Laços Inquebráveis escrita por Sill Carvalho, Sill


Capítulo 3
Capítulo 03 — Insegurança e Medo




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/809446/chapter/3

Após se trancar no quarto, Makena não apareceu para o jantar, ainda que tenha sido avisada por Carmen. Recusava-se estar no mesmo ambiente que o pai, não importava o que dissessem.

Diante o que estava acontecendo, Emmett pouco conseguiu comer. Luna, menos ainda. Ela parecia observar tudo a sua volta e se entristecia com o que via; a ausência da família que conhecia. Não demorou Carmen levá-la para escovar os dentes e vestir o pijama. Eleazar pediu licença e também se retirou. Ficar sozinho, não foi de tudo ruim para Emmett. Podia pensar com clareza. Eram muitas decisões a serem tomadas em tão pouco tempo.

Emmett se levantou da cadeira à mesa na sala de jantar e entrou na cozinha. Na porta da geladeira se encontravam lembranças e lembretes: fotos de Makena com um sorriso banguela. Montando a cavalo. Abraçando o cachorro que o recebeu quando chegou à fazenda. Uma foto de Aurora sorrindo para a câmera. Outra com as filhas. Nessa última, pôde confirmar o quanto Makena ficava parecida com a mãe à medida que crescia. Uma foto de Luna, com botas amarelas de chuva, pulando em uma poça de água. Ao lado, uma de Makena, fazendo o mesmo, porém, suas botas eram vermelhas, essa deveria ter sido tirada no primeiro ano da filha mais velha vivendo na fazenda.

Ali também encontrou um papel com horários; escola, dentista, médico, aulas extracurriculares. A imagem da virgem de Guadalupe. Na última foto, Javier ao lado das netas. Esta Emmett preferia não ter visto. Acreditava ser ele o responsável por Makena tê-lo rejeitado a cada tentativa de aproximação.

Afastou-se da geladeira. Abriu portas e gavetas dos armários, procurando a bandeja de servir café na cama. Não foi tão fácil quanto pensou que seria, mas finalmente encontrou. Serviu o prato com purê de batata, milho e carne assada. Acrescentou à bandeja um muffin de chocolate e um copo de leite.

Levou tudo ao segundo andar. Parou diante o quarto de Makena, segurando a bandeja nas mãos. Bateu uma vez à porta.

— Makena — chamou. — Ainda que não queira falar comigo, você precisa se alimentar. — Ele olhou a comida na bandeja. — Trouxe seu jantar. — Ouviu ruídos no interior no quarto. — Estou deixando aqui ao pé da porta. — Se curvou para deixar a bandeja no chão. E ao se levantar avisou: — Estou saindo. — Aguardou no mais puro silêncio, mas a menina não abriu a porta. Começou se afastar, desanimado. O som de um chorinho o fez parar. Esse som vinha do quarto de Luna. Desistiu de ir, se virou e foi ao quarto da filha mais nova.

Encontrou Carmen, sentada na cama, segurando a menina no colo.

— O que aconteceu? — pediu.

Carmen comentou ao se virar.

— Luna sente falta da mãe. Era ela quem a colocava para dormir todas as noites.

Emmett se aproximou. E estendeu os braços para Luna.

— Pode deixar comigo — avisou.

Carmen lhe entregou a menina.

Ele beijou no rosto de Luna ao acomodar a cabeça dela em seu ombro largo.

— Papai está aqui — murmurou. A menina soluçou no ombro dele. Emmett acariciou as costas dela e a ninou.

Carmen tocou o braço dele ao falar:

— Seja para estas meninas tudo o que precisam. Seja o pai delas…

Carmen se retirou. No corredor ainda pôde ouvir Emmett murmurando uma canção de ninar para Luna. Avistou a bandeja com a comida intocada à porta do quarto de Makena. E ali a deixou.

Makena finalmente abriu a porta. Olhou nos dois lados do corredor antes de focar a bandeja aos seus pés. Os olhos capturaram o muffin e o copo de leite, que lhe trouxeram memórias afetivas; os cafés da manhã na cama em dias especiais, como no dia de seu aniversário. No lanche da tarde, quando lhe servia leite e biscoitos.

O murmurar da voz do pai, chamou atenção para o quarto de Luna. Ela olhou nos dois lados do corredor outra vez. Passou por cima da bandeja, evitando fazer barulho.

Aproximou-se da porta do quarto da irmã, pisando nas pontas dos pés. Conhecia aquela canção de ninar. Sentiu saudade do carinho e do abraço do pai. Desejou ser a mesma Makena de antes. Que nunca houvessem se distanciado. Espiou dentro do quarto; Emmett se movia devagar de um lado a outro, sempre murmurando a canção de ninar à Luna.

— Papai — sussurrou Makena, os olhos cheios de lágrimas.

Emmett se virou na direção da porta, pensando ter ouvido algo. Mas não havia ninguém lá. Makena havia se afastado a tempo.

Com passos largos, ela seguiu pelo corredor. O coração pulsando acelerado, a respiração ofegante. Passou em frente algumas portas fechadas até estar diante o quarto de Aurora. Percebeu o pai chegando para olhar no corredor, trazendo Luna nos braços. Entrou depressa no quarto da mãe e fechou a porta. Subiu na cama, deitando a cabeça no travesseiro que ainda preservava o perfume dela. Chorou a perda da mãe. Lamentou a vida que poderia ter tido se tivesse permanecido ao lado do pai.

[…]

A convite do pai e madrasta, Rosalie foi jantar com eles essa noite, a segunda sem Emmett desde que estavam juntos. Fazia um tempo o jantar havia sido encerrado. A madrasta, Esme, a mulher de rosto gentil, pequena, de cabelos num tom que beirava o caramelo, retirava a louça do jantar da mesa. Enquanto fazia isso, conversava com Carlisle, o pai de Rosalie.

O meio-irmão, Jonah, de onze anos, se retirou assim que terminou o jantar.

Esme levou a louça remanescente a pia. Rosalie as colocou na máquina de lavar.

— Esteve muito calada durante todo o jantar — comentou Esme, logo ao lado dela. — O que está acontecendo? Quer conversar?

Rosalie fechou a máquina, apertou os botões para iniciar o processo de lavagem. Então, virou de costas para o eletrodoméstico.

— Estive o dia inteiro com pensamentos distantes — admitiu. — Fui praticar Stand-up poddle novamente para tentar me distrair.

Esme estudou o rosto dela.

— Imagino que não está sendo fácil agora que sabe que não será apenas você e Emmett…

— Eu tenho tentado não pensar muito nisso. — Ela suspirou, tentando controlar a ansiedade e medo. — Emmett não me ligou até agora. Mandou-me uma mensagem na noite de ontem para dizer que estava em um hotel de beira de estrada. Outra hoje, no início da tarde, dizendo que chegou bem.

— Por que você não liga para ele, então?

— Kate me sugeriu o mesmo.

— Então? — insistiu Esme.

— Não quero parecer desesperada ou algo assim. Sei que a ida dele a fazenda não foi a passeio. Emmett precisa de tranquilidade para resolver tudo por lá. Além dos trâmites legais, fazia muito tempo que não via a filha. Ele estava bem apreensivo quando saiu. Abalado com a tragédia, também.

— Se há algo que todos sabemos, é que Emmett é louco por você. Mais cedo ou mais tarde, vai entrar em contato.

Rosalie anuiu, embora angustiada. Forçou um sorriso.

— Vamos, querida — ouviu o pai a tentar animá-la. — Você consegue fazer melhor que isso.

Ela se esforçou, porém, o resultado foi o mesmo.

— Venha até aqui. Deixe-me te mimar um pouco. Da mesma forma que fazia quando era criança.

Rosalie deu a volta ao redor da ilha, seus ombros levemente curvados.

Carlisle a abraçou. Esme esboçou um sorriso, assistindo aos dois se abraçarem.

Jonah chegou à cozinha a tempo de vê-los.

— O que está acontecendo? — questionou o menino.

— Quer um abraço também? — Carlisle brincou.

O menino se recusou.

— Nesse momento, acho que Rose precisa mais que eu.

Rosalie soltou o pai para abraçar o irmão caçula.

— Por que acha isso? — cutucou as sardas no rosto dele. E fez carinho nos cabelos ruivos. De todos os filhos, Jonah foi o único que não herdou os cabelos louros do pai.

— Você está com medo. Nesse caso, merece mais que eu.

— Por que acha que estou com medo?

O menino moveu os ombros como fosse óbvio.

— Seu marido foi buscar a filha. E a mãe dela não é você.

— Sempre soube que Emmett tinha uma filha. A existência da menina nunca foi um segredo.

— Agora é diferente. Ela vai morar com vocês. Você será oficialmente madrasta dela.

— Sua mãe é minha madrasta — lembrou. — E nos damos muito bem.

— Tem razão. — Ele sorriu. — Se for tão legal para ela quanto minha mãe é para você, vai ficar tudo bem.

— Você é bem esperto, sabia?!

— Eu sei. — Ele sorriu.

— Você pode se tornar amigo dela — comentou Rosalie.

— De quem?

— Da filha de Emmett. Ela tem dez anos, apenas um a menos que você.

— Não, obrigado. Garotas, às vezes, são bem chatas.

Rosalie bagunçou os cabelos ruivos do irmão.

— Eu sou chata? Você me acha chata?

— Claro que, não — admitiu com ar risonho. — A verdade é que gosto muito de você.

Ela apertou os lábios na bochecha de Jonah. Ele se desvencilhou, movendo as mãos como fosse passar no rosto.

— Não faz isso — Rosalie pediu. — Não limpe o meu beijo. Jonah, não se atreva fazer isso.

— Você me babou.

— Não babei, não. Vem cá, me deixe te abraçar mais um pouco.

Jonah balançou a cabeça.

— Você está muito carente hoje.

— Jonah — Esme chamou seu nome, sorrindo.

— Sua irmã te ama — Carlisle comentou.

— Eu também a amo. Só por isso, posso tentar ser amigo da garota.

Rosalie sorriu.

— Qual o nome dela mesmo?

— Makena — Rosalie respondeu.

— Até que o nome é bem bonito.

— Também acho.

— Vou voltar para meu quarto — avisou. E foi saindo da cozinha. Parou, olhando para trás. — Não tem como não gostar de você.

— Eu vou te abraçar de novo.

O menino saiu apressado.

— Não se eu não estiver mais aqui.

— Seu irmão tem razão — acrescentou Carlisle. — Não tem como não gostar de você, querida.

— Vou ter de concordar com seu pai e seu irmão — disse Esme.

Carlisle aproveitou para fazer um convite.

— Por que não fica e passa essa noite aqui?

Esme passou por ela e lhe tocou o ombro.

— Seu pai tem razão, fique aqui essa noite.

— Eu vou aceitar. Não quero passar outra noite sozinha, pensando em bobagens.

[…]

Sentada na cama de Aurora, Makena respirou fundo, forçando-se a parar de chorar. Passou ambas as mãos no rosto. Ao olhar para o lado, deparou com o porta-retratos; ali estava em seus primeiros dias na fazenda. Na frente do estábulo, usando um vestido florido, tranças nos cabelos e botas nos pés. Aurora estava ao seu lado. Também usando vestido e botas, porém, os cabelos presos em um rabo de cavalo. Em uma das mãos, carregava um balde com cenouras e maçãs.

Lembranças daquele dia a transportaram para longe.

— Por que, mamãe, estamos levando essas coisas?

— Para oferecer aos cavalos — respondeu Aurora.

— Por quê?

— Bem, eles gostam — dizia Aurora, quando Makena se assustou com o relinchar de um cavalo. E se agarrou as suas pernas.

— Quero voltar — pediu, olhando o caminho que as levou até ali.

— Não tem porque ter medo. Eles não irão machucar você.

— Não quero ficar. Quero voltar para casa.

— Já estamos em casa.

— A casa onde está o papai.

— Não vamos voltar. — Aurora forçou Makena a soltá-la. — Vamos! Precisamos entrar no estábulo. Os cavalos querem o que trouxemos no balde. Não seja medrosa.

— Não quero — Makena se recusou.

A voz masculina chamou seu nome com rispidez.

Makena avistou o avô saindo do estábulo, vestido em suas roupas de Cowboy, botas e chapéu.

— Não se encolha com medo dos cavalos. Você é uma Alvarez. — Ele retirou o chapéu da cabeça. — Venha até aqui, Makena.

Aurora tocou o ombro da filha, incentivando ir em frente.

Makena caminhou ao encontro do avô com cautela. Parou diante dele, olhando para cima.

— Não tem porque sentir medo dos cavalos. Eles são animais maravilhosos. Você só tem de conhecê-los. E então vai desejar nunca deixá-los.

Makena abaixou os olhos.

Javier tocou seu queixo.

— Tudo isso aqui — fez menção às terras da fazenda —, um dia será seu.

— Eu quero voltar para nossa casa na cidade. É lá que o papai está.

Javier se incomodou à menção a Emmett.

— Não vamos falar de seu pai. — Ele colocou o chapéu na cabeça da neta. Ficou enorme, ainda assim, achou que ficou bem. O sorriso marcou seu rosto com barba. Pegou Makena no colo. A menina pareceu meio sem jeito. Os braços estendidos juntos ao corpo.

Javier entrou no estábulo com a neta no colo. Makena retirou o chapéu e o devolveu à cabeça do avô.

Ele parou diante a baia aonde uma égua marrom, com uma mancha branca que ia do focinho por entre as orelhas. Makena olhou com receio o animal.

— Está vendo? — perguntou Javier. — Ela não é linda? Ela se chama Guapa. Você sabe o que quer dizer Guapa, em espanhol?

Makena concordou com um movimentar de cabeça.

— Vamos, toque nela.

A menina se recusou.

Javier agarrou a mão da neta, forçando encostar acima do focinho da égua. No primeiro instante, Makena resistiu a fazer carinho. Aos poucos, ganhou confiança a ponto de acariciar do focinho as orelhas do animal. O avô sorriu para ela.

— Viu só — disse ele, visivelmente orgulhoso.

Makena avistou a mãe, também sorrindo.

Afastou a mão ao perceber a égua inquieta. Mas logo voltou acariciá-la.

Javier a olhava com orgulho.

Aurora aproximou-se dos dois.

— Aqui — disse, oferecendo a maçã à filha. — Dê para a égua.

— Ela vai me morder.

— Claro que não.

— Como você sabe?

Javier tomou a palavra.

— Você é a rainha desse reino. Os animais a reconhece.

O rosto de Makena se iluminou com um sorriso. Mesmo insegura, aproximou a mão com a maçã. Ficou paralisada enquanto a égua pegava a fruta em sua mão pequena e mastigava fazendo barulho. Olhou no rosto do avô e sorriu.

Javier a levou pela mão por todo o estábulo, visitando cada uma das baias. Mostrando os animais que ali estavam descrevendo raças e nomes. Makena os alimentou com maçãs e cenouras frescas. Correu de um lado a outro, escalou em blocos de fenos e deu saltos ao descer.

— Ei, Makena — Javier a chamou. — Amanhã nós vamos cavalgar.

— E se eu tiver medo?

— Esse é o seu reino. Lembre-se sempre disso.

As memórias se dissolveram restando à saudade, nem Aurora, nem Javier estavam por perto. Eles nunca mais voltariam.

— Vovô — murmurou Makena — o reino sem você e a mamãe, não é o mesmo. — Ela levantou, olhou novamente a foto no porta-retratos e se retirou. De volta ao próprio quarto, à bandeja com o jantar estava no mesmo lugar. Voltou passar por cima da bandeja e fechou a porta. No mural de fotografias, pegou a foto do lindo cavalo de cor zaino com pontos negros. Sua tonalidade rica e brilhante de castanho, aproximando-se da cor do mogno polido. Crina, cauda e patas negras.

Makena se viu mergulhando em mais memórias.

Em seu aniversário de sete anos, o primeiro longe de Emmett. Fazia algum tempo a festa tinha se encerrado. Todos os convidados, ido embora. Ela ainda aguardava a chegada do pai.

Sentou-se no degrau da varanda. Seus olhos cheios de lágrimas. Ainda acreditando que ele apareceria.

— Makena — Javier chamou ao longe.

A princípio, a menina chegou pensar que fosse o pai. Ela olhou para frente, onde uma caminhonete estava estacionada. Atrás dela o reboque para transportar cavalos, conectado. Javier apareceu ao lado do veículo, guiando, pela rédea, o cavalo mais lindo que já tinha visto.

— Vovô — disse Makena.

— Por que está chorando?

— O papai não vem — lamentou a menina. — Ele se esqueceu de mim.

— Disse para não esperar por ele.

— Eu quero ver o meu pai. — Ela desviou o olhar. — Sinto saudade dele.

— Ele não sente saudade sua. Se sentisse, estaria aqui. Ele nem mesmo telefonou. Certamente tem coisas mais importantes a fazer.

Makena se encolheu ao ouvir o que disse o avô.

— Levante e venha até aqui.

Embora sem muita disposição, a menina ficou de pé. Caminhou o curto caminho que os separavam.

Javier enxugou seus olhos tristes.

— Eu tenho um presente para você — disse.

— Não quero presente. Quero o meu pai.

— O seu pai, ele não quer estar com você. Hoje é seu aniversário e ele não apareceu. Não deve ficar triste por ele. Você tem a todos nós. E agora, também tem um cavalo só seu.

Os olhos de Makena se arregalaram.

— É sério?

Javier a ergueu, colocando sobre o animal. Um Quarto de Milha, que mede em torno de 1 metro e 50 centímetros, com orelhas pequenas, alerta e bem distanciadas entre si. Seu focinho pequeno e narinas grandes marcam a aparência desse equino forte e tranquilo.

— Ele não é lindo? E é da mesma raça que a Guapa. Você gostou tanto dela, que pensei em presenteá-la com um. Como pretende chamá-lo?

— Ringo. Ele tem cara de Ringo. — Ela afagou a crina do cavalo. — Vou poder mostrar Ringo ao papai, quando ele vier?

— Não acho que seu pai virá. Ele já não se importa com vocês.

Makena voltou se entristecer.

— O que acha de darmos um passeio?

Ela deslizou a mão na crina do cavalo.

— Eu te amo muito, querida. Meu amor é grande o bastante por dois.

Makena esboçou um leve sorriso.

— Estou aqui com você, porque eu, sim, te amo.

A memória se foi, deixando-a outra vez com a saudade. Makena devolveu a fotografia ao mural. Na época, não sabia quão caro havia sido aquele pressente.

Outra vez, ela saiu do quarto, deixando a porta aberta. Deu uma olhada na direção do quarto de Luna, onde Emmett tentava fazer a menina dormir. Pegou o caminho da escada, evitando ser vista.

Emmett ajeitou o cobertor ao redor de Luna. Depois de muito tempo, a menina conseguiu dormir. Tinha a sensação de ela ter sido vencida pelo cansaço. A ausência de Aurora estava sendo sentida ao máximo, não só por Makena. Luna ainda era muito pequena. Havia necessidades que somente uma mãe poderia suprir.

Acariciou o rostinho manchado pelas lágrimas. Ela era tão adorável. Tão linda. O fazia lembrar-se de Makena na mesma idade. Voltou acariciar o rostinho. Afastou alguns fios de cabelos que haviam grudado nas bochechas junto às lágrimas que secaram.

Lembrou que não havia telefonado para Rosalie desde que chegou a fazenda. Deu uma olhada no horário, no visor do celular. Passava das 22h, muito provavelmente estaria se preparando para dormir. Enviou uma mensagem para saber se poderia ligar.

Ela respondeu quase que no mesmo instante. Ele saiu para o corredor com o celular na mão, enquanto a chamada se iniciava. Fechou a porta atrás das costas e aguardou.

— Oi, amor.

Rosalie sorriu para ele na tela do aparelho.

— Como estão às coisas por aí?

— Um pouco complicadas. — Ele percebeu o ambiente diferente na chamada de vídeo. O quarto antigo de Rosalie. — Aconteceu algo?

Rosalie olhou em volta, sabendo que se referia ao lugar onde estava.

— Meu pai e Esme me convidaram para ficar com eles essa noite. Bom, eu acabei aceitando.

— Desculpe deixar você sozinha tanto tempo.

— Não se preocupe. Estou matando a saudade do meu antigo quarto.

— Espero que não prefira seu quarto de solteira a nosso quarto de casal.

— Claro que não.

— Estou com saudades — admitiu ele.

— Eu também. Por isso, resolva o que tem para resolver aí e trate de voltar para nossa casa.

— É o que mais quero.

Rosalie o notou olhando para os lados e então para trás.

— Como está Makena? — arriscou.

— Arrasada. Furiosa. Ela não aceita o que aconteceu.

— Entendo. O tempo vai se encarregar de tudo. Como foi quando ela te viu?

— Ela não gostou. Está tão diferente da Makena que me lembrava. Ela tem muita raiva de mim agora. É como me culpasse por algo.

— Não é sua culpa o que aconteceu a mãe e ao avô dela.

— Definitivamente, não. É provável que me culpe por ter me afastado.

— O avô dela provocou essa distância. Não pode assumir toda culpa sozinho. Aurora também fez parte disso. Ela poderia ter enfrentado o pai. Facilitado que visse sua filha. E ela não fez.

— Obrigado por me apoiar.

— Sou testemunha que tentou contato. E da falta que sentiu de acompanhar o crescimento de Makena.

— Javier encheu a cabeça dela contra mim. Fez acreditar que não me importava. Cultivou no coração de minha filha sentimentos negativos a meu respeito.

— Essa pode ser a chance de mostrar que nem tudo é como parece ser.

Emmett olhou novamente a porta atrás das costas.

— Parece que ainda não me contou tudo — observou Rosalie. Quando ele voltou olhar o celular, havia algo diferente em seus olhos. Um amor doce e sincero que logo voltou ser angústia e medo.

— Aurora — começou ele. — Ela escondeu de mim algo muito importante.

— O quê? — pediu apreensiva.

— Gostaria de poder te contar pessoalmente, porém, não terei a chance até estar em casa. Bem, nesse caso, seria um pouco tarde. E talvez não fosse justo.

— Do que está falando? O que seria tarde? — Ela passou a mão nos cabelos. Passou o telefone de uma mão para outra, nitidamente aflita. — Emmett.

— Aurora estava grávida quando nos separamos.

— Grávida? — questionou Rosalie. — Está me dizendo que vocês tiveram um segundo filho?

— Outra menina…

Rosalie notou o olhar de ele mudar ao falar da segunda gravidez de Aurora. O olhar de um pai que ama suas filhas. Não pôde evitar sentir ciúmes, inveja e também raiva.

— Por que Aurora esconderia de você a gravidez?  Isso não faz sentido.

— Pelo mesmo motivo que me impediu de estar perto de Makena. Queriam o amor das crianças somente para eles.

— Tem certeza de que é mesmo sua filha?

— Carmen me garantiu que Aurora não teve ninguém depois de mim.

— Ainda assim… não posso confiar.

— Eu também pensei que pudesse ser de outro — admitiu. — Mas quando olhei para Luna…

— Luna — murmurou Rosalie.

— Luna é o nome dela. — Ele sorriu. — Luna gostou de mim desde o primeiro contato. Ela tem muito de mim e da mãe. Os olhos são idênticos aos meus.

Rosalie forçou um sorriso para esconder a angústia. Desviou o olhar quando seus olhos marejaram.

— Luna tem só três anos e já não tem mais a mãe. Makena terá muitas lembranças, mas Luna muito pouco se lembrará.

— É uma pena que sendo tão novinha já tenha que conviver com a dor do luto.

— O que me preocupa é o fato de ela não falar desde que ficou sabendo do acidente. Makena tem agido com impulsividade e fúria. Foi em um momento de descontrole da irmã, que Luna descobriu o que tinha acontecido. Ela é pequena demais para entender sobre a morte, acredito que a violência com que Makena recebeu a notícia foi o que a traumatizou. Além, claro, a falta que sente da mãe e do avô.

— Realmente lamento que isso esteja acontecendo. — Rosalie abaixou os olhos.

— Rose?

— Desculpe, eu preciso desligar agora. Meu celular está ficando sem bateria.

— Rose — insistiu ele. — Você está bem?

— Sim, estou bem.

— Tem certeza?

— Estou com um pouco de sono, nada para se preocupar.

— Eu te amo. Você sabe disso, não sabe?

Ela anuiu, mordendo o lábio inferior.

— Amor, eu estou te achando triste.

— Estou bem.

— Tem certeza?

— Volte logo — pediu. — Ainda que com duas crianças e não uma como achávamos que seria.

— Me desculpe… — ele pediu. — Queria contar pessoalmente, mas é algo que não dava para esperar. Por não ter a opção de chagar antes delas.

— Luna não tem culpa. Assim como Makena também não tem. Também perdi minha mãe muito cedo, conheço essa dor. Minhas irmãs e eu, tínhamos nosso pai. As meninas, elas têm a você.

— Você é uma mulher incrível.

Rosalie passou a mão em um dos olhos, impedindo que uma lágrima caísse.

— Volte logo — pediu.

— Eu te amo — lembrou Emmett.

Ela balançou a cabeça, sem nada dizer.

— Me perdoe — Emmett pediu novamente.

Rosalie moveu a cabeça, enquanto apertava os lábios.

— Te amo — Emmett voltou dizer. Ficou olhando a tela escura do celular sabendo que, de alguma forma, havia magoado a mulher que ama.

Rosalie soltou o telefone em cima da cama, olhando o nada. Apenas se permitindo chorar sem ser vista. Os sentimentos variavam entre medo, raiva, ciúmes e angústia. O maior deles talvez fosse o ciúme.

Recuperou o controle das emoções. Limpou o rosto com ambas as mãos. Disse para si mesma que Emmett a amava. Não importava se ele voltaria com uma ou duas crianças, era o amor que os unia.

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Laços Inquebráveis" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.