Laços Inquebráveis escrita por Sill Carvalho, Sill


Capítulo 4
Capítulo 04 — Da Pior Forma




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/809446/chapter/4

Emmett permaneceu um tempo, encarando o telefone com a tela escura, desejando ligar novamente para Rosalie. O receio que ela não o atendesse, o freou. De todo modo, era tarde e ambos precisavam descansar. As últimas horas haviam sido estressantes e exaustivas para todos eles.

Olhou uma última vez na porta fechada do quarto de Luna e começou se afastar. O sentimento de culpa o levou olhar na direção do quarto de Makena. O abismo entre eles era agora assustador. A bandeja com a comida, intocada, permanecia no mesmo lugar, no entanto, a porta estava aberta. Ele foi até lá para conferir.

Foi cuidadoso ao se inclinar sobre a bandeja e olhar no interior do quarto. A escuridão lá dentro, não permitiu ver muito. Tateou a parede até encontrar o interruptor e acender a luz no teto. Aquele cômodo não lembrava em nada o antigo quarto de Makena. Não havia uma única pelúcia e os tons de rosa pareciam não mais fazer parte da vida dela. Ao olhar com atenção, descobriu que gostava agora de cavalos e patinação no gelo. Muita coisa havia mudado desde que a Aurora a levou para longe. Talvez, por influência da própria Aurora, tenha surgido o gosto por patinação. E, claro, viver na fazenda, fez nascer o amor por cavalos.

No mural estavam muitas fotografias, onde Makena aparecia andando a cavalo, e também patinando no gelo. Uma coisa, ele teve certeza, andar a cavalo era o que mais gostava. Havia muito mais referências aos cavalos, em toda parte. Mesmo nas fotos, ela parecia muito confortável e segura ao lado deles. Um cavalo, em especial, aparecia com mais frequência nas fotos. Chegou à conclusão que se tratava do favorito dela.

Ao olhar na parede oposta, em cima da cômoda, deparou com medalhas e troféus conquistados em disputas de provas dos três tambores. Dois de primeiro lugar, outros de segundo e também terceiro.

— Makena — se viu murmurando o nome da filha mais velha. Andou pelo quarto, parou e bateu à porta do banheiro. — Makena — chamou. O silêncio falou por si. Começou sair do quarto, pegou a bandeja e a levou de volta à cozinha. Ela também não estava lá. Tentou todas as portas, no térreo, chamando pela menina e tudo que encontrou foi o silêncio. Pensava voltar ao andar de cima, quando decidiu sair até a varanda. Abriu a porta, espiando em ambos os lados. — Makena. — Lá fora os sons da natureza rompia o silêncio. Fechou a porta atrás das costas, sem deixar de olhar adiante. Em pontos específicos, luzes quebravam a escuridão da noite. Mas foi a luz amarela no estábulo que chamou sua atenção. Lembrou-se das fotografias no mural do quarto da filha. Ela estava no estábulo, concluiu. Só podia estar lá.

Desceu os degraus que antecediam a varanda, ansioso. Nem mesmo pensou no cachorro que viva na fazenda. Que o animal pudesse estar espreitando nas sombras.

Seguiu por todo o caminho de terra, focado em encontrar a filha. Ao alcançar o estábulo, olhou no interior dele. De todas as baias, somente uma estava iluminada. Foi para lá que ele caminhou.

— Makena — chamou. Mais a frente, de detrás de um amontoado de fenos, ouviu um farfalhar, então um rosnado. Soube que se tratava do cachorro, mesmo antes de vê-lo. Moveu ambas as mãos de modo cauteloso ao se dirigir ao animal. — Calma. — Moveu-se devagar, sem deixar de olhá-lo. Buscou na memória o nome que o funcionário da fazenda usou, quando chamou o cachorro mais cedo. — Brutus — pareceu aliviado ao lembrar. — Brutus.

O animal moveu as orelhas ou ouvir seu nome. O que fez Emmett ganhar confiança.

— Só estou tentando encontrar minha filha — falou.

Brutus moveu as patas dianteiras, olhando-o com atenção.

— Makena — continuou Emmett —, você viu onde ela foi? — se sentiu ridículo ao questionar um cachorro.

Brutus emitiu um ganido ao olhar a baia onde a luz estava acesa.

— Ela está lá, não está? — Se moveu devagar até estar dentro da baia, olhando o cachorro sobre a porta baixa. Brutus permaneceu do outro lado, vigiando. — Makena — tornou chamar. Atrás de suas costas, estava o mesmo cavalo de tonalidade rica e brilhante de castanho, que aparecia nas fotografias no quarto da menina. Era um animal simplesmente maravilhoso. Esticou o braço bem devagar, fazendo carinho entre os olhos e também no focinho, enquanto procurava pela menina, olhando ao redor. Ele a avistou, deitada num amontoado de feno nos fundos da baia, vestindo pijama e botas. Teve cuidado ao passar pelo cavalo e não agitá-lo. Aproximou-se da menina, preocupado que tivesse machucada, mas logo percebeu que estava apenas dormindo. Curvou-se para afagar os cabelos negros dela. Ao afastar uma mecha para longe dos olhos, notou que esteve chorando antes de pegar no sono. Imaginou há quanto tempo estava ali. Talvez por todo o tempo que levou para fazer Luna dormir.

O cavalo se moveu, obrigando Emmett a prestar atenção nele. Balançou a cabeça como tentasse lhe mostrar algo. Emmett voltou olhar Makena dormindo sobre o feno. Com muito cuidado, começou movê-la para seus braços. Olhou o cavalo, que pareceu abrir caminho. Imaginou o cachorro do outro lado da porta. Como faria para sair dali levando Makena sem ser alvo de um ataque feroz. Ainda assim, ele teve de ariscar.

Para sua surpresa, Brutus se encontrava do lado de fora do estábulo acompanhado por Sebastian, o mesmo homem que o recebeu ao chegar à fazenda. Ele jogou a bituca de cigarro no chão e a esmagou na sola da bota suja.

— Brutus não vai atacar — disse, com a voz rouca.

Emmett se limitou em olhá-lo.

— Ela sempre faz isso, quando está triste — contou o homem, que parecia saber mais de Makena que ele mesmo. — Se esconde no estábulo.

Emmett passou ao lado dele.

— Vou colocá-la na cama — disse apenas.

— Ela sentiu sua falta — observou Sebastian. — Foram muitas às vezes que, neste mesmo local, chorou sua ausência.

Emmett observou o rosto adormecido da filha, enquanto a mantinha em seus braços.

— Nunca mais irei me afastar dela — garantiu. E se pôs a caminhar de volta a sede.

O outro balançou a cabeça, parecendo aceitar suas palavras.

Emmett percebeu que estava sendo seguido.

— Brutus vai acompanhá-lo de volta — Sebastian observou.

Emmett olhou o cachorro ao seu lado.

— Ótimo — murmurou num tom de insatisfação, sem deixar de andar.

Brutus caminhou pacificamente ao lado dele. Por vezes, Emmett olhava de canto de olho o animal. Os grilos seguiam em uma cantoria sem fim. O som de seus passos se perdia na noite, misturando-se a outros sons.

As pálpebras de Makena tremularam antes de ela abrir os olhos. Levando um segundo para entender que estava sendo carregada no colo do pai. Reconheceu a camisa e o perfume. Discretamente, olhou no rosto dele. Sentiu-se segura e confortável como quando era menor e ele costumava pegá-la no colo. Sentiu saudade daquele tempo. Fechou os olhos ao notar ele movendo o rosto para olhá-la.

— Lamento que esteja passando por tudo isso, querida — murmurou, sem saber que ela o ouvia.

— Está doendo muito… — sussurrou Makena.

Emmett alcançou à varanda. Abriu a porta. O cachorro desapareceu casa adentro. Fechou a porta e foi em direção à escada. Subiu os degraus sem pressa. Teve a impressão de Makena ter se mexido, mas não disse nada. Ele a levou para o quarto e a colocou na cama. Cuidadosamente lhe arrumou o travesseiro. Retirou suas botas e então a cobriu.

Sentou na beirada da cama, olhando com carinho o rosto da menina. Pensando em toda dor que a distância causou a ambos. Fez carinho no rosto dela. Ela quase abriu os olhos para olhar para ele de perto, mas resistiu.

— Vou cuidar de você agora. E de Luna também. Perdoe-me… perdoe o papai, Makena. Nunca desejei magoar você, querida. — Ele se colocou de pé, e se curvou ao beijar na testa da menina. Aproximou-se da porta, e, antes de apagar a luz, olhou-a na cama. — Eu te amo tanto — disse. A mão alcançou o interruptor e o quarto voltou ficar no escuro. Fechou a porta devagar, adiando o momento que a deixaria sozinha.

Ao som lento da maçaneta, Makena abriu os olhos em meio ao escuro.

— Eu também te amo, papai — murmurou, sabendo que ele não ouviria. Levantou a cabeça do travesseiro. Esticou o braço até alcançar o abajur. À meia- luz olhou a porta fechada do quarto. Virou-se de lado, sentindo que iria voltar a chorar.

Emmett passou no quarto de Luna para ter certeza de que estava bem. Ela estava com a cabeça fora do travesseiro, mas dormia abraçada a pelúcia de coala que trouxe e ao coelho de orelhas murchas.

Finalmente conseguiu entrar na suíte que lhe fora cedida, tomar um banho e deitar-se na cama, esgotado. Ainda assim, não conseguiu dormir. Os pensamentos, barulhentos demais. Havia tantas coisas a serem resolvidas antes de contar a Makena que não ficariam na fazenda.

Alcançou o celular com a mão. Deslizou o dedo na tela até estar na foto de Rosalie. Ficou olhando a imagem em silêncio, sentindo falta de tê-la ao seu lado na cama. Escreveu uma mensagem de carinho e tocou em enviar, mesmo sabendo ser tarde o bastante para ter resposta.

[…]

Tudo estava em silêncio quando Rosalie acordou na casa do pai e da madrasta. Foi cuidadosa ao se trocar e sair sem fazer barulho. Deixou na cozinha, preso a um imã na porta da geladeira, o bilhete avisando de sua saída.

Pensou em ir até a praia de Wrightsville praticar Stand-up poddle, porém, suas coisas tinham ficado na garagem de casa. Acabou indo fazer uma caminhada mesmo. Depois de estacionar, seguiu caminhando pelo píer. Soprava um vento frio àquela hora da manhã, ela apertou o suéter junto ao corpo. O vento soprou uma mecha de seus cabelos louros. Mais a frente, havia um pescador solitário. Um casal caminhava de mãos dadas em sua direção. Lembrou-se de Emmett, o que lhe trouxe saudade de estar com ele. A mensagem que encontrou no celular ao acordar lhe deu um pouco de tranquilidade. Ainda assim, não pôde evitar desejar que voltasse logo para casa. Parou, apoiando-se ao corrimão, observando o mar. Um catamarã deslizava na superfície das ondas. Para além das dunas, os bares davam lugar às casas.

[…]

Emmett levantou aos primeiros sinais de movimentação na casa. Ao procurar Luna, encontrou o quarto vazio. Na cozinha, Carmen estava servindo o café da manhã das meninas. Luna estava quietinha no colo dela, seu rostinho triste revelava ter chorado recentemente. Makena devorava panquecas com xarope de bordo, não ter jantado na noite anterior a deixou faminta. Porém, ao perceber a presença do pai, soltou a panqueca no prato e o xarope escorreu nos dedos e no canto da boca. Alcançou o guardanapo em um gesto ágil e se limpou.

Detrás da ilha, Eleazar tomava uma caneca de café preto.

— Bom dia — Emmett cumprimentou a todos.

Carmen se levantou e colocou Luna sentada na cadeira onde estivera antes. Emmett se aproximou da cadeira e se curvou para beijar no alto da cabeça da menina. Colocou a colher na mão pequena e aproximou a tigela com o cereal que Carmen acabou de servir. Foi na direção de Makena, mas ela imediatamente se esquivou ao saltar da cadeira no chão e sair de seu caminho.

— Eu já terminei — apressou-se em dizer.

Emmett ficou em silêncio, olhando-a deixar a cozinha. Apertou o garfo na panqueca da tigela, pegou então na mão e deu uma mordida generosa. Piscou para Luna ao notar que o observava.

— Você quer panquecas, Luna? — arriscou.

A menina moveu a cabeça com um gesto muito sutil ao confirmar. Emmett pegou na bandeja uma segunda panqueca e picou em pedaços pequenos, adicionou xarope de bordo, pegou um pedaço na ponta do garfo e serviu na boca de Luna.

Carmen sentou-se à mesa com uma caneca fumegante de café entre as mãos.

— O advogado de meu tio deve chegar a qualquer momento — avisou.

Emmett anuiu e foi servir-se também de uma caneca de café.

— Precisa contar a Makena quanto antes.

— Farei isso ainda hoje.

Luna não estava comendo do cereal. Emmett sentou na cadeira ao lado dela, e, de tempos em tempos, lhe servia uma colherada na boca.

— Não será nada fácil — lembrou Eleazar.  — Ela ama esse lugar.

— Isso é o que me preocupa — lamentou Emmett. — Não é minha intenção causar ainda mais tristeza. — De pouquinho em pouquinho, Luna comeu todo o cereal da tigela. Ele a ajudou descer da cadeira, quando demonstrou interesse em sair. Seguiu com o olhar os passinhos até perdê-la de vista. Não demorou em estar de volta, e ao seu lado, trotando feito um cavalo, o cane corso. A primeira reação foi pegar a filha no colo. — Luna — chamou seu nome num tom que beirava preocupação.

— Não se preocupe — disse Carmen. — O cachorro não vai machucá-la. Acredite ou não, eles são amigos.

Emmett olhou a menininha frágil em seus braços, então o cachorro gigante.

— Como pode Luna não ter medo? É quase como ter um cavalo trotando ao lado dela, se considerarmos o tamanho.

— Brutus está na fazenda desde antes de Luna nascer.

— Ainda assim. — Ele beijou na bochecha da menina. — É um animal muito grande. Pode machucá-la, ainda que sem intenção.

Carmen sorriu para ele.

— Brutus jamais machucaria as meninas.

Emmett voltou olhar o cachorro.

— Você tem certeza disso?

— Absoluta.

Ele abraçou Luna, que retribuiu ao gesto de carinho abraçando-o de volta. Brutus sentou ao lado deles. Luna acariciou a cabeça do animal sob o olhar atento e desconfiado do pai.

Enquanto aguardava o advogado de Javier chegar, Emmett esteve na varanda, apoiado ao parapeito, apreciando a vista. Luna brincava no chão, com blocos de montar. Brutus tirava um cochilo ao lado dela.

Makena apareceu em seu campo de visão. Ela levava pela rédea o cavalo que ocupava a baia onde a encontrou na noite passada. Com calça jeans, botas e chapéu, ela parecia parte daquele lugar. Movia-se com confiança. Viu pôr o pé no estribo, se apoiar a sela para impulsionar o corpo para cima, passar a perna sobre o animal e se acomodar no assento acolchoado de couro. Era como tivesse feito aquilo a vida inteira. Se havia alguma dúvida quanto à paixão de Makena por cavalos e a vida na fazenda, tinha acabado ali.

O cavalo trotou para o piquete, e continuou trotando junto à cerca branca. O corpo de Makena era levemente impulsionado pelo movimento, seus cabelos negros balançavam ao vento. Imaginou se tinha a mesma sensação de paz e liberdade que Rosalie, quando praticava Stand-up poddle. Sentiu saudade da esposa. Moveu a mão para pegar o celular no bolso. De canto de olho, percebeu Luna se afastando, o cane corso indo atrás dela. Não havia notado ela sair da varanda até aquele momento. Apressou-se descer os degraus da varanda.

Luna estava indo na direção do piquete. Ele foi atrás dela.

— Luna — chamou. — Volte para perto do papai.

O cachorro olhou para trás ao som da voz dele.

— Luna — Emmett tornou chamar. — Você não pode andar por aí sozinha. É muito pequena para isso.

Brutus entrou na frente da menininha, impedindo-a de ir em frente. Cada vez que Luna tentava se desvencilhar da barreira, Brutus mudava de direção como uma barreira móvel. Em um desses vários momentos, Luna se desequilibrou e caiu de bumbum no chão.

Emmett apressou o passo. Ergueu Luna do chão em seus braços fortes. Ela estava com um beicinho adorável quando olhou no rosto dele. As lágrimas enevoaram os olhinhos azuis e molharam a bochecha.

Brutus se mostrou inquieto, movendo a cabeça ao tentar vê-la no colo do pai.

Emmett limpou as lágrimas no rosto da menina.

— Não foi nada, papai — disse-lhe. — Não foi nada.

Luna piscou os olhos ao olhar no rosto dele.

— Foi apenas um susto — continuou Emmett. — Está tudo bem. Papai está aqui com você.

Luna passou os braços ao redor do pescoço dele e deitou a cabeça em seu ombro largo. O coração de Emmett se encheu de amor e afeto. Ele beijou a bochecha úmida de lágrimas da menina, ela retribuiu cutucando sua orelha com os dedos pequeninos.

Emmett sorriu. Olhou na direção do piquete, Makena os observava ao longe. O contato foi interrompido pelo barulho de rodas de carro esmagando cascalhos ao se aproximar da sede.

Luna afastou a cabeça do ombro do pai para ver quem chegava.

— Parece que temos visitas — disse Emmett. Luna continuou olhando o carro da mesma forma que ele olhava. E imaginou se ela estava achando que eram a mãe e o avô de volta. Afagou as costas dela e beijou seu rosto.

O carro parou e de dentro dele saltou um homem de cabelos ralos, de proximamente cinquenta anos, usando terno. O advogado de Javier. Ele subiu os degraus na varanda e se dirigiu à porta. Carmen atendeu. Eles se cumprimentaram, então, ela falou algo a seu respeito, porque logo em seguida o homem olhou para trás, onde ele e Luna se encontravam. O cane corso estava logo ao lado, pronto para segui-lo onde quer que fosse.

No momento que alcançou a varanda, o homem voltou-se na direção dele. Carmen fez a breve apresentação. Ambos se cumprimentaram com um aperto de mãos amistoso. O olhar de Luna capturou o cumprimento entre ambos. E quando o homem a olhou com expressão de pena, ela deitou a cabeça no ombro do pai novamente.

Carmen chegou ao lado e pegou a menina no colo. Mas o olhar de Luna para o pai dizia não querer ir.

— Prometo que te devolvo ao seu pai. É só por um tempinho.

Luna estendeu à mão a Emmett.

Ele segurou e beijou a mão pequenina da filha.

— Papai volta logo — disse para tranquilizá-la. — Carmen vai cuidar de você enquanto isso.

Eleazar apareceu no limiar da porta, os convidando a ir ao escritório de Javier. Emmett e o advogado do ex-sogro os acompanharam pela casa.

Carmen foi com Luna para outro cômodo.

Eleazar parou diante a porta dupla de madeira trabalhada e a abriu. O primeiro a passar para o outro lado foi o advogado de Javier, que pareceu familiarizado ao local. Então Emmett, que fez uma rápida varredura na sala, enquanto Eleazar fechava a porta atrás de suas costas.

O ambiente amplo com janelas com vista para os pastos verdes. A mesa de madeira maciça, onde duas cadeiras se encontravam a frente e uma única do outro lado. Próximo às janelas, um sofá de couro marrom e uma mesinha de canto com abajur. Nas paredes, quadros com pinturas de cavalos. Certificados emoldurados. Na estante que pegava toda a parede atrás da mesa, livros dividiam espaço com troféus, medalhas, uma ferradura e réplicas de cavalos em miniaturas. Dispostos sobre a mesa, o computador, caderno com capa de couro, caneta dourada, caixa de charutos e o cortador. Porta-retratos com fotos de família e uma réplica do touro de Wall Street, com 40 cm, na cor bronze.

A voz do advogado chamou sua atenção, lembrando o motivo de estarem reunidos ali. Ambos se acomodaram no sofá de couro. O advogado de Javier acomodou a pasta preta sobre as pernas e de dentro dela retirou uma quantidade infinita de papéis, dos quais Emmett teve de assinar alguns.

[…]

Makena deixou o cavalo no piquete, ao perceber o carro do advogado do avô estacionado em frente à sede da fazenda. Sabia que tinha vindo para decidir o futuro dela e da irmã. Subiu na cerca e passou as pernas para o outro lado, então pulou no chão. Correu até a sede. Estava ofegante quando abriu a porta da frente. Brutus ficou olhando-a com desconfiança. No hall, ouviu vozes. Brutus parou logo atrás de suas costas e esperou.

— É uma pena que terá de levar as meninas… — era a voz do advogado.

— Não posso ficar… — dizia Emmett quando percebeu Makena chegando à sala. A postura violenta, olhos em fúria. — Makena — a voz soou como um lamento ao se dirigir a menina.

Ela olhou para Eleazar, ignorando o pai.

— Não vamos ficar na fazenda? — questionou, com a voz oscilando entre raiva e tristeza. E ao olhar para o pai, ergueu o queixo com ar desafiador. — Não vou a lugar algum com você.

— Makena — tentou Emmett.

Ela balançou a cabeça, negando.

— Eu preciso voltar…

— Voltar? — ela repetiu, elevando a voz. — Luna e eu… — Os olhos se encheram de lágrimas.

— Vocês irão comigo.

Makena balançou a cabeça de forma energética.

— Não iremos com você. Nunca, nunca, nunca.

— Luna e você, são minhas responsabilidades.

— Nunca fomos, podemos continuar não sendo — rebateu.

— Vou fingir que não disse isso.

— Que seja — desdenhou.

— Esta não é minha casa. Eu…

— Esta é minha casa e também da Luna — esbravejou. — Aqui é nosso lar.

— Agir assim, não vai resolver as coisas. Não vai torná-las mais fácil.

— Você não se importa com a gente — acusou. — Nunca se importou.

— É claro que me importo. Estou aqui.

— Um pouco tarde, não acha.

Emmett deu alguns passos em direção à filha, estendendo a mão para lhe acariciar o rosto. Makena se esquivou.

— Não toque em mim. Não quero.

— Sinto muito que tenha de passar por tudo isso.

— Não sente, não. — Ela estava chorando agora. — O vovô tinha razão, só se importa consigo mesmo.

— Seu avô faltou com a verdade muitas vezes.

— Vovô não fez isso. Ele me amava. Amava a Luna e também a minha mãe.

— Eu te amo, Makena. Sempre te amei. E também amo a sua irmã.

Ela sustentou o olhar dele por alguns instantes, então, na revolta que se encontrava, gritou:

— Eu te odeio.

— Ainda que me odeie, continuo te amando, porque é minha filha. É a minha garotinha.

Makena correu para o hall. Emmett foi atrás dela.

— Você deveria ter morrido, e não a minha mãe e o vovô. — Ela abriu a porta e saiu correndo.

— Makena. — Viu-a se afastando a caminho do piquete onde estava o cavalo. Ela subiu na cerca, e, do alto, olhou na direção de onde ele estava. O rosto molhado de lágrimas. O emocional destruído.

— Ringo. — Ela gritou ao cavalo. Pulou no chão e foi abrir a cerca. Montou ao cavalo, deu uma última olhada em Emmett, antes sair a toda velocidade pelos pastos.

— Makena.

Na varanda, Eleazar e Carmen, segurando Luna nos braços, observavam com atenção à cena. Sebastian olhava a tudo a distância, na entrada do celeiro.

— Ela descobriu da pior forma — lamentou. — Tenho de ir atrás dela — avisou, lançando o olhar às pessoas na varanda. Luna estava chorando. Emmett se sentiu o pior dos pais. Havia ficado tanto tempo longe das filhas e tudo o que conseguia agora era tornar o momento doloroso que estavam enfrentando, pior ainda.

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que tenha gostado. Não se esquece de deixar seu comentário.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Laços Inquebráveis" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.