Laços Inquebráveis escrita por Sill Carvalho, Sill


Capítulo 1
Capítulo 01 — Isto Eu Prometo a Você




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Deitado na cama de casal, no escuro do quarto, Emmett ouvia a chuva caindo no lado de fora, lançando-se no vidro da janela junto ao vento. O farfalhar das folhas no jardim. Ao lado dele, dormindo tranquilamente, estava Rosalie, a mulher com quem estava casado agora.

Horas após de o jantar ter sido servido, ele foi se deitar com a certeza de não conseguir dormir. O telefonema que recebeu quando terminava de jantar, mudou seus planos, lhe tirou o rumo.

Ele estendeu o braço, alcançando o celular na mesinha de cabeceira a fim de verificar as horas. Ainda levaria um tempo para o amanhecer.

Ergueu o torso de modo a alcançar o interruptor do abajur. O quarto ficou a meia-luz. Olhou a bela mulher deitada de bruços ao seu lado na cama; os cabelos louros espalhados no travesseiro. Afastou sutilmente alguns fios de cabelos dos ombros desnudos para deixar ali um beijo. Deslizou a mão na extensão dos ombros e costas em uma carícia suave antes de se afastar, sair de debaixo do cobertor e deixar a cama. Caminhou pelo quarto vestindo somente a cueca boxer preta. Seguiu até o closet, pisando descalço no carpete. Vestiu uma calça, calçou os sapatos e saiu do closet ainda enquanto punha a camisa.

Lançou o olhar preocupado à esposa na cama, imaginando como ficaria a vida deles ao retornar da viagem que estava prestes a fazer. Rosalie se mostrou compreensiva, no primeiro momento, porém, era difícil saber como estariam em um futuro próximo.

A chuva ainda caía do lado de fora. Apesar de o inverno ter ficado para trás há pouco mais de duas semanas, o resquício de frio permanecia por alguns períodos do dia.

Pegaria a estrada, aos primeiros raios de luz da manhã, em uma viagem de carro que duraria cerca de vinte e duas horas. Da Carolina do Norte ao Nebraska. Infelizmente, não chegaria a tempo de participar do funeral da ex-esposa e também do pai dela, que faleceram quando o avião particular em que estavam caiu, vitimando também o piloto. Tinha de encontrar Makena, a filha que desde o divórcio não a via.

Voltou se aproximar da cama, para desligar o abajur. Saiu para o corredor, deixando a porta do quarto entreaberta. Acendeu as luzes no corredor. No térreo, entrou no escritório. Abriu e fechou gavetas procurando documentos. Foi ali que encontrou a pasta com fotografias que contavam parte de seu passado com Aurora Ramsey Alvarez, filha única de uma americana e um imigrante mexicano. Aurora perdeu a mãe, no ano seguinte ao nascimento de Makena, agora, ela e o pai, Javier Alvarez, também estavam mortos.

O começo do relacionamento foi tranquilo, estavam apaixonados, cheios de planos e sonhos. Foi quando Aurora descobriu a gravidez que as brigas se iniciaram. Aurora vivia para patinação no gelo, e precisou de se distanciar por um tempo. Mas, a verdade é que Javier a envenenava contra Emmett a cada chance que tinha. Ele não aprovava Emmett como genro e nunca fez questão de esconder. Quando Makena nasceu, se tornou tão presente na vida deles quanto pode. Por vezes, Emmett precisou lembrá-lo quem era o pai da bebê. A convivência tornou-se cada vez mais difícil ao ponto que já não era mais possível viverem juntos. Eles venderam a casa onde viviam no Nebraska. Emmett retornou a Wilmington, na Carolina do Norte, sua cidade natal. Aurora voltou a viver na fazenda onde cresceu, levando Makena com ela.

No início, Emmett conversava com a filha por telefone com frequência. Fazia planos, muitos dos quais nunca foram cumpridos. Com o passar do tempo, a menina foi se recusando atender suas ligações. Aurora era sempre hostil ao falar com ele. Os dias tornaram-se semanas, meses e logo se passaram anos. Makena nunca mais atendeu as suas ligações; estava sempre ocupada com alguma atividade. Aurora fez o mesmo. Nas ocasiões em que falou com Javier, brigas e ameaças estavam sempre presentes. Em sua última tentativa de contato, descobriu que o número do telefone da fazenda já não era mais o mesmo. Enquanto tudo isso acontecia, Emmett casou-se com Rosalie, e, aos poucos, também deixou de procurá-las. 

O sentimento de culpa não o deixava em paz. Sentou na cadeira atrás da mesa, segurando a fotografia de Makena, a última foto que tirou dela antes de a mãe levá-la. A menina estava sorrindo, mostrando a janelinha na arcada dentaria inferior. Os cabelos escuros, cortados na altura dos ombros, a franja emoldurando o rosto de traços infantis. Makena era uma menininha alegre, gostava de descobrir e escalar coisas. Adorava bichos de pelúcia. Aquele rostinho sorridente o levou por lembranças jamais esquecidas.

[…]

— Vamos viver na fazenda do vovô? — questionou Makena após a conversa sobre o fim de o casamento ter mais uma rodada. — Vamos viver na fazenda? — ela repetiu como não acreditasse.

— Sim — confirmou Aurora. — Por isso preciso que me ajude empacotar nossas coisas.

Makena pulou, cheia de energia e entusiasmo. Os lindos olhos escuros cintilando. Uma verdadeira miniatura da mãe.

— Posso ter um cavalo? — Ela contava com a resposta positiva. Pulou e fez uma dança desengonçada.

Emmett achou graça.

— Vamos falar sobre isso em outro momento — recuou Aurora, um tanto aborrecida.

Makena saltitou até estar junto ao pai. O sorriso nunca deixando seus lábios.

— Papai — começou ela —, eu posso ser uma amazona?

Emmett beijou seu rosto.

— Você pode ser o que quiser.

— Eu quero andar a cavalo e quero que esteja lá comigo.

Emmett sentiu o coração entristecer, ele sabia que não estaria ao lado da filha, dali por diante, em todos os momentos.

— O que foi papai? — a menina notou a mudança em seu rosto, o que se refletiu no rosto dela. Makena não sorria mais e seus olhos, antes reluzentes de felicidade genuína, se mostraram preocupados.

— Está tudo bem, querida — ele tentou tranquilizá-la.

Para surpresa de Emmett, Aurora não amenizou sobre ele não ir viver na fazenda com elas.

— Seu pai não irá conosco.

Makena a questionou imediatamente:

— O papai vai depois? Ele vai outro dia? Quando ele vai?

Emmett acariciou o rosto preocupado da filha.

— Não, ele não vai.

Makena se afastou do pai.

— Por quê? — pediu, olhando de um para o outro.

— Já conversamos sobre isso — Emmett tentou acalmá-la. — Você e a mamãe…

Aurora segurou firme nos braços de Makena, de modo que a menina não teve chance a não ser olhar para ela.

— Seu pai e eu já explicamos o motivo. Já chega de tantas perguntas.

Makena a empurrou, aborrecida com aquela conversa.

— Não — gritou. — Não, não, não.

— Você e seu pai poderão se ver sempre.

— Não quero — balbuciou com tristeza. — Não quero assim. — Os olhos tornando-se cristalinos de lágrimas. — Não quero ir sem o papai.

Emmett se levantou e pegou a filha no colo.

— Não quero ir sem você, papai. Eu não quero.

Emmett viu as lágrimas molharem o rosto da filha e o soluço movimentar seu peito. Ele encostou a cabeça de Makena no ombro largo. Olhou Aurora no rosto; ela parecia não se importar com a dor que estava causando a filha ao falar com ela daquela maneira.

— Eu vou conversar com Makena — disse para a mãe da menina.

— Ótimo! Faça isso.

Emmett levou a menina ao quarto dela, onde o papel de parede e a decoração tinham tons de branco e lilás. Bichos de pelúcia, em vários tamanhos, ocupavam prateleiras e também o chão.

Ela tinha um beicinho quando falou:

— Não gosto que se separarem. — Voltou a soluçar. — Por que não podemos ficar juntos para sempre?

Emmett limpou o rosto da filha com a ponta dos dedos.

— Ainda serei seu pai, Makena. Não importa onde estiver.

— Quero estar onde você está. Mas também que a mamãe esteja perto.

— Você vai ficar um tempo com sua mãe na fazenda. Então, um tempo comigo em Wilmington. Verá que não é tão ruim assim.

— Já está sendo ruim o bastante.

Emmett beijou o rosto molhado de lágrimas de Makena.

— Verá que não é tão assustador quanto parece.

Ela abaixou os olhos, entristecida. Emmett tocou seu queixo.

— Não confia em mim?

— Estou com medo, papai.

— Você está com medo? Minha garotinha valente com medo? Não posso acreditar nisso. A Makena que eu conheço, não tem medo de nada.

A criança tentou disfarçar o riso que se formou no canto dos lábios.

Emmett fez cócegas nela, que logo caiu na gargalhada.

Aurora estava no limiar da porta, quando ele se virou. Ela se afastou ao ver que notou sua presença. Emmett ficou olhando as costas dela, enquanto se distanciava. Olhou novamente Makena; o sorriso no rosto infantil era genuíno. Sorriu de volta. Abraçou a filha, trazendo-a para o colo.

— Te amo — disse, apertando os lábios na bochecha da menina.

[…]

Emmett levou as últimas malas para o carro de Aurora. Fechou o porta-malas bem quando ela levou Makena para sentar na cadeirinha, no banco de trás.

A menina estava muito calada aquela manhã. Emmett não a viu sorrir uma única vez desde que saiu da cama.

Ele se colocou a poucos passos atrás de Aurora, aguardando o momento de falar com a filha. Aurora chegou para o lado, para que ele pudesse se aproximar. Ele então se inclinou, de modo que parte de seu corpo ficou no interior do carro. Fez carinho na cabeça de Makena. Ela o observava com olhos de tristeza.

— Em breve estaremos juntos outra vez — disse para tranquilizá-la.

— Não quero ir sem você, papai.

— Não fique assim, querida.

Makena soluçou a chegada do choro que foi incapaz de segurar.

Emmett soltou o cinto que a prendia à cadeirinha para segurá-la nos braços. Passou a mão nos cabelos e rosto dela.

— Não chore — pediu. — Não chore.

Aurora tornou se aproximar.

— Já chega — se queixou atrás das costas de Emmett. — Precisamos ir. Emmett ponha Makena de volta na cadeirinha.

Ele voltou acomodar a filha na cadeirinha de segurança, e quando fechava o cinto, a menina grudou os braços em seu pescoço.

— Calma… — ele pediu. — Fique calma, querida.

— Makena — se aborreceu Aurora. — Deixe o seu pai ir. Pare com todo esse drama.

A menina se recusou, movendo apenas a cabeça.

Aurora soltou o ar pelos lábios com impaciência.

— Você sabe que seu pai não vai conosco. — Ela agarrou o braço de Emmett, tentando afastá-lo da menina.

— Não faça isso — Emmet pediu, tentando soar tranquilo na presença da criança, que chorava. Para a filha ele falou: — Eu sei que está sendo difícil para você, querida. Mas agora, precisa me soltar. Eu te amo, sempre amarei, mesmo que estejamos morando em casas separadas. Vamos nos divertir sempre que for nosso tempo juntos.

Makena recolheu os braços. Seus olhos amedrontados, cheios de lágrimas.

Emmett beijou na testa dela, sobre a franja escura. Makena segurou sua mão, e, aos poucos, o deixou ir. Ele fechou a porta, pôs a mão para dentro da janela e fez um afago no rosto da filha.

Aurora se encaminhou ao lado do motorista.

— Aviso quando chegarmos — foi tudo o que disse, antes de bater a porta do carro e ligar o motor.

Makena esteve o tempo todo olhando o pai. Emmett detestou que estivesse chorando daquele jeito ao partir. Não foi assim que imaginou a despedida, embora soubesse que não seria fácil. A única coisa que amenizava o peso da culpa era saber que estariam juntos novamente em breve.

Ele acenou para Makena, logo que o veículo se pôs em movimento. Ela encostou a mão pequena no vidro, agora fechado. Ficou olhando para ele até que a distância já não permitia mais.

[…]

Um toque suave no ombro o lembrou de voltar ao presente. Com a fotografia de Makena na mão, Emmett olhou para o lado e encontrou Rosalie. Ela usava pijama e seus cabelos soltos caiam sobre os ombros.

Sentiu a carícia dos dedos dela no ombro.

— Como você está? — ela pediu.

Emmett alcançou a cintura dela com o braço, apertando os dedos na lateral.

— Apreensivo — murmurou.

Rosalie passou para frente da cadeira e sentou-se no colo dele. Seu olhar foi direto para a fotografia de Makena que ele segurava. Registrou a angústia nos olhos do marido. Fez carinho no rosto dele com as costas dos dedos.

Emmett permaneceu olhando a fotografia.

— A última memória que tenho com ela, é do momento de nossa despedida — lamentou em tom de desabafo. — Makena está com dez anos agora… Não sei que imagem ela guarda de mim.

Rosalie tornou afagar o rosto dele.

— Prometi estar sempre por perto, ainda que em casas separadas. — Ele moveu a cabeça como fosse difícil acreditar no que fez. — Isso não aconteceu. Não cumprir com a promessa. Eu falhei com ela.

— Não foi culpa sua — Rosalie lembrou. — A mãe dela e avô dificultaram a aproximação de vocês por todo esse tempo.

— Ei sei… Mas, Makena não deve pensar assim. Ela deve achar que não a amo mais. Que nunca a procurei. Deveria ter feito mais… Nunca permitir que as coisas chegassem ao ponto que chegou. Talvez eu seja tão culpado quanto eles.

— Vai mostrar a ela que não foi do modo que imagina. E eu estarei aqui, para te ajudar no que for preciso.

Emmett inclinou o rosto e ela o beijou.

— Makena ainda é uma criança — afirmou Rosalie. — É triste tudo o que está passando, mas ela ainda tem você.

Emmett anuiu.

Rosalie retirou da mão dele a fotografia da menina e deixou sobre a mesa do escritório.

— Irei preparar o quarto para quando ela chegar. Seguirei suas instruções para que tudo fique do jeito que ela gosta. E também vou colocar essa fotografia em um porta-retratos. Acho que ela irá gostar.

Emmett levou ambas as mãos ao rosto de Rosalie.

— Eu te amo — disse.

Rosalie voltou a beijá-lo.

— Sei que está fazendo o melhor para receber Makena — disse ele.

— Makena é sua filha — confirmou Rosalie. — Ela precisa de você, agora mais que nunca.

— Tem mais uma coisa me preocupando — admitiu Emmett.

— O que é?

— Carmen, a prima de Aurora, disse que tem mais uma coisa a qual preciso saber.

Rosalie moveu a cabeça, com ar de desconfiança.

Emmett continuou:

— Mas que eu só saberei quando estiver lá.

— O que pode ser? — comentou Rosalie, com certa ansiedade.

— Não faço ideia.

— Bom, não se preocupe com antecedência. Seja o que for, vai descobrir quando chegar lá. Eu ainda estarei aqui. Pode me ligar a qualquer hora, para falar sobre qualquer coisa.

Emmett anuiu.

Rosalie voltou afagar o rosto dele e também a nuca. Eles se abraçaram. Emmett afagou as costas dela, e ela descansou a cabeça em seu ombro, ambos em silêncio. Passado um instante, Rosalie se levantou. Emmett se pôs de pé. E pegou a sacola onde estava guardado o bicho de pelúcia que levaria para a filha.

Lá fora, o sol se esforçava para sair por entre as nuvens cinza. Segurou a sacola onde estava o bicho de pelúcia com nostalgia. Rosalie se aproximou para lhe afagar o peito.

— Vai ficar tudo bem — garantiu.

Emmett entrou no veículo, com um copo de café para viagem na mão, após guardar a bagagem e sacola com o presente no porta-malas.

Rosalie acenou e ofereceu um sorriso reconfortante assim que o carro começou se afastar da entrada de veículos, no jardim.

Ele enviou a Carmen uma mensagem onde dizia estar a caminho.

Rosalie ficou para trás, pensativa, olhando o caminho por onde o marido acabou de sair. Ele teria uma longa viagem até a fazenda. Desejou que chegasse em segurança ao destino. E que seu retorno para casa fosse breve.

Olhou o céu cujas nuvens de chuva cediam espaço ao sol de maneira lenta. A atenção voltou-se a poça de água na calçada. Como a maioria das casas, a casa onde ela e Emmett viviam, tinha varanda na frente e um pé de magnólias no quintal. No jardim de gramado bem-cuidado, as flores começavam a florir. Cuidar de flores, um desejo de criança que levou Rosalie a se tornar proprietária de uma floricultura. Assim como Kate, sua irmã mais velha, que sempre gostou de fazer doces, acabou se tornando dona de uma confeitaria.

Como ainda era muito cedo para abrir a floricultura, voltou para dentro de casa para se trocar. Iria tentar espairecer em um dos poucos lugares onde conseguia relaxar; a praia de Wrightsville. Praticando Stand-up poddle.

Vestiu o maiô vermelho de manga longa e pôs um short jeans por cima. Pegou a bolsa, sempre pronta para momentos como esse, entrou na garagem pela porta interna, prendeu a prancha em cima do teto do carro e, finalmente, saiu para começar o dia da melhor maneira.

[…]

Remava em sua prancha, no estreito de Masonboro. Ali, os problemas tornavam-se pequenos. Encontrava uma paz revigorante, nas águas calmas do pacífico. Stand-up poddle passou fazer parte de sua vida meses após a tragédia que devastou a família; quando sua mãe, Leonor e a filha caçula, Lily, foram mortas em um atentado no mercado quando faziam compras para o Dia de São Valentim. Rosalie estava lá quando tudo aconteceu, a única sobrevivente das três. Foi logo após a tragédia que Rosalie e a família se mudaram para Wilmington, buscando um recomeço. Onde, também, seu pai voltou a se casar. Rosalie ganhou um meio-irmão, hoje com dez anos.

Seguiu remando. Em algumas ocasiões era presenteada com a presença de golfinhos, águias-pescadoras, pelicanos e garças-brancas. Condores da Califórnia eram raros.

Após um tempo remando, sentia-se pronta para voltar. Saiu da água com a prancha, carregou de volta ao estacionamento e a prendeu novamente no teto do carro.

Forrou o assento do carro com a toalha que usou para se secar e dirigiu de volta para casa. A essa altura, o sol brilhava no céu.

Verificou o celular, onde havia uma mensagem de seu pai. Uma da irmã, Kate, porém, nenhuma de Emmett.

De volta em casa, tomou banho e fez a primeira refeição do dia. Novamente entrou no carro e saiu, contudo, dessa vez, para a floricultura.

Prendeu os cabelos em um rabo de cavalo antes de descer do carro. Ajeitou o vestido floral azul. E então entrou na loja. Virou a placa indicando estar aberto. Encaminhou-se para detrás do balcão, onde deixou as chaves e a bolsa. Ligou o computador. O sininho na porta fez barulho à chegada de sua assistente, Roxie, a morena alta, com mechas azuis nos cabelos.

As horas se passaram sem qualquer mensagem de Emmett. Rosalie finalizou um arranjo de flores para entrega. Roxie falava ao telefone com um cliente. A sineta na porta fez barulho, uma garotinha de cabelos louros e compridos entrou correndo.

— Tia Rose — cantarolou a menina.

— Alyson — respondeu Rosalie ao erguer os olhos. — Com quem…

A menina foi rápida em responder:

— Eu vim com a mamãe.

A sineta voltou fazer barulho. E ao olhar na direção da porta, Rosalie encontrou a irmã, Kate.

Alyson passou para o outro lado do balcão e abraçou sua cintura.

Kate se aproximou também do balcão.

— Oi, Roxie — Alyson cumprimentou a outra mulher, e rapidamente correu pela loja, olhando tudo.

Kate observou a filha se afastando. Rosalie fez o mesmo ao olhar a sobrinha.

— Ela não tinha de estar na escola agora? — Rosalie perguntou.

— Hoje ela não foi. Vou levá-la ao dentista daqui a pouco.

— Alyson é uma das poucas crianças que fica feliz em ir ao dentista — a tia comentou sorrindo.

— Bem — lembrou Kate, com ar risonho. — Com certeza, não puxou a mim. Nessa idade, eu detestava ir ao dentista. Não diga isso para ela — as irmãs riram, relembrando um instante da infância.

Kate notou algo diferente no olhar da irmã, assim que o sorriso no rosto dela se fechou.

— Como você está? — tentou.

— Me sinto estranha.

Kate tocou a mão da irmã sobre o balcão.

— Ele vai voltar logo.

— Sim… — Ela olhou o vazio. — Ele vai voltar.

— É pelo fato de ele precisar trazer a filha, não é?

Rosalie voltou olhar no rosto da irmã.

— Na maioria das vezes, estou bem com isso. Em outros momentos, me sinto amedrontada. Eu sempre soube que Emmett tinha uma filha. E que foram muitas às vezes que tentou contato com ela. Mas nunca pensei que a menina fosse vir viver com conosco. Talvez alguns dias, durante as férias de verão.

Kate anuiu.

— Eu não a conheço pessoalmente. Sei que é uma criança e que está sofrendo com a morte da mãe e do avô. — As irmãs se olharam com cumplicidade e entendimento. — Nós sabemos como é sentir essa dor — lamentou Rosalie, lembrando-se do que ela e as irmãs viveram anos atrás. Ela recolheu a mão, com ar angustiado. — Emmett está preocupado e assustado, também. Estou me esforçando para não demonstrar minha insegurança, mas não está sendo fácil.

— Vai ficar tudo bem, você vai ver — reforçou Kate. — A menina vai precisar de um pouco mais de atenção por um tempo. Mas isso não significa que sua relação com Emmett vai estremecer. Isso não vai acontecer.

— Será mesmo? — duvidou Rosalie.

— Vocês se amam — Kate lembrou. — Juntos encontrarão uma maneira de passar por esse momento, sem grandes complicações.

Ouviram Alyson tagarelando com Roxie quanto às flores.

— Tem mais uma coisa — destacou Rosalie.

— O quê?

— A prima da mãe da menina, a que está cuidando de tudo, não quis dizer por telefone.

Kate sustentou o olhar da irmã.

— Estranho.

— Emmett ficou tão inquieto depois disso, quanto eu fiquei.

— Pode ser algo relacionado à menina. Talvez tenha alguma relação com herança.

Alyson voltou se aproximar das duas.

— Tia Rose, sabia que eu vou ganhar um skate?

Kate balançou a cabeça, negando.

— Meu pai vai comprar.

Kate voltou balançar a cabeça.

Alyson a cutucou.

— Pare mamãe.

Rosalie deu risada.

— Você é muito nova para andar de skate — a mãe lembrou.

— Tenho oito anos. Crianças menores que eu, já andam de skate. E o papai prometeu para mim.

— Querida, eu sei quantos anos você tem. Seu pai precisa que eu esteja de acordo com isso ou nada feito.

A menina sacudiu os ombros, chateada.

— Não é justo — queixou-se com a mãe. — Não pode fazer isso.

— Vamos! — Kate pôs a mão no ombro dela. — Temos de ir agora.

Alyson foi até o outro lado do balcão para se despedir da tia.

— Tchau, tia Rose.

Rosalie beijou seu rosto e fez um carinho na bochecha rosada.

— Não se preocupe — disse. — Vai acabar tendo seu skate, de um jeito ou de outro. — Olhou a irmã de canto de olho. — Ela vai acabar cedendo. Não terá escolha.

— Rose… — Kate resmungou.

— Em uns dois anos talvez — Rosalie murmurou para a sobrinha.

Kate pôs um sorriso no rosto.

Rosalie deu um tapinha no bumbum de Alyson.

— Não queremos que se machuque, gatinha.

— Não vou me machucar, tia.

Kate pegou na mão de Alyson.

— Isso é o que você acha.

— Eu sei andar de skate, mamãe — devolveu a menina. — Eu sou boa nisso.

— Acontece que eu não sei ver você em cima de um negócio daqueles e não sentir medo.

— Não precisa sentir medo, mamãe.

Mãe e filha pararam ao lado da porta.

— Qualquer coisa, me ligue — Kate disse para a irmã, que anuiu.

Alyson passou pela porta, ainda falando sobre o skate.

Rosalie pensou na filha de Emmett. Será que, assim como Alyson, Makena também gostava de praticar esportes. Pegou o celular em modo automático. A fotografia dos dois, juntinhos, surgiu na tela. Sentiu uma inquietação. Desejou que Emmett entrasse em contato quanto antes. Que dissesse algo que afastasse o desconforto que estava sentindo. Toda essa ansiedade e medo.

 


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Notas finais do capítulo

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