Teoria do Caos escrita por Thea


Capítulo 6
Capítulo 6 - Varinhas para todos




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Capítulo 6 - Varinhas para todos

1971

A última loja era, nas palavras de Snape, "estreita e feiosa”. Lily estava encantada demais para ser imparcial enquanto encarava as letras de ouro descascadas sobre a porta.

“Olivaras: Artesãos de Varinhas de Qualidade desde 382 a.C.”

— 382 a.C. parece muito tempo atrás – Lily comentou em voz alta.

Um sininho tocou em algum lugar no fundo da loja quando eles entraram. 

Era uma lojinha pequena e a ruiva não conseguiu conter o arrepio por seu corpo ao olhar ao redor. Era como se as milhares de caixas estreitas arrumadas com cuidado até o teto fossem a coisa mais linda que ela já tinha visto. A própria poeira e o silêncio ali pareciam conter magia na sua forma mais pura.

— Boa-tarde – disse uma voz suave atraindo a atenção dos três recém chegados.

— Olá, Olivaras – a resposta acabou vindo de Eileen. 

— Srta Prince, vinte e um centímetros de comprimento, pelo de unicórnio, feita de mogno – ele a saudou. Ela tinha a sombra de um sorriso no rosto.

— É Sra Snape agora – informou – meu filho e a amiga dele estão em busca de sua primeira varinha.

O Sr. Olivaras se aproximou, chegando tão perto de Lily que ela teve que conter o instinto de se afastar.

— Você tem olhos marcantes, minha querida, como se chama?

— Lily Evans – a voz dela saiu baixa, meio intimidada pela figura. Ele assentiu.

— Qual o braço da varinha, srta Evans? – ele perguntou tirando do bolso uma fita métrica.

— Eu sou destra – ela respondeu meio sem saber se era a resposta correta. Ele começou a medir então supôs que era sim.

— Toda varinha Olivaras tem o miolo feito de uma poderosa substância mágica, Srta Evans. Usamos pelos de unicórnio, penas de cauda de fênix e cordas de coração de dragão. Não há duas varinhas Olivaras iguais, como não há unicórnios, dragões nem fênix iguais. E é claro, a senhorita jamais conseguirá resultados tão bons com a varinha de outro bruxo.

Dito isso ele ofereceu algumas varinhas a ela. 

A primeira não aconteceu nada. A segunda fez os cabelos dela levitarem e ela deu uma risada, mas logo Olivaras a tomou. Então veio a terceira.

— Tente esta. Vinte e seis centímetros de comprimento, farfalhante, feita de salgueiro. Uma boa varinha para encantamentos – informou o homem.

Lily sentiu uma sensação de eletricidade passar por todo seu corpo e quando agitou a varinha uma dezena de flores brotou aos seus pés. 

Ela abriu um enorme sorriso encantada. Snape também parecia impressionado.

— Excelente! Será uma bruxa talentosa, Srta Evans. Agora o senhor…

Levou pouco mais de vinte minutos, mas logo Severo também tinha uma varinha em mãos: trinta centímetros com núcleo de dragão. O homem parecia extremamente satisfeito com as varinhas dele e eles não estavam diferente.

Pagando tudo, os três sairam.

Lily mal podia esperar para contar tudo para a irmã.

☙✿❀✿❧

Remus ainda não conseguia acreditar no que tinha acontecido.

Não tinha certeza se achava o Diretor Dumbledore um homem maluco ou muito sábio, mas era extremamente grato a ele e seria por toda sua vida.

Ele iria para Hogwarts!

Nunca, em todos os seus maiores sonhos, tinha imaginado aquilo.

Desde que foi mordido imaginava que sua vida seria inteiramente voltada a se conformar e ele era muito bom nisso. Mas não sobre aquilo. Não mais.

Ele apertava a lista de compras com tanta força que era surpreendente que não tivesse rasgado ainda. Um sorriso encantado estava no seu rosto olhando tudo ao redor.

Sua mãe caminhava ao seu lado com uma certa preocupação característica. Sempre que encontravam bruxos que o conheciam, eles costumavam evitá-los. Felizmente a lista era pequena e eles pretendiam manter assim. 

—  Só falta a varinha, mãe, eu posso pegar os livros na escola como o diretor disse – o menino falou virando para Hope. Ela sentiu uma certa culpa.

— Não, vamos comprar seus livros. Eu tenho um dinheiro guardado e como vou ser só eu em casa agora vão ser menos gastos, posso repor nos meses que vem – ela decidiu – vamos fazer assim: você vai para o Olivaras e eu vou comprar seus livros, está bem? É aquela lojinha logo ali – a mulher apontou tirando um pouco de dinheiro do bolso e entregando a ele.

Remus não teve outra solução a não ser concordar e, assim que fixou os olhos na loja de varinhas seus olhos brilharam, não iria mesmo discordar.

Entrou na loja, mas percebeu que não estava sozinho.

Um garoto de óculos quadrados estava sendo medido por uma fita métrica. Literalmente apenas pela fita métrica, o vendedor nem sequer estava perto, procurando entre umas caixas ao lado. Remus ficou boquiaberto, mas a timidez o atingiu em seguida, fazendo ele corar.

— Perdão, eu posso voltar depois.

— Boa tarde, aguarde um pouco senhor Lupin, logo o atenderei – o velho disse fazendo Remus ficar surpreso. Ele sequer tinha se apresentado. 

Uma senhora sentada perto da porta riu – Remus não a tinha notado até então.

— Ele lembra de todas as varinhas que já vendeu, querido. Se você parecer minimamente com um dos seus pais ele vai reconhecê-lo, não tenha vergonha vá até lá, ele pode começar a medir você assim que terminar com meu James.

Remus hesitou, mas acabou assentindo e se aproximando.

— Ei cara, você é do primeiro ano também? Puxa você é bem alto, teria apostado que era do segundo – o menino puxou assunto e o Lupin não pode deixar de focar o olhar nos cabelos espetados dele. Pareciam ir para todos os lados, como se tentassem fugir – seu nome é mesmo Lupin?

— Remus Lupin – o garoto concordou.

— Puxa, como será que ele agiria se tivesse errado? – pensou em voz alta – ele acertou o meu assim que eu passei pela porta também, mas eu tava com minha mãe, achei que fosse por isso. Eu sou o James, a propósito. James Potter.

O menino estendeu a mão para Remus que apertou após um instante de hesitação. A fita bateu no braço de James como se mandasse ele ficar quieto e os dois puderam ouvir a mulher rir de onde estava.

— Muito bem, Sr Potter, tente essa – Olivaras ofereceu e no mesmo segundo a fita passou a medir Remus – Faia e pelo de unicórnio. Vinte e seis centímetros. Boa e flexível.

James pegou a varinha todo pomposo como se fosse um cavalheiro recebendo uma espada e Remus não pode deixar de rir, mas assim que ele a agitou a varinha explodiu uma das luzes da loja. O menino corou e Remus riu mais.

— Mogno, pena de fênix. Vinte centímetros. Elástica. Experimente.

O menino mal ergueu a varinha e o Sr. Olivaras a tirou de sua mão virando as costas para procurar outra caixa. James olhou para Remus com cara de “dá pra acreditar?” e o menino riu mais ainda. A fita começou a bater contra ele como se reclamasse. Remus não se importou, estava se divertindo com aquele garoto.

— Sim, é isso, mogno. Vinte e oito centímetros. Flexível. Um pouco mais de poder e excelente para transformações.

James a segurou e as luzes da loja piscaram e uma luz saiu da varinha. Um arrepiou o percorreu e ele abriu um enorme sorriso.

— Tente não dar muito trabalho a ela, sr Potter.

James não sabia dizer se o homem estava falando da varinha ou da sua mãe que aplaudia, se aproximando feliz. De toda forma a resposta era a mesma. O menino abriu um sorriso maroto e piscou pro homem:

— Não prometo nada.

A mulher se adiantou em pagar, revirando os olhos com um sorriso.

— Podemos esperar o Remus? – o menino pediu surpreendendo o Lupin que ainda estava sendo medido pela fita temperamental.

A Sra Potter, mais surpreendente ainda, não discordou.

— Estique o braço da varinha, Sr Lupin – Olivaras pediu e então após alguns instantes declarou – Já chega – e a fita métrica afrouxou e caiu formando um montinho no chão. – Certo, então, Sr. Lupin. Experimente esta. Ébano e corda de dragão, trinta centímetros.

Mal a varinha foi para na mão de Remus, metade das caixas ao seu lado voaram contra parede. O garoto se assustou e corou pedindo desculpas, mas o homem não pareceu se importar.

— Que violência em Remus, você me parecia um menino tão calmo – James provocou o deixando mais vermelho e recebendo um tapa na cabeça da mãe, o que o fez rir. Remus percebeu que era provocação e revirou os olhos.

— Essa então. Trinta e seis centímetros, flexível, núcleo de pelo de unicórnio, feita de cipreste – o velho declarou e Remus, hesitante, pegou a varinha.

Um sopro de ar correu pela loja, balançando as caixas e os cabelos de todos, contornando especialmente Remus. Um formigamento passou pelo corpo do menino. James deu um assobio batendo palmas junto com a mãe. Remus deu um sorriso verdadeiro.

— Sim. Pode parecer com seu pai, mas puxou a propensão para varinhas da sua mãe, Sr Lupin. Espero que tenha o talento dela.

O menino logo pagou a varinha também, saindo da loja acompanhado de James e da Sra Potter.

— Temos que ir, James, ficamos de encontrar seu pai para o jantar – a mulher falou e se virou para Remus em seguida – onde estão seus pais, querido?

A resposta veio por si só quando uma voz feminina em frente a livraria chamou o nome dele. Remus olhou vendo sua mãe acenar para ele.

— Vou procurar você no trem Remus, – James declarou com um sorriso – se chegar primeiro guarda um lugar pra mim na cabine.

O Lupin ficou mais surpreso, mas concordou acenando para os dois antes de correr até a mãe.

Não tinha ganhado só uma varinha, aparentemente tinha ganhado um colega também.

Não queria criar expectativas, mas talvez, até o mais perto de um amigo que teria.

☙✿❀✿❧

A pilha de varinhas experimentadas estava cada vez maior em cima da cadeira alta e estreita, mas, quanto mais varinhas o Sr. Olivaras tirava das prateleiras, mais feliz parecia ficar.

Uma coisa que Harry tinha certeza durante toda aquela experiência era que o Sr. Olivaras parecia não piscar e aqueles olhos prateados lhe davam um pouco de medo.

Foi surpreendente a forma como o homem o reconheceu assim que entrou. Ele sabia que parecia com o pai e tinha os olhos da mãe – um fato que o vendedor fez questão de destacar –, mas daí a lembra exatamente a varinha dos dois e o reconhecer daquela forma? Assustador e impressionante.

E não apenas ele. O homem reconheceu Remus imediatamente e descreveu a varinha que ele tinha comprado anos atrás também.

Foi um pouco surpreendente ouvir que o Lupin tinha conhecido o pai dele ali do homem quando sempre achou que eles tinham se conhecido dentro da escola. Eram amigos desde a escola, afinal.

— Freguês difícil, hein? Não se preocupe, vamos encontrar a varinha perfeita para o senhor em algum lugar, estou em dúvida, agora... é, por que não?

O homem voltou com uma caixa, entregando mais uma varinha a Harry.

— Uma combinação incomum – declarou – azevinho e pena de fênix, vinte e oito centímetros, boa e maleável. 

Harry sentiu um repentino calor nos dedos. Ergueu a varinha acima da cabeça, baixou-a cortando o ar empoeirado com um zunido, e uma torrente de faíscas douradas e vermelhas saíram da ponta como um fogo de artifício, atirando fagulhas luminosas que dançavam nas paredes.

Remus abriu um sorriso orgulhoso e bateu palmas entusiasmado.

— Bravo! Mesmo, ah, muito bom. Ora, ora, ora... que curioso... curiosíssimo...

Harry franziu a testa olhando para Remus com uma expressão de pergunta. Seu tio deu de ombros igualmente sem resposta.

— O senhor me desculpe – disse Harry –, mas o que é curioso?

O Sr. Olivaras encarou Harry com aqueles olhos claros assustadores.

— Lembro-me de cada varinha que vendi, Sr. Potter. De cada uma. Acontece que a fênix cuja pena está na sua varinha produziu mais uma pena, apenas mais uma. É muito curioso que o senhor tenha sido destinado para esta varinha porque a irmã dela, ora, a irmã dela produziu a sua cicatriz.

O menino engoliu em seco e Remus gelou um pouco.

— É, tinha trinta e quatro centímetros. Puxa. É realmente curioso como essas coisas acontecem. A varinha escolhe o bruxo, lembre-se... Acho que podemos esperar grandes feitos do senhor, Sr. Potter... Afinal, Aquele-Que-Não-Se-Deve-Nomeado realizou grandes feitos, terríveis, sim, mas grandes.

Remus não sabia se concordava com aquilo e Harry não tinha certeza se gostava do Sr. Olivaras. Eles pagaram saindo o mais rapidamente. 

Os dois tinham muito em que pensar.


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