À Luz da Lua, Bloodshed escrita por Obscuro


Capítulo 5
IV | Irresoluto




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EDITH

A CIDADE CONTINUAVA COM O MESMO cheiro de minha memória, como se nada tivesse sido alterado desde 1975, quando estive na cidade pela última vez.

Caminhei pelo aeroporto amplo e cobri meus olhos com o par de óculos de sol novamente antes de caminhar porta a fora, desviando dos diversos corpos agitados que corriam em busca de mais alguns segundos de um relógio adiantado.

O ardor em minha garganta já não passava de um formigamento esquecido, uma dor surda e antiga que não significava tanto depois de horas de exposição a sangue pulsante. Em contraponto, o calor irritante da luz do sol tocou minha pele assim que estendi a mão para conseguir um táxi, e tive que reprimir a vontade de fugir para a segurança das sombras, pressionando os lábios em uma linha dura. 

Puxei a manga da blusa lilás que cobria meu antebraço até metade de meus dedos quando um carro amarelo estacionou perto do meio fio a minha frente. 

Não esperei um convite oficial para embarcar, com a mochila em mãos, indicando o endereço do apartamento de Cassius no centro da cidade ao motorista grisalho. Tratei de me distrair nas páginas de um novo livro, enquanto o senhor tentava escapar das filas de carro em direção a cidade.

Havia deixado Hanna no aeroporto internacional de Las Vegas, na Califórnia, antes de pegar minha conexão para Atlanta, na Geórgia. Então, apenas para me certificar que tudo continuava como planejado, quando estávamos próximos do centro, agarrei meu celular no bolso da mochila, e liguei para a caçula.

— Estou bem. — Sua voz soou sincera e polida do outro lado, após o primeiro toque. — Estou a caminho de Beacon Hills. Aluguei um carro espetacular, você iria adorar, Edith. É um Bugatti preto — disse, com a empolgação mal contida em sua voz. — Atinge uma velocidade divertida, você deveria estar atrás desse volante.

— Você deveria ser discreta, Hanna — lembrei-lhe pacientemente, evitando a imagem de uma máquina veloz sob minhas mãos. — Troque de carro antes de entrar na cidade. Não podem saber que você está aí antes que você chegue até Taylor. — Passei a mão na testa, preocupada. 

Garota estranha, fala como se tivesse arquitetando um assassinato, a voz mental do motorista chamou minha atenção e eu desviei os olhos para o retrovisor, o encarando de volta. É como se ela estivesse me ouvindo, ele se assustou, seu rosto ficando vermelho enquanto ele alternava o olhar rápido entre o retrovisor e a rua, apenas para se certificar se ainda estava sendo encarado. 

Entediada, rolei os olhos para a janela outra vez, assistindo os prédios passarem com nossa velocidade tão reduzida. Teria sido muito mais rápido se eu tivesse corrido, mas era arriscado demais na luz do dia e eu não tinha muito tempo antes de ser notada na cidade.

— Lembre-me mais uma vez, Eddie — começou, com sua voz zombeteira. — Entre nós duas, quem é capaz de prever o futuro? — questionou risonha e convencida. Revirei os olhos e suspirei, irritada com sua atitude infantil.

— Faça o que achar melhor, Hanna. Estou chegando ao apartamento. Ligue-me se algo mudar — ordenei, finalizando a ligação assim que o carro estacionou diante o majestoso Sovereign. 

Entreguei alguns dólares ao motorista, agradeci e saí do carro sem esperar troco. Caminhei até a entrada de um dos maiores prédios espelhados da cidade, carregando nada além de uma mochila. 

O garoto, prostrado ao lado da porta de entrada, sorriu para mim, abrindo-a assim que me aproximei. Sorri, de volta, em sua direção, em agradecimento, tendo apenas alguns segundos para registrar sua expressão de deslumbre, enquanto ele se inclinava em minha direção, como se fosse de metal e eu um ímã. Ela é gostosa. 

Revirei os olhos diante seu pensamento e cruzei o hall de entrada, sendo rapidamente reconhecida pelo recepcionista. Ren Yamasaki. Um velho amigo de Cassius que conhecia nossa verdadeira face e havia passado a auxiliar o clã em busca de uma chance pela imortalidade. 

Aproximei-me lentamente, empurrando os óculos para o topo da minha cabeça, e sorri pequeno para o homem com descendência japonesa. Notei rapidamente as novas rugas em todo seu rosto, conquistadas em longos 40 anos, e seus cabelos pretos começando a ser tocados pelo branco da idade.

— Ren — cumprimentei-o, encarando seu olhar vítreo, deslumbrado e desejoso, lembrando-me especialmente do exato mesmo olhar que me deu aos seus dezoito anos.

— Senhorita Gray — reagiu, um segundo mais tarde, sorrindo letargicamente. — O apartamento já foi organizado para sua estadia. Deseja algo além do comum? — inquiriu, deixando uma chave dourada sobre o balcão, ao meu alcance.

— Vou precisar de uma informação, Ren — afirmei, com seriedade. Ele maneou a cabeça, em prontidão. — Preciso saber onde Callie Smith se encontra. Sei que ela está na cidade — informei, agarrando a chave.

— Sim, senhorita. Aviso assim que conseguir a informação — prometeu, abaixando a cabeça em reverência. — É um prazer servi-la novamente, senhorita.

 — Obrigada, Ren. Permaneça bem — disse, sorrindo. Ele reverenciou mais uma vez e eu me afastei em direção ao elevador, aguardando com uma paciência ensaiada. 

Após alguns segundos as portas se abriram e eu entrei na caixa metálica, pressionando o botão do último andar. Conseguia ouvir as engrenagens funcionando, retorcendo-se umas contra as outras, içando metal por inúmeros andares, até que um novo ruído se iniciou. Meu celular vibrou no bolso de minha calça e antes do segundo toque ele estava em meu ouvido.

— Ela está em um restaurante. Aria. Não fica muito longe do Sovereign — indicou Hanna, a voz fria, distante e estrangulada. As portas se abriram e rumei em direção à porta branca, sem número, do andar, que era dividido em dois apartamentos. — Em meia hora você vai encontrá-la. Tome cuidado, ela está mais forte. Até mesmo tentar ver o futuro dela me dá náuseas — confessou, fazendo um som de desagrado. — Isso me deu enxaqueca e enjôo. Tenho que ir, acabei de trocar meu diamante — comentou rancorosa e ouvi o som do rugido de um motor velho.

— Espero que ele não pegue fogo no meio da cidade. Obrigada, Hanna — murmurei zombeteira, antes de encerrar a ligação. Chequei o relógio na tela do celular e me adiantei em destravar e abrir a porta. Nada permanecera intocado, para o meu completo desgosto. 

Toda a decoração, outrora escolhida por mim, havia sido modificada, tornando-se mais moderna, adequada para os dias atuais. Agora, o piso era de linóleo. Na sala, haviam quatro poltronas, metade com um revestimento de veludo azul-acinzentado e outras duas com veludo creme; uma pequena mesa de centro decorada com algumas esculturas com formas humanoides retorcidas em vidro preto. A cozinha ampla e de cores neutras, ao norte, era dividida apenas por uma bancada da cozinha. No sul, o corredor longo levava até os quartos e banheiros.

Caminhei diretamente até a penúltima porta à esquerda e abri. A imagem permanecia a mesma. A parede na minha frente era de janelas,  do chão ao teto, com visão panorâmica para a cidade, cobertas por cortinas grossas; a parede ao sul coberta por estantes de mogno recheadas de livros e, ao norte, uma cama de casal que poucas vezes fora usada.

Deixei a mochila em cima da cama, agarrando uma jaqueta de couro antes de caminhar para fora do prédio novamente. Estava na hora de reencontrar rostos familiares. 




Entrei no restaurante aconchegante, retirando os óculos escuros do rosto, e rapidamente fui recebida por um rapaz loiro sorridente. Conseguia contar cada um de seus dentes em sua boca pequena, mas me forcei a sorrir em resposta.

— Bem-vinda ao Ária, senhorita. Como posso ajudá-la? — questionou, desviando os olhos o mais discretamente que foi capaz para me analisar da cabeça aos pés. Belas pernas.

— Vim encontrar alguém. — Seu sorriso diminuiu instantaneamente e o meu aumentou em resposta. — Callie Smith — murmurei, assistindo-o procurar o nome na sua listagem.

Óbvio que ela estaria acompanhada. Bonita demais para ser solteira.

— Callie Smith. Claro, senhora. Posso acompanhá-la — disse, forçando um novo sorriso.

— Não precisa. Muito obrigada.

Sorri amplamente, desviando-me de seu caminho. Caminhei por entre as mesas redondas no primeiro salão sem nenhuma pista de sua presença, até que me aproximei das portas duplas de ferro fundido que levavam para o salão aberto na parte de trás do restaurante. 

A repulsa pulsou por todo meu corpo, vibrando em meus ossos, eriçando cada pelo do meu corpo, impelindo-me um desejo quase irrefreável de me afastar sem olhar para trás. Meu estômago revirou, em uma reação tão mundana que me assustou por um segundo, e precisei trincar os dentes para resistir a ânsia impossível de vomitar. 

Prendi a respiração, como se isso fosse ajudar, e esquadrinhei todo o ambiente clinicamente, o mais rápido possível, enquanto todos os humanos continuavam alheios a sensação desconfortável, seguindo com suas refeições como em um dia normal, parecendo não serem atingidos de maneira alguma. 

Quando parecia insuportável permanecer sequer mais um segundo dentro do restaurante, encontrei a fonte de tamanha repulsa. Era impossível encarar o lado oeste, onde as mesas mais reservadas estavam, meus olhos pareciam queimar com ácido.

Não, rosnou mentalmente, assim que notou que eu havia a encontrado. 

Sorri de lado, sutilmente, e soube que ela havia notado quando ouvi seus dentes trincando. Dei um passo débil em sua direção, cambaleando em meus próprios pés, e precisei me apoiar em uma mesa para não cair. Ela sorriu, discretamente. 

Você precisa sair daqui, sua voz se mesclou com meus próprios pensamentos, quase como se o desejo fosse meu. Meus membros formigaram, dormentes, recusando-se a me obedecer corretamente, como se meu próprio instinto de fugir fosse mais forte que meu controle consciente de ficar. 

— Sabe que não sou uma ameaça, Callie — disse, tão baixo quanto um suspiro, sabendo que só ela me ouviria. Seus olhos verdes permaneceram me fitando, analisando cada mísero movimento em meu corpo que ainda parecia vibrar. — Estou aqui apenas para conversar — afirmei, no mesmo tom. 

Sua mandíbula trincada oscilava, enquanto sua força de vontade de me manter distante parecia se esvair aos poucos, junto com a sensação humana que se apossava de meu estômago com garras e presas. 

Como um estalo ensurdecedor, foi notável quando seu dom deixou meu corpo. Era como se toda a repulsa nunca houvesse existido, como se nunca tivesse ameaçado meu bem estar e meu organismo como veneno. Mas a memória ainda fresca comprovava o que Hanna havia dito. Calliope havia aprimorado seu dom de uma maneira incrível.

Pigarreei, tentando reorganizar meus pensamentos e caminhei ereta até sua mesa parando com as mãos apoiadas nas costas da cadeira diante a vampira frustrada, que me encarava de braços cruzados.

Ela permanecia igual. Seus olhos verdes ainda eram os mesmos das memórias de Cassius, brilhantes e ferozes, talvez um pouco mais ferozes. Sua pele morena ainda permanecia inalterada pelo tempo, sem uma ruga ou cicatriz. Seus cabelos castanhos ainda possuíam o mesmo volume cheios de belos cachos. Mas havia algo diferente. Ela parecia mais brutal. 

Ela se parecia mais com uma vampira.

— É bom vê-la novamente, Callie — falei, diplomática. — Importa-se? — questionei, apontando para a cadeira na minha frente, antes de puxá-la e me sentar, sem esperar uma resposta. Como se fosse mudar alguma coisa, rosnou, em sua mente. — Você mudou — apontei, começando a brincar com o guardanapo de tecido abandonado sobre a mesa.

— O que você quer, Edith? — questionou, sem rodeio, cuspindo meu nome como se fosse uma maldição. 

Eu suspirei, cansada, revirando os olhos e ela cruzou as mãos sobre a mesa, forçando um sorriso azedo. Mesmo que houvesse uma parte de mim magoada pelo seu tom de voz, eu conhecia seus motivos.

Sua mente era clara. Ela não me odiava, ela odiava o que via quando olhava para mim. Mais uma de sua raça, uma que não tinha tanta pureza.

— Ainda tão rancorosa, doce Calliope — disse, com um tom zombeteiro e um sorriso sardônico. — Esse personagem não lhe cai bem. Cassius não aprovaria toda essa determinação fajuta. — Ela rosnou, baixinho, exibindo seus dentes brilhosos em minha direção como um leopardo feroz. 

Eu ri. Era inevitável rir, assistindo-a assumir um personagem que não lhe pertencia enquanto sua mente lutava para não se render às memórias com o vampiro dinamarquês. Seus pensamentos rapidamente foram redirecionados para o rapaz que a levara para jantar na semana anterior.

Ela havia mudado mais do que o esperado em dez anos de exílio. Ao menos, sua determinação parecia mais forte do que nunca.

Não fale o nome dele, rosnou em minha cabeça.

— Se sente tanta falta, por que não volta para casa? — questionei, inclinando-me para roubar sua taça de vinho quase vazia. — Sabe que ele te aceitaria de volta facilmente, mesmo depois de… — Ela rosnou novamente, dessa vez mais alto, atraindo alguns olhares das mesas próximas, mas eles logo pararam de encarar, como se olhar em nossa direção fosse proibido. Conseguia ver em suas mentes o desconforto incompreensível e percebi que Callie ainda estava usando seus poderes. — Bem, depois de tudo — sussurrei, degustando do aroma adocicado do vinho.

Sentia falta dos nossos anos na Itália. Éramos só eu e Cassius deliciando-nos com todos os sabores italianos, mantendo apenas o princípio moral de não matar. Foi pouco antes de encontrarmos Calliope. Antes de todo o conceito de nossa alimentação mudar.

— Eu não quero voltar — mentiu, retraindo-se na cadeira quando as memórias surgiam em sua cabeça, sem o controle que pareceu existir. 

Suas mãos ensanguentadas, os olhos opacos perdidos dentro de um crânio retorcido, o cheiro de sangue e até mesmo o gosto metálico, cheio de vida, em sua língua. Cassius chegando. A expressão de horror no rosto dele sendo rapidamente substituída pela surpresa e, em seguida, por uma máscara imóvel.  

Callie se remexeu na cadeira, desconfortavelmente. Suas mãos fechadas em punhos sólidos e seus lábios pressionados em uma linha dura. Ela já não respirava mais. A sede ardia em sua garganta, como ferro em brasa, mas não havia espaço para cometer mais um erro. Mesmo que houvesse uma pequena parte de seu cérebro que afirmava que ela estava sob controle, havia uma maior que sabia de sua natureza.

Você não é um monstro. Você não é um monstro. Não é.

— Oh, doce Calliope. — Meu peito doeu com a imagem de sofrimento retorcendo seu rosto. — Nós duas sabemos como isso é mentira — murmurei suavemente e ela ergueu a cabeça em um vulto, me olhando aterrorizada. O que disse? — Estou falando de não querer voltar para casa, Calliope — expliquei cansada.

— Você não entende. — Ela me fitou, seus olhos marejados prestes a transbordarem. As sobrancelhas retorcidas serviam apenas para comprovar todo o seu esforço que ela fazia para não chorar. Eu não posso voltar, Edith.

— Todos já cometemos erros, Callie. Até mesmo Cassius, você sabe disso — pontuei, esticando a mão por cima da mesa, em uma tentativa de alcançá-la, mas ela apenas se reclinou na cadeira, se afastando o máximo possível. Eu suspirei, exausta. — Callie, eu entendo o que você está sentindo, eu consigo ver — afirmei e ela me encarou frustrada, soltando uma lufada descontente. Eu ri. Isso não havia mudado. — Acredite em mim, se eu pudesse desligar, eu desligaria.

— Eu sei — soprou, encarando minha palma estendida em sua direção, os lábios tremendo sutilmente.

— Cassius pediu para que eu te encontrasse. Ele quer que você volte para casa. Hanna quer que você volte. Eles sentem sua falta, Calliope — afirmei, em um tom de voz firme, torcendo para que fosse o suficiente. 

Conseguia ver em sua mente a decisão de voltar para casa se tornando mais visível, mais possível. Cassius a recebendo com um abraço, o calor do corpo enorme acolhendo o seu. O sorriso caloroso e infantil que sempre estava no rosto juvenil de Hanna aquecendo seu peito. Até que eu apareci. Diferente de Hanna e Cassius eu permanecia afastada, assistindo tudo de longe. Fria, distante e incomunicável. 

Engoli em seco e me concentrei nos pensamentos da velhinha que estava sentada na mesa ao lado, tentando lhe dar um pouco de privacidade. Suspirei lentamente, apreciando o ardor surdo no fundo de minha garganta.

Eu sinto sua falta, Callie — confessei em um sopro. Ela ergueu o rosto para me encarar, as lágrimas transbordando de seus olhos que brilhavam como se estivessem sendo iluminados pelo próprio sol.

Eu conseguia entender Cassius. Não apenas por ter completo acesso à sua mente sempre tão clara e límpida. Cassie possuía uma forma quase inocente de amar e era possível ver isso em seus olhos. Por isso Cassius não foi capaz de matá-la, por isso ele havia se apaixonado quando deveria apenas cumprir seu destino de caçador, mas refreou-se  graças à pureza.

Eu o admirava por isso. 

Passei anos tentando entender como Cassius foi capaz de parar, ainda em estado de euforia e frenesi. Mesmo vendo de seu ponto de vista, eu não era capaz de compreender tamanho controle, contudo sempre que eu olhava nos olhos de Cassiopeia e lembrava da memória vívida na mente de Cassius parecia mais fácil de aceitar.

Ela não merecia sofrimento. Seus olhos eram inocentes demais, algo que permanecia  intocado. Ela não era um monstro. 

Oh, Edith, choramingou.

— Por favor, Callie. Não o faça sofrer por mais tempo — pedi, sôfrega. Ela fungou, esticando-se para alcançar minha mão. — Volte para casa.


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