filhos, e envelhecendo numa varanda, sentados em um banco de madeira, cercados de filhos e netos.

Nosso relacionamento não é normal e nunca seria. Ponto.

Naquele sábado, quando ela me disse que estava apaixonada por mim, eu queria dizer “Há, eu também”, mas as palavras simplesmente não saiam da minha boca.  Eu só consegui encarar sua face, que estava praticamente implorante pra eu dizer as palavras mágicas. Não saiu, simplesmente não saiu. Eu apenas pude inventar uma desculpa e ir embora. O negócio do pessoal do basquete não era completamente mentira. Eu fazia parte do time, e eles realmente iam sair hoje, mas eu não havia confirmado minha presença. Eu ia pensar com calma sobre o assunto e iria conversar com ela. Amanhã.

Como ela mesma disse, o amanhã foi tarde demais.

Assim que eu saí da sua casa, peguei minha super não-potente moto, e fui encontrar o pessoal, mas quando eu estava bem na esquina, eu pude ouvir alguns barulhos estranhos da casa da Valéria. Sim, eu era um lobo afinal das contas, e tinha uma ótima audição. Resolvi voltar só pra verificar. Eu não sabia se era algo sério ou não, então eu não iria entrar pela porta da frente. Eu deixei minha moto ali mesmo na esquina e voltei correndo. Quando eu cheguei lá, me deparei com a casa completamente deserta. Não estava conseguindo ouvir sequer um ruído da Valéria. Cheguei até a janela do seu quarto, e senti que tinha um cheiro diferente impregnado lá. Reconheci-o rapidamente, pois pertencia a algum lobisomem. Eu não sabia se aquele cheiro era meu, mas resolvi espiar mesmo assim. Não ouvi nada novamente. Resolvi chamá-la:

-Valéria! Valériaaaaa! Desculpe-me por hoje. Se estiver aí, me responde. Apenas me deixe saber que está bem, e eu juro que vou embora se você não quiser me ver novamente.

Nada. Nenhum ruído. Eu entrei pela janela, e me deparei com um bilhete em cima da cama. Estava torcendo pra ser de Valéria. Quando eu li o bilhete, eu simplesmente fiquei estarrecido. O papel dizia:

Olá Paul, meu traidor favorito.

Pegamos sua sanguessuga, ou melhor, dizendo, seu novo “brinquedinho”!

Quer vê-la novamente? Creio eu que sim. Porém meu caro amigo devo avisar-lhe que as chances não são muitas. Ela morrerá em pouco tempo, afinal o sol nasce exatamente às 06h02min, e como você pode perceber, ela não está com o anel.

Venha ao nosso encontro, e tudo será resolvido.

Você saberá o porquê de tudo isso, afinal, eu acho muito deselegante falar sobre problemas em um simples papel, que eu aposto que será rasgado 5 segundos depois que você ler.

Você sabe onde nos encontrar, não é mesmo?

Um abraço,

Steve.

Três palavras: PUTA QUE PARIU. Desculpem-me pelo palavrão criancinhas ou pessoas inocentes que lêem esta história. Eu fiquei com muita raiva, e nem sei se demorou cinco segundos pra eu destruir aquele bilhete. Ao lado da cama, continha o anel da Valéria. Eu sabia onde ela estava. Claro, na tribo.

Como eu sou um idiota! Eu me sentia culpado pelo que havia acontecido com Valéria.

Apaguei aquilo da minha mente, e comecei a traçar o plano pra salvar a vida da Valéria.

Mesmo se ela não me quisesse mais, eu tinha que salvá-la. Eu amo ela. Só é uma pena que eu não disse isso enquanto ela estava bem perto de mim.

Eu sabia que com minha super-não-potente moto, eu não chegaria ao Alabama em tempo. Pegar um avião era quase que impossível. Bom, só me restava uma opção: Um Porshe GT3 azul-marinho que estava estacionado na garagem. Eu sorri pra mim mesmo, e não hesitei ao entrar naquele carro. Putz, carro não, máquina.

Em algumas horas eu estaria no Alabama, e resgataria Valéria. Mesmo que eu tivesse que morrer pra isso ocorrer.

Eu dei partida no carro, e corri a 300 por hora. Eu estava me lixando se eu ia perder alguns pontos na carteira ou se ia levar multas milionárias. Nada mais me importava.

Cruzei oito estados americanos, e em 5 horas eu cheguei à Montgomery, o que pode parecer um exagero, uma vez que um trajeto normal de carro levaria cerca de 20 horas. Quando se tem um dos carros mais rápidos do mundo, você consegue o que quer. Esse carro chegava apenas até 310 km/h, e isso era uma pena. Eu sentia que estava voando.

Olhei no relógio do painel: 03h10min da manhã; Eu levaria cerca de meia hora pra chegar à tribo, e fui a todo vapor.

Cheguei lá, e fui recepcionado por nada mais nada menos que o próprio Steve.

-Ora, Ora. Veja só quem resolveu das às caras! Achei que tinha se esquecido da família, Paul.

-E eu acho que esqueceu que você me colocou pra vigiar uma vampira, Steve. –eu disse completamente seco e com raiva.

-Calmo irmão. Tudo sob controle. Eu apenas estou ajudando você a se livrar de um peso.

-Você não tem idéia do que está falando, Steve. Por que você raptou a Valéria?

-Há, você sabe melhor do que ninguém. Aquelazinha praticamente destruiu nossa tribo com aquele bando de sanguessugas. Nós fizemos um acordo, mas acordos têm fim, Paul.

-Pode ser mais específico?

-Paul, deixa de ser trouxa. Ela vai morrer. Você querendo ou não. Eu apenas o trouxe aqui pra você saber que estamos felizes com sua volta, afinal foram cinco longos anos aturando aquela sanguessuga. É a vingança meu caro. Mexeu com a tribo, mexeu conosco.

-Você não vai matar ela! –eu cuspi as palavras.

-E quem não vai deixar? Você? Paul era pra você estar feliz com a notícia. Você nunca quis ir com ela.

-As coisas mudaram.

-Ahahahahaha! Não me diga que está apaixonado pela sanguessuga. Era só o que me faltava. Aí, mais um motivo pra ela morrer. Nós somos inimigos naturais, Paul. Vocês nunca vão ficar juntos.

Então, eu reuni toda a força que eu tinha, e dei-lhe um soco com toda minha força. Ele urrou de dor, e veio pra cima de mim. Nós começamos a lutar, e alguém gritou:

-PAREM COM ISSO AGORA!