Laços Inquebráveis escrita por Sill Carvalho, Sill


Capítulo 2
Capítulo 02 — Nada é Igual




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O barulho das rodas do carro era o único som que Emmett ouvia ao percorrer o chão de terra, rodeado por campos verdes e cercas de madeira branca, a perder de vista. Eram dezesseis horas quando chegou à cidade. Tinha parado a meia-noite para descansar e voltou dirigir a seis da manhã, parando somente quando necessário.

Diminui a velocidade à medida que se aproximava da sede, um casarão imponente ao final da estrada em formato de S. Alguns metros à direita, o celeiro se destacava por sua cor vermelho e telhado acinzentado. Ao lado dele, um silo se erguia além do telhado, e um o cata-vento em metal girava devagar. Mais adiante estavam os estábulos e os piquetes. Ainda mais afastado havia uma construção menor, com varandas.

Cavalos pastavam nos campos verdes. O lugar era incrivelmente bonito. Não foi difícil imaginar Makena vivendo ali durante todo esse tempo que estiveram longe um do outro. Uma garotinha alegre, livre para correr e brincar. Apesar da distância, sempre acreditou que a filha era feliz onde estava.

Ainda que o clima de tristeza fosse grande naquelas terras, sentia-se grato em poder rever a filha. Com um pouco de medo da reação dela, ainda assim, ansioso.

Parou o carro na lateral esquerda da sede, à sombra de um carvalho gigante, onde também uma caminhonete preta estava estacionada. Demorou-se um instante, olhando além do para-brisa. Finalmente, saiu do carro e pegou a sacola com o bicho de pelúcia no porta-malas.

Apenas alguns passos na direção da casa foram suficientes para lhe revelar a presença de um cachorro, sentado na varanda, próximo à entrada principal. O cachorro ficou de pé a sua aproximação. Parou, observando o animal; um cane corso, macho, de aproximadamente 63 cm e 46 kg, na cor preta.

O animal o encarou com um rosnado contido.

Emmett recuou dois passos, olhando para os lados, imaginando como escapar em um possível ataque do animal.

— Brutus — uma voz masculina soou distante. O cachorro deixou de encará-lo para olhar na direção da voz, claramente reconhecendo o chamado.

Emmett olhou na mesma direção, onde avistou, saindo do celeiro, um homem de cabelos grisalhos, usando roupas de cowboy e barba no rosto.

— Venha até aqui, garoto — o desconhecido continuou falando com o cachorro gigante, que se moveu a passos lentos. Na metade do caminho, parou e olhou para Emmett, como pensasse se deveria deixá-lo para trás. — É só tocar a campainha — falou o homem de aparência rústica. — Alguém lá dentro irá abrir a porta para você. Pode ir. O cachorro não vai atacar.

Pensou questionar a confiança depositada a um recém-chegado. Como soubesse em que estava pensando, o estranho continuou a falar:

— Vi quando estacionou. Pela placa de seu carro, imagino quem seja.

— Sabe quem eu sou?

O homem fez sinal para o cachorro ficar ao seu lado. O animal sentou-se.

— Carmen está esperando por você — avisou, então virou as costas e saiu andando na direção do estábulo, com o cachorro andando ao seu lado. O animal era de pôr medo em qualquer um. Imaginou se Makena alguma vez sentiu medo dele. O provável era que sim.

Olhou uma última vez o cachorro se distanciando, uma garantia de que alcançaria a porta da casa em segurança. Chegou à varanda espaçosa; a sua direita se encontrava um jogo de cadeiras de vime. À esquerda, um jipe cor-de-rosa para crianças pequenas. Não soube o que pensar. Com certeza Makena não cabia nele já há algum tempo. Talvez pertencesse a algum parente ou mesmo visitante.

Um ruído no interior da casa chamou atenção para a porta outra vez. Chegou mais perto, observou os detalhes na madeira escura ao apertar a campainha.

Assim que a porta foi aberta, reconheceu Carmen, a prima de Aurora. Foram poucas às vezes que encontrou com ela enquanto esteve casado com a prima, porém, seu rosto amigável ficou gravado na memória.

— Emmett — a voz dela soou cansada. Seus olhos e semblante tristes. Ela realmente sentia a perda dos parentes. Moveu a mão, afastando os cabelos compridos para detrás dos ombros, em seguida, moveu-se para sair do caminho. Convidou–o entrar na casa. Ambos se cumprimentaram com prudência.

— Lamento tudo o que aconteceu — disse Emmett.

Carmen meneou a cabeça, chegando mais para o lado.

— Todos nós lamentamos — afirmou. — Foi um baque muito grande.

— Gostaria de ter chagado antes… para o funeral. — Ele passou as mãos suadas na lateral do corpo, ansioso. — Lamento que tenha organizado tudo sozinha.

— Tive ajuda de algumas pessoas. Todos aqui gostavam muito de Aurora e Javier.

Emmett moveu a cabeça, aceitando. Olhou em volta, o hall de entrada onde uma mesa de madeira escura abrigava um vaso de flores frescas, uma bandeja de metal acomodava chaves e ao lado dela um brinquedo educativo.

Carmen capturou o olhar dele para o objeto. Isso a fez pensar no segredo de Aurora.

— Deve estar cansado — comentou.

— Estou bem, não se preocupe. Você deve estar mais cansada que eu. — Ele silenciou por alguns instantes antes de voltar a falar: — Makena, onde ela está? Pensei nela a viagem inteira.

— No quarto — Carmen fez uma pausa. — Não está sendo fácil para ela. Enterrar duas pessoas tão queridas de uma só vez é uma dor irreparável.

Emmett anuiu.

— Precisa ser paciente.

Ele tornou anuir.

— Posso vê-la agora? — já não aguentava mais ter de esperar para ver a filha. — Sinto muita falta dela — admitiu. — Um dos motivos que me fez vir de carro, é o tempo que teremos para tentar nos reaproximar durante a viagem de volta.

— Emmett… Não vai ser fácil.

— Eu sei. Farei o possível para que toda essa dor que está sentindo se torne suportável com o tempo.

— Makena… Bem, ela… Como posso dizer isso?!

— Não estou entendendo. Dizer o quê? Do que está falando?

— Makena não queria que você soubesse.

— Por quê? — foi difícil conter a surpresa em suas palavras e feições. — Por que eu não deveria saber de algo assim?

— Ela não quer te ver.

Ele balançou a cabeça como fosse impossível ser verdade o que Carmen dizia.

— Makena não faria isso.

— Ela ouviu muitas coisas a seu respeito desde a última vez que se viram.

— Que tipo de coisas?

— Acredite, não foram coisas boas.

Emmett a encarou, aguardando. Na ausência de palavras da parte dela, ele insistiu:

— O que Aurora disse para ela a meu respeito?

— Não só Aurora.

— Javier?

Carmen moveu a cabeça, com olhar de lamento.

— Meu tio se tornou para Makena uma espécie de herói. E você o vilão.

— Está dizendo que Javier fez uma imagem ruim de mim para minha filha? Por que ele faria algo assim com a própria neta?

— Não é surpresa que ele nunca gostou de você. Depois que Aurora e Makena vieram morar com ele na fazenda, meu tio tomou frente de tudo.

— Até mesmo roubar o amor de minha filha — concluiu Emmett.

— Deu a ele a chance que precisava. Não veio atrás dela uma única vez.

Emmett abaixou os olhos, envergonhado.

— Eu tentei… — lamentou.

— Parece que não o bastante.

— Era isso que não queria me dizer por telefone?

— Em parte, sim.

— Tem mais? — o tom de voz soou como não achasse possível.

— Venha comigo — Carmen começou a se mover pela casa. Emmett a seguiu. Chegando à sala principal, uma grande escadaria tomava direções diferentes, para esquerda e para direita.

Ele olhou para trás ao som de um ruído. Um movimento no alto da escada chamou sua atenção para aquele lado novamente. Lá no patamar, no lado esquerdo, uma garotinha, com vestido e sapatos pretos, meia-calça branca, o olhava. Ela estava mais alta do que se lembrava. Seus cabelos escuros e compridos haviam perdido a franja que antes encobria a testa. Os traços infantis transitando entre a infância e a pré-adolescência. Ainda assim, sua garotinha. Era Makena.

O sorriso surgiu em seu rosto no momento em que a viu. E, do mesmo modo, se fechou, diante o olhar triste que o fez lembrar o dia que se despediram.

Makena desceu o lance de escada, com olhar severo, exprimindo sentimentos de reprovação. Embora impressionada em vê-lo de novo.

Mesmo tendo crescido uns bons centímetros, ainda parecia muito pequena perto dele.

Emmett aproveitou para retirar o bicho de pelúcia da sacola, um coala. Estendeu a mão ao alcance da mão da filha. Makena segurou a pelúcia com ambas às mãos, concentrada.

Emmett desejou abraçá-la e dizer o quanto sentia pelo que tinha acontecido a Aurora e Javier. Falar sobre a saudade que sentiu. Porém, a reação de Makena o pegou desprevenido.

O olhar de tristeza foi tomado por ódio. Foi forte e perturbador. A menina recuou um passo, respirando ofegante. Num ato violento, a pelúcia foi arremessada longe.

Makena o olhou uma última vez, antes de passar por ele correndo.

— Vá embora! — gritou. — Vá embora. Não quero você aqui. — Ela desapareceu em uma das muitas passagens no local, então, uma porta bateu.

Carmen tocou de leve o ombro de Emmett.

— Avisei que não seria fácil.

— Entendo que esteja sofrendo. O que é absolutamente legítimo. — Ele se movimentou pela sala até chegar onde ficou a pelúcia que a menina desprezou. — Makena me olhou com ódio. Não se trata apenas do luto. Ela parece me odiar. — Ele mexeu nas orelhas do coala de pelúcia, desamassando. — Javier a envenenou contra mim. — Se moveu como fosse seguir o mesmo caminho que a filha.

Carmen segurou seu pulso.

— Deixe que se acalme. Foi um susto reencontrar você. Ela está confusa. São sentimentos muito fortes para uma garotinha lidar em tão pouco tempo.

— Eu preciso… — disse, insistindo em querer ir atrás da filha.

— Você precisa ver uma coisa. — Carmen moveu o braço a caminho da escada. — Por favor, venha comigo.

— Eu… — murmurou ele, receoso. — Não pensei que…

Carmen parou, virando então o rosto para olhar para ele.

— Aurora me odiaria por trazer você à fazenda. E mais ainda pelo que irei fazer agora. Acontece que eu não posso seguir com isso. Eu simplesmente não posso.

— Não entendo o quer dizer com tudo isso.

Carmen continuou andando. Emmett não teve escolha, a não ser ir atrás dela.

Subiram o primeiro lance de escada, à esquerda subiram o segundo, chegando ao corredor largo, com portas nos dois lados. Carmen parou diante uma das portas de madeira na cor de mogno. Emmett fez o mesmo.

Ela ajeitou a postura, como isso lhe desse a coragem de que precisava para ir adiante.

— Makena não é a única que vai precisar de você.

A expressão no rosto de Emmett se tornou uma máscara de confusão e estranheza.

— Luna também irá precisar.

— Luna? — questionou. — Quem é Luna?

— Luna é sua filha caçula.

A informação teve o mesmo efeito de um golpe. Emmett chegou para trás sem mesmo perceber que havia feito. Custando acreditar no que ouviu.

— Aurora estava grávida — continuou Carmen. — Não sei dizer se descobriu antes ou após chegar à fazenda. Ela nunca me contou.

— Tenho outra filha? E ela se chama Luna? Isso não é possível. Aurora teria me contado.

— Não, se ela tivesse com raiva de você. E acreditasse que o estava punindo.

Ele moveu a cabeça se negando acreditar.

— Não — negou. — Não é possível. Ela teria me contado.

— Eu não sei o que aconteceu no casamento de vocês. Mas, da mesma forma que se esforçaram em manter você longe de Makena, ambos, Aurora e o pai dela, esconderam a existência de Luna para você.

— Não posso acreditar que Aurora tenha sido tão cruel a esse ponto. Porque, não foi cruel apenas comigo. Ela cruel com as filhas.

— Não sei de tudo, somente o que estou te contando.

Ele olhou o corredor de onde veio. Parecia prestes a desistir.

— Luna tem três anos — Carmen aguardou ele assimilar a notícia.

A idade coincidia com o divórcio deles.

Carmen levou a mão à porta.

— Aurora não teve ninguém depois de você. — Moveu o trinco, abrindo a porta devagar. O interior do cômodo se encontrava iluminado pela luz suave e tênue de um abajur. Carmen localizou o interruptor na parede, iluminando todo o cômodo com a luz no teto.

Emmett olhou em volta, reconhecendo a decoração infantil nas cores rosa e branco. Pôneis faziam parte da decoração. A fantasia da princesa Branca de Neve e outra da Cinderela estavam em cima do baú de brinquedos.

Percebeu então a forma de um corpo pequeno embaixo do cobertor, na cama branca de dossel, que mais parecia cama de uma princesa.

Voltou olhar para fora, o corredor atrás de suas costas.

— Ela está dormindo — murmurou.

— Vá até lá.

— Não quero acordá-la.

— Por favor — insistiu Carmen.

Emmett notou angústia nos olhos dela ao pedir que se aproximasse da cama onde estava a criança. Foi esse olhar que o induziu ir em frente, um passo de cada vez. A criança na cama se mexeu. Ele conseguiu perceber uns poucos fios de cabelos escuros aparecendo fora do cobertor. Pensou em Makena, na garotinha que deixou para trás, não essa que reencontrou hoje. Foi pensando naquela garotinha que tomou coragem de se aproximar.

A menininha na cama estava com o rosto escondido atrás de um coelho de pelúcia, acinzentado, com orelhas longas e caídas.

Sem fazer movimentos bruscos, sentou-se aos pés da cama. Olhou para trás. Carmen seguia firme no limiar da porta. Ele esticou o braço e devagar repousou a mão sobre o corpo pequeno escondido pelo cobertor. Ela parecia tão frágil. A criança se mexeu outra vez. Emmett recolheu a mão.

Suavemente, a menininha ergueu o tronco até estar sentada. Agarrada ao coelho de pelúcia, ela usou as orelhas dele para coçar os olhos. Assim que ela o olhou, Emmett teve a confirmação que precisava: Luna tinha os cabelos lisos e escuros iguais os da mãe, assim como a irmã. Porém, a cor dos olhos, sem dúvida, herdara dele. Ele deparava com aquele tom de azul todos os dias, cada vez que se olhava no espelho. Uma mistura perfeita dos dois.

— Luna — se pegou falando. — Tal qual a lua, em espanhol.

Antes de Makena nascer, eles tinham cogitado dar a ela o nome de Luna, mas, no final da gravidez, optaram por Makena. Nunca poderia imaginar que Aurora teria tido uma segunda filha com ele, e lhe dado o nome de Luna.

— Luna — repetiu ele, com carinho.

A menininha o olhava como tentasse reconhecê-lo. Ela piscou devagar. Seus lindos olhos azuis se encontravam encoberto por uma nuvem de tristeza.

— Oi — murmurou Emmett.

Luna recuou até encostar-se a cabeceira da cama.

— Não sabe quem sou? — continuou ele.

Luna olhou Carmen na porta. Seu porto seguro desde que a tragédia caiu sobre a fazenda Descanso.

— Eu sou o seu papai — disse.

Ela permaneceu olhando-o em silêncio.

— Este é o seu pai, Luna — Carmen reforçou. — Ele veio para pegar você e a Makena. É quem vai cuidar de você agora.

Emmett prosseguiu:

— Seus olhos, eles têm a mesma cor que os meus.

A menina pareceu avaliar os olhos dele. Chegou mais perto, erguendo a mão pequena, acariciou um dos olhos dele. Emmett sorriu. Ela contornou seu sorriso com os dedos pequeninos.

— Você é linda. E tem o nome perfeito — disse Emmett, sem perder o sorriso.

Luna ficou de pé na cama. E para surpresa de Emmett, ela o abraçou; os braços pequenos se apertando no pescoço dele, o coelho de pelúcia preso entre os dois.

Emmett afagou os cabelos e as costas dela.

— Eu sou seu papai — ele sorriu, maravilhado. Beijou na bochecha de Luna. Ela desfez o abraço, sempre olhando no roto dele. — Pode me chamar de papai. — Ele fez carinho no rosto da filha. — Luna — repetiu. — Você pode falar “papai”? — Ele aguardou, porém, nada foi dito. — Não quer falar?

Luna tornou recuar, recostando-se na cabeceira da cama.

Emmett se colocou se pé.

— Já volto — disse. E foi ao encontro de Carmen. Os dois saíram para o corredor. A porta permanecendo aberta. — Por que Luna não quer falar?

— Luna não fala desde que descobriu a morte da mãe e do avô. Makena fez questão que todos soubessem o quanto estava brava e ferida. Gritou, chorou e quase destruiu toda casa arremessando coisas nas paredes e no chão. Luna presenciou a tudo com espanto. Ela foi se esconder embaixo da cama, muito assustada. Desde que a tirei de lá, não disse uma palavra. Não acho que tenha uma percepção ampla sobre o que é a morte, porém, sente a falta da mãe e do avô. O modo como à irmã reagiu, causou nela um desconforto muito grande. Luna está reagindo ao luto de forma diferente. Makena quer que todos saibam de sua fúria. Luna quer se esconder. Ela vai voltar a falar quando se sentir pronta.

Emmett tornou a entrar no quarto da menina e se aproximar da cama. Luna encontrou o coala de pelúcia e o segurou junto ao coelho.

— Parece que o senhor coala encontrou uma amiga — brincou Emmett. — Ele estendeu os braços e Luna se deixou embalar pelo carinho do pai. — Cuidarei para que se sinta segura novamente. E, quem sabe, em breve eu possa ouvir sua voz, minha doce Luna.

A menina deitou a cabeça no ombro largo dele. O pai lhe beijou o rosto. Olhou Carmen no limiar da porta. Ela moveu a cabeça, aprovando seu gesto de carinho para com a criança.

Luna olhou no rosto do pai novamente. Ele sentiu como estivesse sendo avaliado. Ela fez menção de ir para o chão. Emmett a colocou de pé no tapete felpudo ao lado da cama, e ficou observando se mover pelo quarto, abrir o baú de brinquedos e do fundo dele retirar uma fotografia amassada.

Outra vez ele reparou em Carmen.

Luna voltou para perto. Ergueu a mão pequena até encostar-se à dele, puxando duas vezes. Ergueu a outra mão, mostrando a fotografia. Mesmo amassada, Emmett reconheceu a ele e Makena, pouco antes de eles se afastarem. Segurou a foto na mão. O sentimento de culpa o deixou desconfortável. Não era somente culpa de Aurora que Makena guardasse tanta raiva. Permitiu que isso acontecesse quando aceitou que Javier ditasse as regras. Era seu dever ser presente e participativo.

A menininha voltou puxar sua mão. Ele a pegou no colo. Luna tocou a mão dele que segurava a fotografia. Encostou o indicador no Emmett da imagem e olhou para ele. Tocou na imagem da irmã, em seguida, encostou o dedo em si.

— Isso — disse ele. E beijou na testa da filha sobre a franja. — Eu sou o papai da Makena e também da Luna.

Luna olhou a fotografia e então na porta do quarto. Carmen ainda estava lá. Porém, esse não era o motivo. Ela voltou tocar na imagem da irmã e indicou a porta com a mão.

— Você quer que eu fale com Makena? — Emmett pediu.

Luna confirmou com um leve balançar de cabeça.

— Farei isso. Vai ficar tudo bem.

Carmen desapareceu de vista ao som de uma porta batendo. Emmett olhou no limiar vazio agora. Foi até lá carregando Luna no colo. Carmen se afastava pelo corredor. Ele foi atrás dela. No patamar da escada, avistou Makena na sala atirando coisas no chão. Havia um homem, que até então não tinha visto, na porta que dava para a varanda. Ele era alto e seus cabelos, escuros. Suas roupas em nada se pareciam com as que o outro que o recebeu usava. Assim como Carmen, este parecia não viver ali.

— Sebastian a encontrou selando um cavalo — explicou-se o homem.

Carmen terminou de descer a escada. Emmett fez o mesmo. Makena continuou gritando, descontando sua fúria em móveis e objetos. Luna encobriu os ouvidos com as mãos, demonstrando incomodo e medo.

— Eu iria apenas cavalgar.

— Não foi o que ele disse — reprovou o mesmo homem. — Fui pegá-la assim que me avisou.

— Makena — Carmen tentou uma aproximação. — O que pensava fazer?

— Nada — gritou. — Não pensava fazer nada.

— Querida…

— Não me chame de querida — esbravejou. — Você é uma traidora.

— Está enganada. Não vou ficar brava com você, porque sei que está sofrendo.

— Minha mãe e meu avô não queriam que ele estivesse aqui. — Olhou para Emmett com olhos em fúria. — Você o trouxe. Você os traiu.

— Makena, este homem é o seu pai. Era meu dever procurá-lo e trazê-lo até vocês. Você e sua irmã, não podem ficar sozinhas.

— Não estamos sozinhas. Você e Eleazar estão aqui. O pessoal que trabalha na fazenda também está aqui.

— Eles não são sua família.

— Você é — rebateu Makena com violência. — Você e Eleazar.

— Você tem um pai que vai cuidar de você e de sua irmã. Eleazar e eu precisamos voltar para nossa casa. Temos nossa própria vida longe daqui.

— Não quero ficar com ele — revidou. — Não quero.

Luna começou a chorar. Emmett afagou as costas da menina.

— Makena, pare de gritar — ele pediu. — Está assustando sua irmã. Você não é a única que está sofrendo aqui.

Makena bateu o pé, sustentando o olhar dele.

— Você nem deveria segurar Luna no colo — observou.

— E você pode me dizer por quê?

— Não gostamos de você.

— Não é o que Luna demonstrou. Se bem me lembro, você costumava gostar do meu colo também.

— Não me lembro — revidou. Uma mentira ferina.

Emmett se aproximou. Makena se afastou de forma brusca ao sinal de que tentaria tocar na cabeça dela.

— Não toque em mim — avisou.

— Tudo bem. — Ele recuou. A postura indicava que o havia magoado. — Me dói que não permita te dar um abraço.

— Não quero seu abraço. Nem mesmo queria que estivesse aqui.

— Eu estou, Makena. Quanto a isso, nada pode ser feito. Você e Luna é minha responsabilidade. Eu quero te ajudar. Quero ajudar você e sua irmã passar por esse momento tão difícil. Sei que não quer meu abraço agora. Quando mudar de ideia, estarei guardando ele para você. Eu te amo, mesmo que agora você me odeie.

Os olhos de Makena se encheram de lágrimas. Ela respirou fundo, olhou no alto da escada, e outra vez para Emmett.

— Quero que ponha minha irmã no chão agora mesmo.

— Só se Luna quiser.

— Não quero que a segure no colo.

— Luna é quem vai nos mostrar isso. — Ele olhou a criança nos braços. Ela ainda encobria os ouvidos com ambas às mãos. Os olhos úmidos de lágrimas. Ele afastou uma mão pequena do ouvido dela, depois a outra. — Luna, você quer ir com Makena?

— Ela quer sim — Makena respondeu depressa.

Luna escondeu mais uma vez o rosto no pescoço de Emmett, com as mãos encobrindo os ouvidos.

— Não grite, por favor. Não percebe que sua irmã não gosta quando faz isso.

— Carmen — Makena chamou, ignorando o pedido dele. — Tire minha irmã dos braços deste homem agora mesmo.

— Não é assim que se fala com as pessoas — Emmett advertiu. — Muito menos quando tudo o que querem é te ajudar.

Makena virou as costas, correndo escada acima.

— Me desculpe, Carmen — Emmett pediu.

A mulher tocou de leve seu braço ao passar para se colocar ao lado do marido.

Eleazar completou:

— Não queria estar na sua pele. Ela está assim pelo simples fato de estar aqui, imagine quando descobrir que vai levá-la da fazenda. Será outro golpe.

Emmett ficou olhando o alto da escada, o caminho por onde Makena sumiu de vista. Afagou as costas de Luna.

— Minha vida não é aqui — murmurou. — Porém, Makena e Luna são parte importante dela.

— Vai precisar de muita paciência — lembrou Carmen.

— E controle — observou Eleazar.

— Makena não é assim — lamentou Emmett. — Não verdadeiramente.

Luna afagou seu rosto. Ele abriu um fraco sorriso para a menininha, assustada, de olhos tão doces, embora o coração estivesse triste pela forma como Makena o recebeu. Abraçou-a, desejando que logo pudesse voltar a falar e a sorrir.

 


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