Tons de Violeta escrita por Dafne Guedes


Capítulo 2
Violeta


Notas iniciais do capítulo

A primeira garota não importava muito, mas aqui gostaria de explorar mais a relação entre Lyanna e Brandon, além do que aconteceu de fato no Torneio de Harrenhal. Boa leitura!



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O Grande Salão de Harrenhal fazia um homem sentir-se como um anão. Das portas aos candelabros e archotes nas paredes, tudo parecia ter sido feito em tamanho gigante. Se não estivessem tão ao Sul, Brandon poderia até mesmo ter pensado que era de fato um castelo de gigante, como nas histórias da Velha Ama que ele já era velho demais para ouvir. O próprio teto se estendi para acima, quase infinito. Ele estava admirando o tamanho das portas quando viu uma cabeça pálida de cabelos negros espiar para dentro do Salão.

                Brandon tinha longas pernas que rapidamente o moveram pela multidão. Damas e cavaleiros dançavam em cetim e seda por todo o salão ao som da harpa do Príncipe Dragão. Rhaegar Targaryen causara uma série de estragos naqueles dez dias de torneio, e Brandon estava simplesmente aliviado que tudo houvesse chegado ao fim. Quando Rhaegar o derrotara nas justas, Elbert Arryn correra para colocá-lo de pé e ajuda-lo a tirar sua armadura, mas, mais tarde, na tenda dos Stark e seus vassalos, Jeffory Mallister e Elbert com concordaram com ele sobre o fim do torneio.

                Brandon ainda podia se lembrar de estar sentado no estrado quando Rhaegar Targaryen passou direto por Elia Martell, depois de derrotar Barristan Selmy, e depositar uma coroa de rosas azuis de inverno no colo de Lyanna. Robert Baratheon, o noivo de sua irmã, estivera bebendo, e era um milagre que não se engasgasse com a cerveja. Ou pior, que não houvesse descido do estrado para tirar satisfações com o príncipe. Lyanna não olhou para baixo, envergonhada. Não era de seu feitio. Ao invés disso, cravou os olhos cinzentos em Rhaegar de uma forma que fez Brandon desejar não a ter trazido ao torneio para começo de conversa.

—Rhaegar sabe. –Disse Elbert. –Sabe que as Grandes Casas estão se aliando.

                Elbert era o herdeiro de Jon Arryn, e mais perspicaz do que muitos dos lordes que haviam comparecido ao torneio, como Mace Tyrell, que era um completo tolo de gibão verde de veludo. Lord Whent, que oferecera o torneio, nunca havia demonstrado ser tão rico como naquele momento. Brandon tinha uma teoria para aquilo também.

—Sim. –Concordou. –Coroou Lyanna para provocar inimizade entre os Stark e os Baratheon. Ela tem mais bom-senso que isso.

                Ele torcia para que fosse verdade.

                Porém, ali, no salão, indo em direção às portas que Lyanna fora proibida de atravessar, viu que poderia estar enganado. Quando a irmã o viu indo em sua direção, apressou o passo, tentando fugir, mas Brandon a pegou pelo braço, e, embora houvesse lutado, Lyanna era uma coisinha magra e baixa, de cabelos soltos e selvagens, usando um vestido de senhora que fazia parecer como se estivesse fantasiada. Num segundo, Brandon passou os braços ao redor da irmã e a dominou. Ela ainda bufou e esperniou por alguns segundos. 

—Era você. –Brandon acusou, a segurando por ambos os braços de forma que a irmã era obrigada a encará-lo. –O Cavaleiro da Árvore que Ri, era você. Monta cavalo bem, e essa é a parte mais importante numa justa. Derrubou os escudeiros que estavam maltratando Howland, e não eram bons cavaleiros de qualquer forma. Fugiu para a floresta, e, quando foi encontrada pelo Príncipe Rhaegar, ele ficou tão surpreso que não a entregou ao Rei. Impressionado o suficiente para deixa-la ir, e a coroar Rainha do Amor e da Beleza essa manhã.

                Lyanna não olhou para ele enquanto Brandon desferia suas acusações, mas torceu a boca num bico tão emburrado que apenas isso era o suficiente para entregar a verdade em suas mãos.

—Está chateado porque o príncipe o derrubou nas justas de hoje. –Ela acusou de volta. –Ora! Quem você ia coroar Rainha do Amor e da Beleza? Catelyn Tully não está aqui, nem Barbrey Ryswell.

                Brandon achou que podia sentir o próprio sangue ficando quente em suas veias, respondendo à provocação da irmã.

—Não seja tola, Lyanna. –Disse bruscamente. –Qualquer uma pode ser coroada Rainha do Amor e da Beleza. Ou acha que o príncipe a coroou para que seja princesa também?

                Lyanna o lançou um olhar molhado de mágoa, e Brandon soube que havia atingido o alvo. Quando viu dois cavaleiros com rosas cozidas aos seus gibões, ele e Lyanna rapidamente endireitaram-se; ele soltando os braços da irmã, e ela deixando de se puxar para longe. Quando os cavaleiros entraram no salão, lançando aos lobos um olhar de curiosidade, Lyanna já tinha enxugado as lágrimas dos olhos. Ela olhou para ele cheia de rancor.

—Suponho que Robert esteja bebendo lá dentro? –Sua voz continha desprezo. –Vamos torcer para que não faça um novo bastardo neste torneio.

                Brando a lançou um olhar de censura. Lyanna sempre fora exigente, mas isso devia ser porque Lorde Rickard a tratava como se fosse uma rainha, embora na maior parte do tempo a garota se comportasse como uma matilha de lobos.

—Os pais dele haviam morrido. –Ele defendeu o Baratheon. –Lorde Baratheon fez um bastardo no Ninho da Água, mas estava à procura de consolo.

—E você? Qual a desculpa que você tem? –Ela insistiu. –É um milagre que não haja uma centena de bastardos de lobos por Westeros pela forma como vem se comportando. É prometido à senhora Tully.

—Poderia ser prometido a um cadáver. –Disse Brandon, mas se arrependeu em seguida. A senhora Catelyn era uma boa mulher, embora a faltasse uma paixão que ele teria apreciado. Brandon não era um rapaz de má aparência, e tampouco malnascido. Conversar com sua irmã sempre era pior que um embate com espadas. –Lyanna, volte à tenda. O pai a proibiu de vir aqui.

—Quero ouvir o Príncipe tocar. –Ela insistiu.

                Brandon não tinha mais forças, e seu gume estava cego.

—Muito bem. –Cedeu. –Apenas não seja vista.

                A irmã foi-se embora em um rodopio de saias, mas, quando Brandon tentou voltar pelas grandes portas do Salão, encontrou-as bloqueadas por um corpo pequeno. Os olhos de Ashara Dayne eram cor de violeta, como algumas flores no auge do verão, e brilhavam e sorriam mesmo quando sua boca estava séria. Não era noiva, e durante os dez dias de torneio, cavaleiros, lordes e herdeiros haviam se revezado tentando leva-la para a pista de dança. Três noites antes, Brandon fora capaz de convencê-la a dar uma dessas danças a Eddard. Uma aliança entre Starks e Daynes não era uma má ideia, embora fosse pouco provável que Dorne fosse tomar o lado deles, sendo a princesa Elia uma dornesa.

—Me perdoe por ouvir, senhor Stark. –Ela abriu um pequeno sorriso. –Eu estava apenas curiosa... quem você teria coroado como Rainha do Amor e da Beleza?

                O herdeiro de Winterfell duvidava que fosse mesmo aquela a curiosidade de Ashara. A senhora Dayne era uma das damas de companhia de Elia Martell, e parecia mais provável que estivesse curiosa sobre qual o risco que Lyanna oferecia ao casamento da princesa. A própria Elia Martell não comparecera ao baile da noite. O irmão, Oberyn, dissera a todos que o recém-nascido príncipe Aegon precisava dos cuidados de sua mãe, mas mesmo a Víbora Vermelha não falara com o cunhado naquela noite. Ao invés disso, Rhaegar estava cercado pelos Tyrell, e por uma parte da Guarda Real que não acompanhava o rei naquela noite; Arthur Dayne e Barristan Selmy, assim como pelo amigo de infância Jon Connington.

                O que preocupava Brandon, na verdade, era a ausência dos Lannister durante o torneio. Lorde Tywin não selara nenhuma aliança com os Lordes que começavam a se rebelar, e continuava a ser Mão do Rei, mas O Rei Aerys, que começava a ficar conhecido como Rei Louco, também não parecia querer sua presença. Agora, seu filho e herdeiro fora nomeado para a Guarda Real, uma grande honra, em especial para um rapaz de quinze anos como era o caso de Jaime Lannister. Porém, deixava Tywin sem herdeiros, exceto pelo deformado anão de seis ou sete anos que era o seu filho mais novo.

                Brandon se forçou a voltar para a realidade e ensaiar um sorriso para Ashara Dayne.

—Senhora de Tombastela, considere-me um louco se um dia admitir beleza maior que a sua. Teria sido minha Rainha do Amor e da Beleza mil vezes se isso de mim dependesse.  –Brandon ofereceu a ela um braço para que ambos voltassem para dentro do salão.

—Dependia. -Ashara o provocou. -Mas você perdeu. 

                Brandon estava disposto a fingir que a provocação era séria. Ashara era do tipo que sabia onde doía e não tinha medo de apertar a ferida. 

                Naquela noite, Ashara o cedeu dança após dança. Não era próprio, pois havia um grande número de cavaleiros e senhores no Salão que esperavam apenas que ela ficasse livre para convidá-la de volta à pista. Por sorte, Lorde Hoster Tully havia partido na noite anterior de volta para Correrrio, mas as pessoas falavam, e Brandon sabia disso. Entre uma música e outra, ele se perguntava se Lorde Tully quebraria a aliança entre eles por conta de rumores, mas acreditava que não, então continuou a dançar. Entre um giro e outro, Ashara soltava risadas, e seus olhos violeta riam mais alto que a música.

                Todos viram quando eles saíram do salão juntos. Quando eles se deitaram, Ashara pareceu tão vulnerável, os olhos violeta grandes demais para o pequeno rosto, que Brandon acariciou seu rosto enquanto entrava lentamente dentro dela. Ao fim, ela pediu que ele não se casasse com Catelyn Tully, e Brandon deu o mais triste e sincero de seus sorrisos.

                A maior parte dele queria acreditar que Ashara queria o homem, mas Brandon não era um tolo, e sabia que o que a dornesa procurava era a aliança. Ou melhor, como Rhaegar mais cedo, Ashara queria quebrar a aliança existente entre Tully e Stark, pela desfeita de seu casamento. Então, Brandon foi-se da tenda dos Dayne sentindo-se um pouco mais vazio do que quando entrara.


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