Laços Inquebráveis escrita por Sill Carvalho, Sill


Capítulo 7
Capítulo 07 — Difícil Chegada


Notas iniciais do capítulo

Oi, pessoal!

Primeiro, peço desculpas pela demora imensa em trazer esse capítulo.

Aconteceram tantas coisas nesse meio tempo. Uma delas é que o meu notebook deu defeito quando estava para fazer a postagem. Acabou que perdi o capítulo, o notebook foi para assistência técnica, ficou um tempo lá, voltou e deu problema de novo, retornou para revisão. Nesse tempo, escrevi o capítulo novamente, no caderno, o notebook voltou. Fiquei doente. Só depois, pude agilizar a digitação, digitei metade, parei para resolver coisas da minha vida pessoal e retomei no dia seguinte a digitação de onde havia parado, aí é que vem a merda, na pressa de terminar, cometi um erro grave, não vi quando meus dedos fizeram uma combinação de teclas maldita, e tudo que tinha digitado, faltando só duas palavras para encerrar, sumiu, simplesmente sumiu. Isso, faltava pouco para meia-noite, eu fiquei tão furiosa comigo mesma. Fiquei até uma e meia da manhã, tentando recuperar o capítulo de alguma maneira. Não deu certo. Não consegui dormir, remoendo a raiva de ter feito tudo e perdido pela segunda vez. No outro dia, pesquisei várias formas de recuperar o documento, sério, segui cinco passos a passos, assistindo vídeo no youtube, e todos os caminhos que segui, não encontrava lá o abençoado do capítulo. Perdi mais um dia só nisso. Como já não tinha mais o que fazer, me vi tendo de digitar mais uma vez o mesmo capítulo. Depois, tive de arrumar tempo de revisar, e claro, morrendo de medo de perder ele outra vez. Já estava cogitando a hipótese de não postar mais. Mas esse não era o desejo do meu coração, então fiz tudo que podia para não desistir.

Peço que, se você ler esse capítulo, deixe seu comentário, assim saberei que não foi um trabalho em vão.

Ah, e agradeço à Vi que fez a primeira recomendação. Valeu, Vi!!

Bom, já falei demais. Espero que gostem.




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Alguns poucos minutos de silêncio marcaram o primeiro encontro de Rosalie com as crianças. A semelhança da menina mais nova com Emmett afasta qualquer dúvida quanto à real paternidade. Aquela linda garotinha era real, tanto quanto o sentimento de compaixão que sentiu ao vê-la. Diferente do olhar raivoso de Makena, o olhar de Luna transmitia doçura e amor. Sentiu os olhos marejados, pensando no quanto era injusto uma criança ficar sem a mãe. O que essa perda significaria na vida dela? Experimentara aquele mesmo desespero anos atrás. Conhecia a dor daquelas crianças. O quanto recomeçar era difícil e assustador.

Nem mesmo percebeu o momento em que sua mão foi erguida para acariciar o rosto da menininha no colo do pai, porém, antes que pudesse fazê-lo, a voz aborrecida da menina mais velha soou atrás de suas costas, causando-lhe um pequeno sobressalto.

— Quanto tempo mais teremos de ficar aqui?

Emmett esboçou um sorriso leve ao olhar a criança que segurava no braço, permitindo que a mais velha esperasse um pouco.

— Esta é a Luna — disse ele a Rosalie. A criança deitou a cabeça em seu ombro, parecendo cansada. Ele afagou as costas dela. Em seguida, moveu a mão, indicando a criança maior. — Atrás de você está Makena. — Ele estendeu a mão na direção da filha mais velha. — Venha até aqui, querida.

Rosalie se virou a tempo de ver a menina passando ao seu lado com a expressão fechada no rosto. Viu quando a mão de Emmett buscou a mão da filha. Makena a encarava, o que a deixava bastante desconfortável.

Na cabeça de Makena, as palavras se repetiam: “Seu pai nos trocou por ela”.

Rosalie, educadamente, ofereceu a mão à criança mais velha.

— Eu realmente sinto muito…

A menina não esperou terminar de falar, reagindo bruscamente com um passo para trás. Seu gesto assustou a irmã caçula.

— Lamenta mesmo? — desafiou Makena.

Foi nesse momento que Rosalie teve a certeza de que aquela criança não facilitaria a convivência entre elas. Deixou de lado o medo e o desconforto ao dizer:

— Imagino que estejam cansados.

Luna olhou para ela, levantando a cabeça sutilmente do ombro do pai. Emmett olhou de uma para a outra.

— Vamos entrar — disse ele. — Depois, eu volto para descarregar o carro.

Rosalie anuiu ao esboçar um leve sorriso. Ela caminhou ao lado deles até chegar à varanda. Diante da porta aberta, fez questão de dizer:

— Sejam bem-vindas.

A mais velha balançou a cabeça, demonstrando pouco caso. Passou para o lado de dentro e lá avaliou, com olhar de desagrado, tudo à sua volta.

Rosalie suspirou, no momento em que sentiu a mão de Emmett apoiar suas costas, na região lombar. Ele chegou mais perto, sussurrando ao seu ouvido.

— Eu te amo.

Ela o olhou com carinho.

— Vai ficar tudo bem — continuou ele.

Rosalie inclinou o corpo, de modo que seu rosto roçou no rosto dele sutilmente. Ao perceber Luna os olhando tão de perto, recuou, desconfortável. Ainda pôde ouvir Emmett falar em voz baixa:

— Como você está?

Luna olhava de um para o outro.

Antes que pudesse responder, Makena chamou a atenção para si.

— Onde fica meu quarto?

— Lá em cima — Rosalie respondeu rápido demais. — Te acompanho até lá — ofereceu.

— Meu pai vai fazer isso — observou a menina.

Rosalie respondeu, se sentindo desconfortável:

— Como preferir.

— Vamos todos juntos — Emmett sugeriu. — Tenho certeza de que tudo foi preparado com muito carinho para recebê-las.

Makena não escondeu a expressão de desagrado ao murmurar:                 

— Tanto faz.

Rosalie deixou que o marido fosse à frente com as meninas. Luna não deixou de olhá-la, no curto trajeto até o quarto, sobre o ombro do pai.       

Diante da porta fechada, Emmett falou:

— Esse é o seu novo quarto. Tem um banheiro logo ali. — Sinalizou com a mão o outro lado do corredor onde ficava o banheiro mais próximo.

Sem esperar que dissessem mais nada, Makena alcançou a maçaneta com a mão, abrindo a porta de uma só vez.  

Atrás de suas costas, a voz de Rosalie:

— Espero que goste.          

Makena virou o rosto, buscando a presença do pai no ambiente desconhecido.

— Por que tem duas camas? — questionou.

— Você e Luna irão dividir o quarto.

— Não. — Makena bateu o pé. — Não irei dividir o quarto. Quero um quarto só para mim.

Emmett colocou Luna no chão, ao sinal de que ela queria descer de seu colo. Para Makena, ele disse:

— No momento, isso não é possível. Não temos outro quarto sobrando.

— Na fazenda tínhamos nosso próprio quarto.

— Bem — lembrou ele. — Isso era na fazenda. Aqui é diferente.

Fazendo questão de demonstrar sua insatisfação, Makena devolveu:

— De onde minha irmã e eu não deveríamos ter saído.

— Sinto muito que tenha de ser assim — continuou ele. — O quarto está lindo. — Ele moveu a mão, sugerindo que olhasse em volta. — Está lindo e aconchegante.

Os olhos de Makena marejaram, demonstrando não concordar com ele.

— Quero voltar para casa — disse com voz de choro. — Me leve de volta, papai.

Emmett chegou mais perto, acolhendo-a no calor de seu braço.

— Essa é sua casa agora. Eu sei que está sendo difícil.

Makena escondeu o rosto no corpo do pai.

— Vai ficar tudo bem, filha. Vai se acostumar, tenho certeza disso.

Rosalie lembrou do próprio pai, falando algo semelhante quando estavam de mudança para Wilmington, logo após a tragédia que deixou sua família sem chão. Seus olhos voltaram marejar. De canto de olho, avistou Luna, encolhida ao lado da cama, abraçada ao coelho de pelúcia. Foi até lá com passos cautelosos. Se abaixou até estar na mesma altura da criança.

— Não precisa ter medo — disse. E um beicinho nos lábios de Luna revelou que estava prestes a chorar. — Não, não chore — pediu. Estendeu a mão, tocando gentilmente o rostinho da menina.

A voz de Rosalie, mesmo carinhosa ao falar com Luna, chamou a atenção de Makena, que olhou de canto de olho. Ela se afastou do pai, para interromper a aproximação entre as duas.

— Luna não quer falar — observou.

— Tudo bem. — Rosalie se levantou. Gentilmente, tentou tocar o rosto de Makena, porém, um gesto agressivo da mão da menina em seu braço a fez parar.

— Não disse que podia tocar em mim.

— Ei — interveio Emmett. — Rose só está sendo gentil. Tudo bem que não queira que te toque, mas não precisa falar assim.

— Não me importo — devolveu.

— Makena…

— Tudo bem — disse Rosalie, movendo a mão devagar.

— Ela não pode falar assim com você.

De costas para o pai, Makena fez expressão de desprezo, murmurando a fala dele em uma imitação desnecessária.

— Estamos todos buscando te ajudar. Não custa nada ser educada — Emmett pediu.

Makena olhou de um para o outro.

— Quero ela fora daqui. — Fez uma breve pausa e então completou: — Agora!

Emmett buscou a presença de Rosalie, mas era tarde, ela estava saindo do quarto e não parou quando pediu que ficasse.

— Amor… — falou para as costas dela.

— Não pode amar essa mulher — discordou Makena, num tom de voz raivoso.

— Como é? — custou acreditar no que ouviu. Na audácia em achar que podia fazer isso. — Não pode dizer como devo viver minha vida. Muito menos a quem devo amar. Isso não é algo que outra pessoa possa decidir por você.

— E o que está fazendo com minha vida é o quê? — Makena devolveu.

— Eu sou seu pai. E você ainda é uma criança. Quando tiver idade para cuidar de sua própria vida, então será diferente.

— Eu irei voltar para a fazenda. E vou levar Luna comigo.

— Até lá — continuou Emmett —, você fica por aqui. E Luna só sairá de perto de mim, quando, também, atingir a maior idade. Independentemente de sua idade.

— Não quero esse quarto. Quero um só para mim. — Ela sentou na cama, segurando um punhado do lençol em cada mão. — Não quero que essa mulher toque em nada que me pertence.

Emmett se movimentou pelo quarto, então sentou-se ao lado dela na cama de solteiro.

— Não temos quarto sobrando na casa. Sua irmã também precisa de um quarto, portanto, as duas ficarão juntas. — Ele olhou para onde viu Luna na última vez, e ela não estava mais lá. — Eu sei que está acostumada com bastante espaço, acontece que no momento isso é tudo que temos.

— Podemos voltar para a fazenda — falou olhando no rosto dele, acreditando que pudesse haver uma chance, ainda que pequena, de voltar.

— Isso está fora de cogitação. — Tentou fazer um afago no rosto dela, mas ela virou o rosto rapidamente, deixando-o com a mão erguida.

— Por que se casou com essa mulher? — desabafou, com voz de choro. — Não tinha que ter feito isso… casado com outra.

Ele alcançou a mão dela à sua com cuidado e a manteve quando tentou se afastar.

— Eu ter me casado com Rose, não diminui meu amor por você.

— Não acredito — a voz soou insegura.

— São amores diferentes. Amo você e Luna, muito mais do que possa imaginar. Por outro lado, amo a Rose, também.

— Tinha de amar a mamãe, e não essa daí.

Emmett soltou o ar devagar, incomodado com o modo como se referia à Rosalie.

— Eu amei sua mãe, mas acabou. Esse tipo de amor pode acabar um dia, mas o de um pai e uma mãe por seus filhos nunca acaba. — Afagou a mão dela. — Não estou te pedindo para colocá-la no lugar de sua mãe. Não tratar com grosseria, será o bastante. Desaprovo que seja cruel com ela. Rose é uma boa pessoa.

Makena recolheu a mão de forma brusca. Mentando a expressão emburrada no rosto.

— Rose não merece ser maltratada. Vai perceber isso, quando abandonar essa postura agressiva. Essa guerra é só sua.

— Ela nunca irá ocupar o lugar de minha mãe.

— Filha. — Ele tentou tocar no queixo dela, sem sucesso. — Não estou dizendo que será assim. Basta tratá-la com respeito.

[…]

Rosalie estava sentada na metade da escada, quando então percebeu que não estava sozinha. Olhou nos degraus mais acima. Luna estava sentada três degraus antes dela, abraçada ao coelho de pelúcia.

— Olá! — cumprimentou com cautela, prestando atenção ao rosto triste da criança. — Precisa de alguma coisa? Posso te ajudar?

Luna a olhou de canto de olho.

— Está tudo bem. Não vou machucar você.

A garotinha olhou diretamente no rosto dela.

— Como você se parece com seu pai — admirou-se. — É uma menininha muito bonita. — Balançou a cabeça como se divertisse. — Makena é também uma menina linda, porém, ela tem mais da mãe de vocês.

Um beicinho fez os lábios de Luna tremer ao ouvir mencionar a mãe.

— Não, não, não, querida… — Rosalie se apressou. — Não chore. Perdão, se disse algo que a deixou triste. — Fizeram-se alguns segundos de silêncio, então voltou a dizer: — Esse coelho é muito querido. Eu também tive uma pelúcia favorita quando tinha sua idade.

Luna a olhou com curiosidade.

— Era uma gatinha branca com bochechas rosadas. Eu a chamava de bolota.

O olhar de Luna revelava estar gostando da conversa.

Rosalie a olhou com ar divertido.

— Ela vivia desaparecendo. Até hoje, não sei como isso acontecia.

Devagar, Luna desceu mais um degrau, sem mesmo ficar de pé. Rosalie não teria notado, se não estivesse olhando.

— Quer descer mais um degrau — incentivou.  

De cabeça baixa, Luna fez exatamente o que havia feito antes, descendo mais um degrau na escada. Olhando a menina de perto, Rosalie pensou em como Aurora teve coragem de esconder a existência dela para o próprio pai. Nem Emmett, nem a criança mereciam isso.

Sorriu para a menininha.

— Posso fazer um carinho em seu rosto, Luna?

A menina não disse nada, apenas a olhou com aquele lindo par de olhos azuis idênticos aos do pai.

Rosalie moveu a mão devagar na direção do rosto da criança. O gesto foi interceptado pela presença desaforada de Makena. Ela desceu os degraus até estar perto o bastante, assim empurrando violentamente o braço de Rosalie.

Luna se levantou, assustada, deixando o coelho de pelúcia cair.

Emmett chegou logo atrás de Makena, segurando-a pelos braços, afastando-a de Rosalie.

— O que acabamos de conversar?! — lembrou ele, aborrecido. — O que te pedi, Makena?

Ela sacudiu os braços, tentando mantê-lo longe. Luna começou a chorar. Emmett deixou a mais velha um instante, para pegar a pelúcia e entregar a Luna.

— Controle sua raiva — pediu.

Makena disparou para Rosalie:

— Fique longe de minha irmã. Minha mãe não queria você perto dela.

Rosalie questionou sem pensar:

— Por quê?

— Você é culpada por tudo.

— Não — negou Rosalie, incomodada.

— Você afastou o papai da gente.

— Não fiz isso. — Ela se colocou de pé.

Os olhos de Makena marejaram ao falar:

— Você fez, sim. — Num gesto grosseiro, afastou com a mão as lágrimas no próprio rosto. — Você nos roubou o papai.

— Não roubei o pai de vocês.

— Eu te odeio — gritou. — Nojenta.

— Já chega! — repreendeu Emmett. — Vá para o seu quarto.

A menina olhava Rosalie com fúria.

— Vá para o quarto, Makena — repetiu ele.

Ela virou de costas, subindo os degraus onde havia decido. Luna voltou ao quarto antes mesmo da irmã. Emmett pegou novamente o coelho esquecido no chão. Em seguida, voltou a se aproximar de Rosalie. Passou o braço ao redor da cintura dela, aproximando-a de seu corpo. Ela parecia assustada com a reação de Makena. Ele lhe beijou a testa.

— Desculpe por isso.

Rosalie devolveu o abraço carinhoso.

— Makena me odeia — falou de modo automático. — Meu Deus! Ela mal me conhece. — Ela sentiu os lábios de Emmett tocarem o alto de sua cabeça com um beijo.

— Ela não te odeia. Não pode odiar. Makena, sabe muito pouco sobre você.

— Isso vai ser muito difícil — lamentou.

— Juntos — Emmett lembrou. — Com apoio um do outro, vamos conseguir. Ela é só uma criança, tudo isso vai passar.

— Percebe — Rosalie sentenciou. — Eles encheram a cabeça dela com mentiras e meias-verdades.

— Infelizmente — lamentou Emmett. — E parte disso é culpa minha.

— Já desconfiava que não seria fácil, porém, não ao ponto que chegou.

No quarto, Makena encontrou Luna se escondendo no interior do closet.

— Ei — disse para a pequena. — O que está fazendo aí?

Luna virou o rosto para o outro lado, não queria ter de olhar para ela. Makena sentou ao lado da irmã.

— Gostaria de poder me esconder, também. — Fizeram-se alguns minutos de silêncio, antes de voltar a falar: — Não gosto dessa casa. Menos ainda dessa Rosalie. Ao mencionar o nome da madrasta, a voz adquiriu entonação diferente, algo como repulsa.

No rosto de Luna, a expressão de choro.

Makena segurou ambas as mãos pequeninas da irmã.

— Não pode deixar que te engane. Não deixe que fique perto de você. Ela é uma bruxa malvada igual aos contos de fadas. Não gosta da gente de verdade. Está fingindo só para ficar bem com o papai. É dele que ela gosta.

Lágrimas molharam o rosto de Luna.

— Não se preocupe, eu vou te proteger. — Passou os braços em volta da irmã e chorou abraçada a ela. — Mamãe… — murmurou.

Após alguns minutos, Makena percebeu uma movimentação no quarto, então, ouviu a voz do pai.

— Já retirei todas as coisas do carro. Makena, Luna — chamou. Olhou no closet. — O que estão fazendo aí? Trouxe as coisas de você. Só falta arrumar em seu devido lugar. Se ficou faltando algo que queiram muito, posso pedir ao Sebastian que nos envie.

— O que quero, ele não pode enviar — lamentou Makena. — A menos que você tenha um estábulo nessa casa.

Emmett se abaixou até estar sentado na entrada do closet, olhando as duas filhas.

— Eu sei que está sendo difícil ficar longe…

Havia esperança nos olhos de Makena ao ouvi-lo.

— Me leva para casa, papai.

— Essa é sua casa agora. — Ele estendeu o braço, oferecendo a mão. Ela se recusou a aceitar o contato físico.

— Não é minha casa. Nem mesmo tem um quarto só meu. Nunca tive de dividir o quarto, papai.

— Isso nós podemos resolver mais para frente.

— Como?

— Mudando para uma casa maior. Você tem de entender que fui pego de surpresa. — Ele olhou Luna e a pegou no colo. Então chamou Makena: — Vem cá, você também. — Ela se recusou, levantou e saiu do closet, passando ao lado dele. — Quer ajuda para arrumar suas coisas?

— Não vou arrumar nada.

— Makena. — Ele levantou, com Luna nos braços. — Quero que se sinta em casa. — Colocou a menina sentada na cama dela e lhe entregou a pelúcia.

— Não estou em casa. Lar é onde o coração está.

Emmett deu alguns passos na direção dela.

— Isso pode mudar com o tempo. Tudo bem, você não precisa arrumar nada agora. Vá tomar um banho. Você pode ir primeiro. Eu ajudo Luna com o banho dela depois.

Makena aceitou a oferta. Na bagagem deixada no quarto, procurou o que precisava por agora.

Quando a mais velha os deixou, ele falou com a caçula:

— Vamos procurar seu pijama?

Luna ofereceu a mão pequenina a ele. Antes que a segurasse, Rosalie apareceu no limiar da porta do quarto.

— Posso ajudar com algo?

Luna recuou até suas costas tocarem o limite da cabeceira da cama. A expressão corporal e o olhar demonstravam medo.

Emmett olhou da filha para Rosalie. Ambos ficaram sem entender o que tinha acontecido.

— O que houve? — tentou Rosalie.

— Não sei. — Ele olhou Luna, encolhida, segurando o coelho de pelúcia. — Luna — chamou. — Venha com o papai. O que aconteceu, docinho?

A menina olhou de um para o outro. Devagarinho, se aproximou do pai, que a pegou no colo.

Rosalie reconheceu o medo de Luna em relação a ela, achando um tanto estranho. Dando uma breve olhada ao redor, perguntou:

— Onde está Makena?

— Foi tomar banho. Vou dar banho em Luna assim que ela terminar.

— Se quiser, posso fazer isso, assim, fica livre para ir tomar banho também.

— Eu não sei… — Olhou Luna com atenção. — Você quer que Rose te ajude com o banho?

Luna deitou a cabeça no ombro dele.

— Acho que isso foi um não — a própria Rosalie foi quem respondeu. E logo recuou.

— Ei… Amor.

— Está tudo bem — respondeu, olhando um momento no rosto dele. — Vou preparar a mesa do jantar. — Então, saiu para o corredor.

Passaram-se alguns minutos até se encontrarem na sala de jantar. Emmett cheirava a colônia masculina, os cabelos pareciam úmidos ainda. Ele se curvou ao beijar no alto da cabeça dela.

— Em que está pensando? — tentou.

Rosalie inclinou o rosto ao olhar para ele.

— Muitas coisas. — Descansou a mão no peito dele ao ficar de pé. — E as meninas?

— Ainda não as chamei. Antes, quis ter certeza de que estava bem. E que não precisava de ajuda com o jantar.

— Não foi trabalho algum. Comprei tudo pronto. Só tive de pôr à mesa. Fiquei com medo de não conseguir terminar antes de vocês chegarem. Acabei optando pelo mais prático. E, não se preocupe, nada aqui tem canela.

Ele olhou a mesa posta.

— Parece tudo perfeito. — Tocou o rosto dela. — O quarto também ficou ótimo. Obrigado por dedicar seu tempo em agradar ambas as meninas.

— Só ficou faltando uma fotografia de Luna no porta-retratos ao lado da cama dela.

Emmett passou os braços ao redor da cintura dela, trazendo-a para mais perto.

— Isso é só um detalhe — disse-lhe ao pé do ouvido. Apertou os lábios na pele clara e perfumada do pescoço dela. Olhou em volta para ter certeza de que não estavam sendo espiados. — Eu te amo. — Beijou novamente o pescoço dela.

Abraçaram-se mutuamente com saudade, demoradamente.

Sem fazer barulho, Makena chegou e se colocou ao lado da mesa, olhando os dois se abraçarem. Cruzou os braços, encarando-os com raiva crescente. Pegou um garfo na mesa, ergueu no alto e então o soltou. O barulho do talher, ao atingir o chão, rompeu o contato do casal imediatamente. Rosalie se sobressaltou. Ao encontrar a menina no mesmo cômodo, entendeu o que tinha acontecido.

Emmett não quis que se afastasse, e voltou a lhe oferecer a mão.

— Está tudo bem? — Olhou ao redor. — Alguém se machucou? Onde está sua irmã?

— No quarto. Ela não quis descer.

— Vou pegar Luna — disse ele. — Vocês duas podem ir se servindo.

Rosalie aproveitou a deixa para falar com Makena:

— Tem macarrão com queijo. Batata frita…

— Tanto faz.

— Certo — concluiu Rosalie. Passou a mexer nos utensílios sem necessidade de que fizesse. Olhou a menina discretamente e desconfiada. Finalmente tomou coragem de falar: — Sei como se sente quanto ao que aconteceu a sua mãe e seu avô.

Makena virou o rosto de forma dramática ao olhar para ela. No mesmo instante, Rosalie se sentiu desconfortável. Havia raiva e ousadia estampadas naqueles olhos escuros. Ainda assim, não desistiu.

— Perdi minha mãe e uma irmã, ainda muito jovem. Pode desabafar comigo, se quiser.

A menina emitiu um som de desconsideração ao mover os lábios.

— Você seria a última pessoa com quem eu faria isso.

— Tudo bem. — Continuou mexendo nos utensílios à mesa quando, finalmente, Emmett chegou com Luna e o ar pareceu ficar mais leve.

— Então — disse ele, olhando as duas. Tentando descobrir como estavam as coisas. — Tudo certo por aqui? — Passou por detrás das costas de Rosalie para ir deixar Luna na cadeira, onde almofadas serviram de apoio para que pudesse alcançar os talheres e o prato. Voltou a se aproximar de Rosalie, descansando a mão nas costas dela. Ela pareceu desanimada ao olhar em seu rosto.

— Eu vou jantar no quarto — avisou Makena.

— Não será possível — Emmett devolveu de imediato. Se moveu ao redor da mesa, parou e puxou a cadeira que ficava de frente para Luna. — Por favor, sente aqui.

Makena manteve os braços junto ao corpo, cerrando os punhos.

— Rose cuidou de tudo com carinho para nós. Vamos nos sentar à mesa e jantar. É o mínimo que podemos fazer para agradecê-la.

Makena se moveu depressa na direção dele, porém, não parou para sentar como esperava que fizesse. Em vez disso, empurrou uma cadeira com agressividade.

— Não me importo com o que ela faz. — Olhou do pai para Rosalie, cheia de raiva. — Não me importo — fez questão de dizer, olhando no rosto dela.

Luna começou a chorar no momento em que a cadeira atingiu o chão, fazendo barulho.

Emmett se curvou, recolhendo a cadeira de volta.

— O fato de você estar sofrendo não te dá o direito de destratar todos à sua volta. Está assustando sua irmã constantemente. Luna tem só três anos, não esqueça. Consegue pensar nela, apenas um pouquinho?

Rosalie foi tentar consolar Luna, mas ela se encolheu, dominada pelo medo. Tudo o que pôde fazer foi carinho no alto da cabeça dela.

Makena voltou a falar em voz alta:

— Quero ir para casa. — Os lábios tremeram. — Não quero ficar aqui.

Emmett tentou uma aproximação, sem sucesso.

— Está em casa, filha. Quero cuidar de você também.

— Demorou demais — queixou-se.

— Me perdoe.

— Nem no funeral você esteve. — Ela começou a chorar. — Eu fiquei sozinha. Estive sozinha no pior momento de minha vida.

— Não estava sozinha. — Tentou novamente se aproximar. — Havia muitas pessoas com você. Sua irmã estava lá.

— Eu queria que você estivesse. — Os lábios tremeram e as lágrimas lhe molharam o rosto. — Queria que segurasse minha mão. — Ela respirou fundo. — Não estava lá, papai. Você não estava.

— Eu sinto muito. Muito mesmo, meu bem. Não consegui um voo que me fizesse chegar na hora certa. Levou um tempo até que eu fosse informado do que aconteceu. Acabei indo de carro, pensando em nosso retorno, acabou que não serviu de muita coisa. Você se recusou a me ouvir. Eu posso segurar sua mão agora… dessa vez para sempre.

Makena já não o via com clareza, com tantas lágrimas nos olhos.

— Não prometa o que não é capaz de cumprir. — Virou o rosto na direção oposta, respirou fundo e se retirou da sala de jantar com passos apressados.

 


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